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TEORIA

Nosso caminho – Contra o putschismo

Essa tradução de Unser Weg, inédita em língua portuguesa, foi feita a partir da versão em espanhol (de Juan Delgado/Sociedad Futura) e cotejada com a versão em inglês (de David Fernbach, pesquisador da Obra de Paul Levi) por Bruno Rodrigues, e foi revisada a partir da versão em inglês (de David Fernbach) por Daniel Kraucher. Ela é parte da série 100 anos da Frente Única Operária: gênese e atualidade, publicada ao longo do ano de 2021 por Bruno Rodrigues, membro da equipe editorial do portal Esquerda Online, que também encarregou-se de elaborar uma introdução para esse texto

Por Paul Levi (Tradução por Bruno Rodrigues e Daniel Kraucher)

Acesse aqui todos os artigos da Série 100 anos da Frente Única Operária: gênese e atualidade

Introdução

Paul Levi foi um jovem advogado e dirigente do comunismo alemão na primeira metade do século passado, militante da Internacional Comunista e, portanto, contemporâneo de Rosa Luxemburgo, Clara Zetkin, Vladimir Lênin, Leon Trotsky, Antonio Gramsci etc.

Tendo sobrevivido à caçada anticomunista que se desatou depois da derrota da revolução alemã de 1919 que vitimou Rosa e Liebknecht, Levi se converteu no principal dirigente do KPD e depois do VKPD, partidos herdeiros da velha Liga Spartacus.

Nos primeiros anos de existência do partido comunista alemão, Levi teve que enfrentar uma forte onda ultra-esquerdista que parecia ameaçar os partidos comunistas da Internacional, particularmente sua seção alemã. Aliás, esta foi uma batalha não muito diferente daquela travada por Lênin, quando o líder soviético escreveu seu célebre ensaio Esquerdismo, doença infantil do comunismo aos delegados do II Congresso da Internacional Comunista, ocorrido em 1920.

Essa onda ultra-esquerdista teve expressão em vários países, desde a Itália, cuja principal figura foi Amadeo Bordiga; até os emigrados húngaros, que tiveram na revista Kommunismus, editada na Áustria por Bela Kun, Josef Pógani e George Lukács, sua principal canal de divulgação ideológica. Contudo, foi possivelmente na Alemanha que a chamada Teoria da ofensiva, expressão teórica daquela corrente ultra-esquerdista combatida por Lênin e Levi, conseguiu ir mais longe.

Em princípios de 1921 Bela Kun havia sido deslocado para a Alemanha. Ao desembarcar, Bela Kun encontrou o partido comunista sob o controle de outros notórios ultra-esquerdistas como Heinrich Brandler, Walter Stoecker, Paul Böttcher, Paul Frölich, Ernst Meyer e August Thalheimer, depois da renúncia da ala de Clara Zetkin, Ernst Däumig, Otto Brass, Adolf Hoffmann, Curt Geyer e Paul Levi.

Gozando da simpatia e da cobertura de Zinoviev e de Bukharin, dois dos principais dirigentes da Internacional Comunista, Bela Kun e Brandler dispunham então de um ambiente perfeito para colocar em ação a Teoria da Ofensiva, propaganda nas páginas da revista Kommunismus. Foi em março de 1921 que o VKPD, com auxílio do KAPD, lançou-se em uma ação insurrecional em todo o país.

Não é necessário abordar os detalhes de como o VKPD operou a Ação de março de 1921, episódio que já está devidamente narrado no primeiro artigo da série sobre os 100 anos da Frente Única Operária, publicado no portal Esquerda Online ao longo do ano de 2021. Mas vale lembrar que, o que era para ser uma legítima ação defensiva de massas liderada pelo VKPD, diante de uma provocação policial empreendida pelo governo social democrata de Otto Hörsing (foto), redundou em uma aventura trágica, cuja preparação sustentou-se tão somente em uma série de análises voluntaristas, de tipo insurrecionalista, conforme denuncia Levi, cujo saldo, portanto, não foi outro senão a prisão e a morte de dezenas de trabalhadores, além do esfacelamento do partido.

Foi então que Paul Levi, para acertar contas com os partidários da Teoria da ofensiva e denunciar os estragos políticos por eles causados, publicou o texto que, até então desconhecido em língua portuguesa, ora traduzimos e disponibilizamos para os leitores do portal Esquerda online, como texto complementar à séria supracitada.

Além da expulsão do KPD, articulada pela ala esquerdista de Paul Frolich, Bela Kun, Heinrich Brandler, etc e da Internacional Comunista, a publicação deste folheto rendeu ao autor pesadas críticas da parte de Bela Kun, que escreveu Tática e organização da ofensiva revolucionária – Lições da ação de março e da parte de Anton Pannekoek, em nome do KAPD, em cujo texto The Path of Dr. Levi: The Path of the V.K.P.D (um verdadeiro amálgama de confucionismo semi-anaquista) qualificou levi como “estúpido” e “contrarrevolucionário”

Unser Weg, ou Nosso caminho, é, sem dúvidas, um importante documento da história do movimento operário. Nele, o revolucionário alemão, esgrimindo fina linguagem marxista, estabelece uma incisiva e inteligente crítica às concepções putschistas, ou seja, substitucionistas, que animaram parte do movimento comunista mundial no começo da década de 20 do século XX. Além de produzir uma fina análise da conjuntura da época, isto é, uma leitura lúcida da correlação de forças entre as classes, bem como entre os distintos partidos políticos, através de um método rigoroso, ou seja, que não se permite contaminar pelos desejos pessoais, nem por visões caricaturais acerca de uma suposta permanente disposição de luta da classe trabalhadora. E mais, o método de Levi também dispensa formulações artificiais, cujo objetivo não é explicar cientificamente os fenômenos de uma dada conjuntura (a alemã de 1921, no caso), mas apenas o de justificar as opiniões pré-estabelecidas de um dado grupo dirigente.

Sem dúvidas, os leitores de Esquerda Online poderão atestar por si próprios que Unser Weg, como parte fundamental das demais elaborações de Paul Levi, constitui uma relevante peça no arsenal revolucionário, uma instrumento marxista educativo e enormemente útil ao rearme político e teórico de milhares de revolucionários anticapitalistas ao redor do mundo e, particularmente, daquelas e daqueles que lutam pela derrubada do capitalismo brasileiro.

Prefácio

Dios mío, ¿qué está ocurriendo aquí?¿Remordimiento genuino, aún si impuesto, o nada por el estilo? ¿Te das cuenta de lo que has hecho? La buena acción, la causa más noble… una causa que por una vez Dios puso en tus manos, tú la has tratado como barro en el chiquero.
Gerhart Hauptmann, Florian Geyer

Quando estava planejando esse panfleto, existia na Alemanha um Partido Comunista com meio milhão de membros. Quando o escrevi oito dias depois, este Partido Comunista viu seus alicerces rompidos e sua própria existência comprometida.

Pode parecer arriscado, em uma crise tão séria como a que se encontra o Partido Comunista, fazer críticas tão implacáveis. Todavia, não é necessário muita reflexão para concluir que esta crítica não é somente útil como é necessária. O jogo irresponsável jogado com a existência de um partido, com as vidas e destinos de seus membros, deve ser encerrado. Deve ser encerrado pela vontade de seus membros, já que aqueles responsáveis por ele seguem negando-se a enxergar o que causaram. O Partido não deve ser arrastado com os olhos fechados a um anarquismo de tipo bakuninista. E, se um Partido Comunista algum dia vier a ser novamente construído na Alemanha, então os mortos da Alemanha Central, Hamburgo, Renânia, Baden, Silésia e Berlin, para não mencionar os milhares de prisioneiros que foram vítimas desta loucura bakuninista, todos exigem em vista dos eventos da última semana: Nunca mais!

Não é preciso dizer que o terror branco que agora se espalha não deve ser usado como uma cortina por trás da qual aqueles responsáveis possam fugir de sua responsabilidade política. Nem a raiva e os insultos agora levantados contra mim devem ser razão para abster-se dessa crítica. Me dirijo aos membros do Partido imbuído desse espírito, com um relato que deve rasgar o coração de qualquer um que tenha trabalhado para construir o que agora foi destruído. Estas são verdades amargas, contudo “o que lhes entrego é remédio, não veneno.

3/4 de Abril de 1921 – Paul Levi

I.

O debate da classe operária sobre a revolução suscita imediatamente a questão do tempo. As opiniões oscilam entre aqueles de pouca fé, em um extremo, que veem a questão toda como ‘ainda no horizonte’” e, no outro extremo, os otimistas que creem que a revolução poderia “irromper amanhã” se algumas pessoas em algum lugar não estivessem puxando os freios. Quando essas questões são discutidas, no entanto, é raro que as pessoas indiquem os fatores concretos que são decisivos para esse ritmo mais rápido ou mais lento, de modo que a questão da escala de tempo da revolução não se eleva acima da discussão sobre se uma determinada data seria cedo ou tarde demais. Na prisão, o dia é sempre longo; caminhando na floresta na primavera é sempre curto, embora seja o mesmo dia de vinte e quatro horas. Na realidade, o ritmo da revolução depende de dois tipos de fatores: objetivos e subjetivos. Os fatores objetivos são a força da contradição entre as relações de produção e o sistema de distribuição, a possibilidade e a capacidade do sistema de produção vigente continuar em funcionamento, a situação do proletariado, a intensidade do antagonismo entre a burguesia e o proletariado, a intensificação das crises dentro da própria burguesia mundial, etc.

Seria supérfluo repetir novamente aqui o que já foi tão reiteradamente dito. Desemprego em alta, empobrecimento crescente do proletariado assim como da classe média intelectual e comercial e funcionalismo público, a falência do Estado cada vez maior, a reorganização dos Estados burgueses em novos e hostis grupos de interesse, a contradição mundial dos opressores contra os oprimidos de todos os países, com estes pela primeira vez na história unidos em um corpo consciente, pensando e planificando em escala política mundial na Internacional Comunista com a Rússia Soviética como sua cabeça: estes são os fatores objetivos.

No presente caso, porém, precisamos considerar os fatores subjetivos, ou melhor, o fator subjetivo que hoje é sempre decisivo na formação das condições objetivas: até que ponto a classe revolucionária está disposta e capaz, de fato madura o suficiente, para tomar o poder? Até que ponto a classe contrarrevolucionária está espiritualmente debilitada e exaurida para que o poder possa ser tirado de suas mãos? Estas duas forças, a vontade conquistadora da classe revolucionária e a vontade defensiva da classe contrarrevolucionária, não são duas coisas distintas. Cada um é, antes, uma função do outro; a luta dos partidos é o reflexo disso, a posse do poder do Estado é seu objetivo, e a força do uso do poder do Estado sua medida.

É um fato evidente que, neste sentido, a despeito da crescente deterioração econômica, a burguesia alemã alcançou relativa estabilidade. Em novembro de 1918 o poder estatal virou “terra de ninguém”. Havia escapado da burguesia, mas ninguém afirmaria hoje que o proletariado o tomou. A burguesia, apesar do golpe desorientador que havia recebido, foi a primeira a erguer-se novamente; as matanças de Noske em janeiro e março de 1919 foram marcos, a constituição de Weimar o sinal externo reconhecível, que ela se sentiu Senhora novamente. Desde então, o domínio da burguesia alemã – no sentido político – não sofreu nenhum outro golpe sério: o putsch de Kapp, que poderia ter levado a um semelhante golpe tanto desde a esquerda como a direita, passou sem causar nenhum dano sério.

Esta vitória da burguesia não é, evidentemente, uma vitória absoluta, mas algo relativo no mais alto grau, mantendo o seu caráter de vitória apenas enquanto as forças da classe revolucionária não a retomem. Que as forças do proletariado estão no processo de fazê-lo é bastante certo. Não apenas porque há muito mais punhos proletários do que luvas de couro burguesas: a burguesia está sob pressão da crescente decadência econômica e completamente impregnada por um sentimento de desesperança e inescapabilidade de sua situação, vivendo de um dia para o outro, desprovida de qualquer esperança. O proletariado é a única classe que traz no peito a estrela da esperança e, portanto, da vitória: tanto os fatores físicos quanto (como diria Napoleão) os fatores morais estão do lado do proletariado e, portanto, de sua vitória.

Tudo depende, portanto, do estado das forças revolucionárias e de seu desenvolvimento. Isso está acontecendo rapidamente ou lentamente? O próprio Marx deu uma certa resposta a isso. Em A luta de classes na França, ele escreveu:

O progresso revolucionário abriu caminho para si não por suas conquistas […] imediatas, mas, ao contrário, criando uma contrarrevolução poderosa e unida; somente em combate com esse oponente o partido insurrecional amadureceu em um verdadeiro partido da revolução [1]

Nada poderia expressar mais claramente a intensidade e a rapidez do desenvolvimento revolucionário na Alemanha do que isso. O que Marx se referiu aqui foi o desenvolvimento do poder revolucionário em luta contra um poder contrarrevolucionário estabilizado. Na Alemanha, porém, nesta revolução atual, as forças revolucionárias estão mais ou menos acompanhando o desenvolvimento das forças da contrarrevolução. Isso se expressa de duas maneiras. A força de uma classe revolucionária, o proletariado, cresce proporcionalmente à força e ao número de sua vanguarda mais esclarecida, consciente e decidida. Em novembro de 1918, os comunistas na Alemanha formaram um grupo, mas não muito grande. Em fevereiro de 1921, eles eram uma força de meio milhão de pessoas. O outro fenômeno no qual se expressa a força crescente das forças revolucionárias é que a classe proletária alemã já recebeu golpes terríveis nos dois anos e meio da revolução alemã. Perdeu rios de sangue. Uma vez, duas vezes e novamente uma terceira vez sofreu muito no processo, ainda assim, em cada ocasião, levou apenas um curto período de tempo para se levantar novamente com novas forças, com estatura e força de gigante. Nenhuma classe no mundo conseguiu isso antes. O desenvolvimento das forças revolucionárias na Alemanha – não importa o quanto isso possa surpreender as cabeças impacientes entre nós – está ocorrendo em um ritmo inesperado e tremendamente rápido. O proletariado, que durante quatro anos esteve atrás do Kaiser, mas hoje conta com meio milhão de comunistas, adquiriu um novo rosto, tanto intelectual quanto politicamente.

