Pular para o conteúdo
MUNDO

Não começou em 7 de outubro: 76 anos de genocídio e limpeza étnica em perspectiva cronológica

Bruno Rodrigues, da redação

São quase oito décadas de ocupação colonial sionista na Palestina. Com essa cronologia buscamos resgatar alguns eventos que marcam a longa história de mentiras, massacres, pilhagem, roubo de terras, limpeza étnica e violação dos Direitos Humanos e de tratados internacionais por parte do Estado de Israel.

São eventos que certamente ainda não são do conhecimento das centenas de jovens que, neste momento, estão indo às ruas legitimamente escandalizados e indignados com o banho de sangue promovido por Israel na Palestina e vêm abraçando sua bandeira e sua causa de forma solidária.

1882-1903
Primeira onda de imigração sionista para a Palestina, ou Primeira Aliya: 25.000 judeus, principalmente proveniente do então império russo, no Leste Europeu, mas também do Iêmen, instalam-se na Palestina.

1896
Theodor Herzl (foto), um jornalista judeu de Budapeste, a então capital do império austro-húngaro, trava contato com o reverendo William Heclher, capelão da embaixada britânica em Viena e um cristão restauracionista com grandes contatos políticos na Europa. Influenciado pelas ideias restauracionistas de Heclher, Herzl escreve O Estado Judeu, livro que lança as bases ideológicas do movimento sionista e difunde no meio judaico a ideia da criação de um “Lar nacional”. Neste livro, Herzl deixa evidentes as intenções coloniais sobre a Palestina: “Se Sua Majestade, o Sultão, nos desse a Palestina, poderíamos tornar-nos capazes de regular completamente as finanças da Turquia. Para a Europa, constituiriamos aí um pedaço da fortaleza contra a Ásia, seríamos a sentinela avançada da civilização contra a barbárie. Ficaríamos como Estado neutro, em relações constantes com toda a Europa, que deveria garantir a nossa existência”

1897
29 a 31 de agosto – 200 delegados, presididos por Herzl, reúnem-se na Basiléia, Suíça, para o Primeiro Congresso Sionista. Ao longo dos debates, que duram três dias, os congressistas cogitam a colonização da Ilha de Chipre, da Patagônia, da Uganda, do Sinai Egípcio ou do Congo. A maioria, contudo, decide pela colonização da Palestina, região então hegemonicamente ocupada por árabes-muçulmanos e sob controle do Império Otomano. “O sionismo busca estabelecer um lar para o povo judeu na Palestina garantido pelo direito público”, afirmava uma de suas resoluções.

1902
27 de Fevereiro – Por resolução do Primeiro Congresso Sionista é fundado o Jewish Colonial Trust, um instrumento de arrecadação financeira para a colonização sionista da Palestina que, para os sionistas, deve ser “desocupada dos seus habitantes árabes”.

1903 – 1914
Começa a Segunda Aliya (foto) e a presença judaica na Palestina chega a 6% do total da  população.

1908
Congresso sionista estabelece o Gabinete Palestino, como um braço da organização sionista na região. Posteriormente tal gabinete será convertido em Agência Judaica para a Palestina, com poderes de autoridade sobre a comunidade judaica na Palestina.

1909
É fundada Tel Aviv, ao norte da cidade árabe de Jaffa, uma das mais antigas cidades portuárias do mundo. Posteriormente, com a fundação de Israel, a população árabe é forçada a retirar-se de Jaffa e, em 1950, a ex-cidade árabe passa a ser parte da mesma municipalidade de Tel Aviv.

1915-16
Janeiro (1915) – Herbert Samuel, um parlamentar sionista britânico, publica o The Future of Palestine (O futuro da Palestina). Também conhecido como Memorando Samuel este documento (abaixo) defende a colonização judaica da Palestina, como meio de proteger os interesses britânicos na região, como o Canal de Suez, no Egito. “Estou certo de que a solução do problema da Palestina, que seria muito bem recebida pelos líderes e apoiantes do movimento sionista em todo o mundo, seria a anexação do país ao Império Britânico”, diz o memorando.

Julho (1915) – março (1916) – Henry McMahon, um alto comissário britânico no Egito, em uma série de correspondências endereçadas a Hussein bin Ali, Sharif de Meca, promete grande parte do Oriente Médio em troca de um levante árabe contra o Império Otomano.

1916
16 de maio – Inglaterra e França elaboram secretamente o Acordo Sykes-Picot, que define uma nova configuração em áreas do Levante (mapa), região que atualmente corresponde principalmente à Síria, ao Iraque, à Jordânia, à Palestina e ao Líbano, bem como define uma espécie de pré-partilha dos espólios territoriais do Império Otomano, em caso de derrota deste na guerra. Inicialmente a Rússia (de verde) é parte do acordo, contudo, com a revolução russa no ano seguinte, Lenin denuncia publicamente o acordo, até então secreto, e anuncia a retirada da Rússia dele. Em certa medida, as fronteiras nacionais definidas no marco deste acordo seguem em vigor na região.

Primeiras revoltas palestinas contra o Império Otomano são marcadas pela utilização da tradicional bandeira preta, branca, verde e vermelha.

1917
2 de novembro – É pactuada entre o império britânico e o movimento sionista a chamada Declaração Balfour (foto). Endereçada ao Lord Rothschild, um influente aristocrata sionista, a declaração expressa sua “simpatia quanto às aspirações sionistas” e afirma que “O governo de Sua Majestade encara favoravelmente o estabelecimento, na Palestina, de um Lar Nacional para o Povo Judeu, e empregará todos os seus esforços no sentido de facilitar a realização desse objetivo”. Apesar do enorme golpe sobre os povos árabes que a declaração representa, levando-se em conta o acordo firmado na Correspondência Hussein-MacMahon, o documento subscrito pelo secretário britânico de Assuntos Estrangeiros, Arthur James Balfour, também fala em resguardar “os direitos civis e religiosos de comunidades não-judias que já estavam ali”. Entre outras coisas, com essa declaração, os britânicos também ambicionam liquidar com o movimento nacional árabe.

9 de Dezembro – O  comandante-chefe da Força Expedicionária Britânica no Egito, General Allenby, chega a Jerusalém e logo em seguida ocupa toda a Palestina.

1918
Termina a I° Guerra Mundial com a vitória da França e da Inglaterra.

O sionista Chaim Weizmann, que posteriormente será o primeiro presidente de Israel, declara: “Os árabes, que são superficialmente inteligentes e de espírito vivo, cultuam uma coisa, e somente uma coisa – o poder e o sucesso […] As autoridades britânicas […] conhecendo a natureza traiçoeira dos árabes […] têm de vigiar cuidadosa e constantemente. […] Quanto mais justo o regime inglês tenta ser, mais arrogantes se tornam os árabes. […] A presente situação tenderia necessariamente para a criação de uma Palestina árabe, se houvesse um povo árabe na Palestina. Não produzirá de fato esse resultado, porque o felá está pelo menos quatro séculos atrasado, e o efêndi […] é desonesto, sem educação, ganancioso e tão impatriótico quanto ineficiente”.

1919
Primeiro Congresso Nacional Palestino vota uma resolução em rechaço à Declaração Balfour.

1920
19 – 26 de abril – Conferência de Sanremo (foto), na Itália, define a atribuição de mandatos às potências vitoriosas sobre territórios do antigo Império Otomano. França assume o controle do Líbano e da Síria, no marco do Acordo Sykes-Picot, de 1916. A Inglaterra fica com a Palestina e com o Iraque.

1° de Julho – Herbert Samuel, o autor do Memorando Samuel, é nomeado Alto-Comissário britânico na Palestina, uma espécie de governador, tornando-se assim um “fio-condutor” do processo de transferência colonial da Inglaterra para a entidade administrativa sionista. Esse fato, apesar de recebido com entusiasmo pelas lideranças sionistas, não foi consensual entre segmentos do próprio governo britânico na região, que alerta para a possibilidade de ondas de violência, já que essa nomeação representa “a entrega imediata do país a uma administração sionista permanente”. Esse posicionamento é compartilhado pela Associação Muçulmana-Cristã da Palestina:“Sir Herbert Samuel é considerado um líder sionista e a sua nomeação é o primeiro passo para a formação de um lar nacional sionista no meio do povo árabe, contra a vontade deste. Os habitantes não o podem reconhecer e a sociedade muçulmano-cristã não pode aceitar a responsabilidade por motins ou outras perturbações da paz.”

15 de julho – Surge a milícia sionista Haganah, no Mandato Britânico da Palestina. Sua atividade consiste em proteger os kibutzim, atacar lideranças do Mandato Britânico bem como atuar para incentivar a imigração judaica. A palavra hebraica Haganah remete à ideia de Defesa, recurso retórico largamente usado entre os sionistas.

