Tem se multiplicado nas redes sociais a quantidade de canais e perfis de esquerda que, reivindicando as experiências socialistas do século 20, veem com simpatia a figura de Stálin e o stalinismo. Ao mesmo tempo, esses meios, em geral conduzidos por comunicadores bastante talentosos, alertam para os supostos perigos das concepções e contribuições práticas e teóricas de Leon Trótski no terreno da luta socialista mundial. É o que se convencionou chamar de “polêmica Trótski x Stálin”. De alguma forma, cem anos depois de iniciada, essa disputa tem sido revivida por ativistas e militantes.
O debate de velhas questões que marcaram a luta socialista passada e em seu tempo dividiram os revolucionários pode ser útil e instrutivo. Ou pode ser inócuo e gerar mais confusão do que esclarecimento. Depende de como se faça a discussão. Quando baseada em documentos históricos sólidos, bibliografia consagrada e com lugar ao contraditório, ocorre a primeira variante. Quando se trata apenas da repetição de velhas acusações e insinuações sem provas, que o ofício histórico jamais confirmou, dá-se o segundo cenário.
Em nossa opinião, o atual debate “Trótski x Stálin”, se tem, por um lado, o valor de despertar em uma nova geração de lutadores o interesse pelos fatos da luta socialista no século 20, tem também, infelizmente, o demérito de ser feito de maneira bastante dogmática, sem a necessária conexão com os desafios da luta socialista no século 21.
Toda visão de futuro se alimenta, entre outras coisas, de uma visão de passado. E isso vale para todos. Às vezes, devido à situação desesperadora da sociedade, o passado deixa apenas de alimentar a visão sobre o futuro e se transforma ele mesmo na única perspectiva possível. É o que o filósofo anglo-polonês Zygmunt Bauman chamou de “retrotopia” no último livro que escreveu antes de morrer. A retrotopia é uma utopia voltada não para a construção de um futuro alternativo e melhor do que o presente, mas para o restabelecimento de um passado idealizado, que jamais existiu de fato. Em nossa opinião, o atual debate “Trótski x Stálin” carrega muito dessa marca. Os sujeitos envolvidos na polêmica discutem o que seria melhor: repetir o passado tal como ele ocorreu, sem levar em considerações a crítica do tempo e a derrota histórica sofrida, ou repetir esse mesmo passado corrigindo tudo aquilo que deu errado. Num e no outro caso, perde-se de vista o fato de que o passado não se repete, de que as experiências históricas são únicas e cada época apresenta a seus contemporâneos desafios completamente novos, quase sempre inéditos.
Mas isso não quer dizer que a polêmica sobre questões históricas seja inútil. Ao contrário, ela tem muito a ensinar e pode ser aproveitada pelos socialistas do nosso tempo na luta do presente. Em que consiste, portanto, a verdadeira discussão? Em nossa opinião, no fato de que o debate “Trótski x Stálin”, se bem conduzido, pode lançar luz sobre os desafios da construção socialista futura. Em última instância, ele diz respeito a questões decisivas, como: Que perigos ameaçarão as futuras experiências socialistas? Que socialismo queremos? Como triunfar? Como evitar o isolamento e o definhamento do processo revolucionário? Não se trata aqui, portanto, de determinar quem estava correto na polêmica sobre os sindicatos de 1921 ou na polêmica sobre a paz durante a conferência de Brest-Litovski de 1918, mas sim em pensar os desafios do nosso tempo, do tempo que nos coube viver. As polêmicas sobre os sindicatos, sobre Brest-Litovski e outras devem seguir porque são úteis para entendermos melhor o que aconteceu com o socialismo no século 20, mas elas não podem determinar nosso movimento hoje.
O verdadeiro sentido do debate “Trótski x Stálin”
Em nossa opinião, existe sim uma questão histórica que precisa ser debatida se queremos triunfar. E essa questão é: Por que fomos derrotados? Por que a União Soviética deixou de existir?
