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MUNDO

Correndo risco de prisão e agressão, israelenses começam a protestar contra guerra em Gaza

Reunidos em frente ao quartel-general do exército, no centro de Tel Aviv, dezenas de israelenses pediram um cessar-fogo e a libertação de todos os reféns.

Por Oren Ziv. Tradução de Waldo Mermelstein, do Esquerda Online.
Oren Ziv

Manifestantes israelenses protestam em frente ao quartel-general do exército israelense em Tel Aviv, pedindo um cessar-fogo na guerra em Gaza, em 28 de outubro de 2023

No último sábado à noite, pela primeira vez desde o ataque do Hamas em 7 de outubro ao sul de Israel e o início dos bombardeios israelenses à Faixa de Gaza, algumas dezenas de israelenses se reuniram em Tel Aviv para pedir um cessar-fogo. Na atual atmosfera de violência, repressão e perseguição, qualquer ato público de desafio contra a guerra é digno de nota.

Os manifestantes se reuniram em frente ao quartel-general militar israelense na rua Kaplan, onde, até o início da guerra, dezenas de milhares de manifestantes contra o governo [de Netanyhau] se reuniam todos os sábados à noite desde janeiro. A algumas centenas de metros de distância, as famílias dos que foram raptados para Gaza realizaram um protesto em separado após uma reunião com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e exigiram que Israel continuasse a libertação de todos os reféns em Gaza em troca da libertação de todos os palestinianos detidos por acusações de infringir a segurança nas prisões israelenses – um acordo que sendo rotulado como “todos por todos” – que o Hamas insinuou que fossem as condições da organização para qualquer acordo importante.

Manifestantes israelenses protestam em frente ao quartel-general do exército israelense em Tel Aviv, pedindo um cessar-fogo na guerra em Gaza, em 28 de outubro de 2023

Durante cada um dos ataques anteriores de Israel a Gaza, a dissidência interna pagou um preço significativo, com os manifestantes muitas vezes enfrentando prisões e espancamentos pela polícia. E a repressão não vem apenas do Estado: em 2014, quando Israel invadiu Gaza pela última vez com tropas terrestres, centenas de ativistas do grupo fascista La Familia atacaram uma manifestação contra a guerra em Tel Aviv, enquanto a polícia ficou observando.

Desta vez, a polícia anunciou a proibição total de “manifestações políticas” enquanto Israel estiver em guerra. Kobi Shabtai, chefe da polícia de Israel, chegou a ameaçar enviar para Gaza qualquer cidadão palestino de Israel que expressasse solidariedade aos palestinos na Faixa. Em 18 de outubro, cinco manifestantes foram presos em Haifa antes mesmo do início de uma “vigília solidária” por Gaza, ao passo que 12 foram presos durante um evento semelhante na cidade árabe de Umm Al-Fahm. E, ao mesmo tempo em que manifestantes se reuniam na rua Kaplan, centenas de direitistas tentaram invadir os dormitórios estudantis do Netanya Academic College, perto de Tel Aviv, gritando “Morte aos árabes” e exigindo que os estudantes árabes fossem expulsos da cidade.

Oren Ziv

Vários dos que participaram do protesto de Tel Aviv no sábado disseram ao +972 que queriam sair às ruas antes – assim que ficou claro, segundo suas palavras, que o massacre cometido pelo Hamas em 7 de outubro estava sendo usado para justificar crimes de guerra israelenses em Gaza – mas temiam por suas vidas devido ao ambiente público. Desde o início da guerra, ativistas de esquerda têm recebido ameaças de morte e estão tendo seus dados pessoais em grupos de mídia social de direita, como seus endereços residenciais e outros detalhes pessoais. Alguns deles, como o proeminente jornalista Israel Frey, foram forçados a fugir de suas casas e se esconder.

Paralelamente à proibição de protestos, a polícia prendeu mais de 170 cidadãos palestinos de Israel desde o início dos combates por suspeita de “incitar a violência” e “apoiar o terrorismo” online. Em alguns casos, a acusação foi baseada em apenas postar versos do Alcorão ou “curtir” postagens nas redes sociais expressando solidariedade aos civis em Gaza. Foram apresentadas acusações contra 24 deles, incluindo a atriz Maisa Abd Elhadi, que também enfrenta a possibilidade de ter sua cidadania revogada.

Originalmente publicado em: Risking arrest and assault, Israelis begin protesting Gaza war