Os impacientes, no entanto, questionarão que serventia pode ter tudo isso se o proletariado ainda não conquistou o poder. E agora chegamos ao verdadeiro problema: o que pode fazer o Partido Comunista nesta situação se quer conquistar o poder estatal?

II. 

Muitos comunistas cometem dois erros em seu pensamento. O primeiro é ver, nas classes em luta, apenas o proletariado. Na realidade, porém, não é uma tática revolucionária ficar examinando e medindo a si próprio no espelho; muito mais importante é a relação dos comunistas com todas as outras classes e estratos em luta contra o capitalismo, que trabalham todos juntos para a queda da burguesia. De todas essas classes e estratos, é claro, apenas o proletariado é aquela que, em virtude de suas condições de existência “abole as velhas relações de produção e, juntamente com essas relações de produção marcadas pelo antagonismo de classes, abole as classes, por completo” [2]; o proletariado é a única classe verdadeiramente revolucionária. É só a classe trabalhadora cujo objetivo enquanto classe está direcionado à mudança nas atuais relações de produção e em todas as relações que dela decorrem. Numa fase posterior da revolução, de fato, uma contradição deve necessariamente surgir, mesmo que temporariamente, entre o proletariado e aquelas classes e camadas que hoje lutam ao seu lado, mas de forma alguma isso justifica o proletariado tratar essas classes e camadas como não existentes, como incapazes de se aliarem a ele, muito menos como inimigas.

No entanto, frequentemente este tem sido exatamente o caso. Existem muitos comunistas que vêem fora do proletariado apenas “uma única massa reacionária”. Esta “massa reacionária única” foi um slogan criado por Lasalle e, como muitos outros, têm mais efeito sonoro do que significado. Marx criticou-o amargamente nesse exato ponto, mostrando que era completamente desprovido de conteúdo. Em sua Crítica do Programa de Gotha de 1875, escreveu:

No Manifesto Comunista (…) a burguesia é concebida como uma classe revolucionária – como quem trouxe a indústria em grande escala – em relação aos senhores feudais e as classes médias inferiores, que querem manter todas as posições sociais criadas por modelos de produção obsoletos. Estas não formam, portanto, uma massa reacionária única junto com a burguesia.
Por outro lado, o proletariado é revolucionário em relação à burguesia, porque brotou ele próprio do solo da indústria em grande escala ; está lutando para despojar a produção de seu caráter capitalista, que a burguesia procura perpetuar. O Manifesto acrescenta, porém, que a classe média baixa está se tornando revolucionária “em vista de (sua) iminente transferência para o proletariado.
Desse ponto de vista, então, é mais uma vez sem sentido dizer que em relação à classe trabalhadora ela “forma uma massa reacionária única”, “junto com a burguesia” e com os senhores feudais ainda. [3]

Assim como essas ideias de teoria e princípio, também entram em jogo considerações táticas em tempos de revolução. Em tempos não revolucionários, esses elementos não-proletários e não-burgueses são os menos conscientes de sua posição como classe. No lento curso do desenvolvimento, eles falham em ver e entender como seus objetivos e os da burguesia são diferentes e opostos. Esta é a razão pela qual, como os artesãos empobrecidos na Alemanha, eles são tão frequente e amargamente vistos como um apêndice da burguesia ou das classes feudais, e até mesmo identificados com eles. Mas as revoluções dissolvem todos os véus sociais desse tipo. Elas agem como um solvente para separar aqueles que não pertencem socialmente uns aos outros. Rompem com a tradição e forçam indivíduos e classes a ver a realidade por trás da aparência. O antagonismo de classe entre a burguesia e as classes expostas à proletarização (se não ainda efetivamente proletarizadas) torna-se evidente.

Qual é a composição desses estratos? Na Alemanha, eles são extraordinariamente múltiplos, mais do que na Rússia. Certamente, todos os estratos presentes na Alemanha também estavam na Rússia, mas lá seu centro de gravidade era o campesinato sem-terra. Tanto em número como em poder, este superava qualquer outro estrato pequeno-burguês e semiproletário, então pode-se dizer que, na Rússia, quem quer que tinha os camponeses tinha metade do proletariado.

Na Alemanha, nenhuma classe intermediária é tão preponderante. Aqui o proletariado rural é ele próprio dividido  social e geograficamente entre pequenos camponeses sem-terra do sul e os trabalhadores estatais do norte. Há, então, artesãos dos mais variados níveis, desde o alfaiate de pernas tortas da Alta Baviera que trabalha para os camponeses por sua comida e cinquenta pfennig por dia, ao artesão autônomo com ferramentas elétricas. Há também um terceiro estrato que é incomparavelmente mais importante na Alemanha, que é o dos trabalhadores de escritório e funcionários públicos, intelectuais empobrecidos, etc. Todos estes experimentam a revolução em suas próprias vidas. Consideremos, por exemplo, o desenvolvimento dos trabalhadores ferroviários alemães nos dois anos da revolução. Ou leiamos o folheto publicado recentemente pelo consultor do governo saxão, Schmidt-Leonhardt, Das zweite Proletariat. Nenhum deles é proletário, pelo menos em sua existência de classe, mas são todos antiburgueses e devem ser levados em consideração.

Qual é o significado dessas camadas? Enquanto pertencerem à burguesia, significam mãos que a burguesia usa para vencer o proletariado; se esse nó se desfaz, mas seguem distantes do proletariado, significam pelo menos um obstáculo extraordinário à tomada do poder pelo proletariado; se simpatizam com o proletariado, então facilitam essa tomada do poder ou até a tornam possível, pela primeira vez.

Desnecessário dizer, a respeito disso, que nenhum comunista pensa em esperar até que esses estratos se tornem comunistas. Lenin abordou a questão da seguinte forma em seu artigo

“As Eleições para a Assembleia Constituinte e a Ditadura do Proletariado”:

Somente o proletariado pode conduzir os trabalhadores para fora do capitalismo e rumo ao comunismo. É inútil pensar que as massas pequeno-burguesas ou semi-pequeno-burguesas possam decidir de antemão a questão extremamente complicada: “estar com a classe trabalhadora ou com a burguesia”. A hesitação dos segmentos não-proletárias do povo trabalhador é inevitável; e inevitável é também a sua experiência prática, que lhes permitirá comparar a liderança da burguesia com a do proletariado. [4]

Adiante, Lenin escreve: “Foi essa vacilação do campesinato, o corpo principal da pequena-burguesia do povo trabalhador, que decidiu o destino do governo soviético e do domínio de Kolchak e Denikin.” [5]

Dessa forma, essas camadas podem ser decisivas em determinadas situações. É tarefa dos comunistas ganhar influência sobre elas. Mas como eles deveriam fazer isso?

Na Rússia, onde esse estrato médio era menos complexo e consistia essencialmente de camponeses, a questão era igualmente mais direta. Quem desse terras aos camponeses teria seu apoio. Os bolcheviques eram os únicos determinados não apenas a dar terra aos camponeses – todos estavam “determinados” a fazê-lo – mas a criar a pré-condição para isso tirando a terra dos proprietários, e isso possibilitou aos bolcheviques reunir esse estrato médio sob sua bandeira.

Os comunistas alemães, no entanto, ainda não encontraram uma maneira de aproximar-se desses estratos médios.

Um programa agrário, mesmo um que satisfaça tanto camponeses quanto trabalhadores rurais, não é suficiente, pois os camponeses e trabalhadores rurais não são decisivos aqui como eram na Rússia. Tampouco é suficiente assegurar aos artesãos que sua morte como classe é determinada pelas leis da economia capitalista; pois mesmo que alguém vá morrer, você não pode conquistá-lo como amigo professando sua morte a cada dia. Também é insuficiente sustentar que intelectuais e funcionários públicos já são proletários, apenas não têm ciência disso; isso não é adequado para o caráter particular desse estrato social. Não há dúvida de que os comunistas devem procurar se aproximar desses estratos em questões que os interessam como um todo.

Na Rússia havia duas dessas questões, além da questão agrária. A que tinha mais importância era a questão da paz, que, atualmente, não se aplica para a Alemanha. A outra era a questão nacional que, obviamente, tinha na Rússia um conteúdo completamente diferente que na Alemanha.

O próprio termo “questão nacional” desperta imediatamente sentimentos de inquietação entre algumas pessoas na Alemanha. Lembrando-se do nacional-bolchevismo, um perigo do qual escaparam por pouco; eles não toleram mais ouvir a palavra “nacional” [6]. Mas a razão pela qual o nacional-bolchevismo era não-comunista não residia em sua preocupação com a questão nacional, mas porque procurava resolvê-la com um pacto de “todas as classes do povo”, pelo caminho da confraternização do proletariado com o burguesia, dos comunistas com Lettow-Vorbeck [7]. Isso é que era não-comunista. Mas também não é comunista recusar-se agora a examinar a questão nacional. No início da revolução, um littérateur berlinense tentou livrar-se da questão nacional fundando um “partido socialista antinacional”. Livrar-se da questão nacional dessa forma é simplesmente como dizer: “Não há mais burros neste mundo, porque eu sou um boi”.

A questão nacional existe e Karl Marx, como internacionalista, viu e levou em conta essa questão. A “abolição” da nação não é objeto de um decreto, muito menos de uma resolução partidária, é antes um processo:

Como o proletariado deve antes de mais nada adquirir a supremacia política, deve alçar-se como a classe dirigente da nação, é, até agora, nacional em si mesmo […]. As diferenças nacionais e os antagonismos entre os povos estão desaparecendo dia a dia […] A supremacia do proletariado fará com que desapareçam ainda mais rápido […]. Na proporção em que a exploração de um indivíduo por outro termina, a exploração de uma nação por outra também chegará ao fim. Na proporção em que o antagonismo entre as classes dentro de uma nação desaparece, a hostilidade de uma nação para com a outra chegará ao fim. [8]

Atualmente, portanto, a nação é, para o proletariado, uma entidade ainda existente;  camaradas que, porque somos internacionalistas em nosso objetivo final, já hoje se recusam a ver a questão nacional e a tratá-la como algo existente, incorrem no mesmo erro daqueles que, afirmando que em nosso objetivo final somos contra os parlamentos e a favor dos sovietes , se recusam a ver os parlamentos agora, ou, alegando que somos a favor da abolição do Estado, tratam o Estado como já não existente e, como os anarquistas, não querem nada com a política. Os camaradas em questão são igualmente antipolíticos, apenas transferem isso para o campo da política externa.

A questão nacional existe, repito, ela existe na Alemanha sob a forma de “exploração de uma nação por outra” e esta é a questão mais premente para todas as classes médias na Alemanha. Só assim ganharemos esses estratos. E, só por isso, deveria ser objetivo dos comunistas sair, nos momentos mais críticos da questão nacional, com slogans que significassem para esses estratos médios uma solução para seus sofrimentos nacionais. A palavra de ordem de aliança com a Rússia soviética poderia ter sido esse slogan [9], e deveria ter sido apresentada como uma palavra de ordem nacional, isto é, não como uma palavra de ordem sob a qual comunistas obscuros e junkers prussianos se aceitassem como irmãos, mas como uma palavra de ordem sob a qual qual os comunistas, e os proletários em geral, atuassem juntamente com essas camadas médias na luta contra os junkers e a burguesia, que sabotam essa única via de escape, pois procuram assegurar a continuidade de sua existência como classe exploradora traindo seu país, negociando com a burguesia ocidental a entrega de partes do território alemão à França (Renânia), ou fragmentando deliberadamente o país (Baviera); Com essa demanda, poderíamos avançar na luta proletária. Não passa de bobagem para uma pequena tropa de bajuladores marxistas gritar que a exigência de alianças com a União Soviética aos governos burgueses seria algo contrarrevolucionário ou – ainda pior – oportunista, não um “slogan revolucionário”. Alguém poderia lembrar a esses indivíduos cuidadosos que os bolcheviques conduziram toda a sua propaganda política antes da tomada do poder com “slogans oportunistas” como esse. Eles exigiam que o governo burguês alcançasse imediatamente a paz, embora todo bolchevique soubesse que uma paz alcançada por um governo burguês não seria paz, e que uma paz genuína só poderia ser alcançada do proletariado para o proletariado. Eles conduziram sua propaganda sob o slogan: “terra para os camponeses”, e até realizaram a distribuição de terras, embora todo bolchevique soubesse que o objetivo final do comunismo não era a divisão da terra em propriedade camponesa privada, mas mais ou menos o oposto disso. Isso foi o que eles fizeram e o que eles tinham que fazer. Seria este um objetivo do marxismo? Sem chance. A revolução não é um assunto do Partido Comunista e ,tampouco, um monopólio comunista. Para usar a frase de Marx em uma carta a Kugelmann, é uma “revolução do povo”, ou seja, um processo violento no qual todos os trabalhadores e as forças oprimidas convergem, se levantam e se confrontam – à sua maneira – contra os opressores, processo no qual a arte mais elevada dos comunistas é unir todas essas forças e conduzi-las a um único objetivo: derrubar os opressores. Pois, somente quando eles entenderem isso, os comunistas são o que deveriam ser: os melhores líderes da revolução e ao mesmo tempo seus melhores servidores. Foi com isso em mente que Marx disse em seu “Discurso à Liga Comunista” de março de 1850: “No começo, é claro, os trabalhadores não podem propor nenhuma medida diretamente comunista.” [10]

O comunismo chega não no começo da revolução, mas no fim, e os comunistas não são aqueles que confundem o fim com o  começo , mas os que querem continuar do começo ao fim. Se o Partido Comunista não sucumbir logo no começo, terá de colocar em seu campo de ação essas questões que dizem respeito às camadas médias, terá de tratar a questão nacional como algo existente e oferecer uma consigna que traga uma solução para essas camadas, ainda que uma solução temporária.

III.

O que é decisivo para os comunistas em tudo, claro, é sua relação com a classe genuinamente revolucionária, o proletariado. É na sua relação com o proletariado que os comunistas mostram sua própria viabilidade. Se as conexões dos comunistas com aqueles outros estratos semi proletários, médios, são de tipo tático, em que uma atitude correta ou errada pode acelerar ou retardar a revolução, a conexão dos comunistas com o proletariado é uma conexão de princípio. Quem não entende a relação dos comunistas com o proletariado, e não age de acordo com ela, deixa de ser um comunista. Não precisaríamos nos estender nesse assunto se os eventos recentes não tivessem estilhaçado tudo o que achávamos que estava assegurado.

