Por que é preciso defender os palestinos?


Publicado em: 22 de outubro de 2023

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Fábio José de Queiroz, de Fortaleza (CE)

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O poder da ideologia sionista-imperialista, vocalizado pela mídia comercial, tem produzido um silêncio constrangedor em setores da “intelligentsia”. Enquanto isso a máquina de guerra sionista-imperialista vai empilhando cadáveres, sobretudo de crianças. Neste artigo, segue um pouco de história, mas, principalmente, uma breve análise de pontos que reclamam uma atitude ativa contra as práticas e as pretensões do Estado sionista.

Um pouco de história

A história de resistência dos palestinos é a de um povo que perdeu sua terra e traz agora em seu corpo as “cicatrizes de feridas humilhantes” do passado, conforme descreveu Edward Said. Aliás, esse passado começou a ser escrito na partilha oficial do território palestino – em novembro de 1947 – e na criação formal do Estado de Israel – em maio de 1948 -, sob a regência da ONU e dos impérios ocidentais.

Mas esses fatos têm uma origem mais recuada. A criação do movimento sionista, no final do século XIX, e a gradual aproximação desse movimento, nas primeiras décadas do século XX, do imperialismo britânico, em última análise, começaram a preparar as condições para que a fraude “de uma terra sem povo para um povo sem terra” pudesse, enfim, adquirir legitimação e funcionalidade.

Durante algum tempo, houve certa convivência entre palestinos, árabes, judeus, cristãos etc. Entretanto, a articulação entre os sionistas e o imperialismo – britânico, estadunidense etc. – e a inserção de sua política nos territórios da Palestina nutriram as tensões entre os povos, produzindo escaramuças que, ao longo do tempo, se intensificaram.

Começava a gradual expropriação do povo palestino.

Em 1947, os judeus eram aproximadamente pouco mais de 600 mil pessoas nos territórios ocupados, menos da metade dos palestinos, e a cada nova fase do conflito essa relação foi sendo alterada. Hoje, calcula-se uma população de 9,3 milhões de habitantes em Israel contra pouco mais de 5 milhões de palestinos, espalhados na Cisjordânia e na faixa de Gaza.

O que é o estado de Israel e qual sua relação com os territórios palestinos?

O Estado de Israel constitui um enclave imperialista-ocidental no Oriente Médio. Esse Estado extrai sua fortaleza do suporte econômico e militar das grandes potências ocidentais. Se no passado, esse papel coube sobretudo à Inglaterra, hoje, sem dúvida, essa tarefa é desempenhada pelos Estados Unidos, que, mal começou o conflito, já trataram de enviar dois porta-aviões para “defesa” de Israel.

Confirma-se aí a hipótese de Edward Said da existência de uma dominação ativa do Ocidente sobre o mundo não ocidental, a ponto de arrancar um povo de seu território para inserir um outro, independentemente das consequências dessa decisão. A relação de Israel com os palestinos é, portanto, de caráter marcadamente imperialista.

Trata-se de uma relação do dominador com o dominado, do colonizador com o colonizado, na qual a limpeza étnica é característica inseparável. A metáfora de uma prisão a céu aberto não é exagero retórico, mas é a expressão objetiva do que se passa nos territórios em que os palestinos sobrevivem (ou não) sob a tutela militar do Estado sionista.

Até onde vai o poder da ideologia sionista-imperialista?

75 anos nos separam da criação do Estado de Israel. No Ocidente, a ideologia sionista-imperialista busca apresentar o Estado israelense como democrático, civilizado e cercado de “bestas árabes” por todos os lados.

No Brasil, há poucas objeções a essa narrativa-síntese do sionismo. Mesmo intelectuais, sobretudo acadêmicos, que proferem duras críticas ao colonialismo ocidental e ao racismo que o acompanha, – até por conta das tragédias que se abateram sobre os povos indígenas e africanos -, trazem em seus gestos um silêncio nada inocente quanto às práticas raciológicas sionistas-imperialistas que dilaceram o povo palestino.

O holocausto judeu promovido pelos nazistas é um fato. É uma das maiores tragédias humanas registradas na história. Esse fato, no entanto, não autoriza os sionistas exterminarem todo um povo, como se observa no caso dos palestinos, a pretexto de proteger um “Estado judeu”.

O holocausto judeu promovido pelos nazistas é um fato. É uma das maiores tragédias humanas registradas na história. Esse fato, no entanto, não autoriza os sionistas exterminarem todo um povo, como se observa no caso dos palestinos, a pretexto de proteger um “Estado judeu”.

Não é hora de muitos filósofos, historiadores, sociólogos, escritores, artistas e intelectuais de um modo geral, efetivamente, substituírem seu silêncio obsequioso, solidarizando-se, enfim, com as vítimas de um apartheid racista praticado por um Estado implantado artificialmente no Oriente Médio pelas mãos ocidentais?

Questionar o direito palestino de insurgir-se contra a expropriação de seus territórios e a colonização permanente contra o que resta deles é o mesmo que contestar o direito ao uso da força por indígenas e africanos contra a colonização-escravização a que eram submetidos. Ademais, como declarou Fanon, o império nunca cede nada de boa vontade.

No Brasil contemporâneo, a população negra luta pelo reconhecimento de seus quilombos e os indígenas se levantam contra o marco temporal. É a mesma luta dos palestinos, que pelejam pela recuperação de sua terra, e consequentemente, pelo direito a uma plena autonomia sobre seus territórios.

Não por acaso, a extrema-direita, que não se cansa de protestar contra as reivindicações indígenas e da população negra no Brasil, apoia ostensivamente a política beligerante de Israel contra os palestinos. As posições estão muito nítidas. Os que preferem seguir sob o signo da “isenção” terão de fazer muita ginástica para seguirem pousando de mentes “abertas” e “progressistas”, enquanto se recusam solenemente a enfrentar a avalanche de fake news da mídia corporativa.

Há saída para pôr um fim ao genocídio histórico do povo palestino?

Só a criação de um Estado laico, independente e democrático, onde caibam palestinos, árabes, judeus e cristãos, pode superar a tragédia que se iniciou quando as potências imperialistas decidiram expropriar a terra de um povo para criar um Estado reclamado por um movimento racista: o sionismo.

É preciso acabar a ambiguidade que confunde antissemitismo, um crime de rotundas dimensões, com antissionismo, uma necessidade candente de nossa época.

Sionismo não é o mesmo que judaísmo. Nem todos judeus concordam com o programa sionista. Muitos deles, inclusive nos Estados Unidos, estão saindo às ruas para denunciar os crimes de guerra do Estado sionista. É preciso acabar a ambiguidade que confunde antissemitismo, um crime de rotundas dimensões, com antissionismo, uma necessidade candente de nossa época.

Fica cada vem mais nítido que está nas mãos do povo palestino a bandeira da criação desse Estado laico, independente e democrático. Essa é a solução genuinamente pós-colonial para que a paz possa ser alcançada na região. Fora isso, é a solução final proposta por Biden-Netanyahu.

É perante essa disjuntiva que se encontra o pensamento crítico. Ele estará à altura de sua pretendida criticidade ou seguirá refém de uma linguagem instransparente?


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