Com contribuições de Carolina Freitas, Elaine Rossetti Behring, Demian Melo, Douglas Rodrigues Barros, Douglas Santos Alves, Felipe Demier, Gilberto Calil, Irene Maestro Sarrión dos Santos Guimarães, Marcelo Badaró Mattos, Marco Marques Pestana, Rafael B. Vieira, Rejane Carolina Hoeveler, Romulo Mattos, Tiaraju Pablo D’Andrea e Sandro Barbosa de Oliveira, o livro contém interpretações originais sobre Junho; críticas às suas versões expiatórias; análises sobre a ofensiva conservadora, sobre a dimensão urbana e territorial dos conflitos de classe, e os dilemas das identidades e da indústria cultural no Brasil estão entre as principais questões as quais este livro se preocupa em tratar.
Orelha “ tal qual o sertão, Junho, ainda hoje, parece estar violentamente em todo lugar. Seja em como ele começou, seja da forma como ele acabou, ou, ainda, naquilo que o engendrou”.
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Confira o texto de apresentação do livro, assinado por Carolina Freitas, Douglas Rodrigues Barros e Felipe Demier:
Apresentação
Como o tal raio em dia de céu azul – ou melhor, como o clarão das bombas numa avenida acinzentada -, os acontecimentos do ano de 2013 surpreenderam a todos e fizeram com que um de seus meses adquirisse, desde então, a inicial maiúscula: Junho. De lá para cá, nessa década que nos separa daquele inverno quente, as tendências e latências contidas naquelas jornadas se desenvolveram de um modo complexo, vertebrado de contradições e mesmo de antagonismos radicais. A afirmação do processo, isto é, a luta por direitos e contra a repressão, e a sua negação, a luta contra a corrupção e por mais repressão, em suma, a afirmação e a negação do processo, seguiram em embate, mas a síntese daí produzida, em especial desde o golpe de 2016 e da emergência do neofascismo bolsonarista, foi inegavelmente reacionária. E aquele mesmo Brasil agora também é outro.
Marx disse em algum lugar que há momentos em que o tempo histórico se acelera, os acontecimentos se precipitam e, em meses, ocorrem mais fatos qualitativos do que haviam ocorrido em anos de aparente paralisia temporal, de estagnação política. O Brasil de dez anos de concertação e paz social – que nunca teve nada de pacífica, por sinal – se viu em meio a conflitos urbanos nas grandes capitais que, levando ao chão o véu da conciliação entre capital e trabalho, expuseram o desigual corpo nu da nação. Uma espécie de avesso da hegemonia às avessas – porque és o avesso, do avesso, do avesso?
A partir daí, os tempos se aceleraram e a luta de classes ganhou contornos ao mesmo tempo mais nítidos e irascíveis. Um golpe de Estado depôs, por dentro do próprio regime, um governo eleito, jogando de imediato, no lixo, 54,5 milhões de votos, o que abriu caminho para que a imundície dos bueiros da história nacional emergisse e se acumulasse na jusante de um rio que corria, com pressa, para um mar de barbárie. Muitos e muitos nadaram contra essa corrente. Centenas de milhares se afogaram nela. Por falta de ar. Nos hospitais em Manaus, aqui e acolá. Nas favelas, na Amazônia, no Araguaia, na Baixada Fluminense, muita bala comeu solta, muita gente não teve o que comer. As tendências autocráticas da burguesia brasileira se intensificaram, a democracia liberal passou a viver em constante ameaça por conta da ação antidemocrática de seus próprios liberais e, cinco anos depois de Junho, o Estado brasileiro foi entregue para a lumpem-burguesia do nosso esgoto histórico.
O objetivo deste livro, organizado com a mesma pressa que tivemos ao sair às ruas naquela primeira tarde de 6 de Junho de 2013, é oferecer elementos para uma análise crítica do processo histórico da luta de classes nos últimos dez anos no Brasil. Nesse sentido, as páginas que se seguem a partir daqui lançam luz sobre diversas temáticas e determinações tanto de Junho como de seus desdobramentos posteriores – tanto da revolta como da sua própria reviravolta. Assim, interpretações originais sobre Junho; críticas às suas versões expiatórias; análises sobre a ofensiva conservadora, contrarreformista e neofascista desde então; a dimensão urbana e territorial dos conflitos de classe e suas pautas naquelas jornadas, como o transporte e a moradia; e os dilemas das identidades e da indústria cultural no Brasil são algumas questões às quais este livro se preocupa em tratar – pois, tal qual o sertão, Junho, ainda hoje, parece estar violentamente em todo lugar. Seja em como ele começou, seja da forma como ele acabou, ou, ainda, naquilo que o engendrou.
Dez anos depois, viver – e lutar – continua sendo muito perigoso. Junho acabou, mas seus dilemas seguem nos atravessando nas veredas ali abertas. Por isso este livro.
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