Na última quarta-feira, dia 9 de agosto, aconteceu uma esperada reunião do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
Na lista de processos, entre outros, se encontravam dois muito polêmicos e que eram acompanhados com atenção por quem luta contra a extrema direita neofascista e seu discurso de ódio.Os Deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Carla Zambelli (PL-SP), dois representantes da ala mais radical do bolsonarismo, foram denunciados por quebra de decoro parlamentar.
No caso de Zambelli, ele desferiu ataques à honra e xingamentos (“vai tomar no c…”) contra outro deputado, Duarte Júnior (PSB-MA), durante sessão da Comissão de Segurança Pública. No dia em que Flávio Dino, Ministro da Justiça, compareceu a esta comissão.
No caso de Nikolas, a acusação era ainda mais séria e grave, de transfobia, por causa do bizarro e revoltante discurso que ele desferiu na tribuna da Casa, logo no Dia Internacional das Mulheres. Neste dia, ele se apresentou de perucas, e afirmou no seu discurso que as mulheres estão perdendo espaço para homens que estão se fazendo de mulheres. Num evidente e nítido crime de transfobia. Um escárnio completo para o parlamento brasileiro.
Apesar destes casos merecerem evidente punição, dura e exemplar, Quaquá resolveu defender, na referida reunião, o arquivamento geral de ambos casos e de todos os outros que fossem analisados naquela reunião. Segundo o vice-presidente do PT, esta anistia geral teria valor pedagógico e as punições efetivas só deveriam ser analisadas de agora em diante.
Quaquá ocupa um assento no Conselho de Ética indicado pelo PT, mas disse que falava em nome próprio, em não em nome do partido. Seu discurso e voto causaram uma revolta geral na esquerda e nos movimentos sociais. Até a presidente nacional do PT criticou a posição do deputado do seu partido. Mas, na verdade, a indicação de Quaquá deveria ser revista pelo PT. Era o mínimo a ser feito depois de todo este absurdo.
Infelizmente, não é um caso isolado
Entretanto, este posicionamento escandaloso de Quaquá na Comissão de Ética na Câmara está longe de ser um caso isolado. É, na verdade, uma tônica da atuação deste político fluminense, que embora pertença a um partido de esquerda, muitas vezes se assemelha a um político tradicional da direita.
No início do ano, ele postou em suas redes sociais uma foto, sorrindo, ao lado do general Eduardo Pazuello (PL-RJ), um bolsonarista eleito deputado federal nas últimas eleições, que foi um dos ministros da saúde de Bolsonaro, em um dos piores momentos da Pandemia. Ou seja, um dos principais responsáveis pelo verdadeiro genocídio pandêmico do povo brasileiro. Segundo Quaquá, a foto expressava a sua disposição de dialogar até com o bolsonarismo e que a conversa com o general tinha sido muito boa. Outro caso que causou uma reação de revolta em muitos ativistas e eleitores, que tinham acabado de comemorar a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022.
Mas, não para por aí. Em vários momentos, ele já teceu rasgados elogios ao atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), outro apoiador de Bolsonaro. Segundo Quaquá, o líder do centrão é um grande brasileiro e aliado do governo Lula para melhorar o Brasil. Ao mesmo tempo, que Lira e o centrão vinham (e continuam) boicotando sistematicamente o programa de governo que foi referendado nas urnas. Como nos casos da aprovação pela Câmara das terríveis propostas do Marco Temporal, da flexibilização das regras de preservação da Mata Atlântica e do esvaziamento político dos Ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas.
E, ainda, no Rio de Janeiro, Quaquá foi um dos principais articuladores de todo o movimento político que levou o PT a integrar, com 3 secretarias municipais, a atual prefeitura de Eduardo Paes. No mesmo sentido, o vice-presidente do PT vem defendendo também que seu partido apoie a reeleição de Paes nas eleições municipais do ano que vem, em detrimento a posição de outros setores petistas que defendem a aproximação com o PSOL para a construção de uma frente de esquerda para o primeiro turno das eleições do Rio.
Uma reflexão importante
É fato que os posicionamentos de Quaquá causam desconforto e até protesto em dirigentes nacionais do PT. Mas, existe um fato inegável, ele segue falando em nome do PT, e especialmente no Rio de Janeiro, vem dando as cartas na direção partidária.
Não parece estar no horizonte uma desautorização efetiva do atual vice-presidente nacional do PT. Ao contrário, mesmo em alguns posicionamentos mais polêmicos de Quaquá, ele na verdade conta com o apoio de parte expressiva da direção do PT e do próprio governo.
Neste momento, inclusive, estão em curso negociações, envolvendo diretamente o próprio presidente Lula e Arthur Lira, para incorporar representantes do centrão, PP e Republicanos, em ministérios do governo. Uma nítida rendição a uma governabilidade aliada aos setores mais conservadores do parlamento, que se transforma em uma ameaça frontal à aplicação efetiva do programa de melhorar a vida da maioria do povo, eleito nas urnas.
É evidente que o centrão já atua, e vai continuar atuando, no parlamento para engessar o governo Lula, principalmente em relação a aplicação das mudanças significativas que tanto o povo trabalhador precisa e reivindica.
É evidente que o centrão já atua, e vai continuar atuando, no parlamento para engessar o governo Lula, principalmente em relação a aplicação das mudanças significativas que tanto o povo trabalhador precisa e reivindica. Como já assistindo novamente agora, quando Arthur Lira vem defendendo na imprensa o adiamento – sem prazo definido – da segunda fase da reforma tributária, onde poderia se avançar na regulamentação do imposto sobre grandes fortunas, lucros e dividendos, como disse o próprio Lula: “colocar o rico no imposto de renda”.
Mesmo em relação a aliança eleitoral e de gestão com Eduardo Paes no Rio de Janeiro, Quaquá diz estar falando em nome do próprio Lula para defender esta política para as eleições municipais do ano que vem.
Portanto, não adianta se escandalizar com os arroubos e exageros de Quaquá, sem deixar bem nítido uma opção distinta dele, tanto no enfrentamento contra a extrema direita bolsonarista, como nas lutas contra a agenda conservadora e reacionária defendida pelo centrão no parlamento e, principalmente, no firme compromisso da aplicação do programa eleito nas urnas.
O caminho deve ser outro, bem distinto do defendido por Quaquá. A saída passa por apostar mais na organização e mobilização popular, a mesma que foi fundamental para derrotar Bolsonaro nas urnas. As mudanças que o povo trabalhador brasileiro tanto precisa virá menos das negociações de portas fechadas com o centrão no parlamento e mais da capacidade de mobilização popular em defesa da agenda de transformações que animou, ano passado, o movimento político levou Lula ao seu terceiro mandato.
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