10 de agosto – Líderes franceses e britânicos, reunidos em Sèvres, na França, assinam com líderes do ex-Império Otomano um acordo de paz consubstanciado no Tratado de Sèvres. O Império Otomano, com sede em Constantinopla, começa a ser desmembrado.

1921
1 a 7 de maio – Onda generalizada de protestos palestinos na cidade árabe de Jaffa, ao sul da recém fundada cidade judaica Tel Aviv, contra a imigração sionista.

1922
24 de Julho – O Conselho da Liga das Nações delibera resolução que atribui à Inglaterra o Mandato sobre a Palestina, como resultado do desmembramento do Império Otomano e sua divisão entre as forças vencedoras da I° Guerra. Segundo indica um censo desse ano, habitam a Palestina 757.152 pessoas, sendo 78% delas muçulmanos, 11% de judeus e 9,6% de cristãos, mesmo com as massivas ondas de imigração sionista vinda da Europa.

1923
29 de setembro – Entra, de fato, em vigor o Mandato Britânico da Palestina (mapa ao lado), como consumação do Acordo Sykes-Picot, da Declaração Balfour, da Conferência de Sanremo bem como da deliberação do Conselho da Ligas das Nações, de julho do ano anterior.

1924 – 1928
67.000 judeus vindos da Polônia chegam à Palestina, em uma nova onda de imigração sionista. A população judaica na região dá um salto para 16% e apropria-se de 4% do total das terras palestinas.

1929
Agosto – Começa uma onda de choques entre muçulmanos e judeus, por conta do acesso ao Muro das Lamentações, em Jerusalém, na chamada Revolta de Buraq. A Comissão Shaw, uma comissão britânica designada para relatar os eventos, constata que os tumultos têm como causa “o sentimento árabe de animosidade e hostilidade em relação aos judeus sobre o desapontamento de suas aspirações políticas e nacionais e o temor por seu futuro econômico”. A comissão em questão também admite que o receio por parte dos árabes quanto aos imigrantes judeus deve-se à “ameaça à sua subsistência”. Muitos historiadores, inclusive israelenses, apontam que trata-se de um evento sem precedentes na história local.

1931
Como resultado de uma cisão de Haganah, surge outra milicia sionista no marco do Mandato Britânico sobre a Palestina: Irgun (foto).

O Gabinete para Desenvolvimento da Palestina, do Mandato Britânico, publica um relatório no qual fala sobre a situação de árabes sem terra, causado pela colonização sionista.

1932
13 de agosto – Surge Hizb al-Istiqlal, ou Partido da Independência (palestina), em árabe.

1933
30 de janeiro – Hitler, à frente do NSDAP, torna-se chanceler da Alemanha. É o começo do regime nazista no país.

21 de junho – A Federação Sionista da Alemanha emite um memorando de apoio ao Partido Nazista, no qual afirma: “(…) um renascimento da vida nacional como a que está se dando na vida alemã (…) também deve dar-se no grupo nacional judeu. Sobre as bases do novo Estado [nazista] que estabeleceu o princípio da raça, desejamos encaixar nossa comunidade na estrutura de conjunto, de forma que também para nós, na esfera a nós atribuída, possamos desenvolver uma atividade frutífera pela Pátria…”

No Congresso da Organização Sionista Mundial, realizado em Praga, é derrotada por 240 votos, contra 43, uma resolução que chamava a atuar contra Hitler.

1936
Abril – Inicia-se em Nablus, na Cisjordânia, uma imponente greve geral insurrecional contra o Mandato britânico, que de fato detona um processo revolucionário em todo o país e estende-se pelos anos seguintes (imagem abaixo). O exército britânico usa metade dos seus efetivos e desloca parte de suas tropas, então estacionadas na Índia, para suprimir a revolução.

30 de julho – O Mandato britânico dissolve as organizações políticas palestinas, expulsa seus líderes e estabelece corte marcial para inibir a revolta palestina.

6 de outubro – No marco da revolução palestina, o líder nacional-libertador Abd al-Qadir al-Husseini é ferido e preso pelo Exército Britânico na Batalha de al-Khudr, no distrito de Bethlem. Na mesma batalha morre o oficial nacional-libertador Sírio, Sa‘id al-‘As.

11 de Novembro – O Lord britânico William Peel, à frente da Comissão Real Britânica, informalmente chamada de Comissão Peel, desembarca na Palestina. A ele é designada a incumbência de realizar um inquérito acerca dos conflitos no Mandato Britânico da Palestina.

1937
7 de julho – Comissão Peel publica um plano no qual recomenda a partilha da Palestina (conforme mapa). O plano Peel sugere que 33% do território seja destinado para um Estado Judeu, fator que implicaria na transferência forçada de até 225.000 palestinos para a Transjordânia. Contudo a proposta é rejeitada por árabes-palestinos, que defendem um Estado palestino único e independente “com a proteção de todos os direitos legítimos dos judeus e de outras minorias”. A proposta também é rejeitada pelos sionistas, que a consideram um passo atrás em relação à Declaração Balfour, mas buscam usá-la como um trampolim para a obtenção de um futuro Estado judaico em toda a Palestina. Como resposta ao relatório apresentado pela Comissão Peel, bem como à repressão contra as lideranças árabes, camponeses palestinos desafiam a corte marcial do Mandato britânico e retomam a revolta.

1938
Na reunião do Conselho Mundial de Poale Zion, na cidade de Tel Aviv, Ben Gurion, um judeu sionista de origem polonesa, declara as ambições coloniais do seu movimento: “As fronteiras da aspiração sionista incluem o sul do Líbano, o sul da Síria, a atual Jordânia, toda a Cisjordânia e o Sinai”.

1939
Novembro – Em uma carta, o chefe da milícia Irgun, Zeev Jabotinsky, declara: “Nós deveríamos instruir a comunidade judaica norte-americana para arrecadar meio milhão de dólares para que o Iraque e a Arábia Saudita possam absorver os árabes palestinos. Não há outra chance: os árabes devem abrir o espaço para que os judeus ocupem o Eretz Israel. Se foi possível transferir os povos da península báltica, também será possível remover os árabes palestinos”.

26 de Agosto – É derrotada a grande revolução Palestina iniciada em 1936.

17 de maio – O primeiro-ministro britânico, Neville Chamberlain, publica o Livro Branco, que estabelece a restrição da migração judaica para a Palestina e propõe um governo misto, cuja participação deve ser proporcional às populações árabe e judaica, em uma futura Palestina independente.

1940
Agosto/Setembro – Surge Lehi, milícia sionista liderada por Avraham Stern (foto), a partir de um ruptura em Irgun. Ainda mais radical e violento que o anterior, Lehi direciona seus ataques contra o Livro Branco britânico.

Joseph Weitz, à frente do Departamento de Colonização da Agência Judaica, responsável por organizar os assentamentos na Palestina, escreve em seu diário: “Entre nós, temos de ter claro que não há espaço algum para que os dois povos permaneçam juntos neste país. Nós não atingiremos nosso objetivo se os árabes permanecerem neste pequeno país. Não há outra maneira a não ser transferir os árabes daqui para os países vizinhos. Todos eles. Nem um único vilarejo, nem uma única tribo deve restar”.

1941
11 de janeiro de 1941 – Avrahan Stern, líder da Milícia sionista Lehi (Stern Gang) propõe um pacto entre a OMN – Organização Militar Nacional (sionista) e o regime Nazista. O documento foi descoberto na sede da embaixada alemã na Turquia, depois da II° Guerra, razão pela qual ficou conhecido como Documento de Ancara, cujo proposta busca estabelecer que: “A evacuação das massas judias da Europa é pré-condição para resolver a questão judaica; mas esta somente pode ser possível e completa mediante o assentamento dessas massas na terra natal do povo judeu, a Palestina, e mediante o estabelecimento de um Estado Judeu em suas fronteiras históricas­ (…) A OMN, que conhece bastante bem a boa vontade do governo do Reich alemão e suas autoridades para com a atividade sionista na Alemanha e em relação aos planos de emigração sionistas, opina que:

1. Pode haver interesses comuns entre o estabelecimento de uma Nova Ordem na Europa, segundo a concepção alemã, e as autênticas aspirações nacionais do povo judeu, personificadas pela OMN.

2. Seria possível a cooperação entre a nova Alemanha e uma renovada nação do povo Hebraico Nacional.

3. O estabelecimento de um Estado judeu histórico, sobre bases nacionais e totalitárias, unido por uma aliança com o Reich Alemão, seria do interesse para um continuado e fortalecido futuro da posição de poder alemão no Oriente Próximo. A partir dessas considerações, a OMN na Palestina, sob a condição de que as aspirações nacionais do movimento de libertação israelense mencionadas acima sejam reconhecidas pelo Reich Alemão, se oferece a participar ativamente na guerra no lado da Alemanha.