“Qual a relação dos comunistas perante os proletários, como um todo?” Essa é a questão que Marx levanta no Manifesto Comunista e ele a responde, como se segue:

Estes parágrafos são a regra básica do comunismo. Todo o resto é só elaboração e explicação deles. E desta afirmação eu gostaria de examinar três questões:

– Os comunistas não formam um partido separado em oposição a outros partidos classe operária.

– Eles não têm interesses separados e afastados dos do proletariado como um todo.

– Eles não estabelecem quaisquer princípios sectários próprios, com os quais influenciar e moldar o movimento proletário.

Os comunistas se distinguem dos outros partidos da classe trabalhadora apenas por isto:

1. Nas lutas nacionais dos proletários de diferentes países, eles apontam e colocam em primeiro plano os interesses comuns de todo o proletariado, independentemente de qualquer nacionalidade.

2. Nos vários estágios de desenvolvimento pelos quais a luta da classe trabalhadora contra a burguesia deve passar, eles sempre e em toda parte representam os interesses do movimento como um todo.

Os comunistas são, então,  por um lado, na prática, o parte mais avançada e resoluta dos partidos operários de todos os países, aquele setor que empurra os outros adiante; por outro lado, teoricamente, eles têm, sobre a grande massa do proletariado, a vantagem de compreender claramente a linha em marcha, as condições e resultados finais do movimento proletário [11].

a) Qual é a relação numérica dos comunistas alemães com o proletariado alemão?
b) Quais são as pré-condições para a conquista do poder do Estado pelo proletariado?
c) Como se conquista o poder do Estado?

a) Qual é a relação numérica dos comunistas alemães com o proletariado alemão?

Meu objetivo ao inserir as seguintes cifras de várias campanhas eleitorais não é de modo algum argumentar que qualquer ação do proletariado ou que a tomada do poder só seja possível depois que uma relação numérica particular foi estabelecida por eleição ou voto. Menos ainda a divertida teoria expressa em Vorwärts no ano passado segundo a qual a tomada do poder pelo proletariado só seria possível se 51% dos eleitores votassem pelo proletariado (Vorwärts tendo repreendido alguns membros do SPD por sustentarem que, em certas circunstâncias, a tomada do poder pelo proletariado poderia ser possível mesmo se somente 49% da “população em geral” tivesse votado pela “ditadura do proletariado”, como diziam esses senhores). Menos ainda estou tentando usar esses números para indicar a possibilidade de que os objetivos dos comunistas possam ser realizados com eleições e votos. Concordo plenamente com o que Lênin escreveu em “As Eleições para a Assembleia Constituinte e a Ditadura do Proletariado”:

O sufrágio universal é um índice do nível alcançado pelas diferentes classes em sua compreensão de seus problemas. A solução real para esses problemas não é provida pelo voto, mas pela luta de classes em todas as suas formas, incluindo a guerra civil. [12]

É nesse sentido que indico certos números. É uma pena (e não só por essa razão) que estejam ausentes os primeiros números que seriam necessários para a comparação, ou seja, os números da primeira eleição geral após o início da revolução, as de 19 de janeiro de 1919, que os comunistas boicotaram. Devemos, portanto, começar com a eleição para o parlamento prussiano de fevereiro de 1921. Os partidos dos trabalhadores obtiveram nessa eleição os seguintes votos: (arredondado para o milhar mais próximo):

Esses números mostram que, naquela época, os comunistas conseguiram cerca de um quinto dos proletários que se reconheceram como membros de sua classe. Mesmo junto com o USPD, que não deveria ser contado como comunista, mas como social-democrata, eles atingiriam apenas um terço desses proletários.

O que é decisivo, no entanto, como discutirei mais detalhadamente abaixo, não é esse número total; eu, por isso, enfatizo alguns exemplos particularmente marcantes:

Como eu disse, debaterei adiante o significado desses números, e aqui vou apenas apontar o seguinte. Comparando a votação de Berlim em particular, embora também se aplique a todas as outras cifras, com a da eleição do Reichstag no verão passado, é evidente que, após a divisão no USPD, seus eleitores migraram igualmente tanto para os social-democratas, partido de Noske, como para os comunistas. Este fato é também aparente a partir dos números da eleição estadual de Mecklenburg em junho de 1920 e março de 1921. Os votos foram (em números redondos):

Nesse período, o USPD perdeu 22.000 votos, os comunistas ganharam cerca de 13.800 votos e a maioria socialista em torno de 9 mil. Se levarmos em conta, do lado comunista, o que ganharam de outros partidos além do USPD, e temos em mente que os sociais-democratas teriam perdido votos neste distrito fortemente rural sem os votos arrastados do USPD, podemos concluir, como foi dito, que os eleitores do USPD foram para a direita e para a esquerda mais ou menos igualmente, na medida em que não desapareceram completamente (como aconteceu particularmente em Berlim).

Temos também outra medida para a proporção numérica dos comunistas no proletariado: a relação nos sindicatos. Enquanto os resultados eleitorais não mostram uma nítida separação de elementos proletários e não-proletários, e uma parcela do proletariado não encontra representação nas cifras eleitorais, os sindicatos são puramente proletários, e todo sindicalista comunista também é indubitavelmente um membro do Partido Comunista. O número de membros do KPD frente ao número de membros do sindicato, portanto, nos dá assim um número máximo da atual influência numérica (não intelectual) dos comunistas no proletariado sindicalizado como um todo.

Agora, os sindicatos filiados à ADGB tinham as seguintes quantidades de membros:

Havia também 858.283 membros dos sindicatos cristãos no final de 1919. Naquele momento, portanto, cerca de 8,2 milhões de trabalhadores alemães estavam organizados em sindicatos. Este número provavelmente aumentou novamente em 1920, particularmente na ADGB. Mas se tomarmos esses números em relação ao número de comunistas no início de 1921 (500 mil), conclui-se que os comunistas eram cerca de 1 de cada 16 proletários organizados em sindicatos, e que 1 de cada 14 dos proletários organizados em sindicatos livres.

Essa é a proporção numérica e não há nada com o que se assustar. Pois, em situações revolucionárias, essas proporções mudam muito rapidamente, enquanto que acima da influência numérica existe, ou deveria existir, a influência intelectual.

Devo me referir mais tarde a essa influência intelectual e seu significado, também como ela é ganha ou perdida. Aqui eu só quero destacar uma coisa, como temos frequentemente colocado. Há um certo sentido em que, apesar da crescente organização comunista e a crescente influência comunista (pelo menos formalmente), a situação dos comunistas tornou-se mais difícil. No início da revolução alemã, os social-reformistas de todos os matizes estavam completamente na defensiva. Eles certamente tinham grandes massas atrás de si, mas suas fileiras estavam desordenadas; tínhamos livre acesso a elas e éramos capazes de influenciá-las.  Hoje, porém, o social-reformismo opôs uma resistência dura e consciente contra o comunismo; aqui e ali, na verdade, já passou da defensiva à ofensiva e expulsou os comunistas de suas posições. Isso significa que a influência intelectual dos comunistas sobre as massas proletárias que ainda estão indecisas ou inclinadas ao reformismo não pode mais ser dada como garantida. Deve-se lutar por ela.

E, por enquanto, está claro que os comunistas são uma minoria no proletariado.

b) Quais são as pré-condições para a conquista do poder do Estado pelo proletariado?

Já expliquei acima o que não é uma pré-condição. Não é uma pré-condição que a maioria do proletariado alemão tenha um cartão de membro do partido comunista em suas mãos. Também não é uma pré-condição que o proletariado tenha ido corajosamente para as urnas e proclamado sua preparação em cédulas impressas ou escritas.

Não é nem mesmo uma pré-condição necessária que aqueles estratos médios aos quais me referi acima sejam comunistas ou tenham total simpatia pelos comunistas. Certamente, sua simpatia significa, em todo caso, uma facilitação extraordinária da tarefa do proletariado, tanto durante como após a tomada do poder, e pode-se conceber circunstâncias nas quais a hostilidade ou rejeição desses estratos torne impossível a tomada de poder. No entanto, essas são questões que na maioria das vezes aparecem apenas no decorrer da luta, de forma que é difícil definir as regras com antecedência; aplicado mecanicamente, isso apenas enfraqueceria o espírito ofensivo.

Mas deixando isso de lado, existem sim certas pré-condições para a tomada do poder de Estado. Lênin diz no artigo mencionado acima:

Estudamos as três condições que determinaram a vitória do Bolchevismo: 1. uma esmagadora maioria entre o proletariado; 2. quase metade das forças armadas; 3. uma esmagadora superioridade de forças no momento decisivo e nos pontos decisivos, a saber: em Petrogrado e Moscou e nas frentes de guerra próximas ao centro [13].

Quanto a essas condições na Alemanha, já discutimos a primeira, a maioria decisiva entre o proletariado, com exemplos numéricos, e traremos outras evidências no momento certo. A segunda condição, ou seja, quase metade dos votos nas forças armadas, não precisa de nenhum exemplo numérico, sendo pequeno demais para ser relevante. Não temos influência no exército e sempre que conseguimos alguma que seja, sempre a perdemos de novo. Podemos, no entanto, dizer que o exército alemão não tem hoje a importância decisiva que o exército tinha na Rússia. Lênin continua e diz: “em outubro-novembro de 1917, as forças armadas eram metade bolcheviques. Se não fosse esse o caso, não poderíamos ter sido vitoriosos” [14]. O exército não tem essa importância na Alemanha.

A terceira pré-condição é a “superioridade esmagadora no momento decisivo e no ponto decisivo”. Essa posição é completamente correta. Uma maioria não é necessária para vencer uma batalha. Basta ser maioria naquele ponto do campo de batalha onde a decisão é tomada. Também não é preciso ser maioria para ganhar uma guerra, basta ter superioridade avassaladora nos pontos onde as batalhas são lutadas.

Quais, então, são os pontos decisivos? Para a Rússia, Lenin os descrevia assim: as capitais e as frentes militares em seu entorno. Este último fator também é diferente para nós, pelas razões mencionadas acima. Restam as capitais e particularmente a capital com seus prédios governamentais e seu aparato central, que deve ser ocupada se for para tomar o poder estatal.

Infelizmente, apesar do (ou deveríamos dizer “graças ao”) nariz fortemente desenvolvido de alguns camaradas em Berlim para qualquer tipo de “oportunismo” e seu talento não menos desenvolvido para se manifestar contra ele, a organização em Berlim é mais ou menos a pior que temos em todo o Reich. Isto é evidente não só pelas cifras eleitorais, mas também de outras formas. Resumidamente, esses camaradas de Berlim, que são responsáveis ​​por essa pré-condição para o objetivo pelo qual eles lutam mais ansiosamente que todos os demais, não fizeram nada para obtê-la.

Há também outros pontos na Alemanha, porém, que podem ser decisivos em certas circunstâncias.

O serviço ferroviário. A situação aqui não é muito diferente da do exército. A forte influência que tínhamos antes foi arruinada uma e outra vez por certa estupidez. Nos círculos semi-burgueses e semi-intelectuais dos funcionários públicos, somos fortemente rejeitados pelo que omitimos em nossos acordos com esses estratos. Mesmo assim, porém, temos alguma influência sobre os trabalhadores, nem que seja em algumas cidades ou distritos específicos.

Em seguida, os distritos industriais. Não existe um único distrito industrial na Alemanha que pode atingir o estado burguês com um golpe e forçá-lo a capitular, como Berlim, se os prédios do governo, bancos, etc. forem ocupados. Existem, no entanto, dois distritos industriais de vital importância para o estado e que podem obrigá-lo a capitular depois de um tempo: Renânia-Vestfália e Alemanha central. Enquanto a Renânia-Vestfália, já vimos como 372 mil eleitores comunistas são superados em número por 214 mil independentes e 704 mil social-democratas. Não há lugar, então, para falar em esmagadora maioria.

A outra área é a Alemanha central. No distrito de Halle, tivemos 204 mil eleitores comunistas contra 76 mil independentes e 71 mil social-democratas. Tivemos um poderoso apoio e uma organização forte e heróica preparada para sacrifícios. Tivemos…

De qualquer forma, porém, é claro que, além da Alemanha central, que não é decisiva em termos de um golpe rápido, não há nenhum lugar que tenhamos uma “maioria esmagadora”.

Quem quer lançar uma ação agora, nessa situação, pela conquista do poder do Estado é um tolo. E qualquer um que diga ao Partido Comunista que tudo o que necessita é ser aplicado, é um mentiroso.

c) Como se conquista o poder do Estado?

A conquista do poder político pelo proletariado é, regra geral (ocorreram exceções , como na Hungria), o resultado de uma insurreição bem-sucedida, seja pelo proletariado sozinho, ou apoiado por outros estratos arrastados para a revolução. Quais são então as pré-condições para tal insurreição? Lênin diz o seguinte: “Os bolcheviques podem manter o poder?” [15]

Se o partido revolucionário não tiver maioria nos contingentes avançados das classes revolucionárias e no país, a insurreição está fora de discussão. Por sua vez, a insurreição requer: 1. o crescimento da revolução em escala nacional; 2. a completa falência moral e política do antigo governo, por exemplo, a coalizão governamental; 3. a extrema vacilação no campo dos grupos intermediários; ou seja, aqueles que não apoiam totalmente o governo, embora tenham apoiado no passado

Aqui, novamente, quero revisar essas pré-condições para a Alemanha e seguir em criticar os processos ocorridos aqui nos últimos dias.

1. A pré-condição básica que deve estar presente junto com as outras, ou seja, a maioria para o partido revolucionário “nos contingentes avançados das classes revolucionário e no país”, como vimos, não existia e não existe na Alemanha. Inclusive deixando de lado a população rural, que não desempenha aqui o papel decisivo que desempenha na Rússia, o Partido Comunista (“o partido revolucionário”) ainda não tem maioria entre o proletariado (os “contingentes avançados das classes revolucionárias”).