Há quase 90 anos, em um pequeno livro intitulado “A revolução traída”, Trótski afirmou que ou a União Soviética regenerava seu regime político com uma nova revolução que colocasse a classe operária de volta no poder, ou o capitalismo seria restaurado, provavelmente pelas mãos da própria burocracia dirigente. “Não basta ser diretor do truste. É necessário ser acionista”, dizia ele, referindo-se à tendência inexorável da burocracia de transformar seus privilégios temporários e instáveis em propriedade privada perene e estável.
Trótski e seus seguidores partiam da defesa incondicional (essa palavra era especialmente sublinhada) da URSS, mas alertavam que a gestão burocrática da política e da economia soviéticas conduziria inevitavelmente à restauração do capitalismo no país. A polêmica parecia forçada. A União Soviética se desenvolvia em ritmo alucinante, resolviam-se inúmeros problemas econômicos e de seguridade social. A herança proveniente da Revolução de Outubro parecia bem guardada nas mãos da nomenklatura stalinista. Cinquenta anos depois, o que tivemos foi exatamente a restauração capitalista. A partir de 1986, a burocracia soviética, em sua esmagadora maioria, se uniu em torno de um plano que visava devolver à Rússia o livre mercado, a propriedade privada e as flutuações de preços. Os burocratas do passado tornaram-se “novos russos” e alguns chegaram até mesmo à condição de “oligarcas”, detentores de um gigantesco poder político e econômico. Quase todos eles têm a mesma origem: a casta dominante soviética.
Como explicar esse desfecho? Nos incontáveis vídeos publicados na internet em canais que reivindicam Stálin não há nenhum que analise a fundo esse fato objetivo: o capitalismo foi restaurado na URSS não por uma invasão imperialista (embora o imperialismo tenha agido ativamente ao longo de todo o processo), mas pelas mãos da própria burocracia dirigente, em pleno acordo com o imperialismo.
Mas se tudo era perfeito, então o que deu errado? Passados mais de 30 anos do fim da União Soviética, não seria o caso de começar a pensar sobre o assunto? Tudo se explica pela “teoria da traição”? Khruschov, Gorbatchov e Ieltsin traíram a URSS? Claro, podemos concordar com isso, mas e todos os outros? Por que nenhum setor da burocracia dirigente se levantou contra a restauração? Eram todos traidores? Mas essa não é exatamente a posição de Trótski, que afirmava que a burocracia era uma casta intrisecamente restauracionista e que inevitavelmente trairia a revolução para se tornar proprietária?
Assim, se queremos fazer um debate histórico sério, não podemos ignorar o balanço final da principal experiência socialista do século 20. O que deu errado?
Em termos muito abstratos, podemos afirmar que a União Soviética fracassou porque o socialismo só pode ser obra da classe trabalhadora organizada e livre. Não há socialismo que possa ser construído sem a participação consciente do proletariado, à sua margem, contra a sua vontade. O socialismo é o início da construção da sociedade comunista, o que Marx chamou de “reino da liberdade”, em oposição ao “reino da necessidade”. Essa liberdade para a classe trabalhadora deve se expressar e ser real desde o primeiro dia da construção socialista, como ocorreu nos primeiros anos na Rússia após 1917. Medidas repressivas e de cerceamento da liberdade devem ser absolutamente excepcionais e só podem estar voltadas contra os inimigos declarados do socialismo. Pode-se dizer com plena convicção que o regime político na União Soviética estava construído sobre este princípio marxista elementar? Não existiram os gulags? São invenções liberais? A velha guarda do partido bolchevique não foi massacrada nos Processos de Moscou de 1936-1938? Isso foi uma invenção da imprensa norte-americana e europeia? A cúpula do Exército Vermelho não foi decapitada entre 1937 e 1938, pouco antes da Segunda Guerra Mundial? Como a repressão à cultura, à criação artística e até à investigação científica ajudaram a fortalecer o socialismo?
