O tenente-coronel Mauro Cid está preso desde o dia 3 de maio. Nestes mais de 60 dias de cadeia, o ex-ajudante de ordens do Palácio do Planalto durante o governo de Bolsonaro, já depôs 6 vezes à Polícia Federal (PF), sobre várias investigações em curso, envolvendo ele próprio, o ex-presidente e outros aliados políticos da extrema direita brasileira.
São elas, principalmente: o roubo das joias doadas pela ditadura saudita; o pagamento de despesas pessoais da família de Bolsonaro, com dinheiro público; a falsificação de cartões de vacinação do SUS, inclusive do ex-presidente e sua filha; e, principalmente, a participação nos inúmeros atos golpistas e de ataque à democracia.
Mas, nesta terça-feira, dia 11/7, a partir das 9h da manhã, vai ocorrer o primeiro depoimento público de Mauro Cid, um dos principais assessores e operadores políticos de Jair Bolsonaro. Ele será interrogado na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que investiga os Atos Golpistas do dia 8 de janeiro em Brasília, e tudo que está vinculado à sua preparação, articulação e execução.
Existe grande expectativa em torno deste depoimento, que provavelmente será transmitido por TV´s e sites, para todo o país. Este depoimento chegou a ser marcado para a terça da semana passada, só que acabou sendo adiado, num acordo envolvendo o presidente da Câmara, Arthur Lira, e o presidente da própria CPMI, Arthur Maia. Mas, agora, está confirmado para amanhã de manhã.
Mauro Cid é obrigado a comparecer, mas conseguiu junto a Ministra Cármen Lúcia, do STF, a possibilidade de ficar calado, teoricamente teria este direito para não falar nada que possa comprometê-lo judicialmente.
No entanto, embora possa ficar calado, existe também uma possibilidade que ele acabe por responder, pelo menos parte das perguntas feitas pelos parlamentares. Afinal, precisa tentar se defender, pois quanto mais avançam as investigações, sua situação fica cada vez mais complicada e ele pode ficar preso por muitos anos.
No último dia 27/6, o coronel Jean Lewand depôs nesta mesma CPMI, e embora pudesse também ficar calado, resolveu falar. Isso pode se repetir, agora, com Mauro Cid.
Diálogos entre Mauro Cid e Lawand comprovam a tentativa de golpe
O depoimento do coronel Lawand foi recheado de contradições e mentiras, que acabaram por complicar ainda mais a sua situação, que já era deveras delicada. Para se ter ideia, 12 parlamentares, integrantes da própria CPMI, já entraram com uma denúncia crime no Ministério Público Federal, por falso testemunho, contra ele.
Portanto, já está amplamente público diálogos envolvendo o próprio tenente-coronel Mauro Cid e o coronel Jean Lawand, apurado pelas investigações da PF. Nestes trechos, fica nítido uma trama sinistra sobre um eventual golpe de estado, que impedisse a posse de Lula e mantivesse Bolsonaro na Presidência.
O diálogo é bem conclusivo, e apresenta inclusive possíveis fases que seriam necessárias para que a empreitada golpista fosse exitosa, que passava até pela prisão de Ministros do STF, que segundo os militares golpistas seriam um empecilho para seus objetivos.
As conversas entre Mauro Cid e Jean Lawand dão a entender que já havia uma parte expressiva da cúpula das forças armadas comprometidas com este golpe. Faltava apenas a convocação de Bolsonaro.
Uma matéria recente do Jornal britânico Financial Times, confirma esta tese, quando apresenta fontes ligadas às forças armadas dos EUA, que afirmam que a ação de agentes estadunidenses teriam sido decisivas para impedir que parte da cúpula dos militares brasileiros avançasse para uma ação golpista contra o resultado das eleições do ano passado.
E o que fez Bolsonaro diante da proposta golpista?
Bolsonaro exitou, mas não repudiou a ideia. Na verdade, não deu a ordem para tentar o golpe antes de 31 de dezembro do ano passado, pois tinha medo de que houvesse uma divisão nas forças armadas e sua tentativa de golpe fosse amplamente derrotada.
Alguns dias antes de terminar seu mandato presidencial e da posse de Lula, Bolsonaro “foge” para os EUA. Viajando, muito provavelmente, com um cartão de vacinação falsificado, a partir de um esquema montado pelo próprio Mauro Cid.
Mas, Bolsonaro não combateu a proposta de golpe e nem mandou prender os dois militares que tramaram esta ação golpista. Todas estas propostas eram levadas para Bolsonaro, através de seus contatos permanentes com Mauro Cid. E nada na atitude política de Bolsonaro demonstra uma ação sequer contra o golpe e em defesa do resultado das eleições.
Justo ao contrário, toda a sua ação era no sentido de questionar o resultado das eleições, especialmente do segundo turno. É evidente que por trás de Mauro Cid estava o próprio Bolsonaro, o grande mentor e principal beneficiário de um golpe de estado no Brasil, naquele momento.
Bolsonaro se tornou inelegível, a partir de decisão do TSE, proferida no último dia 29 de junho. Decisão que ainda é passível de recurso, principalmente ao STF. Embora seja muito justo que Bolsonaro fique inelegível, esta decisão é ainda insuficiente, diante de todos os crimes cometidos pelo ex-presidente neofascista.
Bolsonaro é o principal beneficiado e mentor dos atos golpistas. Portanto, não deve haver nenhum espaço entre nós para propostas que defendam uma pseudo pacificação com o bolsonarismo, que “livre a cara” de seus crimes, em nome de uma eventual governabilidade. Nem Lira é aliado na Câmara, nem Aras é uma aliado na PGR, só para ficar nos dois exemplos mais falados, atualmente.
Bolsonaro é o principal beneficiado e mentor dos atos golpistas. Portanto, não deve haver nenhum espaço entre nós para propostas que defendam uma pseudo pacificação com o bolsonarismo, que “livre a cara” de seus crimes, em nome de uma eventual governabilidade. Nem Lira é aliado na Câmara, nem Aras é uma aliado na PGR, só para ficar nos dois exemplos mais falados, atualmente.
Na verdade, assim como Mauro Cid, Bolsonaro já deveria estar preso. Até porque, livre, ele atua para confundir e atrapalhar as investigações, inventando subterfúgios e mentiras, que tentam sempre livrar a sua cara, enquanto incrimina seus assessores mais próximos.
Portanto, o depoimento de Mauro Cid deve ser encarado como mais um capítulo na luta prioritária pela prisão de Bolsonaro. Nada menos. Sem anistia aos golpistas!
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