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MOVIMENTO

A Unicamp nunca mais será a mesma: balanço do Afronte! Campinas sobre a greve de 2023

Da última vez que publicamos neste portal, abrimos um debate com o conjunto do movimento estudantil da Unicamp sobre como construir uma mobilização vitoriosa. Hoje, menos de um mês depois, gostaríamos de começar este texto anunciando que vencemos.

Cecília Ciochetti e Malena Rojas, de Campinas (SP)
Julia Pagano/Afronte Campinas

A greve estudantil da Unicamp de 2023 marca seu lugar na história como a que conquistou o GT de cotas trans, a abertura em tempo recorde do processo administrativo contra Rafael Leão, a audiência pública sobre cotas para PCDs e acessibilidade, a abertura do bandejão aos finais de semana, um reajuste de 16,3% do orçamento das bolsas, o compromisso com a reforma do Paviartes, a revogação do Percurso Formativo Indígena, o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e o Serviço de Atendimento a vítimas de violência étnico-racial, uma mesa de negociação voltada para as questões do campus de Limeira e Comissões de Negociação Continuada no pós-greve. A greve que teve a grande maioria das pautas estudantis aprovadas, também é aquela que conquistou um documento da Reitoria garantindo a não-punição de quem luta e o reconhecimento da legitimidade da greve, uma vitória imensa diante das perseguições da Reitoria contra es estudantes em 2016. Acima de tudo, a greve de 2023 será lembrada como aquela que mostrou a toda uma geração de lutadories que a unidade arranca vitórias.

Como desenvolvemos no texto citado, a greve foi deflagrada no dia 03/10, após um gravíssimo caso de tentativa de homicídio de um estudante negro por parte do professor Rafael Leão. O atentado aconteceu nas primeiras horas de uma forte paralisação estudantil que era parte da unificação com a luta des trabalhadories do Metrô, CPTM e Sabesp para enfrentar Tarcísio e seu projeto privatista para os serviços públicos. Diante desse caso absurdo, da resposta lamentável da Reitoria e do acúmulo histórico de pautas estudantis represadas nos últimos anos, veio nossa resposta: a primeira greve estudantil em 7 anos, aprovada em Assembleia Geral com mais de mil estudantes, referendada em 25 assembleias nas Unidades, e a ocupação do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC), que foi o coração de nossa organização. Naquele momento, tínhamos diante de nós uma enorme lista de pautas (centralmente o tema das cotas trans, bandejão aos finais de semana e a reforma do Paviartes), e muita disposição de luta, em que pesasse a inexperiência da esmagadora maioria des estudantes em processos de greve e ocupação.

Mesmo nessas condições adversas, acreditamos que o conjunto des estudantes aprendeu na prática uma valiosa lição: a unidade entre os movimentos sociais, a democracia de base e a confiança na nossa capacidade de construir sínteses e mobilização coletiva nos fortalece e arranca vitórias. Exemplo disso, é a auto-organização do Núcleo de Consciência Trans (NCT), o qual realizou pela primeira vez em 57 anos de Unicamp uma Transsembléia, um espaço político-deliberativo por e para pessoas trans com a finalidade de disputar a importância da conquista das Cotas Trans, mas também fortalecer e impulsionar a organização política das pessoas trans no movimento estudantil dentro da disputa de um projeto de universidade para a maioria e que combata as desigualdades sociais. Isso se expressa nos encaminhamentos da Transsembléia de um conjunto de iniciativas de formação e intervenção direta, como o acompanhamento e participação  em todas as Assembleias de Curso ao longo da greve e as rodas de conversa organizadas. Iniciativas essas que demonstram que nossa organização deve ter compromisso com a disputa e convencimento do conjunto des estudantes para a luta, não bastando dialogar apenas para convencides.

Ademais, o NCT também soube demonstrar que unidade se faz com comprometimento coletivo e respeito mútuo. Lutar por uma Unicamp que transicione, aldeie e enegreça não apenas seu acesso, mas toda sua produção, a serviço de uma universidade pública de interesse social significa acima de tudo que nossa luta é uma só. Dessa maneira, junto ao Bandejão da Moras, PaviArtesJá!, Movimentos PCDs, Movimentos Negros auto-organizados, Movimentos Indígenas, Centros Acadêmicos e coletivos fomos capazes de construir sínteses e uma unidade qualitativa e efetiva que arrancou a possível maior vitória do nosso movimento estudantil. É preciso reconhecer este salto e é preciso se orgulhar de que mais do que nunca sabemos que nada nos é impossível se confiamos nas nossas próprias forças.

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Mas nossa luta ainda não acabou. Agora, a principal tarefa do movimento estudantil é pensar como garantir que nossas conquistas se convertam em políticas que abram ainda mais as portas da Unicamp, visto que grande parte das pautas acordadas devem ainda ser aprovadas no Conselho Universitário (CONSU). Novamente, devemos aprender com os acúmulos da greve de 2016, que se viu diante do mesmo desafio: é central manter o movimento estudantil mobilizado, seguir trabalhando coletivamente para convencer o conjunto des estudantes da importância das pautas e se articular com os movimentos sociais para disputar politicamente a maioria da universidade e assim arrancar os votos no CONSU.

Julia Pagano/Afronte Campinas

A luta que temos pela frente é grande. Devemos ser criativos, pensar grande, do tamanho dos nossos sonhos: nesta greve, provamos que a Unicamp também é nossa, que ocupar este espaço e lutar pelo nosso projeto de universidade é legítimo e vale a pena.

A luta que temos pela frente é grande. Devemos ser criativos, pensar grande, do tamanho dos nossos sonhos: nesta greve, provamos que a Unicamp também é nossa, que ocupar este espaço e lutar pelo nosso projeto de universidade é legítimo e vale a pena. Que o movimento estudantil, unificado em seus diferentes setores, com os movimentos sociais, tem a potência necessária para transformar a realidade. Este é o sentimento que deve seguir nos movendo. Nos cabe, portanto, disputar nossas pautas nas calouradas, assembleias de curso, entidades estudantis, departamentos, congregações, dentro e fora dos muros da universidade e caminhar para a construção de uma grande mobilização que deixe claro para os conselheiros que não aceitaremos nada menos do que uma universidade pintada de povo.

O comando unificado de greve e todos os setores que o compõe devem ser a linha de frente desse processo como comando de mobilização. É importante que o DCE organize Conselhos de Representantes de Unidade que encaminhem calendários de discussão e mobilização com os Centros Acadêmicos e es estudantes que representam. Encaminhamos da última Assembleia Geral um importante calendário para o mês de novembro, que deve estar no centro da nossa atuação,  como a construção do 20N como também uma mobilização pelo Fora Leão, e o dia 28/11 como um dia de luta contra Tarcísio em unidade com a greve do Metrô, CPTM e Sabesp, além das mobilizações em solidariedade a Palestina. Construir esse calendário com qualidade com es estudantes é a nossa tarefa mais urgente.

Que os nossos desafios nos inspirem a querer sempre mais e que a certeza de que só a luta muda a vida nos fortaleça. Depois da greve de 2023, a Unicamp nunca mais será a mesma.

 

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Cecília Ciochetti, é estudante de pós-graduação em Antropologia Social no IFCH/Unicamp, militante do Afronte! Campinas e da Resistência-PSOL.
Malena Rojas, é estudante de Ciências Sociais no IFCH/Unicamp, compõe o NCT, a gestão do CACH, é militante do Afronte! Campinas
e da Resistência-PSOL.