Pular para o conteúdo
MUNDO

Peru: 10 dias de protestos consecutivos contra governo ilegítimo e assassino

Encontro nacional de movimentos sociais peruanos marca Jornada Popular de Mobilização Permanente contra Boluarte, entre os dias 19 e 28 de julho

André Freire, da redação
@romanhelipc

No último final de semana, dias 1 e 2 de julho, aconteceu em Lima, capital do país, o Encontro Nacional de Organizações e Povo Organizado, que uniu representados de todas as regiões do Peru, ligados aos principais movimentos sociais peruanos e as principais centrais sindicais do país – Central Unitária dos Trabalhadores (CUT) e Central Geral dos Trabalhadores Peruanos (CGTP).

A principal resolução deste importante encontro foi a convocação de uma Jornada Nacional Popular de Mobilização Permanente contra o governo ultra autoritário da presidenta ilegítima Dina Boluarte. A proposta é realizar, em todo o país, uma jornada de mobilizações durante 10 dias ininterruptos, entre os dias 19 e 28 de julho. No dia 28 de julho, dia que marca as comemorações da Independência do Peru, se planeja realizar uma expressiva manifestação em Lima.

No último dia 7 de junho, completou-se 6 meses do golpe parlamentar que destituiu o presidente eleito Pedro Castillo, que até os dias de hoje segue preso, e deu posse a vice-presidenta, Dina Boluarte. Castillo é um preso político.

Governo Boluarte é ilegítimo e se assemelha a uma verdadeira ditadura

Desde 7 de dezembro do ano passado, houve uma grande viragem política no Peru. De ex-aliada de Castillo, Boluarte se tornou uma agente direta dos setores mais reacionários e corruptos do parlamento peruano. Ela é sustentada principalmente pelos partidos de direita e extrema direita e vem levando a cabo um governo que mais se parece com uma verdadeira ditadura.

Havia um compromisso anterior de convocação de eleições antecipadas, mas a cada dia esta ideia vai sendo abandonada pelo atual governo ilegítimo. Antes, se aventou eleições ainda em 2023, principal reivindicação dos movimentos sociais e democráticos peruanos; depois, a própria Boluarte falou em convocar eleições em 2024, para depois abandonar a ideia; ao que parece, a maioria reacionária e corrupta do Congresso quer que ela fique no poder até o fim do mandato roubado de Pedro Castillo, ou seja, até o ano de 2026.

Os movimentos sociais e a esquerda peruana não aceitaram calados este golpe parlamentar e organizaram várias ações e jornadas de protestos em defesa da democracia, que foram reprimidos de forma dura e criminosa pelo atual governo. Para se ter ideia, os movimentos sociais e as organizações de esquerda denunciam que 68 peruanos e peruanas perderam a vida pela ação repressiva, 49 delas diretamente mortas por armas de fogo das forças armadas e a política do país sulamericano.

No mês passado, inclusive, Veronika Mendoza, ex-candidata a presidenta pelo partido de esquerda Novo Peru, esteve em Bruxelas, no Parlamento Europeu, denunciando este processo chamado por ela de “execuções extra-judiciais”, exigindo o fim do governo ilegítimo de Boluarte e a convocação imediata de novas eleições no Peru.

Outro absurdo político foi o envio de mais de 1.200 militares dos EUA ao Peru, autorizado tanto por Boluarte e pela maioria do Congresso, para auxiliar na preparação das forças armadas peruanas. Um nítido atentado à soberania do país, um grau absurdo de intervencionismo estadunidense, que evidentemente se voltará contra as manifestações e ampliará ainda mais a repressão criminosa contra os protestos democráticos.

Recentemente, o governo brasileiro aceitou uma proposta de autoria da bancada de deputados e deputadas federais do PSOL de interromper a venda de armas ao Peru, enquanto perdurar este regime político ilegítimo.

Principais reivindicações do movimento

A Jornada Nacional Popular de Mobilização Permanente tem como principais reivindicações:

  • O Fim imediato do governo ilegítimo de Boluarte e do mandato do atual Congresso;
  • A convocação imediata de eleições para Presidência da República e para um novo Congresso Nacional;
  • A libertação de todos os presos políticos e punição de todos os responsáveis pelos assassinatos durante os protestos em defesa da democracia;
  • Retirada imediata dos militares dos EUA do país.
  • Convocação de uma nova Assembleia Constituinte no Peru.

Unificados com estas bandeiras, os movimentos sociais esperam realizar neste mês a maior jornada de mobilização contra a verdadeira ditadura peruana e pela restituição do regime democrático no país, condição fundamental para retomar as lutas pelas mudanças políticas, econômicas e sociais que o povo trabalhador peruano tanto necessita e reivindica.