22 de junho – Joseph Weitz escreve em seu diário “A terra de Israel não é de todo pequena, se ao menos os árabes fossem removidos e as suas fronteiras alargadas um pouco, a norte até ao Litani, e a leste incluindo as Colinas do Golan… com os árabes transferidos para o norte da Síria e do Iraque… Hoje não temos outra alternativa… Não viveremos aqui com os árabes”.

1944
O rabino Weissmandel lança um apelo aos sionistas para que estes atuem na proteção dos judeus que estavam sendo enviados para campos de extermínio nazistas, o que é completamente ignorado pela burguesia judaica e pelos sionistas. Na carta, Weissmandel protesta: “Por que não fizeram nada até agora? Quem é o culpado por esta terrível negligência? Não são vocês os culpados, irmãos judeus, que têm a maior sorte do mundo, a liberdade? Enviamos a vocês esta mensagem especial: informamos que ontem os alemães iniciaram a deportação de judeus da Hungria. Os que foram para Auschwitz serão mortos com gás cianido. Essa é a ordem do dia de Auschwitz desde ontem: A cada dia serão asfixiados doze mil judeus homens, mulheres e crianças, anciãos, crianças de peito, doentes ou não. E vocês, nossos irmãos aí na Palestina, e de todos os países livres, e vocês, ministros de todos os reinos, por que mantêm silêncio diante desse grande assassinato? Silenciam enquanto assassinam milhares, já são seis milhões de judeus? Silenciam agora, quando dezenas de milhares estão sendo assassinados ou esperam na fila da morte? Seus corações destroçados pedem socorro, choram por vossa crueldade. (…)”

O dr. Rudolph Kastner, membro do Comitê de Resgate de Budapeste da Agência Judia,  sob orientação da organização sionista, firma um pacto secreto com o oficial da SS, Adolf Eichmann, para salvar pouco mais de 1000 judeus considerados proeminentes, em troca de dinheiro e da não obstrução do extermínio de centenas de milhares de outros judeus, não tão proeminentes, fato reconhecido pelo tribunal israelense de Jerusalem: “O elemento básico do acordo entre Kastner e os nazistas foi o sacrifício da maioria judia para salvar os mais preeminentes. O acordo estabelecia a divisão da nação em dois campos desiguais, de um lado um pequeno setor de notáveis, que os nazistas prometeram a Kastner salvar, e de outro a grande maioria dos judeus húngaros, aos que os nazistas destinaram a morte.”

1945
Abril – Soviéticos cercam e depois começam a entrar em Berlim, selando o começo do fim da Alemanha Nazista e da II° Guerra Mundial. Calcula-se que mais de 6 milhões de judeus foram mortos no holocausto.

Rudolph Kastner, responsável pelo pacto com Eichmann na Hungria, intervém no Tribunal de Nuremberg a favor do general das SS, Kurt Becher, responsável pela matança judaica na Polônia e na Rússia. Becher acaba por safar-se do julgamento, torna-se um próspero empresário e responsável pela venda de trigo à Israel.

1946
22 de julho – Membros de Irgun, com Menachem Begin à frente, executam a chamada Operação Malonchick, que consiste em um atentado a bomba no Hotel King David (foto), em Jerusalém, onde hospedam-se e trabalham várias autoridades do Mandato Britânico. O atentado atinge 200 pessoas, entre mortos e feridos, dos quais, boa parte são britânicos, mas também árabes e até mesmo judeus.

1947
9 de julho – Perante o Comitê Especial Investigador, comissão incumbida pelas Nações Unidas de preparar a partilha da Palestina, o rabino sionista Fischmann, resgata as ideias colonialistas de Herzl para a região: “A Terra Prometida se estende desde o Rio do Egito até o Eufrates. Incluindo partes da Síria e do Líbano.”

29 de Novembro – ONU delibera a Resolução 181, que estabelece um plano de divisão da Palestina (conforme mapa ao lado). Neste momento, vivem na Palestina cerca de 630 mil judeus e 1 300 000 árabes palestinos. Ou seja, quando as Nações Unidas, com o apoio de Stalin, decidem dividir a Palestina, os judeus representam apenas 31% da população. Como resultado, 54% das terras férteis da Palestina são entregues ao movimento sionista (em azul). Contudo, antes disso, as milícias Irgun e Haganah já haviam começado a judaização da Palestina, destruindo ou tomando mais de 850 povoados.

1948
8 de março – Haganah começa a executar o Plano Dalet, ou seja, a proposta de tomar, com base no uso da força e da violência ilimitada, o máximo possível de terras na Palestina, para além das fronteiras propostas pela ONU, a tempo da expiração do Mandato Britânico.

9 de Abril – 254 palestinos, sendo a maioria de mulheres e crianças, são executados por milicianos de Lehi e Irgun, liderados pelo sionista polonês, Menachen Begin. O Massacre de Deir Yassin (foto) é o ponto de partida para o longo processo de limpeza étnica sobre o povo palestino e atualmente é reconhecido pela Comunidade Internacional. Begin, o líder do massacre, assim gaba-se do feito sangrento: “Uma lenda de terror espalhou-se entre os árabes, que sentiam pânico somente de ouvir falar dos nossos soldados do Irgun. Isso valeu tanto quanto meia dúzia de batalhões para as forças de Israel. Em todo o país (…) os árabes foram presas do pânico e começaram a fugir para salvar suas vidas. Essa fuga em massa logo se converteu num estouro enlouquecido e incontrolável. Dos 800 mil árabes que viviam no atual território do Estado de Israel, somente 165 mil ficaram aqui. Dificilmente se poderá superestimar o significado político e econômico desse processo”.

21 de abril – 70 mil palestinos habitantes de Haifa sofrem limpeza étnica. Ficam apenas 5 mil.

14 de maio – Expira o Mandato britânico na Palestina.

15 de maio – Davi Ben Gurion (imagem acima) proclama o Estado de Israel e torna-se o seu primeiro-ministro. Milícias sionistas apoderam-se de 75% da Palestina, expulsando 780 000 árabes. Começa aí o que os palestinos denominam de Nakba, ou catástrofe, que perdura até os dias de hoje. Ben Gurion, perante o Estado Maior Geral das Forças Armadas, declara “Deveríamos nos preparar para avançar em uma ofensiva. Nosso objetivo é esmagar o Líbano, a Transjordânia e a Síria. O ponto débil é o Líbano, porque o regime muçulmano é artificial e fácil de ser minado. Teremos de implantar um Estado cristão ali e então derrotaremos a Legião Árabe, eliminaremos a Transjordânia; a Síria cairá em nossas mãos. Então nós bombardearemos e ocuparemos Port Said, Alexandria­ e o Sinai”.

23 de maio – 250 palestinos do vilarejo de al-Tantura, distrito de Haifa, às margens do mar mediterrâneo, são executados por tropas do 33° batalhão da Brigada Alexandroni, pertencente ao Haganah, no Massacre de Tantura.

26 de maio – Todas as milícias sionistas armadas são fundidas em uma só força militar, que torna-se na prática o exército de Israel, sob a cínica denominação de Forças de Defesa de Israel. Nesse mesmo dia eclode a Guerra árabe-israelense, batizada pelos sionistas de Guerra da independência, quando uma coligação de países árabes (Egito, Síria, Líbano, Iraque, Jordânia e Arábia Saudita) ataca Israel. A Tchecoslováquia, como parte do bloco soviético, comandado por Stalin, intervém a favor da IDF.

15 Junho – É fundado Herut (liberdade, em hebraico), partido político sionista, a partir de membros a antiga milícia Irgun.

20 de junho – ONU designa a Folke Bernadotte, um diplomata sueco que havia destacado-se numa operação que salvou 30 000 judeus de campos de concentração, a missão de mediar a guerra árabe-israelense.

17 de setembro – Folke Bernadotte (foto) é assassinado por milicianos de Lehi, sob ordens de Natan Yellin-Mor, Yisrael Eldad e Yitzhak Shamir.

26 de setembro – Joseph Weitz propõe a Ben-Gurion a Hatrada, uma política de combate implacável, através do emprego de todos os meios violentos possíveis, para inibir eventuais tentativas de retorno de árabes expulsos ou que tenham fugido de suas aldeias.

30 de outubro – Haganah lança a Operação Hiram, na Galiléia, cobiçando conquistar a aldeia de Sa’sa’, cuja posição geográfica é considerada estratégica para os sionistas. Arrasam diversas aldeias e matam ou expulsam dezenas de moradores.

