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Paz e Liberdade na Palestina

Palestina hoy

Gabriel Santos

Garbriel Santos é alagoano, estudante da UFRGS, militante da Resistência-PSOL (RS), vascaíno e filho de Oxóssi.

“A única maneira das crianças israelenses dormirem em paz
é as crianças palestinas dormirem em paz”
Gustavo Petro, Presidente da Colômbia

Sábado, dia 07, as manchetes dos tele jornais de todo mundo se tornaram o ataque-surpresa que o grupo palestino Hamas efetuou contra o Estado Terrorista de Israel. Atuando da Faixa de Gaza, combatentes do grupo efetivaram um contra-ataque em resposta às ações de colonos sionistas que invadiram mesquitas, agrediram palestinos e as ações militares do exército terrorista de “Israel” que nos últimos meses expulsaram centenas de palestinos de suas casas.

O Hamas disparou mais de 500 foguetes contra “Israel”, e pela primeira vez na história os soldados do grupo invadiram os territórios ocupados. A guerra foi deslocada para o território da ocupação militar com dezenas de soldados sionistas feitos reféns. A ação do Hamas contra o avanço sionista desencadeou uma nova etapa na guerra da resistência palestina contra a ocupação. O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, que lidera uma coalizão de extrema-direita, declarou guerra  colonial contra o Hamas, e convocou mais de 300 mil reservistas israelenses para o combate, além de ter bombardeado inúmeras casas, prédios, e assassinado centenas de civis palestinos. 

O atual governo do autoproclamado Estado de Israel aproveita qualquer oportunidade para implementar seu plano de limpeza étnica da população originária, sua política de apartheid e o roubo de terras até ter realizado a anexação de toda Palestina Histórica. O bloqueio econômico ilegal que impõe em Gaza, faz dessa região, de acordo com a própria ONU, a maior prisão a céu aberto do mundo e o maior campo de concentração da história. Gaza tem tamanho de um pequeno bairro de São Paulo e lá habitam mais de dois milhões de pessoas, sendo uma das regiões mais densamente povoadas do mundo.

O Estado terrorista de Israel controla quem entra e quem sai do território, não permitindo que se chegue ajuda internacional, alimentos ou remédios. Desde o inicio do ano foram mais 200 palestinos mortos, sendo 35 crianças, pelo exercito sionista e por colonos que invadiam o território palestino. A atual operação de autodefesa do movimento de resistência palestino buscando a retomada de territórios que foram ocupados ilegalmente por colonos sionistas é o maior movimento desde a Segunda Intifada, que ocorreu entre os anos 2000 e 2005. Os palestinos vivem em condições de colonização e ocupação militar por um exército estrangeiro, sendo assim suas formas de resistência são legítimas diante dos 70 anos de agressão que sofrem e têm uma natureza anticolonial e de autodefesa. As respostas do Estado Sionista de Israel são o prolongamento de um crime interrupto. Não igualamos as responsabilidades, nem colocamos sinal de igual entre as ações. A existência de uma ocupação ilegal é a origem da violência e o fato que impede a realização da paz.

O mal chamado conflito Israel-Palestino está em curso há mais de 50 anos. Desde que a ONU resolveu criar o Estado Sionista no Oriente Médio sem consultar a população palestina que lá habitava e foi expulsa de sua terra por meio da violência física (foram mais de 700 mil palestinos expulsos naquilo que ficou conhecido como Nakba). A origem do confronto não está na resposta do Hamas neste fim de semana, ou na existência do Hamas como grupo para militar. A origem do conflito Israel-Palestina está na existência forçada de um Estado invasor, que tem uma ideologia de pureza racial, e que desde sua origem expulsa, e utiliza da força e da militarização para garantir a ocupação de um território estrangeiro, mantendo a população que ali habitava e habita sobre seu domínio. É válido sempre lembrar que há três décadas os palestinos fizeram concessões de territórios e aceitaram a existência de “Israel” nos chamados Acordos de Oslo para garantir negociações pacificas e ter em contrapartida estabelecido um Estado Palestino com fronteiras e direitos reconhecidas internacionalmente, acordos que nunca tiveram resultado por que não foram cumpridos por “Israel” e pelos Estados Unidos. Ano após ano o Estado auto proclamado de Israel avança suas fronteiras, rouba terras palestinas, cria assentamentos ilegais, e aumenta a repressão da população palestina. O conflito Israel-Palestina é na verdade a luta do colonizador para manter seu domínio contra o colonizado que briga por sua liberdade.

