O cerco se fecha contra Bolsonaro. Seja pelo roubo de jóias do patrimônio público, seja pela tentativa de golpe de Estado – e por tantos outros crimes -, o líder fascista se aproxima a cada dia que passa da prisão. Não pode haver outro destino para ele e os seus. Sua esposa, Michelle Bolsonaro, e seus quatro filhos têm as digitais em toda sorte de maracutaias e delitos.
Porém, uma ausência fundamental chama atenção. Até aqui, os generais golpistas não foram alvo das investigações, indiciamentos e prisões preventivas ordenados pelo STF a pedido da Polícia Federal (PF). O governo Lula e o Judiciário erram em blindar a cúpula militar envolvida no golpismo. Isso tem que mudar.
Há incontáveis evidências de que essa cúpula militar participou ativamente da elaboração e execução de planos para romper a ordem democrático-legal. As Forças Armadas foram parte central da campanha de descrédito das urnas eletrônicas, contando inclusive com a ajuda de um hacker, Walter Delgatti, que confessou o crime. O comando militar abrigou e protegeu os acampamentos golpistas em frente aos quartéis durante meses. No fatídico 08 de janeiro, é incontestável que houve facilitação militar para que a horda de fascistas invadisse os Três Poderes.
O comando militar esteve vinculado a Bolsonaro desde pelo menos 2014, quando esse afirmou em discurso que seria candidato a presidente em 2018 para os cadetes da AMAN, então comandada pelo general Tomás Paiva. Chegando ao poder, Jair colocou membros da cúpula verde-oliva em ministérios chaves e acolheu mais de 5 mil militares em cargos bem remunerados na máquina federal. Entre outras coisas, o governo Bolsonaro foi um governo militar. Durante a tragédia da pandemia, que vitimou mais de 700 mil brasileiros, havia um general da ativa à frente do Ministério da Saúde, Eduardo Pazuello. O vice-presidente, Hamilton Mourão, era também um general. Mas não foi só. Os milicos deram cobertura explícita ou implícita a todas ameaças e ações golpistas de Bolsonaro ao longo dos últimos quatro anos.
Não pode ser que os militares — especialmente, os de alta patente — fiquem impunes depois de tudo que fizeram associados a Jair Bolsonaro. Caso não sejam devidamente investigados e punidos, a estratégia golpista que prevalece nas Forças Armadas seguirá intacta.
Não pode ser que os militares — especialmente, os de alta patente — fiquem impunes depois de tudo que fizeram associados a Jair Bolsonaro. Caso não sejam devidamente investigados e punidos, a estratégia golpista que prevalece nas Forças Armadas seguirá intacta.
O atual comandante do Exército, Tomás Paiva, se veste — de forma oportunista — com a roupa da legalidade democrática. Entrega anéis para não perder os dedos. Busca preservar o comando militar após o fracasso do governo Bolsonaro e a derrota do golpe. Dá um passo atrás, reconhecendo a autoridade presidencial de Lula. Mas trata-se de um movimento tático de autopreservação. Onde estava a “ala democrática” das Forças Armadas entre 2019 e 2022, quando todo tipo barbaridade aconteceu no país? Ninguém a viu.
O governo Lula e os militares
Talvez o principal erro cometido por Lula até aqui seja permitir a blindagem das Forças Armadas promovida pelo Ministro da Defesa, José Múcio. Não há momento mais oportuno do que esse para discutir com a sociedade brasileira a necessidade de reformas profundas nas Forças Armadas (FFAA).
Até quando serão permitidos a continuidade da cultura golpista impregnada no generalato, a ideia de combate ao “inimigo interno” (leia-se: esquerda, negros, pobres, sindicatos, movimentos sociais) que organiza a ideologia das casernas, a arraigada noção de tutela sobre os poderes da República, os imensos privilégios materiais das altas patentes, o desperdício de dinheiro público empregado nas FFAA e a impunidade dos militares pelos crimes cometidos na Ditadura?
O argumento de setores do governo e do PT é o de que não há correlação forças para comprar essa briga. Se não é possível avançar, um pouco que seja, nesse momento, quando será? Deixar impune o comando militar golpista não representa um grande perigo no futuro próximo? Pois é sabido que o bolsonarismo, que segue com considerável força na sociedade e na chamada “família militar”, poderá mais à frente retomar a ofensiva, caso o governo Lula se depare com momentos de crise e dificuldade.
Ao contrário de dar alguns passos nesse enfrentamento necessário, o governo está optando por selar um pacto com a atual cúpula das Forças Armadas, em nome do “apaziguamento dos ânimos”. Para agradar os militares, no projeto do Novo PAC está previsto o investimento de R$ 52,8 bilhões nas Forças Armadas, mais do que a Educação e a Saúde vão receber no programa. No passado recente, os governos do PT também aumentaram os recursos financeiros aos militares, o que não impediu que as FFAA embarcassem no golpe contra Dilma, na pressão pela prisão de Lula e no apoio e sustentação de Bolsonaro.
os partidos de esquerda e os movimentos sociais devem se engajar ativamente numa campanha nacional pela prisão de Bolsonaro e dos militares golpistas. Sem anistia!
Por fim, consideramos que os partidos de esquerda e os movimentos sociais devem se engajar ativamente numa campanha nacional pela prisão de Bolsonaro e dos militares golpistas. Sem anistia!
É preciso também exigir que o governo Lula mude a linha política em relação às Forças Armadas, começando pelo demissão de José Múcio. O GSI, que possibilita a vigilância militar sobre todas as atividades da Presidência, deveria ser fechado.
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