2 de Dezembro – O New York Times publica uma carta subscrita por Albert Einstein, Sidney Hook, Hannah Arendt e outras personalidades judaicas em que acusam o autodenominado Partido da Liberdade, do então líder da milícia Haganah de “terrorista” e “fascista”: “Um partido político muito próximo em organização, métodos, filosofia política e apelo social aos partidos Nazistas e Fascistas. (…) Dentro da comunidade judaica eles têm pregado uma mistura de ultra nacionalismo, misticismo religioso e superioridade racial. Como outros partidos fascistas, eles têm sido usados ​​para acabar com as greves e têm pressionado pela destruição de sindicatos livres. Em seu lugar eles têm proposto sindicatos corporativistas no modelo fascista italiano. Durante os últimos anos de violência anti-britânica esporádica, o IZL e o grupo Stern inauguraram um reino de de terror na comunidade judaica da Palestina. Professores foram espancados por discursarem contra eles, adultos foram baleados por não deixarem seus filhos juntarem-se a eles. Pelo método dos gangsters, espancamentos, quebra de janelas e roubos em larga escala, os terroristas intimidaram a população e exigiram um pesado tributo”. Os signatários da carta ainda denunciam o Massacre de Deir Yassin, ocorrido em abril do mesmo ano: “os terroristas, longe de envergonharem-se de seu ato, ficaram orgulhosos desse massacre, divulgaram-no amplamente e convidaram todos os correspondentes estrangeiros presentes no país para ver os corpos amontoados e o caos geral em Deir Yassin”.

11 de dezembro – É votada a Resolução 194 na ONU, que determina que todos os refugiados devem retornar à Palestina, ter seus bens restituídos e ser compensados. É o chamado Direito de retorno, até hoje negado por Israel.

1949
14 de fevereiro –  Israel concede anistia geral para os membros da milícia Lehi.

10 de março – Cessar-fogo e fim da Guerra árabe-israelense (foto ao lado).

29 de outubro – Massacre sionista no vilarejo palestino de Dawayima, nos arredores de Hebron. A população local é de 4000 pessoas, todos camponeses e comerciantes. No massacre, são mortos entre 580 e 332 pessoas, e as demais fogem (foto abaixo).

1950
Israel promulga a Lei de Propriedades de Ausentes, que permite ao governo tomar o controle de propriedades de palestinos e fazer uso deles à vontade, através do “Custodiante de Propriedades de Ausentes”.

Nesse mesmo ano também é aprovada a Lei do retorno, que estabelece que Israel passa a ser o “lar natural” de todos os judeus do mundo, além de admitir que qualquer judeu, seja de onde for, possa migrar para Israel e obter cidadania.

1952
No Egito, o coronel Gamal Abdel Nasser toma o poder, dá fim à monarquia, inicia o processo de expulsão dos ocupantes britânicos e começa a uma série de medidas sociais de amplo apoio popular entre o povo egípcio, como a reforma agrária e a nacionalização do canal de Suez, até então administrado por uma empresa inglesa. Começa a ser gestado aí o nacionalismo pan-árabe, corrente anti-imperialista e inimiga da presença do Estado sionista na região. Essa corrente também terá força na Líbia, na Argélia, no Iêmen do Norte, na Síria, no Iraque e entre palestinos refugiados em todo o mundo árabe.

1953
14-15 de Outubro – Massacre dos moradores da aldeia palestina de Qibya, na Cisjordânia, promovido pela unidade 101 da Forças de Defesa de Israel, deixa mais de 50 mortos, além de dezenas de casas, escolas e mesquitas destruídas. O responsável militar pela chacina, o então major Ariel Sharon, é um ex-membro de Haganah e, algumas décadas depois, será primeiro-ministro do país.

1954 – Sob orientação do então Ministro da Defesa, Pinhas Lavon (foto), Israel desencadeia a Operação Susannah. Nessa operação um grupo de 9 judeus egípcios é recrutado pelo serviço secreto de Israel para promover atentados em alvos civis, ou seja, cafés, cinemas, bibliotecas e escolas egípcias, britânicas e norte-americanas, no Cairo e em Alexandria, para em seguida atribuir a culpa sobre a Irmandade Muçulmana e aos comunistas. A operação em questão busca insuflar conflitos internos com o objetivo de desestabilizar o governo de Nasser e debilitar o Egito. Contudo, os agentes recrutados por Israel acabam sendo descobertos e confessam o plano diante do tribunal. Dois deles acabam enforcados. Os demais cumprem longas penas de prisão e, posteriormente, emigraram para Israel. Lavon, o responsável pela empreitada fracassada, renuncia.

1956
29 de outubro – Ocorre o Massacre de Kafr Qasim (foto). A polícia sionista da fronteira jordano-israelense executa 48 civis palestinos de Israel, sendo 6 mulheres e 23 crianças durante um severo toque de recolher imposto na região. Ben Gurion busca encobrir o massacre.

Também no dia 29 Começa a Guerra de Suez, com a invasão do Egito pela Inglaterra, França e Israel, como reação à nacionalização do Canal de Suez, realizada por Nasser. A França participa da empreitada acusando Nasser de acobertar em seu país rebeldes anticoloniais argelinos. Israel, por sua vez, já vinha tendo escaramuças com o Egito na fronteira, então não precisa de muito para estender o conflito. No fim do ano a guerra encerra-se, quando a URSS ameaça ir em socorro do Egito e os EUA a pressionar o bloco algo-franco-israelense para retirar-se.

1957
É fundado no Kwait al-Fatah, ou Movimento de Libertação Nacional da Palestina. Uma de suas principais lideranças é Yasser Arafat, um jovem de família de refugiados palestinos que nasceu e passou sua juventude no Cairo. Na faculdade de engenharia, cursada na universidade Rei Fuad I, Arafat radicaliza-se em direção às ideias nacionalistas, pan-arabistas e antissionistas.

1964
28 de maio – É fundada em Jerusalém, com apoio da LA – Liga Árabe, a lendária Organização para Libertação da Palestina. A OLP, que na verdade é uma frente política e militar de vários grupos seculares, marxistas e nacionalistas, reúne figuras fundamentais da luta palestina, como Arafat (foto), dirigente de al-Fatah além do revolucionário comunista, George Habash. Em seu programa a OLP defende que a “Palestina, com as fronteiras que existiam no tempo do Mandato Britânico, é uma unidade regional integral”.

1967
5 de junho – Alegando um suposto ataque árabe iminente, Israel desata a Guerra dos seis dias, em um ataque relâmpago e simultâneo contra Síria, Jordânia e Egito. O cálculo estratégico por trás desse ataque considera o declínio das ideias nacionalistas pan-árabes em toda a região, a consolidação das acomodadas petro-monarquias na Península Arábica e o descontentamento social nos países atacados. Israel encerra o ataque anexando o Deserto do Sinai (foto ao lado), região petroleira até então pertencente ao Egito, além do Canal de Suez e a Faixa de Gaza (ver mapa abaixo). Israel também apodera-se da Cisjordânia, região situada na margem Ocidental do rio Jordão, além das Colinas do Golã, ao Sul da Síria. Com a Guerra dos seis dias, Israel praticamente quadruplicou os territórios sob seu controle. 380 mil palestinos são expulsos ou deixaram suas casas. Desde então, mais de 400 mil colonos instalaram-se na Cisjordânia. Posteriormente, ninguém menos que Moshe Dayan admitirá que o argumento da realização de um ataque preventivo nunca passou de uma manobra política para legitimar a ação militar de Israel contra os vizinhos árabes.

Outubro – Relatório de Nils Gussing, enviado da ONU para investigar apurar os resultados da guerra de 1967, revela: “As forças israelenses não viram desfavoravelmente seu impacto [dos diferentes acontecimentos da guerra] sobre o movimento da população para fora da área” e, ainda, “pareceu claro ao Representante Especial que, a nível local, certas ações autorizadas ou permitidas pelos comandantes militares locais foram uma causa importante de sua partida [da população]”.

22 de novembro – ONU aprova por unanimidade a Resolução 242, que exige a retirada das forças armadas israelenses dos territórios ocupados no recente conflito, como condição para uma paz duradoura no Oriente Médio, além da  inadmissibilidade de aquisição de território pela força.

1968
21 de março – Em mais um intento expansionista, após a Guerra dos seis dias, Israel mobiliza batalhões da infantaria, paraquedistas, tanques, carros blindados, aviões e cerca de 15 mil soldados, na chamada Operação Inferno, cujo objetivo é ocupar as Colinas Balqa, região vizinha à Amã, capital da Jordânia. Contudo, o ataque é repelido pelo exército local, em unidade com fedayins da OLP, que impõem dezenas de baixas sobre o ocupante israelense, além de destruir os tanques e aviões da IDF. A chamada batalha de al-Karameh, resgata a moral do mundo árabe perante o enclave colonial sionista e a figura de Yasser Arafat, um dos principais líderes da batalha, ganha o mundo.