2. A revolução não estava “crescendo em escala nacional”. Certamente a seção avançada da classe trabalhadora estava mais amargurada do que nunca, o número de desemprego crescendo diariamente, pobreza e miséria das massas maiores que nunca. Mas o momento em que o visível descontentamento se traduziu em aumento da atividade de massa ainda não havia chegado; no momento, como frequentemente ocorre, expressava-se em crescente resignação.

3. Ninguém pode falar de uma completa falência moral e política do antigo governo (por exemplo, a “coalizão”). Na Prússia, onde os social-democratas estão em coligação com os partidos burgueses, recebeu quase o dobro de votos que os outros partidos proletários juntos, e mais do que em junho do ano anterior.

4. Tão insustentável quanto isto seria a afirmação de uma “extrema vacilação no campo de todos os grupos médios”; o Partido Comunista não fez nada para que isso acontecesse, mesmo quando surgiram ocasiões adequadas para isso, como com o diktat de Londres [16].

Acreditamos que ninguém no Partido Comunista Alemão poderia ter qualquer dúvida sobre essas condições

Quais eram então as pré-condições? Como os eventos ocorreram?

Declaro desde já que a situação em que se encontra o Partido é mais difícil que nunca. Se o KPD pode continuar a existir, se o comunismo alemão pode continuar existindo como partido, será decidido em questão de semanas, talvez dias. É uma obrigação nesta situação, dirija-se ao partido com total abertura e sinceridade; aqueles responsáveis por realizar esta ação tem que enfrentar sua responsabilidade, como qualquer camarada de partido. Só assim podemos evitar novas vítimas da justiça branca e que a desgraça do que já aconteceu afete mais círculos mais ampla do que o Partido Comunista Alemão. Neste contexto, porém, a verdade (toda a verdade) é necessária.

Como os eventos ocorreram? Não foi o Partido Comunista Alemão que deu o impulso inicial. Nem mesmo sabemos quem é o responsável por isso. Tornou-se mais frequente que emissários do CEIC [Comitê Executivo da Internacional Comunista] ultrapassaram sua autoridade plenipotenciária, ou seja, tornou-se mais frequente a consequente constatação de que os referidos emissários não tinham de fato qualquer autoridade. Não estamos, portanto, em condições de atribuir responsabilidade à CEIC, ainda que seja impossível esconder que certos círculos da CEIC manifestavam receios quanto à “inatividade” do partido alemão. Além de graves erros no movimento contra o putsch de Kapp, o Partido não poderia ser acusado de fracassos. Então houve uma influência forte da Zentrale para embarcar em uma ação agora, imediatamente e a qualquer preço.

Foi então necessário justificar a ação imediata. Na sessão de 17 de março do Comitê Central, um orador responsável [18] se expressou da seguinte forma:

O mesmo deve ser dito da situação geral que o que Levi explicou ao última sessão, exceto que desde o referido relatório [quatro semanas antes!, N.d.A] os antagonismos entre os estados imperialistas acentuaram-se, e os antagonismos entre a América e a Grã-Bretanha atingiram um limite. Se a revolução não liderar o novo rumo dos acontecimentos, em breve [!!, N.A.] enfrentaremos uma guerra britânico-americano (…)
(…) as dificuldades políticas internas possibilitam que ao 20 de março as sanções agudizem-se [!, N.d.A] enquanto na mesma data o referendo da Silésia ocorrerá, o que com alta probabilidade incitará o conflito militar entre os imperialistas da Alemanha e da Polônia. Tanto quanto temos informações, as anteriores forças de ocupação francesas foram substituídas por tropas britânicas; enquanto as tropas francesas demonstraram uma atitude amigável para com a Polónia, segundo as nossas informações [!] as novas tropas inglesas têm uma posição bastante forte a favor da Alemanha. A probabilidade de que questões cheguem a um conflito armado é de 90%. A contrarrevolução polonesa está armando-se, enquanto o governo alemão trabalha intencionalmente a favor de um conflito militar, como prova documental indica, desde o início de outubro. O orador apresentou estes documentos na reunião, ressaltando  que não deveriam ser publicados (…)
Nossa influência alcançará além de nossa organização de quatrocentos ou quinhentos mil membros. Eu sustento que hoje temos três milhões de trabalhadores não comunistas no Reich, a quem podemos influenciar através de nossa organização comunista, e que lutará sob nossos slogans mesmo em nossas ações ofensivas. Se minha observação aqui estiver correta: que nosso estado de coisas nos obriga a não permanecer em uma atitude passiva em relação às tensões internas e externas, não  simplesmente usar nossas relações internas e externas para agitações; então a situação atual na verdade, nos obriga a lançar ações para mudar as coisas em nossa direção.

Declaro que, em qualquer partido com respeito próprio, um membro responsável da direção que sustentasse que, entre meados de fevereiro e meados de março deste ano, os antagonismos entre os estados imperialistas se tornaram mais agudos e que o antagonismos entre a Grã-Bretanha e a América se intensificaram, a ponto de “em breve enfrentaremos uma guerra anglo-americana”, seria enviado a hidroterapia. Um membro da direção que, em uma decisão como tal, se baseie em “informações secretas”, “documentos que não devem ser publicados”, “90% dos probabilidade” de uma guerra; em suma, um membro que fez um relatório ao lado do qual o de um espião de Weismann [19] pareceria um documento de valor histórico, seria imediatamente removido de seu posto. Se isso não bastasse, este camarada da liderança acrescentou o conto de fadas segundo o qual dois a três milhões de não-comunistas iriam lutar conosco em “ações ofensivas” (e esta seria a base política para a consequente Ação).

Para esclarecer o que seria uma “ação ofensiva”, outro membro responsável [20] explicou:

O que o Zentrale propõe é uma ruptura total com o passado. Até agora tínhamos a tática, ou melhor, a tática que nos foi imposta, de que deveríamos deixar as coisas acontecerem como esperamos e assim que houvesse uma situação de luta, deveríamos tomar a decisão em tal situação. O que estamos dizendo agora é: somos fortes o suficiente e a situação é tão grave que devemos proceder para forçar o destino do Partido e da revolução.

Agora, para o bem do partido, temos que tomar a ofensiva, dizer que não estamos preparados para que as coisas aconteçam como esperamos, até que os fatos nos confortem; queremos tanto quanto possível criar esses fatos (…). Podemos intensificar as contradições a um grau extraordinário se conduzirmos as massas para a greve na Renânia, que certamente agudizará até certo ponto extraordinárias as divergências entre a Entente e o governo alemão (…).

Na Baviera, a situação é semelhante a como foi por muito tempo na Alemanha, que tínhamos que esperar até que o ataque viesse do outro lado. Qual é a nossa tarefa nesta situação? Temos que assegurar com nossas ações que esse levante chegue, se acontecer, por provocação das forças defesas locais (…).

Ao que um terceiro camarada responsável  acrescentou: “Em conclusão, temos que romper com a atitude anterior do Partido, de evitar ações parciais e recusar-se a apresentar slogans que podem parecer como se estivéssemos chamando para uma luta final (…)”.

Esta é a construção teórica sobre a qual a existência ou inexistência do Partido Comunista da Alemanha foi colocada em jogo.

Uma coisa, primeiramente. Há comunistas para quem as palavras “agidização”, “ponto alto”, “conflito”, etc lhe geram certas imagens revolucionárias forçadas. O que mais se pode querer dizer, se este orador esperava que uma greve massiva na Renânia levaria a um agravamento do conflito da Alemanha com a Entente? Entretanto, tivemos um teste piloto. Em Dusseldorf, os trabalhadores entraram em greve e esta greve agudizou as relações franco-alemãs a ponto de as forças de ocupação francesas em Düsseldorf devolverem as armas às forças de segurança alemãs para elas derrotarem a greve.

Uma segunda “agudização” foi relatada na imprensa em 4 de abril. Isso apareceu em Relatório de Moers:

Foi claramente uma ordem de autoridades superiores que o Exército belga interviesse no domingo para proteger os habitantes não comunistas e, quando os comunistas começassem a defenderem-se, usar suas armas. As tropas belgas conseguiram restaurar a calma. Nos confrontos com os comunistas, três provocadores foram mortos e 27 feridos. Os belgas tomaram muitos prisioneiros. Quando os comunistas tentaram libertar seus camaradas, abrindo fogo contra os belgas novamente e atirando pedras, os belgas retomaram o fogo. Reforços de tropas estão a caminho de Moers. As minas foram ocupadas por soldados belgas.

Este é o suposto “aprofundamento das relações entre a Alemanha e a Entente” e, se o orador do Zentrale em algum momento de seu discurso refletiu sobre o assunto, ele deve ter esperado imediatamente que o governo alemão se levantasse contra a Entente por causa do fuzilamento de comunistas alemães.

Esses aspirantes a forçadores do destino do Partido Comunista Alemão e da revolução alemã pelo menos reconhecem que deve haver uma situação de conflito, ou seja, uma situação em que as massas entendam que precisam lutar e estejam prontas para isso. A “nova tática”, a “ruptura com o passado”, entretanto, é que essas situações devem ser criadas. Isso não é novidade em si. Nós também sempre defendemos a opinião de que um partido político pode, e um partido comunista deve, criar situações de conflito. Mas ele deve fazer isso por meio da clareza e da determinação de suas posições, da agudeza e da ousadia de sua agitação e propaganda, da influência intelectual e organizacional que conquista sobre as massas; em outras palavras, por meios políticos. A única coisa nova que essa ruptura com o passado do KPD significa é a visão de que essa situação de conflito também pode ser criada por meios não políticos, por manobras policiais e de espionagem, por provocação. O que se quer dizer com provocação foi revelado por outro camarada responsável em outra sessão, enquanto a ação estava ocorrendo. Ele disse: “Nossa opinião é que, com uma intensa atividade de propaganda, a maneira pacífica com que a polícia de segurança se comportava anteriormente cederá, de modo que os trabalhadores que não estão em luta hoje serão incitados.”

E o mesmo orador continuou a dizer – isto foi em 30 de março, quando a ação já estava perdida há muito tempo: “Devemos tentar conseguir uma retirada em boa ordem, criar conflitos, incitar a polícia de segurança, incitar todos os elementos contra-revolucionário. Se conseguirmos criar [!, N.d.A] o movimento dessa forma, os confrontos vão acontecer…”

Isso certamente é uma novidade no partido fundado por Rosa Luxemburgo; é uma ruptura completa com o passado que os comunistas devam agir como vigaristas baratos [21] e provocar a morte de seus irmãos. Prefiro não citar a evidência de que esta última observação não é exagero. Essa, repito, foi a nova base teórica sobre a qual o jogo começou.

A ação foi lançada. Por um tempo, o Zentrale não precisou colocar em prática sua base teórica recém-adquirida. Hörsing chegou primeiro [22]. Ele ocupou o distrito de Mansfeld com um êxito já em seu nome: o momento certo. Com a astúcia de um velho burocrata sindical, ele escolheu a semana antes da Páscoa, sabendo muito bem o que significaria o fechamento de quatro dias das fábricas da Sexta-Feira Santa até a Segunda-feira de Páscoa. Por isso, a Zentrale foi, desde o início, prisioneira dos seus próprios “slogans”. Foi incapaz de explorar essa provocação de Hörsing de qualquer maneira que correspondesse à situação. Os trabalhadores de Mansfeld entraram em greve. Um membro do Zentrale declarou em uma sessão algum tempo depois:

“Nossos camaradas em Mansfeld adotaram o slogan do Zentrale com bastante vigor, e não no sentido apropriado. O que aconteceu em Mansfeld foi uma incursão, mas não a ocupação de fábricas”.

Esta representação não é mais do que uma calúnia dos camaradas de luta. Se um slogan foi lançado contra a ocupação da fábrica, então qualquer pessoa razoável, mesmo um membro do KPD Zentrale, pode presumir que não deveria ser aplicado contra os preparativos visíveis para uma ocupação da fábrica, a incursão? E os camaradas em Mansfeld interpretaram o slogan do Zentrale dessa maneira quando pegaram em armas. Isso também parece ser contestado na passagem citada acima. Não era a primeira vez que o Zentrale não sabia o que estava acontecendo, e só mais tarde percebeu que slogan havia dado.

Em 18 de março, o Rote Fahne proclamou o chamado às armas: “A nenhum trabalhador deve importar a lei, mas tomar uma arma onde a encontrar!”

Rote Fahne lançou o movimento com esse texto inusitado para uma ação de massa, e manteve o mesmo tom. Em 19 de março, escreveu: “O bando Orgesch [Las Orgesch (Organización Escherich) era una asociación nacional de guardias [O Orgesch, ou seja, a Organização Escherich, era uma associação nacional de guardas domésticos [Einwohnerwehren], em homenagem a seu fundador Dr. George Escherich, um conselheiro estadual da Baviera, e serviam como paramilitares no esmagamento do movimento operário] proclama a espada. Suas palavras falam de força nua. Os trabalhadores alemães seriam covardes se não encontrassem coragem e força para responder ao bando de Orgesch em seus próprios termos claros”.

No dia 20, Rote Fahne escreveu: “O exemplo do distrito de Halle, que está respondendo ao desafio de Hörsing com uma greve, deve ser seguido. A classe trabalhadora deve imediatamente pegar em armas, para enfrentar o inimigo armado. Armas nas mãos dos trabalhadores”.

Em 21 de março, Rote Fahne escreveu: “Apenas o proletariado pode derrotar os infames planos dos bandos de Orgesch. Ela só pode fazê-lo através de uma ação conjunta se ela se livrar dos traidores social-democratas tagarelas e derrotar a contra-revolução da mesma forma que ela própria seria derrotada com as armas na mão!”

Ao mesmo tempo, a “nova teoria” avançava em nossa organização, com seu apelo à atividade e a declaração de atacar o mais rápido possível, mesmo que apenas como provocação. Nesta situação, os trabalhadores de Mansfeld adotaram o slogan no sentido que qualquer pessoa razoável o faria. É uma calúnia covarde dos heróis mortos, que caíram de boa fé, dizer agora que esses trabalhadores de Mansfeld cometeram uma “quebra de disciplina”. Ninguém podia acreditar que, se Rote Fahne fizesse um chamado às armas, isso significava que, por enquanto, essas armas deveriam ser mantidas atrás do fogão. Nenhum trabalhador poderia entender a conversa sobre armas em outro sentido do que o chefe de publicidade do jornal na edição de 24 de março de 1921 (suplemento nº 139):

As armas dos comunistas
consistem no momento presente, não menos na imprensa do partido, que expõe impiedosamente o
câncer do capitalismo. É dever de todo comunista participar dessa
distribuição de armas
e ganhar novos lutadores para nossa causa. Esforce-se incansavelmente no local de trabalho e com os amigos para
a imprensa do Partido, para que
o exército vermelho
de lutadores proletários receberão novos recrutas a cada dia!

