Neste 11 de setembro completa-se o cinquentenário do golpe militar que instaurou uma das ditaduras mais repressivas e sanguinárias do nosso continente, cuja duração estendeu-se até fins dos anos 80. Sobre o golpe há uma rica e atualizada literatura produzida, como é o caso do livro Chile 1970-1973: mil dias que abalaram o mundo, de Franck Gaudichaud, lançado no Brasil pela Usina Editorial. Contudo, há também uma rica filmografia que merece ser conhecida por todo ativista que busca entender, pelas lentes da câmera, como se processou o terrível golpe que levou Pinochet ao poder. Aqui, listamos quatro filmes para você conferir.
A batalha do Chile (La batalla de Chile, la lucha de un pueblo sin armas – 1975, 1977, 1979, de Patricio Guzmán )
Começamos com a indicação deste documentário cubano-chileno pois ele é, sem dúvidas, um dos mais completos relatos sobre o conturbado processo político que conduziu ao golpe no dia 11 de setembro de 1973. Aqui, o diretor Patricio Guzmán dividiu o filme em três partes, cujos títulos são A insurreição da burguesia, O golpe militar e O poder popular, abarcando os meses de maior tensão política no país, até culminar no golpe, para oferecer aos espectadores um panorama didaticamente linear da conjuntura da época. Nela, podemos ver trabalhadores em assembleias fabris e barriais debatendo o que fazer perante o desabastecimento das prateleiras provocados pela direita golpista, bem como militantes contrarrevolucionários desfilando pelas ruas do país. Vale dizer que as 20 horas de filmagem, todas obtidas entre 1970 e 1973, tiveram que sair do país na mais absoluta clandestinidade para serem editadas em Cuba e 5 pessoas que trabalharam na realização do filme chegaram a ser detidas pela polícia chilena. Guzmán ainda chegou a lançar um filme biográfico sobre Allende em 2004, com algumas entrevistas e imagens de arquivo.
Chove sobre Santiago (Il pleut sur Santiago – 1975, de Helvio Soto)
Este filme, cujo nome Soto tomou emprestado justamente da operação arquitetada pela direita golpista chilena, em conluio com a CIA para derrubar o governo Allende, no marco da sinistra Operação Condor, constrói-se sobre o olhar de um jornalista que, pelas ruas de Santiago sob um dia chuvoso, percebe as movimentações de blindados, as mobilizações de tropas nos quartéis, os desfiles operários, a agitação nas universidades e os discursos de Allende pelo rádio, etc. Como o próprio Soto definiu, trata-se de um “filme de propaganda”. Apesar dos diálogos em francês, o que é um fato estranho, já que o filme centra-se em torno de eventos em um país cujo idioma principal é o espanhol, Chove sobre Santiago é emocionante. E a trilha sonora de Astor Piazzolla dispensa comentários.
Machuca (2004, de Andrés Wood)
Um dos filmes mais sensíveis dessa pequena lista, já que ele aborda o processo político do país percebido pelos olhares de duas crianças de distintas origens sociais, Gonzalo Infante e Pedro Machuca. Infante é um garoto nascido na classe média de Santiago. Machuca, é um garoto vindo de uma población, ou favela. Os destinos de ambos se cruzam quando Machuca vai estudar na mesma escola Saint Patrick, onde Infante estuda, medida possibilitada pelo padre e diretor da escola, McEnroe, inspirado na política educacional do governo Allende.
No (2012, de Pablo Larraín)
No, diferente dos demais filmes desta lista, se passa no período dos estertores da ditadura, quando realizou-se um referendo no país acerca da permanência de Pinochet no poder. É então que René Saavedra, um publicitário interpretado por Gael García, recebe a proposta de trabalhar na campanha pelo No, ou seja, contra a permanência de Pinochet, cuja tarefa é desenvolver peças de propaganda contra a ditadura capazes de convencer o voto do povo chileno.
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