24 de março – Conselho de segurança da ONU aprova por unanimidade a Resolução 248, que condena Israel pela ação militar na Jordânia.

Julho – Em uma palestra para jovens sionistas realizada nas colinas do Golã, território Sírio agora sob ocupação israelense, Moshe Dayan fala sobre até onde vão os planos coloniais sionistas na região: “Nossos pais chegaram às fronteiras reconhecidas no plano de partilha; a Guerra dos Seis Dias permitiu-nos chegar a Suez, ao Jordão e às Colinas de Golã. Isso não é o final. Depois das atuais linhas de cessar-fogo, haverá outras. Elas se expandirão para além do Jordão… até o Líbano… e também até o centro da Síria.”

1969
17 de março – Golda Meir (foto), do partido de trabalhista Mapai, torna-se primeira-ministra e um dos piores carrascos do povo palestino. Meir frequentemente emitia declarações de apagamento étnico contra eles: “Não há algo assim como – palestinos. […] Eles não existem”.

19 de março – Moshe Dayan, ex-chefe do Estado Maior, em uma palestra para estudantes do Instituto de Tecnologia de Israel, afirma: “Viemos aqui, a um país que estava povoado de árabes, e estamos construindo um Estado hebreu, judeu. No lugar de povoados árabes, estabelecemos povoados judeus. Vocês sequer sabem os nomes desses povoados, e não os reprovo, porque esses livros de geografia já não existem. Nem os livros nem os povoados tampouco existem. Nahalal foi construído no lugar de Mahalul, Gevat no lugar de Jibta, Sarid no lugar de Hanifas e Kaft Yehoushu’a substituiu Tel Shamam. Não existe um só assentamento que não tenha sido construído no lugar de um antigo povoado árabe.”

1972
8 de julho – Mossad, o serviço secreto israelense, instala secretamente uma bomba no para-choques do veículo de Ghassan Kanafani (foto), escritor palestino e dirigente da Frente Popular para a Libertação da Palestina, que então residia em Beirute, no Líbano. Além de Kanafani, morre também sua sobrinha de 17 anos.

Arafat, dirigente de al-Fatah, chega à presidência do comitê executivo da OLP (foto), que radicaliza-se passando a defender de forma clara “o estabelecimento de uma sociedade democrática livre na Palestina, aberta a todos os palestinos muçulmanos, cristão e judeus”, em síntese, trata-se da clássica consigna radical de estabelecer uma “Palestina laica, democrática e não racista” no lugar dos territórios ocupados por Israel.

1973
6 de outubro – Egito e Síria cruzam as linhas de cessar-fogo no deserto do Sinai e nas Colinas do Golã, respectivamente, então sob controle de Israel desde 1967. Começa a Guerra do Yom Kippur ou Guerra de Outubro (como é conhecida entre os árabes), que estende-se por 20 dias. Moshe Dayan ensaia a utilização de armas nucleares, mas a URSS e os EUA logo intervém pressionando por um cessar-fogo. Egito e Síria não conseguem reaver seus respectivos territórios.

13 de setembro – Surge Likud (consolidação), um dos principais partidos da direita Israelense, a partir de um bloco político de partidos liderado pelo antigo Herut.

1974
17 de abril – É estabelecido o Dia dos Prisioneiros Palestinos, em homenagem aos milhares de palestinos nos cárceres da ocupação israelense.

13 de novembro – Arafat Discursa na ONU (foto) reivindicando aos países reconhecimento da luta pela independência da Palestina. “Apelo a vocês para que nosso povo possa estabelecer uma soberania nacional independente em sua própria terra. Hoje vim trazendo comigo um ramo de oliveira em uma mão e a arma de um lutador pela liberdade na outra. Não deixem que caia da minha mão o ramo de oliveira”,  declara o líder da OLP.

22 de novembro – OLP ganha status de observador não-estatal nas assembleias da ONU.

1975
10 de novembro – Assembleia Geral das Nações Unidas aprova a Resolução 3379, passando a considerar o sionismo como uma forma de racismo e de discriminação racial, comparável ao apatheid sul-africano e ao colonialismo português. Chaim Herzog, embaixador de Israel, faz um veemente discurso em protesto.

A Organização da Unidade Africana, antecessora da União Africana, aprova uma resolução que convoca seus Estados membros a apoiarem integralmente a causa palestina contra o “colonialismo racista sionista”, tratando a causa palestina como uma causa africana.

Da esq para dir: Menachem Begin, Moshe Dayan, John Vorster e Yitzhak Rabin, em Jerusalém, 1976

1976
Março – Israel desata um processo de confisco de terras palestinas na Galileia. Como resultado, seis trabalhadores árabe-israelenses são mortos, outros 100 são feridos e mais 100 são presos.

John Voster (foto acima), primeiro-ministro do regime de apartheid na África do Sul, visita Israel e reforça uma série de planos de cooperação militar, o que inclui aquisição de armas e serviços de treinamento oferecidos por Israel.

1977
Assembleia geral da ONU institui o dia 29 de novembro como Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino. A data remete ao aniversário da Resolução 181 de 1947, da própria ONU, que implementava o Plano de Partição da Palestina, sem nenhum tipo de consulta aos palestinos.

Conselho de Segurança da ONU estabelece embargo obrigatório à venda de armamentos para a África do Sul. Contudo, o comércio militar entre Israel e a África do Sul intensifica-se.

20 de junho – Menachem Begin, antigo líder de Haganah e posteriormente de Irgun, agora à frente de Likud, derrota os trabalhistas e torna-se o sexto primeiro-ministro de Israel.

1978
17 de setembro – São assinados os Acordos de Camp David, entre Israel e Egito, presidido agora por Anwar Al Sadat, no marco de um profundo processo de declínio das ideias nasseristas e antissionistas no Egito. O Acordo é mediado por Carter, em sua casa de repouso. Assim, o Egito torna-se o primeiro país árabe a reconhecer Israel formalmente. Em troca, recebe de volta o deserto do Sinai tomado por Israel em 1967, além de uma ajuda financeira de 2 bilhões de dólares dos EUA. Essa decisão isola o Egito dentro da Liga Árabe.

Menachem Begin, um dos líderes do Massacre de Deir Yassin e então primeiro-ministro de Israel, é agraciado com um Nobel da Paz, depois dos Acordos de Camp David.

1979
Revolução no Irã derruba o Xá (rei) pró-imperialista Reza Pahlevi e institui um regime islâmico, oposto aos EUA e à Israel. Com a capitulação egípcia e, em seguida, a revolução xiita, o Irã passa a substituir o Egito como referência anti-imperialista e anticolonial na região.

1981
Begin ordena um ataque ao reator nuclear iraquiano, Osiraq/Tammuz “De forma nenhuma iremos permitir que um inimigo desenvolva armas de destruição em massa contra o povo de Israel”, declara, enquanto Israel já vem desenvolvendo um programa nuclear com o qual ameaçou o mundo árabe na Guerra do Yom Kippur, em 73.

1982
6 de junho – Sob ordens de Menachem Begin, Israel invade o sul do Líbano, com o apoio dos falangistas cristãos, de extrema-direita, a pretexto de combater a OLP, que atua entre refugiados palestinos no país. A operação é cinicamente batizada de Paz para a Galileia. Como consequência, surge Hezbollah, ou Partido de Deus, em árabe, inspirado na revolução iraniana e que atua contra a ocupação israelense no Líbano.

16 de setembro – Em Beirute, capital libanesa, milicianos cristãos maronitas de extrema-direita, com a cobertura de Ariel Sharon, então Ministro da Defesa de Israel, invadem os campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila e promovem uma carnificina contra mulheres, crianças e idosos. Calcula-se que o Massacre de Sabra e Chatila (foto) tenha feito entre 800 e 3500 mortos e feridos. Sharon é apelidado no mundo árabe de “açougueiro de Beirute”.

23 de março – Na esteira de um golpe militar na Guatemala, pequeno país da América Central, começa a ditadura do general José Efraín Ríos Montt (foto). Ao longo dos 18 meses em que governou, Ríos Montt serviu-se largamente de assessores militares enviados por Israel que, neste momento, são entre 300 e 400, sob o comando do tenente-coronel israelense Amatzia Shuali. Na verdade, data da década de 60 a colaboração entre Israel e militares guatemaltecos para o fornecimento de tecnologia e treinamento militar. Calcula-se que, entre 1960 e 1996, tenham sido assassinados 250 mil camponeses, indígenas rurais e militantes de esquerda por militares guatemaltecos. Em 2013, Ríos Montt é condenado a 50 anos de prisão por genocídio e mais 30 anos por crimes contra a humanidade.

