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MUNDO

Questões sobre o golpe de Estado no Níger

Movimento Africano de Trabalhadores e Estudantes - RGB

Afirmamos certa vez que os golpes de Estado não têm todos o mesmo carácter. Uns podem abrir vias progressistas, e mesmo revolucionárias, outros fecham estas mesmas vias pelo seu carácter reaccionário e pró-imperialista.

O golpe de Estado no Níger foi liderado por uma alta patente : o General Abdurahmane Tchiani, chefe da Guarda Presidencial desde 2011. Primeiramente às ordens de Mahamadou Issoufou e, até dia 26 de Julho, às ordens de Mohamed Bazoum…

A patente do líder do golpe dá um sinal – com base na História dos golpes de Estado – que se pode tratar mais de um golpe instigado pelo oportunismo político do que propriamente divergências de fundo no que tange um projecto de sociedade. Contudo, deixamos algumas questões que, perante as respostas em acções do novo regime, poderão guiar-nos na resposta à caracterização deste golpe.

O Conselho Nacional de Salvaguarda da Pátria — no processo que terá que ser forçosamente de transição — governará com os sindicatos ou com o patronato?

O que fará com a força Barkhane e a U. S. Africom em terras nigerinas?

Permitirá e incentivará a criação de comités políticos como instrumentos de duplo poder bem como o armamento da população para a auto-defesa?

Na política externa, continuará atrelada aos diktats do bloco imperialista franco-americano ou enveredará pela independência de pensamento e ação?

Renegociará os contratos de exploração de urânio, do ouro e demais recursos naturais?

Defenderá o pan-africanismo revolucionário num quadro de cooperação, por exemplo, com os vizinhos Mali e Burkina Faso – Estados actualmente com posições anti-imperialistas no Sahel – ou  enveredará pela conciliação com o imperialismo encoberto por um nacionalismo estreito, forçosamente reacionário?

O tempo dirá. Mas cabe à classe trabalhadora do Níger, através da organização nos locais de trabalho e nas ruas, forçar a clarificação do carácter deste golpe com a apresentação das suas reivindicações de classe – desde um programa mínimo de transição a um programa maior com vista um outro projeto de sociedade, pan-africano e revolucionário.

Unidade e Luta!
Em função dos recentes eventos no Níger e região do Sahel, decidimos publicar uma primeira reflexão produzida por uma organização de trabalhadores africanos. Essa publicação é uma mera contribuição ao debate, e não reflete, necessariamente, a posição do EOL.