Depois da enorme catástrofe que está a caminho de completar a Nakba de 1948 com uma Nakba em Gaza é necessário examinar que cálculo pode ter passado pela cabeça daqueles que idealizaram a Operação Dilúvio de Al-Aqsa, levando-os a lançá-la, embora fosse possível prever o que aconteceria como resultado.
No final do segundo mês desde o início da guerra genocida sionista na Faixa de Gaza, o número de vítimas da agressão ultrapassou 24.000, incluindo mortes verificadas e outras cujos corpos ainda estão sob os escombros, enquanto o número de feridos chegou a quase 40.000, incluindo uma grande porcentagem de feridos graves e incapacitados para o resto de suas vidas. Durante as sete semanas que antecederam a trégua de uma semana, o bombardeio enlouquecido realizado pelas Forças de Ocupação e Extermínio da Palestina e seu povo, falsamente chamadas de Forças de “Defesa” de Israel, demoliu mais de 100.000 imóveis na Faixa de Gaza; agora começou a destruir o que resta, deslocando o foco principal de sua agressão do norte da Faixa de Gaza para o sul. Depois desta enorme catástrofe que está a caminho de completar a Nakba de 1948 com uma Nakba em Gaza que é ainda mais extrema e mais feroz do que tudo o que a precedeu – enquanto a matança e a perseguição sionistas estão aumentando na Cisjordânia- é necessário examinar que cálculo pode ter passado pela mente daqueles que idealizaram a Operação Dilúvio de Al-Aqsa, levando-os a lançá-la, embora fosse possível prever o que aconteceria como resultado.
Há duas hipóteses opostas a esse respeito: ou aqueles que planejaram a operação estavam cientes de que resultaria em uma catástrofe, como o que aconteceu até agora e ainda está em andamento, e não se preocuparam com o assunto; ou calcularam mal. A segunda hipótese é a mais próxima da realidade, e isso em dois aspectos principais. A primeira é que os planejadores da Operação Dilúvio de Al-Aqsa não levaram totalmente o giro completo à extrema-direita da sociedade israelense, materializado em um governo que inclui todo o espectro da direita sionista fascista, do Likud ao Partido Nacional-Religioso e ao Poder Judaico. A interação entre essa realidade política e a gravidade da operação de 7 de outubro, que superou todas as operações militares anteriormente realizadas pela resistência palestina contra a ocupação, tornou inevitável que a reação israelense excedesse, por sua vez, tudo o que o exército sionista já havia feito antes, e que a extrema direita sionista aproveitasse a oportunidade desse trauma para começar a implementar seu plano de alcançar o “Grande Israel”, apagando o que resta da Palestina e aniquilando seu povo por meio do extermínio e do deslocamento, a começar pela Faixa de Gaza.
O segundo erro de cálculo consistiu em tomar os desejos como realidades e na expectativa de milagres divinos, seguindo a lógica religiosa que caracteriza o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e a corrente política a que pertence. Isso se traduziu na crença de que a Operação Dilúvio de Al-Aqsa desencadearia uma guerra geral contra o Estado de Israel, na qual todos os palestinos, onde quer que estejam, bem como todos os árabes e muçulmanos, participariam. A expressão mais clara dessa ilusão está na mensagem de áudio transmitida na manhã da Operação por Muhammad al-Deif, comandante-em-chefe das Brigadas Izz ud-Din al-Qassam, o braço armado do Hamas. O que Deif anunciou em sua mensagem dispensa comentários. Eis trechos do que ele disse após resumir os crimes cometidos pelo Estado sionista:
“Decidimos acabar com tudo isso, com a ajuda de Deus, para que o inimigo entenda que o tempo para eles se divertirem sem serem responsabilizados acabou… Nossos justos Mujahideen, este é o dia para vocês fazerem este inimigo criminoso entender que seu tempo acabou… Lutem, e os anjos lutarão com vocês como sua vanguarda, Deus irá fortalecê-los com a cavalaria dos anjos e cumprirá Sua promessa para vocês … Nossos jovens na Cisjordânia, todo o nosso povo, independentemente de suas organizações, hoje é seu dia de varrer este ocupante e seus assentamentos de todas as nossas terras na Cisjordânia e fazê-los pagar pelos crimes que perpetraram ao longo desses longos e difíceis anos… Nosso povo em Jerusalém, levantem-se para apoiar sua mesquita de Al-Aqsa, expulsem as forças de ocupação e os colonos de sua Jerusalém e derrubem os muros de separação. Nosso povo no interior ocupado [de Israel], no Neguev, na Galileia e no Triângulo, em Jaffa, Haifa, Acre, Lydda e Ramla, incendeiem o solo com fogo sob os pés dos ocupantes usurpadores, matando, queimando, destruindo e bloqueando estradas.”
“Nossos irmãos da resistência islâmica, no Líbano, Irã, Iêmen, Iraque e Síria, este é o dia em que sua resistência se une a de vossos irmãos na Palestina, para que este terrível ocupante entenda que o tempo de extorsões e assassinatos de eruditos e líderes religiosos terminou, o tempo de saqueio de vossas riquezas terminou, os bombardeios quase diários na Síria e no Iraque terminaram, O tempo de dividir a nação e dispersar suas forças em conflitos internos terminou. Agora é a hora de todas as forças árabes e islâmicas se unirem para varrer esta ocupação para longe de nossos lugares santos e de nossa terra.”
“Hoje, hoje, todos os que tiverem um fuzil deve empunhá-lo, pois chegou a hora, e quem não tem arma deve usar faca, machadinha, machado, coquetel molotov, caminhão, trator ou carro… Este é o dia da grande revolta pelo fim da última ocupação e do último regime de apartheid no mundo. Ó homens e mulheres justos, os melhores memorizadores do Livro de Deus, ó adoradores que jejuam e se levantam, ajoelham-se e se prostram-se- reúnam-se em vossas mesquitas e locais de culto e retornem a Deus e O instem a enviar sua morte sobre nós, a nos fornecer Seus anjos confiáveis e a realizar através de nós suas esperanças de orar em Al-Aqsa, libertada…”
A triste verdade é que chegamos a uma situação em que a nossa melhor esperança agora é que a resistência armada e a pressão internacional consigam pôr termo à agressão e ao genocídio e impedir o Estado sionista de tomar toda a Faixa de Gaza, como prelúdio para tomar o resto do território palestino.
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