A insurreição na região de Mansfeld então estourou em uma semana desfavorável, em uma situação política absolutamente impossível, na defensiva desde o primeiro dia, sem nenhuma preparação organizacional, graças ao joguete de insurreição perseguido no Zentrale.

Evidentemente, nenhum membro do Zentrale, nem mesmo o “melhor marxista da Europa Ocidental” [24] leu ou levou a sério as palavras de Marx sobre o assunto:

Agora, a insurreição é uma arte tanto quanto a guerra ou qualquer outra, e sujeita a certas regras de procedimento que, quando negligenciadas, produzirão a ruína da parte que as negligenciar. Essas regras, deduções lógicas da natureza das partes e das circunstâncias com as quais se deve lidar em tal caso, são tão claras e simples que a curta experiência de 1848 tornou os alemães bastante familiarizados com elas. Em primeiro lugar, nunca jogue com a insurreição a menos que esteja totalmente preparado para enfrentar as consequências de seu jogo. A insurreição é um cálculo com magnitudes infinitas, cujo valor pode mudar todos os dias; as forças opostas a você têm toda a vantagem de organização, disciplina e autoridade habitual; a menos que você traga fortes probabilidades contra eles, você será derrotado e arruinado. Em segundo lugar, uma vez iniciada a carreira insurrecional, aja com a maior determinação e na ofensiva. A defensiva é a morte de todo levante armado; está perdido antes de se medir com seus inimigos. [25]

Mas os eventos agora seguiram seu curso. A faísca saltou de Mansfeld para Hamburgo. Houve imediatamente um grande número de mortos, e não julgaremos aqui se a “nova teoria” caiu em solo fértil. Em todo caso, os camaradas de Hamburgo foram ingênuos o suficiente para acreditar que uma direção partidária que ergueu a tocha da insurreição sabia o que estava fazendo e que a direção falava sério. Eles foram a ela “com unhas e dentes”. Uma mensagem expressa foi enviada para dizer-lhes que eles deveriam pisar no freio. Quando isso foi feito, descobriu-se que eles frearam demais. Outro mensageiro veio dizer que eles deveriam pisar fundo no freio. Mas, quando o segundo mensageiro chegou, o movimento de Hamburgo já estava quebrado. E, com isso, toda a “ação” chegou essencialmente ao fim de sua força. A “ação”, que se originou de um indivíduo que não tinha a menor idéia das condições alemãs, e foi politicamente preparada e executada por simplórios apolíticos, deixou os comunistas na mão.

Agora é a coisa mais natural do mundo – para antecipar um pouco – que os comandantes desse golpe procurem escamotear de si mesmos a culpa pela derrota. Já começou a caça aos “sabotadores”, “pessimistas” e “derrotistas” dentro do Partido. Os cavalheiros que empreenderam essa tentativa são exatamente como Ludendorff nesse aspecto, e outras características semelhantes também podem ser encontradas; eles são como Ludendorff não apenas em encontrar uma desculpa esfarrapada para culpar outras pessoas, mas também no erro subjacente que cometeram. Ludendorff era da escola que acreditava que a guerra se faz “com os princípios do estado-maior no comando e obediência servil nas fileiras”. Isso pode ter funcionado em algum momento no passado. Na era do Old Fritz e dos Guardas de Potsdam, bastava que os soldados marchassem às cegas em praças, e a vontade do rei decidia tudo.

O mesmo se aplica aos partidos políticos. Funciona perfeitamente bem para um clube anarquista se a vontade do líder comandar e os fiéis seguirem até a morte. Para um partido de massa, que não busca apenas colocar as massas em movimento, mas que é ele próprio uma massa, isso é insuficiente. O que se deve esperar dos comunistas é que eles detectem rapidamente as situações de luta, explorem-nas com energia e tenham sempre em mente não apenas o objetivo da luta atual, mas também o objetivo final. Nenhum comunista, no entanto, pelo fato de pertencer ao Partido Comunista e possuir um cartão de membro, é, portanto, obrigado, ou mesmo em posição, de procurar uma situação de luta onde ela não existe, e onde é apenas a vontade da Zentrale que, em um convênio secreto e invisível, e por razões diferentes daquelas que os proletários veem diante de seus olhos, decide que existe uma situação de luta. A Zentrale não é nem de longe tão engenhosa quanto o príncipe indiano que, para mostrar seu poder sobre todas as coisas, apontou para o nascer do sol de sua tenda e disse: “Sol, siga o curso que eu lhe mostrar”, sinalizando do leste para o oeste. A Zentrale, sentindo o mesmo poder onipotente, sinalizou de oeste para leste. E, dessa forma, ofendeu a lei básica pela qual somente um partido de massa pode ser movido. Somente sua própria vontade, seu próprio entendimento, sua própria determinação podem mover as massas; e, dadas essas condições prévias, uma boa liderança é capaz de liderar com precisão. A Zentrale, no entanto, recusou-se a reconhecer as condições em que somente um partido de massas, que é uma massa entre as massas, e em todos os lugares conectado com o proletariado, pessoalmente, no trabalho e nos sindicatos, e, portanto, sujeito à influência fortalecedora e facilitadora da simpatia, ou à influência culpabilizadora da hostilidade ou inimizade, pode lutar. E, aqui, voltamos à questão: qual deve ser a relação dos comunistas com as massas em uma ação? Uma ação que corresponda simplesmente às necessidades políticas do Partido Comunista, e não às necessidades subjetivas das massas proletárias, está arruinada de antemão. Os comunistas não têm a capacidade de agir no lugar do proletariado, sem o proletariado e, em última instância, até mesmo contra o proletariado, especialmente quando ainda são uma minoria no proletariado. Tudo o que podem fazer é criar situações, usando os meios políticos descritos acima, em que o proletariado veja a necessidade de lutar, lute e, nessas lutas, os comunistas possam então liderar o proletariado com seus slogans.

Mas como a Zentrale via a relação dos comunistas com as massas? Como já mencionado acima, ela pensava, em primeiro lugar, que poderia criar a situação por meios não políticos. Depois, teve seus mortos, em Hamburgo e no distrito de Mansfeld. Mas a situação era, desde o início, tão carente de qualquer pré-condição para a ação que nem mesmo esses mortos conseguiram colocar as massas em movimento. Assim, outro meio foi preparado. A edição 133 da Rote Fahne, de domingo, 20 de março, continha um artigo com o título: “Quem não é por mim é contra mim! Uma palavra para os trabalhadores social-democratas e independentes”. Esse artigo, entretanto, explicava apenas o “para mim”, e somente no final dizia aos trabalhadores em que condições eles deveriam colaborar. Ele diz o seguinte:

Trabalhadores independentes e social-democratas! Estendemos a mão fraternal a vocês. Mas também lhes dizemos que, se quiserem lutar conosco, devem ser igualmente duros não apenas com os capitalistas, mas também com aqueles que, em suas fileiras, defendem a causa capitalista, que entram em campo com os bandos da Orgesch contra os trabalhadores e contra os covardes de barriga amarela que os adormecem e os desencorajam, justamente quando a Orgesch está enfiando suas espadas em seus peitos.

Considere o seguinte. A situação não deu aos trabalhadores independentes e social-democratas nenhum motivo para agir. O gênio que proclamou a ação era desconhecido para eles, e uma decisão do Partido Comunista não era motivo para que eles entrassem em ação sem que nenhum motivo fosse dado. Tenho certeza, de fato, que se eles soubessem o motivo, sua vontade de agir não teria sido mais forte. Esses trabalhadores, diante de uma ação que não conseguiram entender completamente, receberam como condição para sua colaboração que deveriam pendurar seus antigos líderes no poste o mais rápido possível. E, caso não estivessem dispostos a aceitar essa condição, foi-lhes dada a alternativa: “Quem não está comigo está contra mim!” Uma declaração de guerra contra quatro quintos dos trabalhadores alemães, logo no início da ação!

Não sei se o autor deste artigo tem experiência suficiente para saber que ele teve um precursor nessa linha de pensamento – embora esse precursor tenha sido pelo menos modesto o suficiente para dizer: “Quem não é por nós é contra nós”. Ele não era marxista nem socialista; seu nome era Bakunin, o anarquista russo que, em 1870, lançou um apelo aos oficiais russos com exatamente essa alternativa. O autor de Rote Fahne pode encontrar o veredicto de Marx sobre ele, e outros assuntos relacionados, em “The Alliance of Socialist Democracy and the International Working Men’s Association” [26]. Deve-se notar, nesse contexto, que toda a atitude em relação às classes revolucionárias de “quem não é a favor é contra” é precisamente a do anarquismo; a proposição “Quem não está conosco é contra nós” era precisamente o lema favorito de Bakunin e de seu discípulo Nechayev, e é precisamente essa atitude geral que dá origem aos métodos que o anarquismo aplica: não para derrotar a contrarrevolução, mas, nas palavras de um membro da KPD Zentrale, “para forçar a revolução”. O comunismo nunca é, em momento algum, contra a classe trabalhadora. Essa atitude básica bakuninista, uma zombaria de tudo o que é marxista, esse completo mal-entendido e essa completa difamação de qualquer atitude marxista dos comunistas em relação às massas, deu origem a todas as características anarquistas resultantes desse levante de março, conscientes ou inconscientes, desejadas ou não, deliberadas ou não: a luta dos desempregados contra os que trabalham, a luta dos comunistas contra os proletários, o surgimento do lumpenproletariado, os ataques com dinamite – todas essas foram consequências lógicas. Tudo isso caracteriza o movimento de março como o maior golpe bakuninista da história até hoje.

Em outras palavras, uma declaração de guerra contra a classe trabalhadora. A Zentrale parece nem mesmo ter percebido isso. Pois um membro da Zentrale já mencionado também culpou os trabalhadores de Mansfeld por esse “falso começo” do movimento. E não há palavras para descrever o que aconteceu depois. Chamá-lo de blanquismo seria um insulto a Blanqui. Pois se Blanqui sustentava, em permanente oposição a Marx e Engels, que “as revoluções não se fazem sozinhas, elas são feitas, e por uma minoria relativamente pequena”, para ele essa era pelo menos uma minoria que levava a maioria pela força de seu exemplo. No entanto, um escritor de Rote Fahne, sob a autoridade do Partido Comunista Zentrale, declarou guerra aos trabalhadores no início da ação, como uma forma de incitá-los à ação. E a guerra começou. Os desempregados foram enviados com antecedência como colunas de assalto. Eles ocuparam os portões das fábricas. Forçaram a entrada nas fábricas, iniciaram incêndios em alguns lugares e tentaram expulsar os trabalhadores das instalações. Começou uma guerra aberta entre os comunistas e os trabalhadores. Do distrito de Moers veio o seguinte relato:

Na manhã de quinta-feira, a fábrica da Krupp Friedrich-Alfred, em Rheinhausen, foi palco de violentos confrontos entre os comunistas, que haviam ocupado a fábrica, e os trabalhadores que tentavam chegar ao trabalho. Finalmente, os trabalhadores atacaram os comunistas com cacetetes e abriram caminho à força. Oito homens foram feridos nesse momento. Soldados belgas intervieram na luta, separando os dois lados e prendendo vinte comunistas. Os comunistas expulsos da fábrica voltaram em maior número e mais uma vez ocuparam as instalações.

Relatos ainda mais chocantes vieram de Berlim. Conforme me foi relatado, deve ter sido uma visão terrível ver os desempregados, chorando de dor por causa dos golpes que receberam, sendo expulsos das fábricas e amaldiçoando aqueles que os haviam mandado para lá. Agora, quando já era tarde demais, quando a guerra dos comunistas contra os trabalhadores já havia começado e os comunistas já haviam perdido, o Rote Fahne repentinamente deu um bom conselho. Em 26 de março, um editor aparentemente diferente daquele que escreveu o artigo “Quem não é por mim é contra mim” escreveu que não deveria haver guerra de trabalhadores contra trabalhadores! Esse Pôncio Pilatos lavou as mãos em sua inocência.

Mas chega disso. Como se já não houvesse desempregados suficientes, novos foram criados. Os comunistas nas fábricas estavam na difícil posição de decidir se deveriam deixar as fábricas nas quais eram minoria e onde, portanto, sua greve não havia levado a uma paralisação do trabalho – muitas vezes nem mesmo a qualquer obstrução. A instrução da Zentrale era, nesses casos, permanecer nas fábricas. O secretário de Berlim queria a mesma coisa, mas havia um texto da organização de Berlim que dizia: “Em nenhuma circunstância um comunista deve ir trabalhar, mesmo que esteja em uma minoria.” Assim, os comunistas deixaram as fábricas, em tropas de duzentos ou trezentos, mais ou menos. O trabalho continuou e agora eles estão desempregados, os empregadores aproveitaram a oportunidade para tornar suas fábricas “livres de comunistas” e, de fato, com um bom número de trabalhadores do seu lado. Em suma, a “ação” que começou com os comunistas declarando guerra ao proletariado, e os desempregados contra os trabalhadores, foi perdida desde o primeiro momento; em uma ação que começa dessa forma, os comunistas nunca podem obter nenhum ganho, nem mesmo moral.

A Zentrale teve que decidir o que fazer em seguida. Ela decidiu “intensificar a ação”. Uma ação que havia começado de forma equivocada, na qual ninguém sabia pelo que realmente estava lutando, na qual a Zentrale, evidentemente porque não conseguia pensar em outra coisa e o truque parecia assustadoramente inteligente, recorreu às exigências sindicais da época do golpe de Kapp (!) – a ação, a tolice, deveria ser intensificada. Ela poderia ser intensificada. Os mortos em Mansfeld e Hamburgo se juntaram aos mortos em Halle. Mas nem mesmo isso criou a atmosfera certa. Os mortos em Halle foram acompanhados pelos mortos em Essen. Depois dos mortos em Essen, os mortos em Mannheim. Mas a atmosfera ainda não estava boa. Isso deixou a Zentrale cada vez mais nervosa. Essa era a situação em 30 de março, quando um membro da Zentrale deu um suspiro de alívio pelo fato de que talvez em Berlim a polícia de segurança “perderia a calma” e daria à classe trabalhadora um pouco de “incitação”.

