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MOVIMENTO

Equiparação já! Greve de servidores técnico-administrativos da Unesp conquista avanços e a categoria segue mobilizada

Marco Aurélio Rezende e Sofia Malveis, de Franca (SP)

 

Ao longo do mês de agosto, os servidores técnico-administrativos da Unesp estiveram em greve, que ainda resiste, reivindicando equiparação salarial com os servidores das mesmas categorias da USP. Dentre os trabalhadores das Universidades Estaduais Paulistas, os da Unesp são os que menos ganham, chegando a receber 47% a menos do que trabalhadores da USP em alguns casos, sendo que exercem as mesmas funções. No último dia 24 de agosto, após mais de 15 dias de greve, foi aprovada a concessão de duas referências, equivalente a aproximadamente 10% no salário de todos os servidores, o que representa um começo na jornada da equiparação, mas não é suficiente.

A luta do Sindicato dos Trabalhadores da Unesp por equiparação salarial com seus companheiros de profissão das outras Universidades Estaduais é antiga, sendo que a primeira greve com essa pauta foi realizada em 2010, ano em que um aumento salarial somente para docentes gerou grande mobilização na categoria. Como resultado, chegou a haver uma tentativa de equiparação, mas, no ano seguinte, os pisos salariais da USP foram reajustados, de modo que a defasagem aumentou.

Em 2013, as fortes mobilizações sociais que tomaram conta do país também reverberaram no Sintunesp, e uma greve de grande força foi deflagrada. Naquele ano, a negociação com a Reitoria gerou outro plano de equiparação, dividido em seis etapas, das quais duas foram aplicadas, antes que a crise financeira que se abateu sobre a Unesp em 2014 gerasse a desculpa perfeita para o congelamento dessa política.

Nos anos subsequentes, não faltou luta por parte de servidores, como também de estudantes, mas a conjuntura já era reacionária, e a comunidade universitária precisava se defender de constantes ataques. Desse modo, a pauta não voltou à ordem do dia até agosto de 2022, quando comissão montada para estudar a equiparação salarial dos técnico-administrativos da Unesp em relação aos das universidades co-irmãs teve sua primeira reunião de trabalho. Após 7 reuniões, em que a equiparação ainda não tinha data para iniciar, o Sindicato organizou uma primeira paralisação de servidores em julho deste ano de 2023, e tirou em suas plenárias um indicativo de greve a partir do dia 8 de agosto, que teve como reivindicação central a equiparação salarial com servidores da USP.

É significativo que essa pauta volte ao debate no momento atual, tendo em vista que a atual gestão da Reitoria recebeu uma das melhores situações orçamentárias da história da Unesp, e que, durante sua campanha, o reitor Pasqual Barretti se comprometeu explicitamente com a equiparação salarial. Porém, até agosto de 2023, passado mais de metade do tempo de gestão, havia apenas promessas quanto ao início das medidas a serem tomadas, e, por isso, os servidores técnico-administrativos aprovaram a greve.

Como não poderia deixar de ser em uma universidade com 24 campi, espalhados por todo o Estado de São Paulo, a greve se desenvolveu de forma bastante diferente nas diversas unidades. É natural que, em alguns locais, seja mais difícil a mobilização em torno da pauta, principalmente porque vivemos uma época de refluxo dos movimentos sociais, na qual grandes greves parecem lembranças distantes, e a desconfiança com relação ao papel dos sindicatos é grande, mas, mesmo com todas essas dificuldades, foi construída uma greve histórica, com grande adesão. Mesmo nos campi em que a adesão à greve não foi possível, os servidores se mobilizaram de outras formas – com paralisações, panfletagens, faixas – e fizeram coro à reivindicação.

O primeiro resultado da mobilização foi a concordância do agendamento de uma reunião de negociação por parte da Reitoria, a primeira reunião a pautar, de fato, a equiparação salarial em 10 anos. Nela, os servidores se recusaram a aceitar a proposta inicial da Reitoria de um ajuste de 5% a título de início de equiparação, exigindo, no mínimo, 10%. A pressão surtiu efeito, e essa proposta teve manifestação favorável do Conselho de Administração e Desenvolvimento, e, finalmente, foi aprovada no Conselho Universitário da Unesp, em reunião que marcava o retorno da representação discente a esse espaço após 18 anos de ausência.

Cabe ressaltar, inclusive, o papel essencial do movimento estudantil nessa luta, estando ao lado dos servidores, compondo as greves, as paralisações e, principalmente, um grande ato em frente ao Conselho Universitário no dia 24, que reuniu centenas de pessoas, entre estudantes, docentes e trabalhadores, em defesa da mobilização dos servidores. É necessário que o ME da Unesp tenha os servidores e seu Sindicato como parceiros de todas as lutas, entendendo que o movimento estudantil deve ser linha de frente das batalhas travadas pela classe trabalhadora, principalmente quando as duas categorias estão lado a lado na universidade.

Não restam dúvidas sobre o tamanho e a importância da greve feita pelos servidores da Unesp no último período, mas as vitórias conquistadas não são suficientes. Mesmo com as duas referências, os servidores com maior defasagem com relação àqueles da USP ainda ganham quase 40% a menos. A categoria permanece mobilizada, sendo que os campi de Araraquara e Marília seguem firme na greve, entendendo que ainda é possível avançar em mais uma referência no ano de 2023, além de ter a garantia de que a continuidade da equiparação constará na peça orçamentária de 2024, a ser aprovada no Conselho Universitário até o mês de dezembro. É necessário exigir da reitoria que haja um cronograma de etapas rumo à equiparação, e o Sindicato continuará a utilizar as táticas que forem necessárias para isso.

O papel do SINTUNESP precisa ser reconhecido em todo esse processo. O nível de articulação, e, portanto, as conquistas resultantes dela, só foram possíveis porque existe na Unesp um sindicato forte e mobilizado, capaz de reconhecer um momento propício para suas reivindicações e, a partir disso, construir a greve e se manter firme nela.

Nós, trabalhadores e estudantes da Unesp, estamos travando as lutas necessárias e urgentes em defesa da universidade pública e de qualidade. Continuaremos na defesa intransigente das pautas sindicais e estudantis, até que a universidade seja verdadeiramente nossa!

Marco Aurélio Alves Rezende é membro da diretoria colegiada do SINTUNESP e militante da Resistência-PSOL
Sofia Malveis é estudante da Unesp e militante da Resistência-PSOL
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sao paulo / unesp