Diante da operação preventiva do Hamas o conjunto da comunidade internacional declaram apoio a “Israel” e se cala diante das violências e arbitrariedades cometida pelo Estado Sionista. Hoje há parlamentares israelenses defendendo o genocídio palestino e bombardeio indiscriminado sobre a Faixa de Gaza, outros pedem a expulsão completa dos palestinos de sua terra, porém nada disso choca, afinal, como disse o comunicado oficial da Casa Branca “o que é importante agora é apoio à Israel”. Ontem foi anunciado que o governo estadunidense fará um aporte de mais 14 bilhões de dólares, ou seja, mais de 50 BILHÕES de reais em armamento para o Estado Sionista.

O apoio do Ocidente a “Israel” não é meramente hipocrisia é a concretização do próprio ethos do Ocidente. A colonização e a violência são uma marca do Ocidente, e a isso se soma um messianismo moral judaico-cristão. O supremacismo racial, o apartheid, os crimes de guerra (como o uso de fosfero brancos em civis) e crimes contra a humanidade (inviabilizando o acesso a agua e energia para milhões de pessoas), que “Israel” comete contra os palestinos são aceitos pelo Ocidente justamente pelo Ocidente utilizar e apoiar esses métodos quando necessário. Se hoje a França não impõe seu controle militar no Mali, e a Inglaterra não tem campos de concentração em Gana, é pelo fato da população desses países terem se levantado e lutado contra o colonialismo. Porém, tanto França, quanto Inglaterra, como Estados Unidos, apoiam os campos de concentração que “Israel” cria na Palestina, e assim esses países também se realizam na manutenção da colonização e do regime de supremacia racial.

A fala do ministro de defesa do Estado terrorista de Israel demonstra bem isso. Ele apontou que estavam lutando contra uma população de animais. Os palestinos são tratados como sub-humanos, e por isso, contra eles todas as táticas e crimes são permitidos. A morte desses sub-humanos é normal, quando não são efeitos diplomáticos. Porém, quando esses sub-humanos se levantam e resolvem utilizar de forma esporádica contra o colonizador uma parte da violência sob a qual eles estão submetidos diariamente, essa atitude é vista como inaceitável. A violência colonial que os sionistas utilizaram como método de controle diário contra os palestinos, um dia se volta contra eles, afinal, como lembrou Aimé Césaire: ninguém coloniza impunemente. É impossível encarcerar duas milhões de pessoas reprimidas e retirando direitos humanos básicos e não esperar que exista uma retaliação por parte dessas pessoas em algum momento. 

Em tempos em que grande parte da esquerda é ganha para conceitos pós coloniais ou pós-coloniais, que tanto existem nos corredores das universidades brasileiras, a resistência palestina reforça que na situação concreta pelo fim da colonização o que garante a liberdade não é a criação de uma identidade ou um discurso sobre a mesma, mas sim o confronto político e quando necessário a utilização da força. Para os que dizem Palestina Livre, é preciso pensar quem libertará os palestinos da desumanização sistematizada que estão submetidos. Não será a ONU, não será a comunidade internacional, não será o Ocidente, e não será o Estado Sionisita, a libertação Palestina virá pela luta do povo palestino.

Os caminhos do guerra pela libertação da Palestina

A guerra colonial declarada pelo Estado terrorista de Israel à Palestina tem como objetivo fazer com que não somente a resistência palestina, mas sim todo o território, se dobre diante do método de terror. Os bombardeios indiscriminados feitos pelo exército sionisita atingindo civis, hospitais e escolas, busca minar a possibilidade de qualquer defesa palestina quando for feita a invasão de Gaza por terra.

