Aos 130 anos do nascimento de Vladimir Maiakóvski, um poema inédito
Em comemoração aos 130 anos do nascimento de Vladimir Maiakóvski, publicamos este poema inédito em português. Em tom épico e ao mesmo tempo pessoal, o poeta da revolução conversa com a fotografia de Lênin na parede, já depois da morte do líder. Queixa-se da burocracia alojada no poder e dos canalhas que se aproximaram da revolução, e revela um enorme afeto e admiração pelo camarada morto. Lênin e Maiakovski jamais se encontraram. O poema foi publicado pela primeira vez em 1929 no jornal “Komsomolskaia Pravda” (A Verdade do Jovem Comunista), apenas um ano antes do suicídio do poeta.
Publicado em: 19 de julho de 2023
CONVERSA
COM O CAMARADA
LÊNIN
Numa pilha de assuntos,
em fenômenos sem fim,
passou o dia,
escurecendo aos poucos.
Dois na sala.
Eu
e Lênin –
em fotografia
na parede branca,
A boca aberta
em discurso tenso
do bigode
a barba por fazer
espetada para cima
no franzir da testa
está condensada
a humanidade,
na enorme testa
um enorme pensamento.
Provavelmente,
por baixo dela
passam milhares.
Uma floresta de bandeiras…
uma multidão de mãos…
Eu levantei da cadeira
iluminado pela alegria,
tenho vontade de
aproximar-me,
saudar,
informar!
“Camarada Lênin,
eu vos informo
não por obrigação,
mas de coração.
Camarada Lênin
o trabalho infernal
será
feito
e faz-se já.
Iluminamos,
vestimos os miseráveis e os nus,
amplia-se
a extração
de carvão e minério…
E junto com isso,
claro,
muito,
muito
de todo tipo
lixo e porcaria.
Você se cansa
de defender-se e livrar-se.
Muitos
sem vós
fugiram ao controle.
Muitos
e muitos
diferentes canalhas
andam
pela nossa terra
e ao redor.
São
eles
inumeráveis
e inomináveis,
toda uma
gama de tipos
é atraída.
Kulaks
e burocratas,
bajuladores,
sectários
e bêbados –
andam
com orgulho
enchendo o peito
cheios de canetas
e de insígnias peitorais…
Nós a eles
todos
claro, dobraremos
mas a todos
dobrar
é terrivelmente difícil.
Camarada Lênin,
pelas fábricas esfumaçamos,
pelas terras
cobertas
de neve
e de restolho
com o seu,
camarada,
coração
e nome
pensamos,
respiramos,
lutamos
e vivemos!…”
Numa pilha de assuntos,
em fenômenos sem fim,
passou o dia,
escurecendo aos poucos.
Dois na sala.
Eu
e Lênin –
em fotografia
na parede branca
[1929]
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