Foi no interesse de “incitar” a classe trabalhadora que, em 30 de março de 1921, o Rote Fahne os tratou da seguinte forma:

Dizemos com toda a franqueza aos trabalhadores do Independent e do SPD: a culpa pelo sangue derramado não está apenas na cabeça de seus líderes, mas na cabeça de cada um de vocês, se vocês, silenciosamente ou apenas com protestos fracos, toleram que Ebert, Severing e Hörsing desencadeiem o terror branco e a justiça branca contra os trabalhadores, derrotando todo o proletariado…
Freiheit [27] exige a intervenção dos sindicatos e dos partidos social-democratas. Cuspimos em uma intervenção desses canalhas, que desencadearam o terror branco da burguesia, que fizeram o trabalho de açougueiro para a burguesia…
Vergonha e desgraça para os trabalhadores que se afastam neste momento, vergonha e desgraça para os trabalhadores que ainda não perceberam qual é o seu lugar.

Isso foi, de fato, uma “ruptura completa” com o passado do Partido Comunista, “incitando” os trabalhadores à ação dessa forma. Não sobrou nada aqui do espírito de Karl Liebknecht, muito menos de Rosa Luxemburgo, e ainda assim foi considerado apropriado, na edição da Rote Fahne de 26 de março (“Apelo de Combate nº 1”), que algum infeliz (perdoe-me a palavra dura, mas estou defendendo a memória dos mortos incapazes de se defender) escrevesse: “O espírito de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo marcha à frente do proletariado revolucionário da Alemanha.”

Já temos cadáveres frescos suficientes para “incitar”; deixemos os antigos em paz.

O que se seguiu foi uma performance chocante. A Zentrale “intensificou a ação”. Foram levantadas faixas e mais faixas. Não havia distinção entre os “velhos comunistas” e os “novos”, para os quais os ungidos ainda torcem o nariz [28]. Heroicamente e desprezando a morte, os camaradas se levantaram de uma forma sem precedentes. Nas pequenas cidades e vilarejos da Alemanha central, nas fábricas de Leuna, em fábricas grandes e pequenas: bandeira após bandeira se levantou, exatamente como a Zentrale ordenou. Estandarte após estandarte se juntou ao ataque, conforme o comando da Zentrale. Estandarte após estandarte, eles foram para a morte, conforme o comando da Zentrale. Ave morituri te salutant! Não apenas uma, mas dezenas de vezes, o destino de Leônidas e seus trezentos espartanos se repetiu na Alemanha central. Dezenas e centenas de túmulos sem identificação na Alemanha central falam hoje ao viajante que passa: “Diga a eles, você que nos viu deitados aqui, como obedecemos à lei!”

E a Zentrale? Ela se reuniu em Berlim e “intensificou a ação”. Já alguns dias antes de a ação ser interrompida, os votos em uma sessão foram de cinco a três a favor dessa decisão. Mas, mais uma vez, essa maioria caiu na vala da “preguiça”, do “oportunismo” e da “inatividade” que eles haviam cavado para os outros. Contra a minoria de três que eram a favor de “resistir”, os cinco não ousaram insistir em seu ponto de vista, com medo de serem acusados de falta de vontade revolucionária. Vagos “relatórios” de três distritos de que “algo estava acontecendo”, de que os trabalhadores agrícolas da Prússia Oriental estavam “se agitando”, era tudo o que era necessário. Assim, a convocação foi feita novamente para “intensificar a ação”. E quais eram os motivos dos três obstinados? Não tenho certeza se todos compartilhavam da mesma opinião, mas a razão expressa por um deles foi que, agora que a ação estava perdida, ela deveria ser levada adiante o máximo possível, de modo que, depois de interrompida, eles não precisariam se defender da “esquerda”, mas apenas da “direita”.

O que se pode dizer sobre isso? Até mesmo Ludendorff empalidece em comparação, quando, com a derrota certa diante de seus olhos, enviou homens de fora de sua classe, inimigos de classe, para a morte. Mas essas pessoas enviaram sua própria carne e sangue para morrer por uma causa que elas mesmas já reconheciam estar perdida, para que sua posição, a posição da Zentrale, não fosse ameaçada. Não estamos pedindo a esses camaradas, com os quais passamos por bons e maus momentos por um longo tempo, que se penitenciem pelo que fizeram; apenas uma punição é apropriada, para o bem deles e do partido em cujo interesse eles acreditavam ter agido: nunca mais mostrar o rosto aos trabalhadores alemães.

Era praticamente inevitável que, nesse sabbath de bruxas anarquistas promovido pelo partido comunista Zentrale, aparecesse um elemento que já era a força preferida de Bakunin, descobridor desse tipo de “revolução”: ou seja, o lumpenproletariado. Devo deixar uma coisa clara aqui. Presumo – sem as garantias dadas, mas mesmo depois delas – que o Partido Comunista e sua Zentrale não tiveram nada a ver, nem oficial nem extra-oficialmente, com os ataques de dinamite dos últimos tempos. A Zentrale não pode evitar repudiar essas coisas publicamente, assumindo uma atitude política em relação a elas, rejeitando-as, independentemente de quem possa estar por trás delas. Ela é forçada a fazer isso ainda mais porque, depois de sua “ruptura completa com o passado”, a obviedade que antes prevalecia em tais assuntos não existe mais depois do que descrevemos acima. Voltando ao lumpenproletariado, devo observar que o amor por ele já havia se espalhado para além da rígida escola de Bakunin. Há alguns meses, já tive a oportunidade de citar uma frase de Engels sobre o lumpenproletariado e o perigo para os comunistas de se envolverem com ele. Alguns camaradas, evidentemente, acharam que essa advertência se destinava a eles. O camarada Frölich, no Hamburger Volkszeitung, tentou sacudir o arbusto para ver que lebre estava escondida embaixo dele. O camarada Frölich recebeu algum apoio nesse sentido. Em um artigo do camarada Radek, que ainda não foi publicado e que não sei se seu autor ainda quer publicar, lemos

Seu instinto revolucionário imediatamente levou o camarada Frölich a perceber que algo de podre estava acontecendo. Nada mais, nada menos, estava em questão do que o fato de que, com a rápida decadência do capitalismo e o lento desenvolvimento da revolução, massas proletárias cada vez maiores estão sendo lançadas nas fileiras dos desempregados, empobrecidos e lumpenizados. Qualquer um que agora comece a torcer o nariz teoricamente para esses “lumpenproletários” à moda social-democrata antiga nunca conseguirá mobilizar essas massas para a ação revolucionária.

Observe bem: o “apodrecimento” que o camarada Frölich sentiu com seu “instinto revolucionário” não foi o lumpenproletariado, mas sim meu aviso de envolvimento com ele.

Espero que o camarada Radek permita que eu, como uma alma pobre e errante, “sem uma visão clara” e apenas “em processo de desenvolvimento”, já que sou um “político revolucionário de resultados”, ofereça ao grande marxista algumas anotações de meu fraco entendimento. O camarada Radek fala em “torcer o nariz teórico” para o lumpenproletariado na “velha moda social-democrata”. Essa moda é, de fato, muito antiga. Ela já começou no primeiro texto “social-democrata” que existe, o Manifesto Comunista:

A “classe perigosa”, a escória social, aquela massa passivamente apodrecida lançada pelas camadas mais baixas da sociedade, pode, aqui e ali, ser arrastada para o movimento por uma revolução proletária; suas condições de vida, no entanto, a preparam muito mais para o papel de uma ferramenta subornada da intriga reacionária [29].

Esse “torcer o nariz teórico”, portanto, começou com Marx, e logo em seus primeiros anos. O antepassado espiritual desse último levante comunista, Mikhail Bakunin, tinha uma opinião bem diferente. No texto de Marx e Engels mencionado anteriormente, a seguinte citação de Bakunin é citada:

O banditismo é uma das formas mais honrosas da vida do povo russo. O bandido é um herói, um protetor, um vingador do povo, o inimigo irreconciliável do Estado e de toda a ordem social e civil estabelecida pelo Estado, um lutador até a morte contra toda a civilização dos funcionários públicos, dos nobres, dos sacerdotes e da coroa…. Aquele que não entende de banditismo não entende nada da história popular russa. Quem não simpatiza com ela, não pode simpatizar com a vida popular russa e não tem coração para os sofrimentos eternos e imensuráveis do povo; ele pertence ao campo inimigo, entre os apoiadores do Estado… Os bandidos nas florestas, nas cidades e nos vilarejos espalhados por toda a Rússia e os bandidos detidos nas inúmeras prisões do império formam um mundo único, indivisível e unido – o mundo da revolução russa. É aqui, e somente aqui, que a verdadeira conspiração revolucionária existe há muito tempo [30].

Veja como eu deveria ser grato ao camarada Radek. Enquanto ele me acusa apenas de “torcer o nariz teoricamente” e de ser “desprovido de uma visão clara”, seu senhor e mestre Bakunin não é tão poupador com aqueles que não estão dispostos a compartilhar suas histórias de ladrões heroicos. Ele declara que eles “pertencem ao campo inimigo”, que são “partidários do Estado”. Marx e Engels suportaram esse destino de serem, para Bakunin, “partidários do Estado”, e eu também terei de suportá-lo; pois, no momento, até mesmo as razões de Radek me convencem tão pouco quanto Bakunin conseguiu convencer Marx e Engels.

Quais são as razões de Radek? No lumpenproletariado, o camarada Radek vê as “massas cada vez maiores lançadas nas fileiras dos desempregados”. Isso está completamente errado desde o início. O desemprego não é universal, nem sua extensão e duração são algo novo para o capitalismo. Ele é a sombra constante que acompanha o capitalismo. Ninguém jamais pensou em identificar o “exército industrial de reserva” com o lumpenproletariado. Os lumpenproletários não têm classe, são remanescentes de todas as classes e estratos possíveis. Os desempregados, precisamente porque seu desemprego é um resultado constante e inevitável de sua condição econômica como vendedores de força de trabalho, são membros da classe dos vendedores de força de trabalho, o proletariado. Eles participam, e necessariamente participam, da vida de sua classe. Por meio dos laços de sindicatos, cooperativas, organizações políticas e, acima de tudo, da atividade política, os desempregados permanecem proletários e devem permanecer assim. É verdade que o desemprego prolongado de fato exclui certos indivíduos do estrato de desempregados e os empurra para o lumpenproletariado. Mas esse processo é precisamente incentivado por aqueles que rompem essas conexões entre os desempregados e seus companheiros da classe trabalhadora, especialmente a conexão da atividade política comum entre os que trabalham e os que não trabalham. De fato, foi isso que aconteceu, e não apenas enviando os desempregados como tropas de assalto contra os que trabalham. Aconteceu também pelo uso indevido dos desempregados, desmoralizados pela fome e pela pobreza, para métodos que são característicos do lumpenproletariado; isso significou desclassificá-los e lançá-los à força (e com meios piores do que a força) nas fileiras do lumpenproletariado.

Alguém poderia objetar que, se os comunistas se aliam a todas as outras classes revolucionárias, como vimos acima, então por que não com os lumpenproletários? A resposta para isso é bastante simples. As outras classes com as quais os comunistas podem se aliar com o objetivo de derrubar o Estado existente, ou seja, os camponeses, os artesãos e a burguesia, quando ela ainda é revolucionária, são classes. Em outras palavras, conjuntos de pessoas que estão ligadas em um corpo social por sua relação semelhante com os meios de produção social. Os lumpenproletários não são uma classe. Eles não pertencem aos vendedores de força de trabalho, assim como os proletários empregados e desempregados; eles são folhas sopradas de árvores diferentes e, se certamente são vítimas de uma ordem social injusta, a perda mais prejudicial que sofreram é o fato de estarem precisamente desclassificados, sem classe, e não terem mais nem mesmo o que o proletário ainda tem: a capacidade de lutar como classe por uma mudança nas condições das quais são vítimas. Certamente, os movimentos de lumpenproletários, bandos de ladrões etc. podem levar a uma situação que permita aos comunistas usá-los politicamente – se o Estado estiver muito enfraquecido. Seria tolice não fazer uso de tal situação, e seria “teoricamente estúpido” deixar passar tal situação simplesmente porque ela foi criada por lumpenproletários. Mas, quanto ao envolvimento com os lumpenproletários, a palavra de Engels ainda é válida:

O lumpenproletariado, essa escória dos elementos depravados de todas as classes, que estabelece seu quartel-general nas grandes cidades, é o pior de todos os aliados possíveis. Essa ralé é absolutamente venal e absolutamente descarada… . Todo líder dos trabalhadores que usa esses canalhas como guardas ou conta com o apoio deles prova, apenas com essa ação, que é um traidor do movimento [31].

A grande distinção entre um proletário combativo e um lumpemproletário “político” é sempre esta: o proletário combativo comete até mesmo atos criminosos para fins políticos, enquanto o lumpemproletário comete até mesmo atos políticos para fins criminosos.

Tivemos experiências práticas relevantes sobre tudo isso na Alemanha. As características específicas do trabalhador alemão também devem ser levadas em conta aqui. Pouparei o camarada Radek da tentativa de fazer uma piada barata aqui, e direi apenas que, assim como o trabalhador russo tem seus pontos fortes e fracos, o trabalhador alemão também tem os seus; e um dos pontos fortes dos trabalhadores alemães, como Engels disse, é que: “eles pertencem ao povo mais teórico da Europa; e eles mantiveram aquele senso de teoria que as chamadas classes ‘educadas’ da Alemanha perderam quase completamente” [32].

