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MUNDO

Repudiar a presença no Brasil da presidenta ilegítima do Peru

Dina Boluarte participa da Cúpula dos Países Amazônicos e teve encontro particular com Lula

André Freire, da redação

Nesta semana, acontece a Cúpula dos Países Amazônicos, realizada na Cidade de Belém do Pará. Participam deste importante evento os chefes de Estado – ou representantes de governos – dos países da Região Amazônica: Brasil, Peru, Equador, Venezuela, Colômbia, Bolívia, Guiana e Suriname. A França chegou a ser convidada, por ainda controlar um território na região (a chamada Guiana Francesa), mas o presidente francês, Macron, não compareceu.

Boluarte ocupa o cargo de Presidente da República devido à realização de um golpe parlamentar, desferido em dezembro do ano passado, que destituiu e prendeu o presidente eleito e legítimo, Pedro Castillo, num processo de impeachment em tempo recorde, totalmente manipulado e orquestrado pelos partidos que perderam as eleições, e sem direito de defesa.

Dina Boluarte está presente neste encontro, afinal ela é a atual chefe do governo peruano. Presidenta de fato, mas não de direito. Boluarte ocupa o cargo de Presidente da República devido à realização de um golpe parlamentar, desferido em dezembro do ano passado, que destituiu e prendeu o presidente eleito e legítimo, Pedro Castillo, num processo de impeachment em tempo recorde, totalmente manipulado e orquestrado pelos partidos que perderam as eleições, e sem direito de defesa. Podemos não concordar com todas as medidas tomadas por ele, mas é inegável que Castillo sofreu um golpe e é um preso político.

Boluarte era a vice-presidente na chapa de Pedro Castillo, mas depois do golpe parlamentar do final do ano passado se aliou aos partidos de direita e de extrema direita peruanas, que tem maioria no Congresso Nacional, e assumiu o poder. Ela se aliou, inclusive, a Keiko Fujimori e seu grupo político de extrema direita. Keiko é filha e herdeira política do sanguinário ditador peruano Alberto Fujimori e perdeu o segundo turno das últimas eleições presidenciais peruanas para Pedro Castillo.

Num primeiro momento, havia uma sinalização de Boluarte de realizar uma eleição presidencial antecipada em 2024. Mas, esta possibilidade já foi totalmente abandonada e ela que ficar no poder até 2026, apoiada na sua aliança corrupta e reacionária com os partidos de direita e de extrema direita peruanos.

Um governo ilegítimo e assassino

Nos últimos 8 meses, o governo ilegítimo do Peru vem enfrentando um forte movimento de resistência popular e democrática, organizado por organizações de esquerda, movimentos sociais e centrais sindicais. Este movimento democrático, que deve contar com o nosso integral apoio e solidariedade, vem sofrendo uma brutal e criminosa repressão do Estado peruano.

Segundo denúncias dos próprios movimentos sociais peruanos, 68 ativistas já foram assassinados durante os protestos que estão acontecendo de forma permanente e em todo o país. Destes 68 assassinatos, 49 foram diretamente por balas que saíram de armas de agentes dos aparatos de segurança do Estado peruano. Inclusive, existem também centenas de feridos nos protestos, e há vários presos políticos e perseguidos judicialmente.

Esta política de verdadeiro extermínio contra os ativistas que lutam pela pela democracia no Peru, vem sendo denunciado em organismos internacionais. Mas, infelizmente, tanto a ONU como a OEA, novamente vem se omitindo sobre os crimes deste regime político ultra autoritário na região.

Em mais uma medida absurda, Boluarte e a maioria do Congresso autorizaram formalmente a entrada de 1.200 militares estadunidenses no país, com o objetivo de treinar as forças armadas peruanas. Um treinamento que fatalmente será usado para reprimir ainda mais os movimentos sociais do país. O atual governo peruano rasga completamente a soberania do país.

No último mês, os movimentos sociais realizaram mais uma jornada de mobilização popular e permanente, pedindo o fim do governo ilegítimo Boluarte, eleições imediatas para presidente e para o Congresso Nacional e a realização de uma nova Constituição. A atual Constituição peruana foi imposta durante a ditadura de Alberto Fujimori.

Esta jornada culminou num grande protesto em Lima, capital do país, no dia 28 de julho, data que se comemora a independência do Peru. Novamente, estas manifestações foram brutalmente reprimidas, com centenas de feridos, inclusive 25 profissionais de imprensa. Inclusive, a maioria da mídia empresarial peruana apoia o governo ilegítimo, e vem boicotando qualquer notícia verdadeira sobre o movimento pela retomada do regime democrático no Peru.

Um encontro que deve ser lamentado

Na noite da última segunda-feira, dia 7 de agosto, o presidente Lula realizou um encontro particular com Dina Boluarte, segundo informações divulgadas, para discutir a cooperação entre os dois países em questões relativas à região Amazônica. As redes sociais oficiais do presidente brasileiro divulgaram uma foto do encontro, com um texto muito positivo sobre a conversa entre os dois.

A presença de Boluarte, na Cúpula dos Países Amazônicos, se impôs por ela ter usurpado a chefia de Estado de fato deste país vizinho, o mesmo não se deve pensar sobre a realização deste encontro particular. Fato que deveria ser evitado.

É inegável que o encontro com Lula será usado por Boluarte como mais um elemento de normalização da situação ilegítima de seu governo. Inclusive, ela já convidou Lula para visitar o país, em mais uma estratégia para se apresentar internacionalmente como uma presidenta legítima.

O governo Lula  não deve colaborar com um governo deste. Portanto, nosso país não deveria normalizar as relações com o governo ilegítimo de Boluarte. Ao contrário, no mínimo, deveria congelar essas relações, até que se normalize a situação democrática no país. Inclusive, a bancada de deputados federais do PSOL já solicitou ao governo brasileiro que interrompa a venda de armas ao Peru, enquanto durar esta verdadeira ditadura no país e a brutal repressão às manifestações populares.

Depois deste encontro, que não deveria ter ocorrido, Lula deveria se pronunciar a favor da libertação imediata de Pedro Castillo, pelo fim da repressão criminosa aos protestos e às perseguições políticas e pelo restabelecimento da normalidade democrática, que só poderá ser conquistada com a realização de novas eleições antecipadas no Peru. Este posicionamento firme deveria orientar a política diplomática de nosso país em relação ao governo ilegítimo peruano.

Depois deste encontro, que não deveria ter ocorrido, Lula deveria se pronunciar a favor da libertação imediata de Pedro Castillo, pelo fim da repressão criminosa aos protestos e às perseguições políticas e pelo restabelecimento da normalidade democrática, que só poderá ser conquistada com a realização de novas eleições antecipadas no Peru. Este posicionamento firme deveria orientar a política diplomática de nosso país em relação ao governo ilegítimo peruano.

No mesmo sentido, os partidos de esquerda e os movimentos sociais brasileiros deveriam se pronunciar publicamente repudiando a presença de Boluarte em nosso país e renovando o apoio à resistência popular e democrática peruana.