1986
20 de outubro – Yitzhak Shamir, responsável pelo assassinato do diplomata sueco, Folke Bernadotte, em 1948, torna-se primeiro-ministro.

1987
9 de Dezembro – Depois de escaramuças e provocações por parte de sionistas, no extremo norte de Gaza, milhares de jovens palestinos contratacam os militares israelenses com pedras e paus, durante vários dias. Começa a Primeira Intifada, ou revolta das pedras (foto abaixo).

10 de dezembro – No marco da Primeira Intifada, começa a surgir na Palestina Hamas, ou Movimento de Resistência Islâmica, um grupo de natureza filantrópica, averso ao secularismo e ao marxismo dos grupos pertencentes à OLP e fundamentalista islâmico. O surgimento de Hamas foi incentivado por Israel, que via na sua existência o fortalecimento de um concorrente da OLP e de al-Fatah. Esse fato, apesar de cinicamente negado pelos sionistas, foi reconhecido por ninguém menos que Yitzhak Segev, general de brigada e governador militar de Gaza no início dos anos 1980, ao New York Times: “O governo israelense me deu uma verba a ser repassada para as mesquitas”. Esse fato também foi admitido por Avner Cohen, ex-responsável de assuntos religiosos do governo de Israel, ao Wall Street Journal, em 2009: “Infelizmente, o Hamas é uma criação israelense”.

21 de Dezembro – No marco da Primeira Intifada, trabalhadores árabes de Israel paralisam suas atividades. “Naquele dia, o imenso exército de trabalhadores árabes, garçons, verdureiros, lixeiros, pedreiros, enfim, todos aqueles que executam os trabalhos não-especializados em Israel, ficam em casa”, escreve John Kifner, correspondente do New York Times.

22 de julho – Naji al-Ali (foto), cartunista palestino criador do icônico personagem, Handala, é alvejado em seu rosto, quando saia de seu trabalho em um jornal kwaitiano, em Londres, vindo a falecer no dia 29 de agosto, no hospital.

1988
26 de janeiro – Em declaração pública, o primeiro ministro Itzak Shamir ressente-se que que os jovens palestino romperam  “a barreira do medo (…) Temos a tarefa de voltar a criar essa barreira e conseguir que os árabes destas zonas voltem a ter medo da morte.”

30 de março – Nova greve geral palestina é convocada pela Direção Nacional Unificada do Levante nos Territórios Ocupados. Participam dela os palestino sob ocupação e palestinos refugiados no Líbano.

Começa a ser gestada uma geração de historiadores em Israel denominada Novos Historiadores. Essa corrente acadêmica propõe uma revisão da versão tradicional da história do Estado de Israel, levando em consideração que houve prática de apartheid e limpeza étnica contra os palestinos. Fazem parte dela os historiadores Benny Morris, Ilan Pappé, Avi Shlaim, Tom Segev, Hillel Cohen, Baruch Kimmerling e Simha Flapan.

Teddy Katz, estudante da universidade de Haifa, realiza 135 entrevistas com palestinos e israelenses e consegue reunir 140 horas de testemunhos sobre o Massacre de Tantura, ocorrido 40 anos antes. Em 2000 o trabalho de Katz é descoberto por um jornalista, que publica trechos delas no jornal Maarvi. Katz tem seu diploma revogado pela Universidade Haifa. Contudo, em base ao seu trabalho, o cineasta Alon Schwarz lança o documentário Tantura (foto), de 2022.

15 de novembro  – Resolução 43/177 da Assembleia Geral ONU reconhece a Declaração de Independência da Palestina, proclamada no mesmo dia por Arafat no governo de exílio da OLP, na Argélia, de acordo com as resoluções da 181 e 242, também da ONU. O texto da declaração foi escrito pelo poeta Mahmoud Darwish.

1990
Outubro – Judeus de extrema-direita armam uma provocação religiosa no Monte do templo, contra palestinos. Na resistência, polícia israelense mata 17 palestinos.

1991
Por pressão de Israel e dos EUA, ONU aprova a Resolução 46/86, que revoga a Resolução 3379 de 1975, deixando de associar o sionismo ao racismo.

1993
Agosto a setembro – o primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, e o líder da OLP, Yasser Arafat, reúnem-se em Washington DC, para discutir os chamados Acordos de Oslo. Esses acordos têm como premissa fundamental o reconhecimento recíproco entre a OLP e o Estado de Israel. Na prática, o acordo expressa uma transformação política no interior de al-Fatah e da OLP, que abre mão de sua bandeira histórica em defesa do fim do Estado sionista e a constituição de um Estado laico, democrático e não-racista na Palestina histórica.

1994
25 de Fevereiro –  O colono sionista Baruch Goldstein, militante do grupo de extrema direita, Kach, invade a Mesquita Ibrahim, no Túmulo dos Patriarcas, em Hebron, e abre fogo contra mais de 800 muçulmanos que fazem orações ali. O local, ocupado por Israel desde 1967, é um santuário para cristãos, judeus e muçulmanos. O Massacre do Túmulo dos Patriarcas promovido por Goldstein, deixou 29 muçulmanos mortos e outros 120 feridos. Goldstein torna-se um símbolo para a extrema direita israelense. O atual Ministro de Segurança de Israel, Ben-Gvir, também chegou a fazer parte do grupo de Goldstein.

4 Maio – Como parte dos Acordos de Oslo, é fundada a ANP – Autoridade Nacional Palestina, uma frágil entidade jurídica e proto-estatal, com autoridade sobre os palestinos de Gaza e das áreas A e B da Cisjordânia, mas sem pleno direito à soberania, arrecadação e administração tributária autônoma, controle de bens e recursos e nem forças armadas próprias. Nesse mesmo contexto, Israel retira-se de partes de Gaza e de Jericó, na Cisjordânia. Contudo, posteriormente acaba novamente violando os acordos e expandindo os assentamentos em terras palestinas.

1995
4 de novembro – Yitzhak Rabin, então primeiro-ministro de Israel e signatário do Acordo de Oslo, é assassinado com três tiros, logo após discursar em um comício em Tel Aviv. Yigal Amir, o responsável pelo assassinato, é um judeu de extrema direita contrário ao Acordo de Oslo. Assume Shimon Peres.

A Câmara Municipal de Jerusalém decide homenagear Joshua “Gal” Goldschmidt, um dos responsáveis pelo atentado ao Hotel King David, ocorrido em 1946, batizando uma das avenidas da cidade com o seu nome.

1996
18 de abril – Qana, cidade bíblica situada no sul do Líbano, é palco de mais um massacre promovido pelo Estado de Israel. O Massacre de Qana ocorre no marco da operação Vinhas da Ira, desencadeada por Shimon Peres, no Líbano, ao longo de 16 dias, deixando 150 mortos. Como parte dessa operação, Israel bombardeia uma base da ONU, que então abriga mais de 800 pessoas. Só nesse ataque são mortas 106 pessoas, a metade delas são crianças. Israel argumenta que o bombardeio teria sido acidental, o que foi contestado pela ONU.

1999
6 de julho – Ehud Barak torna-se primeiro-ministro de Israel.

2000
28 de Setembro – Sharon, então parlamentar do partido Likud, organiza uma visita à Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, local sagrado para os muçulmanos, gesto que é interpretado como uma provocação. Ao final da visita de Sharon, começa uma onda de protestos e escaramuças contra os soldados e policiais israelenses que dá início à chamada Segunda Intifada.

30 de setembro – Mohamed Al-Durrah, um garoto palestino de 12 anos, é morto a tiros em Gaza por soldados israelenses, no marco da repressão aos protestos da segunda intifada. Al-Durrah morre no colo de seu pai, Jamal Al-Durrah, que tenta protegê-lo e acaba ferido. As imagens (foto abaixo) percorreram o mundo, mas os assassinos do garoto nunca foram levados à justiça.

2001
21 a 27 de janeiro – Conferência de Taba, no Egito, entre Israel, liderado por Barak, e Autoridade Nacional Palestina. Ao fim e ao cabo, nenhum documento é assinado e as negociações terminam sem efeito algum.

7 de março – Ariel Sharon (foto), o “açougueiro de Beirute”, agora é primeiro-ministro de Israel, pelo partido Likud.

31 de agosto – Mais de 3000 entidades de Direitos Humanos, participantes da Conferência Mundial das Nações Unidas de 2001 contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância, em Durban, África do Sul, reivindicam a restituição da Resolução 3379 de 1975 da Assembleia Geral da ONU, que iguala o sionismo ao racismo.

2002
24 de janeiro – Morre Elie Hobeika, falangista libanês de extrema-direita, em um misterioso atentado a bomba, antes de testemunhar no Tribunal Belga sobre a participação de Sharon no Massacre de Sabra e Chatila, ocorrido duas décadas antes.

