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BRASIL

Herança neofascista: o disparate de comprar professor com traficante

José Eduardo Neto e Catharina Gomes, de Sergipe
Reprodução/Redes sociais

Na última segunda-feira, 10, em uma marcha pró-armas em Brasília, Eduardo Bolsonaro, deputado federal e da família do inelegível, faz uma comparação esdrúxula entre professores e traficantes em seu discurso. Em sua fala, ele afirma: “Não tem diferença de um professor doutrinador para um traficante que tenta sequestrar e levar os nossos filhos para o mundo do crime. Talvez até o professor doutrinador seja ainda pior”.

A princípio, no contexto de uma crise estrutural, marcada pela produção altamente destrutiva e pelo esgotamento das possibilidades civilizatórias, tem conduzido a vida para a barbárie. O conservadorismo tem avançado em escala mundial se colocando como estratégia político-ideológico de conservação de uma estrutura de classes, tal situação se faz presente no aumento da discriminação e preconceitos. Diante desse cenário, qual tem sido o papel do ensino na educação brasileira? As pedagogias do aprender a aprender, fundamentadas no neoprodutivismo, assegurando a coerência estruturante da Base Comum Curricular (BNCC), da Reforma do Ensino Médio, do PNLD, da Base Comum para a Formação (BNC-Formação).

Este ideário, tem em vista a formação de um sujeito que atenda às novas demandas de um regime flexível e precário, com uma formação do sujeito “empreendedor de si”, que implica na perda da sua identidade enquanto classe trabalhadora e da sua personalidade profissional, na fragilização da seguridade social e da garantia das condições sociais de trabalho. Nas políticas educacionais neoliberais o pedagógico é o da primazia da iniciativa privada baseadas na lei do mercado, como antídoto do fracasso do espaço escolar e dos serviços públicos, a finalidade deste modelo de educação é a formação de empreendedores e a conciliação dos conflitos sociais, secundarizando os conteúdos e os métodos das diferentes disciplinas escolares. Por isso, os ataques ao trabalho dos docentes, a despolitização de todas as áreas do conhecimento, principalmente das ciências humanas, e o esvaziamento do conhecimento científico.

A educação tem um papel social importantíssimo na formação crítica do aluno, uma vez que a educação problematizadora é defendida como princípio formativo educacional, e esse é o medo do bolsonarismo. Paulo Freire sempre defendeu que quando o indivíduo entende a educação como um passo para humanização, ética, bondade, que possa se posicionar contra a ordem capitalista, a aberração da miséria da fartura, e que não é neutra, é possível transformar a realidade do oprimido e opressor.

Diante disso, os profissionais da educação vêm denunciando a sociedade brasileira agrária, agroindustrial mercantil e rentista, estruturada nos monopólios do território, da escravização do passado, dos meios de produção e controle do trabalho, do poder e da apropriação privada da riqueza socialmente e culturalmente produzida; fundamento do cotidiano de racismo estrutural, da misoginia e do patriarcalismo, de conflitos fundiários rurais e urbanos, de degradação ambiental, de extrema desigualdade social no campo e na cidade.

Mas vale lembrar que a realidade para o professor no Brasil é, extremamente, preocupante, visto que, histórica e estruturalmente, o docente é desvalorizado. O Instituto Península em parceria com a Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica, em 2022, revelou que mais de 70% da população brasileira vê o professor como um cargo desvalorizado. O reconhecimento pela valorização da educação pública de qualidade no Brasil é uma luta marcada por retrocessos e batalhas, devido a falta de assistência governamental em investir em políticas públicas de melhoria para a educação. Essa consequência, intensificou-se durante o desgoverno Bolsonaro, consequentemente, prejudicando estudantes e a futura classe de professores no Brasil.

É preciso construir sobre o Brasil um olhar que permita a análise da dimensão histórica e social com suas especificidades. Nossas ideias emancipatórias formam o que chamamos de mundo e que orientam nossas práticas. No que lhe concerne, a prática social muda as condições objetivas do espaço e também as suas representações. Que as professoras e professores possam falar ao Brasil, as suas expectativas de futuro mais justo e democrático. Que a luta se faça presente em toda comunidade escolar, se estabeleça no enfrentamento às contrarreformas neoliberais.

A fala do filho do inelegível, é extremamente perigosa, uma vez que abre margem para um ataque direto aos professores, com o intuito de impedir que seja lecionado conteúdos, além de ser gritada em um evento pró-armas de fogo em um momento do país, em que tornou-se constantes os ataques às escolas e aos professores. Esse posicionamento dá espaço a organizações reacionárias da sociedade, representadas pelo bolsonarismo e outros segmentos conservadores brasileiros e alimenta a retórica do ódio, no qual limita o outro ao papel do inimigo a ser destruído, desencantando a todos e se disfarçando de filosofias e xingamentos.

Na Pedagogia da indignação de Paulo Freire, o mesmo afirma que educação sozinha não transforma a sociedade e que sem ela tampouco a sociedade irá mudar, assim, é necessário nos organizar pela luta em defesa da autonomia dos professores e da liberdade do exercício da democracia plena. Pelo direito da juventude de ter acesso a uma educação pública, de qualidade, referenciada e gratuita. Pela revogação do Novo Ensino Médio e da BNCC privatista e a demissão do MEC dos representantes das fundações privadas, como as Fundações Lemman, Itaú Social, Roberto Marinho e congêneres.

*José Eduardo Andrade Neto. Militante do Afronte! Sergipe; PSOL; Integrante do Residência Pedagógica e Vice-Presidente do Centro Acadêmico de Biociências.
**Catharina Pena Gomes. Professora de Geografia; Militante do Psol;Mestranda do Programa de Pós Graduação em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe; Secretaria da Associação de Geógrafos Brasileiros – AGB/Aracaju

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