É exatamente essa particularidade dos trabalhadores alemães que faz com que até mesmo uma conexão externa com o lumpemproletariado seja desfavorável no mais alto grau. Nós tivemos nossas experiências com isso na Liga Spartacus, na qual rejeitamos decisivamente o menor envolvimento com o lumpemproletariado, e quando, nos dias repentinos de novembro e dezembro de 1918, fizemos tudo o que pudemos para afastar o lumpemproletariado de nossas costas, de modo que isso não colorisse de forma alguma a opinião que os trabalhadores tinham de nós. Em uma longa luta, na qual não estou me referindo à nossa discussão com o KAPD [33], nós nos purificamos disso, não sem ter a experiência de que o lumpemproletariado prefere muito mais se vender à burguesia do que ir com os trabalhadores – com o resultado de que os trabalhadores nos levaram a sério, nossa influência entre eles cresceu e eles ganharam confiança em nós. E, agora, o levante comunista de 1921! Aqui, vou apenas dar voz a um camarada individual, com extraordinária experiência em questões ferroviárias, e que não pertence à minha escola de pensamento, mas sim à de “Berlim”. Ele disse o seguinte em uma reunião em 30 de março:

A palhaçada em Ammendorf e o descarrilamento de um trem de passageiros colocaram os trabalhadores contra nós. Agora, os ferroviários e todo o pessoal vem e diz: vocês não poderiam ao menos ter explodido um trem de armas ou um transporte militar? Dresden está apenas montando transportes militares. Devemos trabalhar lá com todas as nossas forças para impedir que esses trens sejam montados. Essa prevenção se tornou impossível devido aos ataques ridículos. O governo conquistou os ferroviários para o seu lado. Atribuo isso aos ridículos ataques com dinamite. Eles contribuíram para isso…

Esse foi o efeito. E, de passagem, declaro que se um único trem fosse impedido de ser montado em Dresden, por solidariedade e compreensão da situação por parte dos ferroviários, isso teria ajudado a causa dos trabalhadores na Alemanha central, na verdade, na Alemanha como um todo, muito mais do que cinco trens lançados ao ar.

Essas são nossas experiências alemãs. E eu preferiria me perder com Marx e Engels a encontrar a verdade com Radek e Bakunin. É pertinente aqui retornar mais uma vez à “velha moda socialdemocrata”. O camarada Radek seria a última pessoa a não conhecer essa posição de Marx e Engels. Certamente não contei a ele nada de novo com tudo isso. Esse fato, no entanto, lança uma luz peculiar sobre esse tipo de marxismo. Certamente não sou uma pessoa que aceita cada palavra viva ou morta com um “autos epha” – o mestre falou. O que é poderoso e impressionante no conjunto de ideias de Marx, reconhecido até mesmo por aqueles que o rejeitam como um todo, é que ele não apenas reconhece e leva em conta a complexidade mil vezes maior dos eventos políticos e sociais, mas também traz essa diversidade de volta àquela simplicidade, àquela singularidade, que é peculiar a tudo o que é importante. Portanto, é impossível para mim, só porque parece adequado, colocar certos capítulos do marxismo em um bolso de trás e “torcer o nariz” para as “velhas modas social-democratas”. Mas isso talvez se deva ao fato de eu ser um pobre sujeito de mente simples, “desprovido de qualquer compreensão”, e é preciso uma mente maior – não a de um “político de resultados” – para fazer uma visita ocasional a Bakunin, simplesmente porque parece conveniente ou porque uma espera de oito meses está começando a surtir efeito.

Como os comunistas conquistarão o poder do Estado? Depois de fazer essa “ruptura completa com o passado”, ao que parece, somente rompendo de forma completamente fundamental e irrevogável com o presente, com um estado de coisas em que ninguém sabe onde termina a palhaçada e começa a criminalidade política. A única coisa a fazer é voltar à frase do programa de fundação de nosso partido:

A Liga Spartacus nunca assumirá o poder governamental, exceto em resposta à vontade clara e inequívoca da grande maioria da massa proletária de toda a Alemanha, nunca exceto pela afirmação consciente do proletariado dos pontos de vista, objetivos e métodos de luta da Liga Spartacus [34].

Isso significa, antes de tudo, o seguinte. Nunca mais na história do Partido Comunista deve acontecer de os comunistas declararem guerra aos trabalhadores. Qualquer pessoa que acredite no estilo bakuninista de que os trabalhadores podem ser levados à ação por meio de dinamite ou cassetetes não tem lugar em um partido comunista.

Nunca mais na história do Partido Comunista deve acontecer, ou mesmo ser feita qualquer tentativa, de “criar situações de luta” por meio de manobras de espionagem policial. O Partido Comunista é um partido de luta, ele se alegra com o dia e espera pelo dia em que poderá lutar com o proletariado e à frente dele, e trabalha política e organizacionalmente para esse dia, buscando criar situações de luta por meios políticos, em vez de contorná-las por meio de compromissos, como fazem os reformistas sociais.

O Partido Comunista é apenas a vanguarda do proletariado, e nunca uma arma contra o proletariado; ele não pode marchar se tiver perdido sua conexão com a força principal.

Essa é, antes de tudo, a primeira pré-condição para nos livrarmos da enorme desconfiança que a maioria dos trabalhadores alemães sente em relação a nós depois dessa loucura. Aqui reside o maior dano que os eventos de março deste ano causaram. Ninguém deve se iludir quanto à dificuldade dessa tarefa. Nunca a desconfiança – para não usar uma palavra mais forte – dos trabalhadores alemães em relação aos comunistas foi tão forte quanto hoje. E, no entanto, tivemos uma luta infinitamente árdua para conquistar um ponto de apoio na classe trabalhadora, em termos de organização e, acima de tudo, intelectualmente. O fruto desse trabalho foi agora destruído, e vale a pena dizer abertamente que, enquanto os trabalhadores não recuperarem a confiança no Partido Comunista, não se pode falar que o Partido Comunista Alemão tenha capacidade de ação. A correção para os eventos de março deve, portanto, ser feita de forma visível para aqueles que estão do lado de fora, de uma maneira que seja visível para os trabalhadores. Se o Partido Comunista persistir em seu ponto de vista atual, ele se tornará uma seita, compartilhando o destino de todas as seitas: reduzido à insignificância em termos de números e influência dentro de três meses.

Nesse sentido, é necessário começar imediata e energicamente com uma liderança política das questões do partido. Aqui também fica evidente o enorme dano causado pelo movimento. Se a Zentrale, em vez de iludir-se com “informações secretas”, tivesse considerado os fatos políticos, certamente teria agido de outra forma. Na Inglaterra, nessa época, estourou a greve dos mineiros. Um estado de emergência foi proclamado, o que não foi inesperado. Qualquer pessoa que acompanhasse os acontecimentos no mercado de carvão inglês saberia o que aconteceria: toda a exportação de carvão inglês, um pilar do mercado mundial da Inglaterra, entrou em colapso; desde outubro do ano passado, os Estados Unidos exportam mais carvão do que a Inglaterra produz; toda a indústria de carvão inglesa depende de um preço de exportação de 150 xelins, enquanto os Estados Unidos estão oferecendo frete de carvão pago à França e à Bélgica por 90 xelins. Se a Zentrale, em vez de vasculhar o meu discurso no Reichstag de 12 de março em busca de “oportunismo”, tivesse realmente lido, eles teriam encontrado isso já previsto – sem nenhuma “informação secreta”! O bloqueio da Alemanha está começando. Não, como as “informações secretas” dizem, em 20 de março, mas gradualmente. Uma fome lenta como a que ocorre em tempos de guerra. O conflito entre a Baviera e o Reich está se iniciando, pois o Reich precisa realizar o desarmamento. Não por causa do levante comunista, mas apesar dele. De fato, “a situação está clamando por luta”. Mas, por meio de uma aventura bakuninista, na qual a Zentrale se deixou inflamar por uma cabeça quente golpista, em nome de uma “atividade intensificada”, o poder de luta do proletariado alemão foi enfraquecido, já que nas lutas futuras ele não terá confiança nos planos de seus líderes. “Só teria sido necessário combinar-se em uma frente proletária unida para conduzir a luta em conjunto.” Foi o que a Zentrale escreveu no final de seu golpe, para mostrar que, mesmo depois dele, eles não haviam aprendido nada. “Apenas”, de fato. Teria sido necessário apenas o entendimento da Zentrale de que a unidade do proletariado é o resultado de um processo político e não pode ser conquistada por provocações de policiais e espiões. Teria sido necessário apenas o entendimento da Zentrale de que ela está lá para o proletariado e o partido, e não o partido e o proletariado para ela. Então estaríamos em uma situação excelente hoje, fortes e armados para a luta. Então teríamos sido capazes de dizer: “Abaixo o governo!” Em vez disso, temos de ser mais modestos e dizer: “Abaixo os golpistas!”

IV.

No entanto, permanece a questão das relações do Partido Comunista alemão com a Internacional Comunista. Não só porque tal derrota catastrófica do KPD também afeta a Internacional, senão, porque, sem entrar em detalhes, o CEIC tem pelo menos uma parte da culpa.

Uma coisa, antes de tudo. O CEIC viu e até vê certo perigo na bastante forte atitude anti-putshcita minha e de outros camaradas. Está tão perturbado por isso que enviou espiões e analistas mais especializados para estabelecer se não há “oportunismo” em um ou outro lugar. É adequado falar abertamente sobre isso e dizer que esta abordagem é completamente errada. Quando ao que diz respeito ao oportunismo e ao social-reformismo, deveria ser levado em conta que não há país tão claro, tão inequívoco, tão indisfarçável e tão sem lugar a dúvidas cristalizadas como a Alemanha.

O Partido Comunista Alemão e seus principais camaradas, assim como a grande maioria de seus membros, surgiram do Partido Social-Democrata. A luta contra a social-democracia, a discussão interna e externa com ela, foi uma discussão com o oportunismo. E não apenas isso. Nossa luta diária na imprensa, no parlamento e, acima de tudo, a dos trabalhadores nos sindicatos e nas fábricas, é uma luta constante, viva, enérgica e bem-sucedida contra o oportunismo. O grande poder contra o qual temos de lutar é a social-democracia oportunista. Em tais condições, portanto, não há grande perigo de que o oportunismo possa ser encontrado no Partido Comunista Alemão, se é que ele pode ser encontrado em algum lugar. O oportunismo dentro do partido é, portanto, uma preocupação muito pequena.

Existe, todavia, dentro do partido, perigo de putschismo. O Camarada Radek, menos que ninguém, necessita que explique o quanto o putschismo nos prejudicou, já que tem seguido tais coisas de perto desde 1919. Já li atentamente nossa literatura da época a partir das citações diretas. Depois de nossas discussões com o KAPD, nas quais eles compartilharam nossa posição intelectual, os camaradas do ECCI e, seguindo-os incessantemente, o camarada Radek, foram da opinião de que o perigo do putschismo havia sido superado e que um pouco mais de “agitação”, como poderíamos dizer, não poderia causar nenhum dano. Essa ideia estava errada. O perigo do putschismo não havia sido superado, mas era agudo. E foi necessariamente assim, na época em que a maior parte do USPD veio conosco, sem ter passado pelo aprendizado que teve nosso Partido Comunista de origem. Era preciso mais do que nunca manter a mão firme no leme contra o putschismo, mas os camaradas da CEIC tinham outra opinião, e o navio agora naufragou!

Portanto, para evitar o perigo de erros, direi algo mais sobre a questão do putschismo.

O que ocorreu na Alemanha, um levante disparado por uma pistola contra a burguesia e quatro quintos da classe trabalhadora, foi um putsch, não precisa de mais palavras de minha parte. Entretanto, não é minha opinião que toda ação parcial seja um putsch. Éramos contra ações parciais em 1919, quando a revolução estava em declínio e qualquer movimento armado só dava à burguesia e a Noske a ocasião tão desejada de afogar o movimento em sangue. Em situações revolucionárias em declínio, as ações parciais devem ser evitadas. No entanto, em situações revolucionárias em ascensão, ações parciais são absolutamente necessárias. Apesar da alto treinamento revolucionário do proletariado alemão, ainda não se pode esperar – para isso seria necessária a repetição de um milagre como o golpe de Kapp, mas dessa vez não mal interpretado pelos comunistas – que o proletariado esteja pronto em um determinado dia para que o botão seja pressionado, como entende um secretário do partido social-democrata, ou Rudolf Hilferding. Se a onda revolucionária surgir novamente na Alemanha, então, assim como antes de 1918, haverá ações parciais, mesmo que a maior maturidade do proletariado alemão em comparação com aquela época se expresse em ações parciais mais poderosas e mais sólidas do que antes. Mas, por ação parcial, entendemos apenas uma coisa – os proletários se levantando em luta em uma parte da Alemanha, ou em uma grande cidade, ou em uma região econômica. Não queremos dizer que, em uma parte do Reich, ou no Reich como um todo, os comunistas façam greve ou entrem em ação. A ação parcial deve sempre ser interpretada em um sentido vertical ou horizontal.

Além, no entanto, da avaliação diferente do perigo putschista na Alemanha, há uma segunda diferença subordinada no julgamento de nossa atividade. Nossa propaganda, nossa atividade no Parlamento, e assim por diante, não foram consideradas revolucionárias o suficiente. Não há disputa sobre certas coisas, como a eficácia agitacional do Rote Fahne. Na maior parte, porém, também aqui as queixas da CEIC parecem assentar-se numa leitura equivocada. A CEIC gostaria que as coisas fossem “mais barulhentas”, como dizem os ingleses. Aqui. novamente, porém, já ganhamos experiência e as implicações são bem diferentes. Também nós, no início da revolução, enviamos nossos oradores de rua e propagandistas para fazer discursos enérgicos. Eles tiveram muito sucesso no começo, mas, logo após, os os trabalhadores não quiseram ouvir insultos. Devemos dizer abertamente que grande parte da literatura de propaganda, chamados, etc., que recebemos da Rússia, se não são lastimáveis, pelo menos não são tão úteis no conteúdo como deveriam ser, devido à sua forma excessivamente robusta. Lembro-me de um caso em que, embora a Zentrale alemã, por votação unânime, tenha declarado um determinado texto inapropriado, ele foi publicado mesmo assim sobre nossas cabeças.

