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MUNDO

Colômbia: Petro e Francia apostam na mobilização popular

Ao que tudo indica, começou o operativo golpista na Colômbia contra o governo de esquerda legitimamente eleito. Como havíamos assinalado neste site há apenas alguns dias, o país caribenho se encontra hoje em uma situação bastante delicada, depois que o governo de Gustavo Petro e Francia Márquez propôs uma série de reformas progressistas e passou a enfrentar a resistência de opositores de direita e ex-aliados.

Henrique Canary, da redação
infopresidencia

Nesta quarta-feira (7) ocorreu a primeira medição de forças, que parece ter sido favorável ao governo. Várias organizações progressistas e de esquerda convocaram manifestações no país em apoio às reformas propostas por Petro e Francia. Os protestos foram bastante massivos, com dezenas de milhares de participantes em cidades como Bogotá, Cali, Medellín, Barranquilla e Ibagué. O presidente e a vice participaram pessoalmente da manifestação em Bogotá e depois se dirigiram à nação em um breve discurso: “Pedimos aos congressistas com todo o respeito, desde nosso desejo de justiça e paz, que aprovem as reformas, que garantam ao povo colombiano seus direitos, reformas que o povo aprovou nas urnas nas eleições presidenciais”, disse Petro diante dos manifestantes. Em resposta, as pessoas começaram a gritar: “Petro, amigo, o povo está contigo”.

As reformas propostas por Petro visam reduzir a participação privada no sistema de saúde, redistribuir terras improdutivas, reformar as leis trabalhistas, previdenciárias e da justiça e desarmar organizações ilegais que atuam em território colombiano.

A manifestação nacional se tornou um fato depois que o governo passou a enfrentar uma série de acusações sobre supostas escutas não autorizadas e financiamento ilegal de campanha, tudo de acordo com o já clássico cenário lavajatista que vimos no Brasil em 2015-2016 e que levou ao golpe contra Dilma Rousseff. Fruto desses escândalos plantados, o apoio ao governo no Congresso foi reduzido e Petro decidiu apelar à manifestação popular: “Que não se atrevam a romper com a democracia na Colômbia porque encontrarão um gigante: o povo colombiano nas ruas deste país”, alertou o presidente, ao mesmo tempo em que pedia a manutenção dos protestos como forma de pressão sobre o Congresso.

A situação colombiana começa a mobilizar as forças políticas progressistas de fora do país. Recentemente, foi organizado um manifesto assinado por personalidades da política e da cultura de diferentes países: Adolfo Pérez Esquivel, vencedor do Prêmio Nobel da Paz; o jurista espanhol Baltasar Garzón; o líder trabalhista britânico Jeremy Corbyn; Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores; João Pimenta Lopes, deputado membro do Parlamento Europeu: “Desde a eleição do primeiro governo progressista do país – encabeçado pelo presidente Gustavo Petro, vice-presidente Francia Márquez e o Pacto Histórico no Congresso – os poderes tradicionais da Colômbia vêm tentando restabelecer uma ordem marcada por extrema desigualdade, destruição de meio ambiente e violência patrocinada pelo Estado”, diz o documento.

A situação na Colômbia mostra ao Brasil o seu futuro em curto e médio prazo e os possíveis caminhos a seguir. Ninguém mais duvida que as chantagens e a pressão do centrão, agronegócio, extrema-direita, mercado financeiro e mídia corporativa mais cedo ou mais tarde se transformarão em uma ofensiva mais séria. Se terão ou não coragem de avançar para uma nova tentativa de golpe, isso vai depender da correlação de forças. Hoje, o que fazem é trabalhar pelo fracasso do governo. E nossos inimigos têm obtido algum sucesso nesse caminho: aprovação de um Arcabouço Fiscal piorado, que dificultará a retomada do investimento público, Marco Temporal, desestruturação da arquitetura governamental. Fruto dessas iniciativas vitoriosas do Centrão e da extrema-direita, os índices de apoio a Lula já caíram alguns pontos desde a posse.

A situação na Colômbia mostra ao Brasil o seu futuro em curto e médio prazo e os possíveis caminhos a seguir. Ninguém mais duvida que as chantagens e a pressão do centrão, agronegócio, extrema-direita, mercado financeiro e mídia corporativa mais cedo ou mais tarde se transformarão em uma ofensiva mais séria.

Infelizmente, Lula e uma parte do PT parecem não querer enxergar o óbvio: o dia 08 de janeiro foi somente o primeiro ato, um tanto quanto destrambelhado, da conspiração golpista. Mas o operativo segue em andamento. É preciso romper com a lógica do governo “a frio”, que só conduz à desmobilização e à derrota em médio prazo. As concessões de hoje se tornam novos avanços da direita e mais um recuo do governo amanhã. É um mecanismo circular. É preciso fazer como na Colômbia: adotar medidas concretas que levem à melhoria imediata das condições de vida da população e em base a isso construir a mobilização popular como fundamento de uma nova governabilidade.

Somos uma país muito grande e ainda estamos de costas para a América Latina. Não temos noção de o quanto somos uma referência para nossos irmãos e irmãs latino-americanos. Se Lula mudar a lógica de como governar, certamente encontrará aliados não apenas no povo pobre brasileiro, mas nas nações sofridas e exploradas de todo o continente. É difícil admitir porque todos queremos um pouco de paz, mas o fato é que essa provavelmente seja a única forma de fazer valer o programa aprovado nas urnas em 2022.

 

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