A eleição de 2024 é uma batalha determinante na luta contra bolsonarismo
O embate entre Boulos e Nunes é “pauta quente” em 2024. Não passa um dia sem estar entre as principais notícias na imprensa ou sem que alguma peça se movimente nesse tabuleiro. Certamente, está entre os principais assuntos políticos nas mesas de bar, locais de trabalho e confraternizações de família em São Paulo. A disputa na capital paulista também é alvo de atenção nacional, na medida que será a principal batalha eleitoral em 2024.
As eleições municipais serão mais um capítulo na disputa contra o Bolsonarismo, consequentemente, decisiva na luta contra o avanço da extrema direita e o neo-fascismo no Brasil. O próprio Bolsonaro disse publicamente que seu objetivo é vencer em 1500 municípios, demonstrando a centralidade que irão dar a essa disputa.
Apesar da derrota eleitoral de 2022, da eleição de Lula, o neo-fascismo segue forte impulsionado pelas vitórias da extrema direita, especialmente a de Milei na Argentina, tem um peso parlamentar muito grande e governa vários Estados como São Paulo, Rio, Minas, Mato Grosso, DF, Acre, Roraima, Paraná, Goiás e Tocantins.
Tem também enorme peso nas instituições e tenta permanentemente sequestrar a agenda do governo no Congresso Nacional. Seguem tendo o apoio de um dos setores mais dinâmicos da burguesia no Brasil, que é o agronegócio. Mais importante ainda é destacar que isso tudo é só a expressão institucional do problema fundamental: a extrema direita se enraizou na sociedade, na classe trabalhadora e na classe média. Eles acumularam um enorme ativismo, com capacidade de ações de massa, ações exemplares e coesão ideológica impressionantes. Longe de terem morrido, seguem sendo o principal adversário a ser combatido. É sob este eixo que devemos fazer a disputa em São Paulo.
Diante disso, para o PSOL a unidade nas lutas e nas urnas é a principal arma contra a extrema direita. A frente entre PSOL-PT é uma enorme vitória pois traz consigo os movimentos sociais e o ativismo que resistem. Estamos mais fortes e unidos, o que nos dá chances reais de vencer.
Há tarefas táticas e estratégicas que se combinam nessa disputa, que vai muito além de uma disputa eleitoral. Mas que será decisiva para o combate à extrema direita e para o futuro da esquerda.
Vencer mais uma batalha contra a extrema direita em São Paulo
Vencer a eleição em São Paulo, ainda que no âmbito tático, é determinante para impedir que o Bolsonarismo ganhe este posto. Evidente que a vitória eleitoral não resolve o problema fundamental, tampouco é indiferente.
São Paulo terá o maior orçamento municipal do Brasil, serão 107,3 bilhões de reais, maior do que o estado do Rio, que terá um orçamento de R$ 104,6 bilhões. Esse gigante pode contar pra eles ou para nós e faz diferença na luta mais estratégica quem vai vencer essa batalha. Faz diferença se esse aparato monstruoso vai servir para organizar o neo-fascismo no Brasil ou se vai servir para impulsionar a resistência dos trabalhadores. Equivocam-se aqueles que acham que podemos ser indiferentes a essa disputa.
Mas, não se trata apenas de impedir a vitória “do lado de lá”. Como já dissemos, conquistar uma contundente vitória para “o lado de cá”, eleger Boulos contra a coalizão em torno a candidatura de Ricardo Nunes, é determinante para o desenvolvimento da resistência contra o Bolsonarismo no Brasil, podendo impactar, positiva ou negativamente, inclusive na América Latina, a depender do desfecho.
Eleger Boulos prefeito por si só, vale, portanto, toda nossa dedicação, engajamento e energia. Essa é a tarefa número 1.