É o mesmo com o trabalho do grupo parlamentar. Um grupo parlamentar comunista abandonaria seu dever se não fizesse bom uso da situação revolucionária, com todos os meios à sua disposição. Porém, o parlamento é o último lugar onde situações revolucionárias podem ser “criadas”. O Parlamento é a “imagem espelho” do que acontece lá fora, principalmente em tempos revolucionários. Um grupo parlamentar que se expresse em constante acesso de raiva pareceria ridículo. ao que eu sei O que se resume novamente é que os trabalhadores alemães são reflexivos e teóricos. Talvez demais; mas eles não podem ser levados à ação por insultos; têm que estar convencidos. E esta não é apenas a nossa experiência nos dois anos e meio de existência do Partido Comunista; É a minha experiência em mais de uma década de trabalho partidário prático; e a experiência de camaradas que dedicaram suas vidas inteiras a esta obra. Nem escapou ao camarada Zinoviev, penso eu, quando ele escreveu depois do Congresso de Halle: “A velha escola está se fazendo sentir. O trabalho dos melhores revolucionários alemães não foi em vão.”

Zinoviev viu como o grande efeito de seu discurso em Halle repousava precisamente no fato de ser baseado em fatos, e evitar qualquer forma impulsiva

Tudo isso é igualmente insignificante em comparação com as tarefas da Internacional Comunista e a resolução prática destas tarefas.

Antes de mais nada, um ponto. Acredito que não é apenas na Alemanha, mas em todos os lugares, que a liderança da ECCI é considerada inadequada. Isso não se deve ao fato de não termos à sua frente nem um Marx, como à frente da Primeira Internacional, nem um Lênin. O problema são as grandes dificuldades técnicas, a conexão postal inadequada, etc. O ECCI está isolado da Europa Ocidental, sua região de atividade mais importante. Acredito que o ECCI não seja o último a sentir isso. Sua solução, no entanto, é muito infeliz e, nesse ponto, tive que me expressar como presidente do partido com alguma reserva, enquanto agora, como membro comum do partido, posso falar com total franqueza. Esse é o sistema de agentes confidenciais. Em primeiro lugar, a Rússia não está em condições de enviar suas melhores forças. Eles têm cargos na Rússia que não podem ser substituídos. Portanto, quadros e camaradas chegam à Europa Ocidental, cada um deles com a melhor das vontades, cada um cheio de suas próprias ideias e cada um cheio de vontade de mostrar o quanto pode “dar conta do recado”. Assim, a Europa Ocidental e a Alemanha se tornam um campo de testes para todos os tipos de estadistas duodécimos, dos quais temos a impressão de que estão ansiosos para desenvolver suas habilidades. Não tenho nada contra esses turquestanianos [35], e só desejo o melhor para eles, mas muitas vezes tenho a impressão de que eles causariam menos danos com seus truques em seu próprio país.

A situação torna-se mais grave, porém, quando os representantes despachados são inadequados até mesmo do ponto de vista humano. Eu volto aos eventos italianos. O camarada Rákosi, depois de representar a Terceira Internacional na Itália, veio para a Alemanha. Foi introduzido nas sessões do Zentrale e do Comitê Central como representante do CEIC. Ele explicou em muitas palavras que na Itália “havia dado-se um exemplo”, e declarou privada e publicamente que o partido alemão também deveria ser novamente dividido. Na verdade, ele levou a divisão italiana ao ponto de ruptura. com essa ideia da necessidade de novas divisões. Os discursos estão em um registro taquigráfico; Cem testemunhas podem atestar isso. Rákosi, no entanto, se reporta a Moscou e o que a Internacional Comunista tem a ver com isso? O artigo semi-oficial (ou talvez bastante oficial, se não apócrifo), do camarada Radek sustenta:

A tentativa (de uma nova divisão) existe apenas na imaginação de Levi, que se baseia numa suposta expressão do camarada húngaro Rákosi, que era o representante da CEIC na Itália, e que teria dito, segundo relato de Levi, que o Partido Comunista Alemão deveria ser expurgado novamente. O camarada Rákosi, que participou da sessão do Comitê Central de Berlim como um particular, nega ter dito algo do tipo. E mesmo se o camarada Rákosi tivesse dito isso, ele não estava autorizado a fazê-lo.

A declaração revela a maneira completamente frívola com que se brinca com partidos, causas e pessoas. O camarada Radek está ciente de que indivíduos particulares não têm acesso às reuniões do Comitê Central do KPD. O camarada Radek declara que Rákosi não estava autorizado a fazer tal declaração. Mas o camarada Rákosi era o plenipotenciário do ECCI em Livorno. Ele nos apresentou os motivos autênticos que levaram à divisão dessa forma. Ele nos deu os motivos, portanto, que poderiam levar a uma cisão no Partido Alemão amanhã. O próprio Rákosi chegou a essas conclusões; eu e 23 membros do Comitê Central discordamos expressamente dessas razões [36], e o ECCI explicou que Rákosi não estava autorizado a fazer tal declaração. Presumivelmente, ele estava autorizado apenas a realizar uma divisão sem motivos. Esse é um jogo frívolo que está sendo jogado aqui; o método de despachar pessoas irresponsáveis, que mais tarde podem ser aprovadas ou rejeitadas conforme a necessidade, é certamente muito conveniente, mas mesmo que tenha sido abençoado pela longa tradição do partido, é fatídico para a Terceira Internacional. Devo observar de passagem que algumas pessoas são muito apressadas em brincar com novas divisões, pelo menos esses representantes estrangeiros do ECCI. Espero não ser obrigado a provar que, nos círculos alemães próximos ao ECCI, pelo menos nos círculos pelos quais o ECCI tem responsabilidade política, a terrível derrota do partido é ignorada com as palavras de que, se a Ação de Março apenas levasse a limpar o partido de sua ala direita, o preço não seria muito alto. Os camaradas que agora jazem mortos no centro da Alemanha não foram informados, quando foram enviados para a morte, que seus corpos seriam usados como dinamite para o partido. Se o ECCI não for capaz de se livrar de companheiros inconscientes desse calibre, ele se arruinará e nos arruinará.

A declaração semi-oficial do camarada Radek, no entanto, apenas revela um efeito ainda mais prejudicial do sistema de delegados. Este é o contato direto e secreto entre os referidos delegados e a direção em Moscou. Acreditamos mais ou menos que em todos os países onde os emissários estão trabalhando, o descontentamento com eles é o mesmo. Este sistema é como um tribunal ilegal. Eles nunca trabalham com a Zentrale do país em questão, eles sempre agem pelas costas e muitas vezes contra ela. Eles encontram pessoas em Moscou que acredita neles, outros não. É um sistema que inevitavelmente mina qualquer confiança no trabalho mútuo de ambas as partes, da CEIC e das partes filiadas. Esses camaradas geralmente são inadequados para a liderança política, além de não serem muito confiáveis. A situação impossível que resulta é que o centro da direção política está ausente. A única coisa desse tipo que a CEIC administra são os recursos que vêm muito tarde e as excomunhões que vêm muito cedo. Esse tipo de direção política na Internacional Comunista leva a nada ou ao desastre. O que resta para toda a organização é o que descrevemos acima. O CEIC funciona mais ou menos como uma Checa projetada além das fronteiras russas, um estado de coisas impossível. O pedido claro de que isso mude, e que a direção em certas partes não deve ser assumida por delegados incompetentes com mãos incompetentes, o apelo à direção política e contra a polícia partidária, não é uma demanda por autonomia. Na mesma passagem em que Marx usa as palavras mais contundente contra a autonomia na Internacional, também diz:

Sem comprometer de forma alguma a total liberdade de movimento e esforços da classe trabalhadora em cada país, a Internacional conseguiu combiná-los em uma associação e, pela primeira vez, fazer com que as classes se sentissem dominantes e seus governos a potência mundial do proletariado. [37]

O CEIC está em melhor posição para medir o quão longe está da situação ideal. A situação atual pode ser boa para uma internacionalização de seitas; é pernicioso para uma internacional de partidos de massa. Nesse sentido, gostaria de mencionar em particular a gravidade da decisão que este colapso do partido alemão introduz a Internacional. Por razões compreensíveis, não podemos entrar em uma discussão detalhada sobre quem culpar. Temos que enfatizar, entretanto, que o Partido Comunista Alemão, agora com sua própria existência em perigo, pela qual a CEIC é parcialmente culpado, e pela qual ele é pelo menos responsável, é o único partido de massas liderado pelos comunistas na Europa até agora. comunistas Os alemães são confrontados com a questão da vida ou da morte, se eles podem manter seu partido como comunista ou se desabou em uma pilha de ruínas bakuninistas. É o destino de partidos revolucionários, quando o processo revolucionário se acalma, quando há longos tempos contrarrevolucionários, que se consomem; em casos como este, o anarquismo completa o destino dos partidos comunistas. Ninguém pode ver atrás tecido da história, nem medir a diversidade de forças de acordo com sua força e seu objetivo final e constância: “nenhum olho que veja as escamas douradas do tempo”. É apenas pelos sintomas que se pode discernir a tendência vitoriosa entre os que lutam. Sim, os alemães não conseguirão reconstruir o Partido Comunista, se a questão de Março é o seu destino, então é a prova definitiva de que as tendências contra-revolucionários que vemos em todo o mundo são de maior duração e maior força do que acreditávamos anteriormente. Se este é o nosso destino, é também o da Internacional Comunista.

Se conseguirmos, porém, como esperamos e desejamos, resgatar a ideia comunista na Alemanha e assim provar que ainda existem forças revolucionárias que podem aproveitar o momento, não deixemos que a Internacional nos coloque obstáculos em nosso caminho se voltarmos ao passado do Partido Comunista e à doutrina de seu fundador. Ela descreveu a rota que devemos seguir nas seguintes palavras:

A unificação das amplas massas populares com um objetivo que supera completamente a ordem social existente, da luta diária com a transformação do grande mundo; Essa é a tarefa do movimento social-democrata, que deve avançar com sucesso em seu caminho de desenvolvimento entre duas vertentes: o abandono do caráter de massa ou o abandono do objetivo final; a queda no sectarismo ou no reformismo burguês; anarquismo ou oportunismo [38].

[1] Marx 1973a, p. 35.

[2] “The Communist Manifesto”, in Marx 1973a, p. 87.

[3] Marx 1974, p. 349.

[4] Lenin 1965, p. 267.

[5] Lenin 1965, p. 268.

[6] [O bolchevismo nacional foi uma corrente muito difundida após a derrota alemã de 1918, defendendo uma luta unida de todas as classes na Alemanha, juntamente com a Rússia Soviética, contra a Entente. Ela foi representada principalmente pelos comunistas de Hamburgo Heinrich Laufenberg e Fritz Wolffheim, que formaram o KAPD após sua expulsão do KPD em agosto de 1919, embora tenham rompido com o partido logo depois.]

[7] [Paul von Lettow-Vorbeck, general prussiano e comandante na África Oriental Alemã; como general do Reichswehr, reprimiu o levante de Hamburgo em 1919.]

[8] Marx 1973a, pp. 84–5.

[9] Em sua “Carta Aberta” de 8 de janeiro de 1921, Levi pediu, em nome do KPD, uma ação conjunta com outros partidos socialistas e sindicatos em apoio às necessidades imediatas da classe trabalhadora, incluindo a formação de organizações de autodefesa contra o terror da direita e o estabelecimento de relações comerciais e diplomáticas com a Rússia Soviética.

[10] Marx 1973a, p. 329.

[11] Marx 1973a, pp. 79–80.

[12] Lenin 1965, pp. 271–2.

[13] Lenin 1965, p. 262.

[14] Lenin 1965, p. 261.

[15] Lenin 1964, p. 134.

[16] Ibid.

[17]  [No início de março, Béla Kun, ex-líder do Soviete Húngaro e membro do Comitê Executivo da Internacional Comunista, chegou à Alemanha armado com a nova teoria de uma “ofensiva” revolucionária. Como Levi escreveu a Lênin em 27 de março, Kun explicou que “a Rússia agora enfrenta uma situação extremamente difícil. Era incondicionalmente necessário aliviar a Rússia por meio de movimentos no Ocidente [. . .]. Portanto, ele era a favor do lançamento imediato de uma luta com o slogan de derrubar o governo” (Levi, 1969, p. 38). A nota do editor desta edição nomeia erroneamente o emissário do ECCI como Rákosi, que já estava na Alemanha e provocou a renúncia de Levi da liderança do KPD. Consulte What Is the Crime?, infra.

[18] No arquivo de Levi, P83/9, o nome “Brandler” está escrito na margem de uma cópia do panfleto.

[19] Robert Weismann, Comissário de Estado para a ordem pública da Prússia sob o Primeiro Ministro Wirth
[20] Nos arquivos de de Levi, P83/9, o nome “Frolich” está escrito na margem de uma cópia do panfleto
[21] Achtgroschenjungen no original
[22] El socialdemócrata Otto Horsing foi governador da Saxônia Prussiana de 1920 a 1927. Em 16 de março, proclamou a ocupação policial da província, para deter as greves, os saques e a violência].
[24] Aparentemente uma referência a August Thalheimer, líder da facção de esquerda no KPD e cultivado por Radek para substituir Levi como líder do partido, juntamente com Heinrich Brandler e Paul Frolich.

[25] A série de artigos “Revolution and Counter-Revolution in Germany” apareceu sob o nome de Marx no New York Daily Tribune e foi publicada em forma de livro no original em inglês por Eleanor Marx em 1891. Atualmente, sabe-se que foram escritas por Engels, e essa citação foi extraída de Marx e Engels 1979, pp. 85-6. A ênfase é de Levi, que cita uma edição alemã de 1919 que ainda atribuía os artigos a Marx.

[26] Marx and Engels 1988.

[27] O jornal da USPD (Independentes).

[28] Os “novos comunistas”, que nesse momento eram a grande maioria no KPD, eram aqueles que haviam se juntado ao USPD após o Congresso de Halle, em novembro de 1920.

[29] Marx 1973a, p. 77.

[30] Marx and Engels 1988, p. 520; emphasis P.L

[31] F. Engels, “Prefatory Note to The Peasant War in Germany”, Marx and Engels 1985, pp. 98–9.

[32] Addition to “Prefatory Note to The Peasant War in Germany”, Marx and Engels 1988, p. 630.

[33] Ou seja, com os comunistas de “esquerda” que formaram o Kommunistische Arbeiterpartei Deutschlands após sua expulsão do KPD em agosto de 1919. