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MOVIMENTO

Educação em SP: se mexer, Feder!

Mauro Puerro, de São Paulo (SP)
Fernando Frazão/Agência Brasil e Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Professora  (Benedito Lacerda/Jorge Faraj)
Eu a vejo todo dia
Quando o sol mal principia
A cidade a iluminar
Eu venho da boemia
E ela vai, quanta ironia
Para a escola trabalhar
Louco de amor no seu rastro
Vaga-lume atrás de um astro
Atrás dela eu tomo o trem
E no trem das professoras
Em que outras vão, sedutoras,
Eu não vejo mais ninguém
Essa operária divina
Que lá no subúrbio ensina
As criancinhas a ler
Naturalmente condena
Na sua vida serena
O meu modo de viver
Condena porque não sabe
Que toda culpa lhe cabe
De eu viver ao Deus dará
Menino querendo ser
Para com ela aprender
Novamente o be-a-bá

Em 1939, Benedito Lacerda e Jorge Faraj, compuseram essa música, cujo tema é a educação, centrada na figura da professora. Na canção, o personagem masculino, um boêmio, “vigia”, observa e “persegue platonicamente” a personagem feminina, uma professora, encantado com ela, com sua profissão e dedicação. Revela um olhar respeitoso e carinhoso sobre a educação e seus profissionais. Bem diferente do olhar da dupla Tarcísio e Feder.

As atitudes e falcatruas levadas a cabo contra a educação em São Paulo por Feder com o apoio do governador são inúmeras. Houve o aplicativo instalado sem autorização nos aparelhos de professores, alunos e até pais. A desculpa, depois que o caso veio à tona e repercutiu mal na opinião pública, é que foi sem querer. A mesma desculpa dada no Paraná quando o mesmo distinto era secretário da educação por lá. Haja sem querer, haja desculpas esfarrapadas. Anteriormente a Secretaria da Educação, dirigida pelo empresário fantasiado de secretário, editou uma Portaria obrigando diretores a fazer o monitoramento de professores em sala de aula e produzir relatórios sobre isso. Fato que desrespeita totalmente a liberdade de cátedra, além de ser uma manobra para retomar o projeto Escola sem Partido já julgado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. Desse último ataque, a dupla do mal não recuou.

Esse dueto tenebroso aprontou outra. Pela primeira vez retiraram o estado de São do Programa Nacional do Livro Didático. Foram obrigados a retroceder depois de muita pressão da opinião pública, da Apeoesp e de uma liminar que os obrigava a voltar atrás. Entretanto impuseram um material didático digital com erros absurdos. Afirmam que doenças como Parkinson, Alzheimer e depressão são transmitidas pela água, que a cidade de São Paulo tem praias e que D. Pedro II assinou a lei Áurea, dentre outras pérolas. Apesar disso, o antigo Ceo da Multilaser e ainda sócio da empresa, perfumado de secretário da educação, não pára com o saco de maldades e tabajarices: cria uma regra que permite excluir da escola aluno que tenha 15 faltas consecutivas. Medida inconstitucional que desconsidera o grau de vulnerabilidade socioeconômico dos nossos estudantes. Cerca de 3 milhões de alunos podem ser prejudicados. Seu chefe, Tarciso, ex-ministro de Bolsonaro, não quer ficar atrás nas maldades. Anuncia que irá repassar verbas da educação para as Santas Casas. Sem entrar no mérito se as Santas Casas necessitam ou não de repasses, retirar o já parco dinheiro da educação é “bondade das boas” como disseram ironicamente Vinicius de Morais e Carlos Lyra na música “Comedor de gilete” (Pau-de arara).

A coisa já começou cheirando mal. No apagar das luzes do governo Rodrigo Garcia, que apoiou Tarcísio e Bolsonaro no 2º. Turno, foi assinado um contrato de R$ 200 milhões entre a Secretaria da Educação e a Multilaser. Detalhe: Renato Feder já havia sido escolhido secretário por Tarcísio de Freitas. Questionados pela imprensa, ambos disseram, sem ficar ruborizados, que não havia nada ilícito, pois o sócio da Multilaser ainda não havia assumido o cargo, o que ocorreria dez dias depois. Só que não parou por aí. Já durante a gestão do governador, apoiador do Bolsonaro, com Feder na secretaria, mais três contratos milionários foram assinados com a Multilaser. Agora com outras secretarias, particularmente a da saúde. Questionados, disseram que não havia problemas, pois não foram contratos com a secretaria da educação. Isso que é “bondade das boas” e essa turma ainda tem a cara de pau de se pintar como guardiões da moralidade. Pois bem, é essa parceria mal cheirosa que quer fiscalizar e perseguir professoras e professores. Quanta saudade do olhar romântico e carinhoso sobre a educação do boêmio da música Professora. É bom nos revigorar com essa saudade, porque é preciso eliminar o que fede, o que cheira mal, na educação em São Paulo.