Estar em primeiro nas pesquisas, no entanto, não pode nos turvar as vistas. Essa vantagem se transforma em desvantagem se não estivermos preparados para uma verdadeira guerra. Eles sabem bem o que está em jogo e vão fazer de tudo para impedir que o PSOL governe São Paulo. Para vencer teremos que mobilizar os milhões que garantiram a vitória de Lula contra Bolsonaro aqui na capital em 2022.
A vitória eleitoral é muito importante mas não é a luta final, pois a luta contra a extrema-direita é uma luta de longo prazo e se trata de retomar a iniciativa, a organização popular, a coesão ideológica da classe trabalhadora. A eleição de Boulos pode nos possibilitar avanços estratégicos consideráveis na tarefa da auto organização dos trabalhadores e na sua mobilização, no avanço da consciência e na melhora de vida dos explorados e oprimidos. Os meios, portanto, devem corresponder a este fim.
É preciso recuperar a confiança da nossa classe nas suas próprias forças, na sua organização e mobilização independentes e fazer avançar na consciência dos seus interesses. Enquanto a capacidade de mobilização, a organização de militantes, o engajamento, a coesão ideológica estiver nas mãos da extrema-direita seguiremos na defensiva.
É preciso recuperar a confiança da nossa classe nas suas próprias forças, na sua organização e mobilização independentes e fazer avançar na consciência dos seus interesses. Enquanto a capacidade de mobilização, a organização de militantes, o engajamento, a coesão ideológica estiver nas mãos da extrema-direita seguiremos na defensiva.
A campanha Boulos pode ser esse instrumento e quiçá seu governo possa ser também. Um programa que se proponha a mover a esperança, que tenha propostas realmente inovadoras, não no sentido tecnológico, mas no sentido de se propor a colocar os interesses do povo trabalhador no comando. Um governo que não seja apenas “participativo”, mas apoiado na mobilização e auto-organização. Que acabe com a farra do mercado imobiliário que devora a nossa cidade e se proponha a governar para os milhões de sem-teto, negros em sua maioria, que pagam aluguel, moram de favor e precariamente nos mananciais e áreas de risco e interrompa esse fluxo da desigualdade que leva todos os dias pessoas a viverem em barracas pelas ruas, quando essas não são destruídas pela própria ação higienista do Estado. Um programa que interrompa a degradação ambiental que leva a tragédias diárias com as enchentes que revelam o racismo ambiental em São Paulo. Um programa que escancare o racismo que sustenta os privilégios da elite que mata e encarcera e impede a negritude de sonhar com outra realidade. Um programa que proteja as mulheres e as pessoas LGBTQIA + da violência e desamparo.
Para que a campanha seja instrumento ela não pode apenas ter propostas, ela precisa mobilizar e convencer que um governo que combata a desigualdade social em São Paulo precisa ser defendido e construído pela organização popular. Esse será o primeiro desafio. Sem isso não venceremos.
A luta estratégica: Uma campanha para poder governar para o povo e disputar o futuro da esquerda
Estamos diante de uma novidade politica fundamental em São Paulo: A disputa de 2024 é liderada por Guilherme Boulos do MTST e do PSOL com PT na vice, e Ricardo Nunes, será o candidato de uma coalizão entre a direita tradicional e o bolsonarismo. Ou seja, não teremos mais a tradicional disputa direta entre candidatos do PT e PSDB.
A aliança nas urnas e nas ruas com PT e PCdoB são muito determinantes para nossas chances de vitória, mas dessa vez temos novos protagonistas.
Boulos e o PSOL encabeçam essa candidatura. Isso já é expressão de uma reorganização. Boulos esteve à frente da luta contra o golpe, se forjou na luta por reforma urbana, no Movimento dos Trabalhadores sem Teto, que obteve conquistas fruto das ocupações urbanas, dos atos de rua, da ocupação da Avenida Paulista. Trata-se, portanto, de uma novidade. Uma unidade, sim, mas representada por um outro projeto.