1 – 11 de abril – O Exército de Israel mobiliza bulldozers, blindados e helicópteros e abre um massacre no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia (imagem abaixo). Não se sabe ao certo as estimativas de mortos, já que centenas de pessoas ficam soterradas nos escombros.

5 de abril – Em entrevista publicada na Folha de São Paulo, o historiador israelense Tom Segev, favorável a uma proposta de dois estados e crítico da política ultrarrepressiva do então primeiro-ministro, Ariel Sharon, afirma: “A ocupação estimula o terrorismo”.

2003
26 de junho – Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU emite declaração sobre Israel: “a excessiva insistência de que o Estado é um “Estado judeu” fomenta a discriminação e relega aos cidadãos não judeus a condição de cidadãos de segunda classe” [parágrafo 10]. “O Comitê segue gravemente preocupado pelas deploráveis condições nas quais vivem os palestinos nos Territórios Ocupados, os quais, devido à continuação da ocupação e às conseguintes medidas de fechamento, toques de recolher prolongados, controles de estradas e postos de controle, sofrem graves restrições no exercício dos direitos econômicos, sociais e culturais reconhecidos no Pacto, especialmente no que tange ao acesso ao trabalho, a terra, ao abastecimento de água, à atenção sanitária, à educação e aos alimentos” [parágrafo 19]”

2004
Janeiro – Ahmed Yassin, líder do Hamas, propõe uma década de trégua à Israel, em troca de um estado palestino em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

22 de Março – Israel responde a proposta de Yassin com um ataque aéreo realizado por helicópteros que o elimina sumariamente, além de ferir outras centenas de pessoas. Centenas de milhares de palestinos comparecem ao funeral do líder islâmico.

11 de novembro – Morre Yasser Arafat, em um hospital nos subúrbios de Paris, sob suspeita de envenenamento. Centenas de paletinos reunem-sem em Ramallah, na Cisjordânia, no funeral do ex-líder da OLP. A Autoridade Nacional Palestina passa a ser presidida por Mahmoud Abbas, ou Abu Mazen, ainda mais conciliador que Arafat.

2005
8 de fevereiro – Conferência de paz em Sharm El Sheikh, no Sinai, encerra a Segunda Intifada.

Ao longo de todo o ano, assentamentos israelenses são removidos de Gaza, junto com toda a presença militar israelense na região, além de 4 colônias na Cisjordânia, como concretização da Lei de Implementação do Plano de Retirada. Gaza e Cisjordânia estavam ocupadas desde a Guerra dos seis dias. Nesse mesmo contexto, Sharon dá início à construção do Muro da Cisjordânia, uma barreira de mais de 700 km com cercas, paredões de concreto que vão de 8 metros a 100 metros de altura, fossos, áreas de exclusão, câmeras eletrônicas e torres de vigilância. Em muitos casos o muro acaba por separar agricultores de suas terras, o que gera enormes impactos sociais na região e no aprofundamento da miséria.

2006
25 de Janeiro – Hamas vence as eleições parlamentares na Palestina, ficando com 76 das 132 cadeiras no parlamento. Al-Fatah fica com apenas 43. Ismail Hanyieh (foto), do Hamas, torna-se primeiro-ministro, com reconhecimento da ONU. Mas EUA pressiona Abbas pela demissão do Hamas.

30 de julho – Segundo Massacre de Qana. 28 civis, sendo 16 crianças, morrem em um ataque aéreo israelense, no contexto da guerra contra Hezbollah, no Líbano.

O historiador israelense antissionista Ilan Pappe lança A limpeza étnica da Palestina, no qual denuncia, a partir de documentos do próprio estado de Israel, os crimes dos sionistas no ano de 1948.

2007
Como represália à eleição do Hamas, no ano anterior, Israel bloqueia Gaza por terra, água e ar. Gaza torna-se, nas palavras do historiador antissionista israelense, Ilan Pappe (foto), “a maior prisão na terra”. Expressão que será o título de um dos seus livros mais conhecidos. Nesse mesmo ano, Pappe busca exílio em Londres, depois de sofrer uma série de ameaças e de ser demitido da universidade de Haifa.

2008
24 de janeiro – Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas aprova Resolução que denuncia ataques militares de Israel contra o territórios palestinos e solicita ao país a suspensão do bloqueio imposto à Faixa de Gaza. O próprio jornal israelense, Jerusalém Post, denuncia que já trata-se da 15° Resolução que condena Israel por violação de Direitos Humanos, em menos de dois anos.

23 de dezembro – Hamas exige o fim do bloqueio de Israel em Gaza, em troca de trégua.

26 de dezembro – Israel autoriza temporariamente a entrada de suprimentos em Gaza, depois de 18 meses de bloqueio.

27 de dezembro – Um dia depois de liberar a entrada de suprimentos, Israel lança a operação Chumbo Fundido (foto).

Em relatório emitido para investigar possíveis crimes de guerra no contexto da Operação Chumbo Fundido, ONU declara ter tratado-se de “um ataque deliberadamente desproporcional designado para punir, humilhar e aterrorizar a população civil, radicalmente debilitando sua capacidade econômica local tanto para trabalhar e se autossustentar, quanto para forçar sobre ela um sempre crescente senso de dependência e vulnerabilidade […]. A Missão também conclui que as forças armadas de Israel ilegal e ostentosamente atacaram e destruíram sem necessidade militar um número de objetos e instalações de produções ou processadores de comida (incluindo moinhos, terras e estufas), instalações de água potável, fazendas e animais, em violação ao principio da indistinção. A partir dos fatos investigados, a Missão conclui que essa destruição foi perpetrada com o propósito de negar a subsistência à população civil.”

2009
3 de janeiro – Israel mobiliza tropas e tanques e inicia a fase ofensiva terrestre em Gaza, ainda no marco da operação Chumbo Fundido.

17 de janeiro – O então primeiro-ministro Ehud Olmert anunciou uma trégua unilateral, medida que é correspondida pelo Hamas.

21 de janeiro – Israel retira totalmente suas tropas da Faixa de Gaza, deixando 1 400 palestinos mortos, segundo a ONG israelense de direitos humanos B’Tselem.

31 de março – Benjamin Netanyahu (foto ao lado), do partido Likud, torna-se primeiro-ministro. Seu governo será o mais reacionários da história de Israel.

1.º de junho – Uma comissão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, chefiada pelo juiz sul-africano Richard Goldstone, chega à Faixa de Gaza com o objetivo de investigar possíveis violações dos direitos humanos durante a ofensiva israelense.

15 de setembro – A comissão da ONU em Gaza afirma em seu relatório que Israel “cometeu crimes de guerra e, possivelmente, contra a humanidade”.

Em artigo para o Huffington Post, o professor sul africano de Direito Internacional e membro da Comissão de Direitos Humanos da ONU, John Dugard, ressalta “Israel já devia ter passado há muito tempo, pelo mesmo processo de reconhecimento e transformação racial a que os Estados Unidos foram submetidos nos anos 60 e a África do Sul nos anos 90”.

2011
Março – Israel aprova a Lei da Nakba, que determina a interrupção de financiamento público de qualquer instituição que venha promover atividades, palestras, seminários, filmes, aulas ou exposições que evoquem a memória da Nakba.

2012
14 a 21 de novembro – Novo massacre em Gaza: 174 palestinos são mortos e centenas de feridos no contexto da operação Pilar Defensivo, ação militar israelense desencadeada para assassinar Ahmad Jabari, dirigente do braço militar do Hamas.

2014
11 de janeiro – Morre o “açougueiro de Beirute”, Ariel Sharon. Notícia é comemorada no mundo árabe, particularmente entre palestinos.

8 de Julho – Israel responde ao sequestra 3 jovens israelenses com a operação Margem Protetora, um ataque de sete semanas seguidas em Gaza.

30 de julho – Davi Ovadia, soldado da IDF, publica em suas redes sociais, uma foto sua segurando um fuzil, acompanhada da seguinte legenda:  “Matei hoje 13 crianças palestinas. O resto dos desgraçados muçulmanos mandarei para o inferno mais tarde” (foto abaixo)

Jornalistas divulgam imagens escandalosas de colonos sentados no ponto mais alto de Sderot assistindo e aplaudindo os bombardeios em Gaza.

26 de agosto – Israel encerra a operação Margem Protetora. ONU publica relatório no qual revela que várias instituições de ensino foram alvos diretos dos ataques. Ao menos 2.251 palestinos foram mortos, dentre os quais, 500 crianças, na operação que foi considerada a mais violenta desde 2008.

2016
Em dezembro de 2016, resolução do Conselho de Segurança aprova resolução que proíbe o colonato e considera ilegal novos assentamentos israelenses em terras palestinas.

