A relação entre o Futebol e a Ditadura Chilena

Por Diogo Xavier, Recife (PE)

No dia 11 de setembro de 1973 o Presidente Salvador Allende, eleito democraticamente pelo povo chileno, levou um golpe pelo exército comandado por Augusto Pinochet o que deu início a uma das mais sanguinárias ditaduras do continente sul-americano.

A relação do regime Pinochet com o futebol é estreita e começa antes do bombardeio do Palácio de La Moneda.

O Time que atrasou o golpe

As tensões sociais eram muito evidentes naquele momento no Chile, muitos diziam que o golpe não era uma questão de “se”, mas de quando. Havia uma fratura social que tornava latente a tentativa da direita com apoio dos EUA de não permitir que um presidente abertamente socialista governasse.

Nesse contexto Colo-Colo, time mais popular do Chile e apelidado de Cacique, tinha um grande time em 1973 e conseguiu um feito inédito até aquele momento para o futebol do país, chegar às finais da Copa Libertadores da América. O time ia passando de fase e levando multidões aos estádios.

A comoção geral causada pelo Cacique é dita por alguns como fator que atrasou o golpe militar, pois este era planejado pelos militares há muito tempo, mas as manifestações populares a cada rodada não permitiam que fosse levado a cabo.

O Colo-Colo perdeu a final para o Independiente em junho e em setembro aconteceu o golpe.

O Estádio Nacional

O Estádio Nacional do Chile é a casa principal do futebol no país e recebe ainda hoje os jogos da seleção. O lugar foi um palco central na repressão, logo nos primeiros dias milhares de pessoas foram presas, torturadas e mortas no local.

A morte mais marcante no lugar foi do cantor Victor Jara, que era muito associado ao partido socialista, ele foi preso teve seus dedos das mãos todos quebrado e foi assassinado já no dia 16 de setembro.

O lugar que foi centro de tortura segue fechado mesmo nos grandes jogos. É uma forma de não deixar perder a memória no tempo.

O letreiro diz: Um povo sem memória é um povo sem futuro.

A busca pela reparação histórica segue viva no Chile. Existem comissões para punir torturadores e o passado ditatorial é muito discutido. Falar do tema é não deixar que ele se repita. Um exemplo para outros países do continente.

Carlos Caszely, o artilheiro contra Pinochet

Carlos Caszely, era o centroavante do Colo-Colo e foi artilheiro da Libertadores de 1973. Apoiador de Salvador Allende e da Unidade Popular o atleta sempre se colocou como um rebelde do futebol.

No ano de 1973 o Chile classificou-se para a Copa da Alemanha no ano seguinte porque a União Soviética se negou a jogar a repescagem devido ao golpe militar.

Encontro entre Carlos Caszely e Salvador Allende

No embarque para a Copa do Mundo Caszely se negou a cumprimentar o ditador Augusto Pinochet. Esse fato não ganhou tanta repercussão na época devido a censura no país, no entanto a cena fez com que Pinochet ordenasse o sequestro da mãe do jogador. Que foi presa e torturada.

Em 1988 houve um plebiscito para a população votar pela permanência da ditadura e Caszely fez campanha pública e apareceram juntos na televisão para denunciar o sequestro. Esse vídeo foi uma das peças de propaganda que mais gerou comoção contra a ditadura. E por fim Pinochet foi derrotado o que abriu caminho para o fim do seu regime.

Em 2015 os sócios do Colo-Colo realizaram uma votação para excluir o nome de Pinochet como presidente de honra do clube. Essa votação foi simbólica, mas muito emblemática, pois o Cacique ganhou a fama de time do regime. Os torcedores tentam excluir esse resquício da história do clube.

A relação atual

Bandeira da Garra Blanca, torcida do Colo-Colo, com alusão a morte de Pinochet

Em 2015 os sócios do Colo-Colo realizaram uma votação para excluir o nome de Pinochet como presidente de honra do clube. Essa votação foi simbólica, mas muito emblemática, pois o Cacique ganhou a fama de time do regime. Os torcedores tentam excluir esse resquício da história do clube.