O sentido histórico da luta de Trótski
Muitas pessoas veem Trótski como um crítico da construção socialista na URSS. Essa visão contém um grão de verdade, mas é parcial, e portanto equivocada. É verdade que, muitas vezes, na polêmica com o stalinismo, Trótski foi obrigado a salientar os aspectos críticos de sua visão sobre a URSS. Isso era necessário porque o stalinismo afirmava que o socialismo estava sendo alcançado na URSS e que em breve passariam à construção do próprio comunismo. Trótski precisava rebater essa visão e alertar sobre os limites daquela experiência, de forma a desfazer as ilusões e trazer o debate para uma base realista, longe de mistificação stalinista. Mas o sentido histórico da luta de Trótski não é a crítica da URSS e sim a sua defesa.
O objetivo mais geral de Trótski sempre foi a defesa da URSS contra o perigo da restauração capitalista encarnado na burocracia dirigente. Tudo o que Trótski disse e escreveu desde 1923, quando foi fundada a Oposição de Esquerda, teve exatamente esse objetivo. Todo o resto sempre foi e sempre será secundário. Para defender a URSS da restauração, Trótski criou uma teoria crítica, da mesma forma que, a seu tempo, Marx realizou a crítica da economia política, da filosofia alemã e do socialismo francês, dando origem assim ao nosso movimento. Lênin também realizou essa mesma crítica em sua época (criticou o populismo, o economicismo, a Segunda Internacional, o kautskismo). Trótski apenas seguiu essa tradição e é por isso que ele é, de um certo ponto de vista, um mero discípulo de Marx e Lênin. Todos os três pagaram o preço de sua iconoclastia.
A defesa da democracia operária (ou seja, de um regime político em que a classe trabalhadora governa através de seus organismos) não é, para o trotskismo, um imperativo moral. É uma necessidade da luta pelo socialismo. E a história nos deu razão porque não houve democracia operária e ao final fomos todos derrotados.
A atual onda neostalinista é o culto das condições que levaram à derrota de um projeto que pertencia a todos nós. Sim, houve organizações e líderes trotskistas anti-defensistas, ou seja, que elevaram a crítica à URSS ao absoluto e abandonaram de fato a sua defesa. Mas o mestre não pode ser responsabilizado pelas palavras e atos de seus seguidores. Se fosse assim, o que diríamos do marxismo? Trótski morreu um defensor intransigente da URSS e por isso mesmo um combatente incansável pela democracia operária.
A atual onda neostalinista é o culto das condições que levaram à derrota de um projeto que pertencia a todos nós.
Jamais saberemos se a teoria trotskista da revolução política era viável historicamente porque nunca houve uma revolução política vitoriosa contra um regime stalinista. A questão é controversa, sabemos. Houve ensaios, e pode-se discutir em qual medida esses processos (Berlim Oriental, Hungria, Tchecoslováquia, Polônia, a própria URSS, Praça da Paz Celestial na China) eram de fato a revolução política preconizada por Trótski e em qual medida eram o início de uma contrarrevolução democrática que acabaria por restaurar o capitalismo (Sobre a hipótese da contrarrevolução democrática, ver aqui: https://esquerdaonline.com.br/2016/08/02/dez-notas-e-uma-hipotese-sobre-a-restauracao-capitalista-na-urss/). Não sejamos ingênuos. É um fato que o imperialismo interviu em todos os processos. Se isso os invalida ou não, é um debate. O fato é que jamais saberemos porque só podemos saber o que realmente aconteceu.
Mas o outro fato incontenstável é que a história jamais ofereceu qualquer alternativa à revolução política que não fosse a própria restauração capitalista. O certo (porque também comprovado pela história) é que a sobrevivência indefinida de um regime de ditadura proletária em qualquer país isolado se demonstrou uma impossibilidade teórica e prática. Argumenta-se que Cuba resiste. É verdade. Mas por quanto tempo? Se a tensão existente hoje em Cuba entre o mercado e o planejamento perdurar por muito mais tempo, o mercado acabará vencendo porque o capitalismo se aproveita do automatismo econômico (busca pelo lucro) para penetrar em todas as sociedades pré e pós-capitalistas. O socialismo, ao contrário, depende da vontade humana e da ação política consciente. Cuba precisa e pode contar com toda a nossa solidariedade. Mas isso não será o suficiente para salvá-la da restauração capitalista. Ela precisa que uma outra revolução corra em seu auxílio.