2017
Janeiro – Em evidente gesto de desobediência à resolução do Conselho de Segurança da ONU do mês anterior, Israel anuncia a construção de 566 casas para os colonos.

2018
19 de julho – Knesset, o parlamento israelense, aprova a Lei do Estado-Nação do Povo Judeu, dispositivo jurídico que consagra a supremacia judaica nas áreas ocupadas, estabelecendo um estado judaico exclusivo. Também fica estabelecido que os assentamentos ilegais em terras árabes são um “valor nacional” resguardado pelo Estado. Com a Lei do Estado-Nação, o árabe também deixa de ser reconhecido como língua nacional.

Março – Palestinos protestam próximo à cerca em torno de Gaza. Militares de Israel respondem com fogo. Os protestos do lado palestino seguem e mais de 170 são mortos ao longo de vários dias.

6 de Abril – Jornalista Yasser Murtara (foto) é assassinado pelo Estado de Israel em 2018, enquanto cobria a grande marcha para o retorno. Ele usava capacete e um colete com a palavra Press (imprensa), o que não o impediu de ser alvejado.

2021
Abril – Durante o Ramadã centenas de palestinos são agredidos por israelenses na Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, um dos três lugares mais sagrados para os muçulmanos

2022
11 de Maio – Shireen Abu Akleh, jornalista palestino-americana da rede Al Jazeera, é morta (imagem ao lado) com um tiro no rosto por militares israelenses enquanto acompanhava ação de soldados em Jenin, na Cisjordânia. “Concluímos nosso monitoramento independente do incidente. Os tiros que mataram Abu Akleh e feriram seu colega Ali Sammoudi vieram das forças de segurança israelenses, e não de disparos indiscriminados de palestinos armados, como inicialmente alegado pelas autoridades de Israel”, afirma a porta-voz do Escritório de Direitos Humanos da ONU, Ravina Shamdasani.

15 de junho – Em declaração de ódio anti-árabe, o Ministro de Serviços Religiosos de Israel e liderança do partido de direita Yamina, Matan Kahana, afirma que desejaria dispor de um “botão que pudesse fazer desaparecer todos os árabes” e que “pressionaria esse botão”. A declaração ocorreu durante uma palestra ministrada em uma escola secundária situada em um assentamento ilegal em Efrat, na Cisjordânia.

26 de Julho – Em discurso na ONU, a ministra sul-africana, Naledi Pandor (foto ao lado), pede que Israel seja considerado um “estado de apartheid”. “A narrativa palestina evoca experiências da própria história de segregação racial e opressão da África do Sul”, afirma a ministra em seu discurso.

 

29 de setembro – Rayan Suleiman, uma criança palestina de 7 anos (foto), morre de insuficiência cardíaca após ser perseguida por soldados israelenses fortemente armados na Cisjordânia ocupada.

2023
26 de janeiro – Israel lança foguetes contra Gaza, depois de massacrar 9 palestinos em Jenin, na Cisjordânia ocupada.

22 de fevereiro – 11 palestinos são mortos e outros 100 são feridos em Nablus, na Cisjordânia, em uma operação da IDF, sob o pretexto de prender suspeitos envolvidos em ataques contra Israel, num dos episódios considerados mais violentos dos últimos anos.

22 de março – Knesset aprova a revogação de uma lei anterior que desarticulava quatro colonatos na Cisjordânia, com o objetivo de retomar a ocupação da região. EUA e vários outros países condenam a inciativa aprovada pelo parlamento.

26 de março – Centro Palestino de Direitos Humanos (CPDH) alerta que a proibição israelense sobre insumos médico-hospitalares na Faixa de Gaza sitiada coloca em risco a vida de milhares de pacientes. “Deficiências no sistema de saúde e falta de suprimentos e equipamentos médicos levaram à deterioração das condições de milhares de pacientes em Gaza”, denuncia o grupo de direitos humanos em um relatório.

5 de abril – Polícia israelense invade Mesquita de Al-Aqsa enquanto palestino realizam oração por ocasião do Ramadã. Centenas de palestinos são presos e, segundo o Crescente Vermelho, pelo menos 12 ficam feridos, como efeitos das balas de borracha e bombas de efeito moral usadas dentro da mesquita.

7 de abril – Israel bombardeia sul do Líbano e campo de refugiados de Nuseirat, na Faixa de Gaza.

2 de maio – Morre Khader Adnan (foto), prisioneiro político vítima das famigeradas Prisões administrativas (recuso penal para prender palestinos sem julgamento ou mesmo acusação formal), após realizar 87 dias de greve de fome.

11 de maio – Em terceiro dia de operação de bombardeio aéreo contra a Jihad Islâmica, Israel mata 27 palestinos, sendo 6 crianças, além de deixar 86 feridos.

19 de junho – Helicóptero israelense bombardeira Cisjordânia pela primeira vez desde os anos 2000. 5 palestinos são mortos, sendo um deles de 15 anos, e outros 60 ficam feridos.

5 de agosto – Elisha Yered, um colono vinculado a Limor Son Har-Melech, parlamentar do partido extremista Otzma Yehudit, assassina Qusai Mu’tan, um jovem palestino de apenas 19 anos, que participava de uma confraternização com seus amigos, no vilarejo de Burqa, na Palestina ocupada. Seu funeral (imagem ao lado) é marcado por grande comoção. Ben Gvir exalta a ação “heróica” de Yered afirmando que ele merece “medalha de honra”.

21 de agosto – Tor Wennesland, enviado da ONU para o Oriente Médio, publica um relatório aos membros do Conselho de Segurança da entidade no qual alerta para a morte de mais de 200 palestinos só no ano de 2023, no que chama de “tendências preocupantes”.

26 de setembro – Chega ao quinto dia a campanha de bombardeio com drones em Gaza, contra protestos palestinos na fronteira. 41 palestinos são feridos

7 de outubro – Hamas lança a operação Tempestade Al Aqsa (foto abaixo) como resposta aos 16 anos de cerco em Gaza.

8 de outubro – Israel responde com uma brutal ofensiva punitiva em Gaza que inclui bombardeio aéreo em prédios civis, incursão por terra e ordem de retirada para metade da população. EUA intervém prometendo ajuda miliar. Desde janeiro os EUA já haviam fornecido cerca US$ 3,8 bilhões a Israel em ajuda militar, segundo Al Jazeera.

9 de outubro – O ministro da defesa de Israel, Yoav Gallant, declara: “A ordem foi para se estabelecer o bloqueio total para a Faixa de Gaza. Não haverá eletricidade, nem comida, nem água, nem combustível, tudo fechado. Nós estamos combatendo contra animais humanos e estamos agindo em conformidade com isso”.

17 de outubro – Área externa do hospital cristão Al-Ahli e uma igreja batista, em Gaza, são bombardeados deixando mais de 500 mortos. Médicos do hospital bombardeado concedem coletiva de imprensa arrodeados dezenas de cadáveres palestinos.

4 – de novembro – Desde o início do massacre israelense em Gaza, já são mais de 10 000 mortos, sendo a metade crianças. Nesse dia, milhares de pessoas em todo o mundo, agitando cartazes e bandeiras palestinas, saem às ruas exigindo imediato cessar-fogo, ajuda humanitária para Gaza e Palestina Livre.

Bibliografia
CLEMESHA, Arlene. Palestina, 1948-2008 60 Anos de Desenraizamento e Desapropriação. Fórum, 2008.
Fourth International. Zionism and the Jewish Question in the Near East. Oct 1946. Marxists.otg
KANAFANI, Ghassan. A Revolta de 1936-39 na Palestina. São Paulo, Editora Sundermann, 2022.
MISLEH, Soraya, Al Nakba, Um estudo sobre a catástrofe palestina, Sundermann-Ibraspal, São Paulo, 2017.
PAPPE, Ilan, The Ethnic cleasing of Palestin, Oneworld, London, 2006
PEREIRA, Cecília Maieron, DA CONVERGÊNCIA À COOPERAÇÃO MILITAR: ISRAEL E ÁFRICA DO SUL DURANTE O REGIME DO APARTHEID (1948-1994), Porto Alegre, UFRGS, 2019.
SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007
SCHOENMAN, Ralph, The Hiden history of zionism, 1988
SITTA, Dr. Salman Abu e SAAH, Daleen , O MASSACRE DE DAWAYIMA 1948, Monitor do Oriente, 2023
The Anti-imperialist Struggle in Palestine: Resolution of the IX Congress of the Communist Party of Palestine. Sep, 1945. Marxists.org.
TROTSKY, Leon. On the Jewish Problem. 1940. Marxists.org.
TOLEDO, Cecília, Israel: Cinco décadas de pilhagens e limpeza étnica, in Marxismo Vivo, São Paulo