A estratégia do Hamas parece ser atrair o Estado sionista para o confronto com o elevamento da tensão. Pela primeira vez o grupo palestino conseguiu furar a defesa israelense e dá duros golpes ao exército de “Israel”. A população de Gaza cercada pelos colonizadores por terra e mar sabe os riscos da invasão israelense e está disposta a tudo pela sua liberdade. Serão dois milhões de pessoas que não terão para onde fugir, e pegar em armas contra o invasor se torne a alternativa mais viável.  Caso o Estado sionista coloque os pés em Gaza, como anuncia que fará, provavelmente o Hezbollah entrará no confronto ao sul do Líbano, ao norte do território ocupado.

O Estado sionista terá então que lutar em duas frentes, e com riscos, já que se teve problema com 5 mil foguetes caseiros do Hamas, irá encarar agora 100 mil foguetes do Hezbollah. Gaza é impossível de ocupar pelas condições que a própria colonização impôs ao território e aos seus moradores. O Estado terrorista de Israel sabe disso, e vai buscar a aniquilação completa de todo e qualquer palestino que resista. Ainda existe a possibilidade menor da mobilização militar do Irã, assim como da Síria em apoio aos palestinos, a depender dos rumos da guerra. O bombardeio israelense será brutal, o cerco desumano e os crimes de guerra atingindo a população de Gaza com a fome terá efeito que não é previsto. A entrada do Hezbollah e os riscos da guerra se transformar num confronto que envolva todo Oriente Médio, isso em um cenário de guerra global e disputa geopolítica, é grande. O fato é que a ação do Hamas já movimentou peças no jogo econômico e diplomático com a Arábia Saudita anunciando que não fará mais acordos e negociações de aproximações com Israel.

Não sou partidário da guerra. Nem um defensor da mesma. Muito menos do Hamas e de seu fundamentalismo religioso. Porém não sou um moralista ou um adepto da hipocrisia. É fato consumado que a guerra é a política por outros meios. Ou seja, é justamente a política feita pelas armas quando as possibilidades de fazer política pela caneta se tornam inviáveis. Existem guerras justas e injustas. Nem toda guerra é igual. Existem guerras entre as potências imperialistas para aumentar sua parcela na divisão do mundo, guerras de invasão colonial, guerras de resistência e de libertação nacional. Normalmente se começa a guerra por um motivo, assim como ela é terminada por uma razão. A guerra de um povo contra o colonialismo e em busca de sua liberdade é uma luta justa, por mais que utilize táticas ou métodos que não temos acordo.

A responsabilidade pelo conflito não pode cair sobre o povo que busca sua liberdade. Pelo contrário, a raiz da violência é justamente o seu ato inicial: a ocupação colonial do autoproclamado Estado de Israel. Todos os outros problemas são derivados daí. Quanto mais o Estado Sionista desrespeita o Direito Internacional. Quanto mais comete crimes de guerra e atinge direitos humanos básicos do povo palestino. Quanto mais fortalece a segregação étnica e o apartheid. Quanto mais roubar, saquear, e expulsar palestinos de suas terras. Sempre que agir assim, pela violência, o exemplo prático do Estado Sionista é que a diplomacia pode ser jogada fora e a violência é a única forma de diálogo. 

Hoje a solução dos dois Estados, um árabe e um judeu, é inviável, justamente pela negativa e não cumprimento das resoluções da ONU por parte do Estado Sionista que invade e segue anexando diariamente a fronteira Palestina. Falar na solução dos dois Estados é olhar o mundo como a 20 anos atrás, quando isso ainda era possível. Na prática, é fechar os olhos para a violência israelense e buscar negociações enquanto o Estado terrorista de Israel avançar na ocupação ilegal de terras palestinas e infla sua população.

O Brasil tem papel importantíssimo no conselho de Segurança da ONU para buscar negociar um cessar-fogo imediato. Tarefa número um daqueles comprometidos com a paz. Uma solução para a guerra passa pelo fim da prática colonialista e da ocupação violenta por parte do Estado Sionista. Uma paz para ser possível precisa levar em conta a segurança dos palestinos, seus direitos humanos e premissas históricas: o direito de retorno dos refugiados que fugiram ou foram expulsos para outros países, a implementação das resoluções da ONU ignoradas por “Israel”, fim das políticas de apartheid, e restauração dos direitos civis e nacionais do povo palestino.