A revolução permanente é, pois, a despeito de suas possíveis imperfeições, a única teoria-programa capaz de explicar satisfatoriamente o século 20, o destino da URSS e prever o futuro das atuais experiências socialistas, se se considera que elas existem. Mais do que isso, ela afirma que nem mesmo a independência nacional ou qualquer outra conquista pode ser mantida em longo prazo se não se avança para uma revolução socialista. Ela explica, portanto, porque perdemos direitos, porque países antes independentes se tornam novamente semicolônias, porque as experiências socialistas degeneram, porque a limitada democracia burguesa está ameaçada pelo fascismo.
Mas o trotskismo só faz sentido em oposição ao stalinsmo. Fora desse contexto, ele é apenas marxismo, e jamais se pretendeu como uma concepção alternativa, sucessora ou diferente do próprio marxismo. O internacionalismo proletário, a democracia operária e a independência de classe são conceitos marxianos, de nenhuma forma exclusivos de Trótski ou seus seguidores. Eles estão alojados na própria origem de nosso movimento, que já dura 170 anos. O stalinismo, por outro lado, é a negação teórica e prática (mas principalmente prática) de tudo que existe de mais fundamental no marxismo. E foi por isso que ele conduziu a experiência soviética à bancarrota.
A dimensão moral do debate
A polêmica “Trótski x Stálin” nos ensina algo sobre o futuro porque nosso projeto tem também uma dimensão moral. Não idealizamos o ser humano, mas lutamos para que em sua curta experiência sobre a Terra se expresse plenamente aquilo que há de melhor nele: a colaboração, a solidariedade, a curiosidade, a empatia, a inteligência e a criatividade. Enquanto essas características (que certamente convivem com outras negativas) não se manifestam plenamente, o mundo dos seres humanos caminha a passos largos para a sua destruição. E assim será, se o socialismo não triunfar.
Como em todo movimento, meios e fins devem estar em sintonia, precisam encontrar um equilíbrio. Não valem quaisquer meios para se atingir o fim porque a introdução de certos meios acaba anulando o fim desejado. É o que fez o stalinismo. Ele introduziu em nosso movimento valores e práticas absolutamente opostas aos nossos fins: a mentira, a grosseria, a violência física, o assassínio, a calúnia, a delação. A relação entre militantes se baseia na confiança porque dedicamos a vida a um mesmo projeto. Como militar lado a lado com alguém que acha normal os Processos de Moscou? O assassinato de revolucionários opositores? Contra quem essa concepção de luta política se voltará amanhã?
As coisas estão difíceis, sabemos. O bolsonarismo se tornou o fascismo brasileiro do século 21 e veio para ficar. Perdemos direitos, retrocedemos, nossos camaradas caíram vítimas de assassinatos e violência política. Diante dessa realidade, pode parecer uma boa ideia se agarrar a algo de nosso passado para atravessar a tempestade. É compreensível. A grande questão é se esse algo nos manterá a salvo na superfície ou nos puxará para baixo, onde jazem já muitos mortos.
Nosso projeto é o projeto da libertação humana, do fim da alienação e de toda opressão existente. Esse fim é incompatível com a visão de mundo stalinista. O que tal projeto pode ter em comum com uma contrarrevolução que afogou em sangue dirigentes revolucionários e operários comuns, cassou conquistas da revolução, perseguiu opositores, prendeu cientistas, artistas e escritores, colaborou politicamente com potências imperialistas, assinou acordos com o nazismo, solapou as bases da maior vitória revolucionária da humanidade e conduziu a URSS a um fim triste e melancólico?
