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MUNDO

Greve nos grandes fabricantes de carros de Detroit entra no quarto dia

Com os 12.700 trabalhadores de três fábricas da GM, Stellantis e Ford em luta, as empresas começam a anunciar dispensas de outros trabalhadores sem direito a compensações. O sindicato contesta e garante que estes trabalhadores não ficarão sem rendimento.

Esquerda.net
Foto do sindicato

Os trabalhadores de três fábricas dos três maiores fabricantes de automóveis de Detroit – General Motors, Ford e Stellantis – entraram esta segunda-feira no seu quarto dia de greve depois de o prazo do acordo sobre o contrato coletivo de trabalho anterior ter expirado.

O presidente do United Auto Workers, o sindicato que os representa, Shawn Fain, avisou no programa da CBS Face of The Nation(link is external) que a luta se pode vir a “amplificar” para outras instalações se não forem feitas “melhores ofertas” nas negociações em curso e que estão “preparados para fazer o que têm de fazer”.

Estas empresas usufruíram de grandes ajudas públicas supostamente para recuperar a atividade depois da pandemia e tiveram lucros combinados de 21 mil milhões de dólares apenas nos primeiros seis meses do ano. Com os lucros das empresas em alta e com os prémios das administrações também a crescer, os trabalhadores reivindicam que lhes chegue também “uma parte justa desta economia”. O UAW pretende um aumento salarial de 40% em quatro anos, o regresso ao anterior sistema de pensões, diminuição da duração da semana de trabalho para 32 horas, combate à precariedade e a eliminação do sistema de retribuições que discrimina os trabalhadores mais recentes, entre outras reivindicações.

A greve gerou ainda outro braço de ferro entre sindicato e empresas. A Ford dispensou já temporariamente 600 trabalhadores da sua fábrica de montagem no Michigan, alegando falta de preparação dos materiais com que trabalham devido à paralisação. A General Motors ainda não mandou trabalhadores para casa mas fez saber que 2.000 trabalhadores da fábrica de montagem de Fairfax, no Kansas, devem sofrer o mesmo destino. Estas empresas estão a defender que não haverá lugar a quaisquer compensações por isso não estar previsto em caso de greve. O UAW contesta e garante que os trabalhadores não ficarão sem rendimento.

Recorde-se que os grevistas receberão 500 dólares por semana do fundo de greve, o que corresponde a cerca de 40% dos seus ganhos habituais. Para já são apenas 12.700 de um total de 150.000, porque se escolheu começar a luta por três fábricas. Se todos eles entrassem em greve ao mesmo tempo, estima-se que o fundo de greve de 835 milhões de dólares fosse suficiente para durar perto de três meses.

Por outro lado, a importância destas fábricas fez com que o presidente norte-americano, Joe Biden, destacasse Julie Su, a secretária do Trabalho, e Gene Sperling, consultor da Casa Branca, para “ajudarem” com as negociações. Fez ainda questão de dizer que compreende as frustrações dos trabalhadores com os “lucros recorde” que “não foram partilhados justamente”.

O seu ex-adversário nas primárias democratas para a presidência, Bernie Sanders, esteve na passada sexta-feira num comício de solidariedade para com os grevistas. Aí se dirigiu diretamente aos CEO destas empresas, Mary Barra, da GM, Carlos Tavares da Stellantis, e Jim Farley da Ford, que ganharam mais de 20 milhões de dólares no ano passado, dizendo-lhe que “é tempo para acabar com a vossa ganância” e de “tratarem os vossos empregados com o respeito e dignidade que merecem”.

Esta greve é considerada histórica não só pela importância económica do setor mas também por ser a primeira vez que é decretada uma greve simultaneamente nestas três empresas.

Texto original em Esquerda.net

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