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MUNDO

Extrema-direita europeia regozija-se com vitória nas eleições dos Países Baixos

Geert Wilders, o veterano da extrema-direita europeia, conseguiu esta quarta-feira que um projeto islamófobo fosse o mais votado nos Países Baixos

Do portal Esquerda.Net, de Portugal

As últimas sondagens eleitorais nos Países Baixos, nas vésperas das eleições, davam um crescimento da extrema-direita numa disputa em que ficavam em terceiro lugar, com apenas um deputado a menos dos conservadores no poder e da coligação entre verdes e trabalhistas. Os resultados desta quarta-feira foram assim uma meia-surpresa, dando uma vitória clara mas longe de ser absoluta ao partido de Geert Wilders.

As projeções avançadas no encerramento das urnas dizem que o seu partido elegerá 35 deputados em 130, com a aliança Verdes-Trabalhistas a ficar com 26 e o grande derrotado da noite a ser o Partido Popular para a Liberdade e Democracia, que vinha governando o país, a ficar em terceiro lugar com 23.

Espera-se agora um longo processo de negociação na tentativa de conseguir encontrar uma maioria de governo. Por isso, nas primeiras declarações, Wilders declarou que “teremos de encontrar formas de estar à altura das esperanças dos nossos eleitores, de voltar a colocar os holandeses no primeiro lugar” e que “agora é a altura de os partidos procurarem acordos, não podemos ser ignorados”.

Já o cabeça de lista da segunda formação mais votada, Frans Timmermans, preferiu sublinhar que, apesar de tudo, amanhã ainda todos pertencerão ao país, numa clara referência às declarações islamofóbicas do candidato mais votado. “Se encontrarem alguém no vosso bairro, escola ou trabalho nos próximos dias que esteja a pensar: será que ainda pertenço aqui? Digam claramente sim”, afirmou Timmermans.

Por seu turno, a candidata que assumiu as despesas da campanha do conservador VVD, Dilan Yeşilgöz-Zegerius, foi curta nas declarações, confirmando a “desilusão” numa noite que é “uma grande lição para os políticos” que “não têm ouvido o suficiente as pessoas.” Já fora do palco, segundo o Guardian, terá dito aos meios de comunicação presentes que seria pouco provável que o seu partido participasse num governo com Wilders como primeiro-ministro.

Geert Wilders: um veterano da política que ganhou espaço com a islamofobia

Geert Wilders tem 60 anos. Fez carreira na política tradicional conservadora do seu país até que, em 2004 cria o “Grupo Wilders”, que evolui em 2006 para um partido sempre com o mote anti-islâmico e anti-imigração. É por este partido que tem sido cabeça de lista consecutivamente desde então.

Politicamente começou por ser assistente de um deputado do VVD, Partido Popular pela Liberdade e Democracia, em 1990. Mais tarde, em 1998, passou a ser deputado do mesmo partido. Depois de entrar no parlamento já pelo “seu” PVV, em 2010 consegue saltar de nove para 24 deputados e ser o apoio fundamental para a viabilização do governo do ex-primeiro-ministro Mark Rutte, marcando a política do seu país e condicionando as políticas migratórias. Desde então, vinha consolidando o terceiro lugar nos resultados eleitorais até ao atual salto.

Postagem de Wilders no dia 9 de outubro, em suas redes sociais. Tradução: “Nós estamos com Israel”

É conhecido o financiamento ao seu projeto político do multimilionário de extrema-direita norte-americano pró-Israel Robert Shillman, que ofereceu mesmo 214.000 dólares em 2017 para as custas judiciais do seu processo judicial por discurso de ódio contra muçulmanos.

Wilders assimilou por várias vezes a fé islâmica ao “fascismo” e ao “terrorismo”, Maomé ao “diabo” e exigiu que o Corão fosse proibido.

Wilders assimilou por várias vezes a fé islâmica ao “fascismo” e ao “terrorismo”, Maomé ao “diabo” e exigiu que o Corão fosse proibido. Defende o fim da imigração de pessoas provenientes de países de maioria muçulmana e quer políticas para incentivar a saída dos muçulmanos existentes no país. É adepto das teorias da “grande substituição”, tendo defendido que “o Islão é o cavalo de Troia da Europa. Se não pararmos a islamificação agora, a Eurabia e Nehterabia serão só uma questão de tempo”. E já chamou aos marroquinos “escumalha”.

Nestas eleições manteve o tema anti-islâmico mas corrigiu o tom mais exaltado, com as sondagens a darem um crescimento e com a candidata do partido de direita no poder a abrir portas à sua entrada no governo.

Extrema-direita europeia regozija

Pouco depois da divulgação da primeira estimativa de resultados eleitorais, já os dirigentes de vários partidos da extrema-direita europeus se acotovelavam nas redes sociais a fazer publicações a saudar a vitória de Geert Wilders e a tentar extrapolá-la para os seus países e para o conjunto do continente.

os dirigentes de vários partidos da extrema-direita europeus se acotovelavam nas redes sociais a fazer publicações a saudar a vitória de Geert Wilders e a tentar extrapolá-la para os seus países e para o conjunto do continente.

Um dos primeiros foi o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, que colocou na rede social X um vídeo da música “Winds of Change”, dos Scorpions, acompanhada dos parabéns ao dirigente da extrema-direita dos Países Baixos e do comentário de que “os ventos da mudança chegaram”.

Na conta oficial da AfD na mesma rede social, a Alternativa para a Alemanha, felicitava o “grande sucesso” do congénere neerlandês em nome também da “mudança política”.

Pouco depois, o líder do Partido Austríaco da Liberdade, Harald Vilimsky, sublinhava que “os nossos parceiros políticos e amigos estão à frente em quase todo o lado”.

Marine Le Pen indicava igualmente a “performance espetacular” nas eleições que, para ela, “confirma a ligação crescente à defesa das identidades nacionais”.

Já Matteo Salvini atrasou-se e foi dos últimos a repetir esta mesma mensagem, parabenizando o “aliado histórico da Lega” pela “extraordinária vitória eleitoral” que provaria que “uma nova Europa é possível”.

E também em Portugal, o dirigente do Chega, André Ventura, se congratulou pela vitória do “amigo”, aproveitando para dizer que “a seguir é Portugal”.

Original em: Extrema-direita europeia regozija-se com vitória nas eleições dos Países Baixos