Depois de 6 dias de dura resistência, encerrou-se nesta segunda-feira, 31, a greve dos trabalhadores rodoviários de Recife-PE. Desde quando a greve foi deflagrada, na última quarta, 26, a categoria atravessou uma verdadeira guerra na cidade.
Certamente, só foi necessário recorrer ao recurso da greve porque não havia a mínima disposição da Urbana-PE, o sindicato empresarial, de conceder qualquer centavo de reajuste aos trabalhadores. Isso ficou comprovado ao longo dos 45 dias anteriores à greve, quando o sindicato da categoria apresentou a pauta de reivindicações e não recebeu outra resposta dos empresários que não fosse a hostilidade.
Fernando Bandeira, a sinistra figura que atualmente preside a Urbana-PE, chegou literalmente a afirmar, em uma mesa de negociação, reportando-se aos dirigentes sindicais rodoviários presentes, que o seu propósito era “ferrar” o sindicato.
A explicação para essa postura tão ríspida é que eles apostavam que o sindicato não teria capacidade de arrastar a categoria e que esta não iria aderir ao chamado à greve. Erraram o cálculo e morderam a própria língua.
Contudo, diante do apoio popular clamoroso que a categoria recebeu nas ruas da capital pernambucana e da força que a greve ganhou, o que ficou claro no terceiro dia, 28, quando a categoria lotou a sede do sindicato e, na sequência, tomou as ruas em uma passeata até a sede do governo como há anos ela não tem feito, os patrões recorreram ao recurso do dissídio no TRT, deixando que a justiça decidisse o desenlace da disputa.
Nesse cenário duríssimo, foi um ganho relativamente relevante a conquista de aumento linear de 4% que incide no salário (o que significa a reposição da inflação e mais 1% de ganho real), no ticket de alimentação e na gratificação por dupla função; o abono de 4 dos 6 dias parados; a compensação dos outros 2 dias parados.
Esses resultados estão longe do que a categoria apresentou como reivindicação e da coragem que teve ao protagonizar esses 6 dias de greve. Contudo, caso as recusasse, a categoria poderia acabar colocando-se numa situação de isolamento diante de inimigos tão poderosos. E mais, ficou garantido que nenhum dos dias parados seriam objeto de desconto, medida que resguarda a categoria da penalização econômica, afastando-a da desmoralização política.
Prisão de Aldo foi ponto alto da repressão patronal
A prisão de Aldo, o jovem presidente do sindicato rodoviário, na madrugada da última sexta feira, foi, sem dúvidas um dos momentos mais marcantes dessa greve.
Esse episódio marcou, para toda a sociedade, a postura truculenta da Urbana-PE com apoio da polícia pernambucana.
Esse fato, cujas imagens rapidamente circularam entre os trabalhadores e na grande imprensa, geraram uma comoção e uma onda de solidariedade à greve.
A declaração da mãe de Aldo, logo depois de sua liberação, segundo a qual “quem luta não pode ser preso”, voltou a gerar ainda mais comoção, desgastando o governo do estado e isolando os empresários.
Solidariedade de classe e apoio popular foram decisivos
Sem dúvidas, foi indispensável o apoio dado por várias entidades sindicais e de movimentos sociais à vitória dessa luta. Desde moções e vídeos de apoio que circularam nas redes sociais, doação financeira e até o apoio militante direto de muitos sindicatos e movimentos, como os rodoviários e a construção civil do Ceará, ou os sem teto do MTST e do MUST, fizeram diferença crucial.
O apoio da população nas ruas também foi um fator chave, em que pesem os transtornos que uma paralisação do sistema de transporte rodoviário podem gerar. Ela compreendeu muito bem a disputa que estava colocada e percebeu que a culpa pelo caos na cidade foi de Raquel Lyra e dos empresários.
Raquel Lyra-PSDB sai ainda mais desgastada
Assim como a Urbana-PE, o governo Raquel Lyra também sai enfraquecido, ao ter optado pela omissão diante de uma greve dessa magnitude, limitando-se a uma declaração no twitter, sem, no entanto, tomar qualquer atitude para solucionar a greve. No domingo à noite, o governo Lyra chegou a ser objeto de uma matéria no jornal o Globo, que descreve a situação delicada de seu governo, que enfrenta crises importantes no tema da saúde, da educação e dos transportes.
Nenhuma retaliação nas garagens
Ao longo das próximas semanas será necessário o máximo de vigilância e de capacidade de luta corporativa em defesa de colegas que eventualmente venham a sofrer perseguição.
Ao longo das próximas semanas será necessário o máximo de vigilância e de capacidade de luta corporativa em defesa de colegas que eventualmente venham a sofrer perseguição. Não podemos descartar esse tipo de retaliação dos empresários de ônibus, que mais de uma vez fizeram questão de mostrar sua verdadeira face e não mediram esforços para tentar esmagar a categoria. Cada demissão deve ser respondida sumariamente com paralisação na garagem que estiver demitindo. Essa é a única medida capaz de conter a sanha vingativa dos empresários da Urbana-PE e evitar que predomine o medo e o sentimento de que não vale a pena lutar.
Desafios e perspectivas
Sem dúvidas, a maior vitória obtida pela categoria foi de natureza política. Pois, para todos os efeitos, o resultado global da greve deve ser enxergado como a retomada de uma disputa de longo prazo contra os patrões, para a qual o sindicato sai fortalecido e a categoria de cabeça erguida e, principalmente, moralizada na população.
Nessas condições, a categoria terá mais força para pautar questões relacionadas às condições de trabalho, como o tema da dupla função. Um acerto de contas que ainda está por ser feito com a Urbana-PE.
Sobretudo, a ousadia e a coragem com a qual os rodoviários de Recife tocaram essa greve foram marcantes. Ela demarca para todo o país, que acompanhou atentamente os seus desdobramentos, que é preciso lutar, é possível vencer.
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