O PSOL é um partido que segue mobilizando ideias de transformação radical na sociedade. A prefeitura de São Paulo não tem o poder de revolucionar o país, nem de botar fim à desigualdade social, mas diante dessa constatação há dois caminhos. O primeiro já conhecemos. Um governo da ordem, que faz o que dá e vai até onde a elite paulistana permite, ainda que não seja corrupto e tenha uma boa gestão. Não melhora qualitativamente a vida do povo, muito menos aposta na auto-organização e mobilização para impor mudanças estruturais. Não é essa a vocação do PSOL. Para governar como os outros, “só que um pouco melhor”, não precisaria do PSOL, há muitos partidos e gestores que poderiam fazê-lo.
Nesse sentido, enquanto militantes do PSOL, tem nos dado enorme alegria encontrar nessa frente eleitoral junto ao PT militantes petistas que também estão vendo em Boulos uma nova alternativa, que sentem suas esperanças renovadas, apesar de ser um candidato de outro partido. Não são poucos que apoiaram entusiasticamente que ele seja o candidato da esquerda e sentem reacender a esperança de um projeto de organização popular e governo apoiado na unidade da esquerda e na mobilização.
Da mesma forma, não são poucos os que entendem que, especialmente após o golpe de 2016 que as vitórias eleitorais e mandatos não são suficientes para derrotar a extrema-direita e por isso estão honestamente construindo essa unidade conosco.
compreendemos o descontentamento de muitos desses militantes com a escolha do PT para a vice de Boulos. Essa foi uma decisão que coube exclusivamente ao PT, a medida que ficou definido, corretamente, que a vice deveria ser desse partido. Compreendemos o desapontamento com a decisão porque há fatos inúmeros que desabonam Marta Suplicy. Embora seja preciso reconhecer importantes projetos em seu governo para os mais pobres e periféricos, como o Bilhete Único e os CEUs, Marta não passou à prova da história. Embarcou no impeachment, na Lava Jato.
Por isso, compreendemos o descontentamento de muitos desses militantes com a escolha do PT para a vice de Boulos. Essa foi uma decisão que coube exclusivamente ao PT, a medida que ficou definido, corretamente, que a vice deveria ser desse partido. Compreendemos o desapontamento com a decisão porque há fatos inúmeros que desabonam Marta Suplicy. Embora seja preciso reconhecer importantes projetos em seu governo para os mais pobres e periféricos, como o Bilhete Único e os CEUs, Marta não passou à prova da história. Embarcou no impeachment, na Lava Jato. É muito importante, no entanto, que frente a consolidação da aliança de Nunes com Bolsonaro, Marta tenha pulado fora deste barco. Da mesma forma, seria também muito importante que Marta revisse publicamente sua posição em relação ao golpe e suas escolhas políticas recentes.
Certamente o projeto do PSOL para a prefeitura de São Paulo não é o mesmo da Marta. Assim como há setores petistas que tem mais acordos com ela e outros que tem mais acordos com Boulos. Os novos tempos vão apresentar também novas sínteses político partidárias que irão se forjar na forte unidade que estamos construindo. Muitas diferenças, debates e sínteses estão pela frente. Saibamos fazê-los de forma respeitosa e construtiva, no limite de entender que nossas diferenças com o PT não são maiores do que a necessidade de vencer o neo-fascismo.
O PSOL e Guilherme Boulos são forjados nas duras batalhas da luta de classes dos últimos 20 anos, não se improvisa uma liderança como Boulos. Dispor de nosso melhor representante para ser prefeito da maior capital da América Latina tem um sentido: apostar num projeto de futuro, de uma nova esquerda que volte a organizar os debaixo, que volte a mobilizar milhões numa perspectiva anticapitalista. Não seria útil para o PSOL governar colocando em risco esse projeto coletivo e se transformando num partido mais ou menos como os outros. Essa eleição deve ser um instrumento para agigantar um programa anti neo liberal e não para enfraquecê-lo. O PSOL deve estar unido nessa missão. E é por isso que queremos vencer as eleições e governar São Paulo!
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