O debate “Trótski x Stálin” ontem e hoje
Ao longo do século 20, a disputa entre trotskismo e stalinismo carregava em muito um sentido prático. O stalinismo jogava em nossa cara: “Nós dirigimos a URSS e um terço do mundo, e vocês? Não passam de uma seita!”. Essa cobrança tinha uma aparência de verdade porque se baseava na constatação empírica da força de cada um dos movimentos. Assim, era de se compreender a atração exercida pelo fenômeno stalinista. Mas e hoje? A força do fenômeno neostalinista parece repousar unicamente ou quase unicamente em sua estética, que remonta a um passado de supostas glórias e por essa via se opõe à estética fascista, tão amplamente difundida em nossa sociedade. No entanto, essa relação entre o stalinismo e as vitórias do passado é apenas aparente. Se há uma força derrotada historicamente, essa força é o stalinismo. E falamos exatamente de derrota histórica, ou seja, imposta pelo julgamento do tempo. O stalinismo existe, o que é comprovado pelas milhares de curtidas no youtube. Mas não pode oferecer mais nada, além de dogmatismo, escolasticismo e rigidez analítica. O comunismo, ao contrário, como disse Lênin, “é a juventude do mundo”. É por isso que alguns vídeos no youtube são feitos por pessoas jovens, têm linguagem jovem e muitas curtidas, mas não conduzem a lugar nenhum, a não ser a um passado de derrotas.
E o trotskismo? O verdadeiro trotskismo jamais se postulou como via específica para o socialismo. Trótski nunca desejou construir uma internacional ou partidos “trotskistas”. Isso acabou acontecendo, mas foi uma imposição das condições objetivas e subjetivas da época. Trótski queria construir uma organização onde os “trotskistas” fossem uma minoria. Sua pretensão era construir um movimento simplesmente marxista. Não conseguiu. A despeito de algumas honrosas exceções, os trotskistas acabaram criando organizações próprias, extremamente marginais, sem peso decisivo na realidade. No entanto, a derrota dos fatos não é a derrota das ideias. Trótski foi assassinado em 1940 por um agente stalinista e seu movimento foi politicamente derrotado, mas ele triunfou ideologicamente porque soube dar a única resposta cabível ao grande e decisivo enigma do século 20: o que é a URSS e para onde ela vai?
Ora, se a construção de um movimento especificamente trotskista não era um objetivo de Trótski no século 20, também não pode ser nosso objetivo no século 21. O pensamento e a tradição trotskistas certamente têm um lugar na construção revolucionária de nosso tempo porque seu programa passou na prova da história. Mas o trotskismo não pode nem deve ser única tradição e nem mesmo a dominante. Será melhor se nós trotskistas formos uma minoria. A grandeza da causa exige essa humildade. É preciso construir uma organização ou frente de organizações de distintas tradições, com distintos referenciais. E não é obrigatório nem desejável que sejam russocêntricas. Não existe somente trotskismo e stalinismo na tradição marxista. Existe a tradição revolucionária latino-americana, africana, norte-americana, europeia, russa, asiática, árabe, brasileira.
Nossa tarefa não é ressuscitar polêmicas há muito perdidas nas caixas empoeiradas da história, mas retirar a esquerda em geral e a esquerda revolucionária em particular da marginalidade. O que fez surgir o bolsonarismo não foram as “vacilações de Trótski”, mas o nosso (de todos nós da esquerda) isolamento do mundo real. Precisamos nos conectar não com os fantasmas que habitam nosso sótão, mas com o povo vivo das periferias, favelas, fábricas, escolas, universidades, campo e cidade.
Nossa tarefa não é ressuscitar polêmicas há muito perdidas nas caixas empoeiradas da história, mas retirar a esquerda em geral e a esquerda revolucionária em particular da marginalidade.
Entre as muitas tarefas da atual geração de revolucionários marxistas, uma das mais importantes é a reconstrução da subjetividade da classe trabalhadora e seus aliados. Talvez essa tarefa seja de fato o centro de tudo. É preciso fazer com que o proletariado volte a se enxergar como uma classe distinta, portadora de um projeto próprio de futuro. Trata-se da reeducação de bilhões de seres humanos (sim, essa é a escala das coisas) que um dia acreditaram na promessa do socialismo e hoje não acreditam mais, entre outras coisas, porque o stalinismo pisoteou esses sonhos com a violência política e a ausência de liberdades democráticas.
Assim, o debate “Trótski x Stálin” se reveste de uma enorme importância, mas não necessariamente aquela que vemos nas redes sociais. Trata-se de uma discussão sobre o presente e o futuro, muito mais do que sobre o passado. É nesse sentido que a recuperação dessa polêmica histórica pode ser útil.
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