Em alguns momentos da conjuntura abrem-se oportunidades políticas para o avanço em nossa agenda de lutas. Estas oportunidades devem ser aproveitadas de forma contundente pelos movimentos sociais, as organizações de esquerda e por todes que lutam em defesa dos direitos sociais e democráticos dos explorados e oprimidos.
Neste sentido, alguns elementos apontam para um momento mais favorável para se apostar em um processo de mobilização que tenha como principal bandeira unificadora a exigência de prisão imediata para Bolsonaro.
1. Isolamento na superestrutura
As votações no Congresso, as investigações conduzidas pelo STF, as sucessivas operações da PF, a evolução dos trabalhos da CPI dos atos golpistas, com todos os seus limites evidentes, não deixam de demonstrar que Bolsonaro vive seu pior momento na superestrutura política e jurídica do país.
O PL apoia Bolsonaro e segue sendo a maior bancada isoladamente no Congresso, mas é evidente que as forças do bolsonarismo perderam relativa capacidade de influenciar na superestrutura política do país. Seu peso na Câmara e no Senado não conseguiu blindar Bolsonaro do avanço das investigações.
2. Queda de popularidade
Embora o bolsonarismo se mantenha como uma das forças políticas com mais peso na política brasileira, as últimas pesquisas de opinião indicam uma tendência de queda no seu apoio, mesmo que relativa.
As eleições municipais de 2024 ainda serão o grande teste político sobre a resiliência da liderança de Bolsonaro e sua capacidade de transferência de votos. Portanto, nada está resolvido. Mas, inclusive, as iniciativas que adotamos hoje, aproveitando um momento de queda relativa de apoio a Bolsonaro, poderá pavimentar um caminho para que, no futuro, conquistemos uma derrota mais de fôlego do bolsonarismo.
3. Defensiva política
Neste momento, Bolsonaro e a extrema direita neofascista brasileira se encontram em uma situação de defensiva política. Este é um fato que ficou evidente no dia 7 de setembro, com a ausência destas forças golpistas das ruas brasileiras.
A luta para derrotar o bolsonarismo está em curso, ainda estamos longe de superar esta fase, mas é importante identificar que se abriu um momento mais favorável para concretizarmos a tarefa prioritária de garantir a prisão imediata de Bolsonaro.
A decisão do TSE que determinou a inelegibilidade de Bolsonaro foi um primeiro passo. Um passo importante mas ainda limitado. A prisão de Bolsonaro seria uma derrota com um impacto político ainda maior contra o bolsonarismo, com desdobramentos importantes na conjuntura brasileira.
4. Fortes indícios e provas dos crimes
As investigações sobre Bolsonaro e seus principais aliados já estão ocorrendo há mais de seis meses. Muitos indícios e provas dos vários crimes já foram apontados. Seja em relação a participação direta nos atos golpistas, o genocídio na pandemia, a venda ilegal de jóias, a falsificação do cartão de vacinação, o pagamento irregular de despesas pessoais, entre outros absurdos.
Entretanto, a delação premiada do Tenente Coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordem, representa a possibilidade de uma ampliação da vulnerabilidade do ex-presidente neofascista, sua família e seus principais aliados. Pode ser a “bala de prata” que faltava para abreviar o tempo de espera para vermos Bolsonaro ir para a cadeia.
Qualquer ideia de defender uma espécie de anistia aos crimes cometidos por Bolsonaro e seus principais aliados, em nome de uma pseudo estabilidade política, representaria um grave erro, seja do governo Lula seja de qualquer partido de esquerda.
5. A bandeira da prisão imediata de Bolsonaro pode mobilizar
Não vivemos um ascenso dos movimentos de luta em nosso país. Este ainda é um elemento que falta, uma grande debilidade, para conseguirmos uma inversão da correlação de forças a favor da nossa classe. Existem lutas importantes, como o Plebiscito Popular contra as privatizações do Metrô, CPTM e Sabesp em SP, mas não há um momento de generalização das lutas sociais.
Entretanto, se conseguirmos construir uma agenda de mobilização de rua pela prisão imediata de Bolsonaro, a partir das entidades, frentes e movimentos que lideraram num passado recente a campanha nacional “Fora Bolsonaro”, poderíamos construir uma inflexão positiva na conjuntura nacional.
A luta para botar Bolsonaro na cadeia pode fortalecer a frente única da esquerda e dos movimentos sociais. Esta tarefa prioritária não pode ficar apenas nas mãos dos tribunais superiores, de uma CPI no Congresso ou da mídia.
A luta para botar Bolsonaro na cadeia pode fortalecer a frente única da esquerda e dos movimentos sociais. Esta tarefa prioritária não pode ficar apenas nas mãos dos tribunais superiores, de uma CPI no Congresso ou da mídia.
As condições estão dadas, pelo menos, para testarmos a fundo esta possibilidade. Não é momento de hesitarmos. É preciso ousadia para interferir na conjuntura política, marcar pontos e capitalizar o sentimento de defesa da prisão imediata de Bolsonaro a favor das organizações de esquerda e dos movimentos sociais.
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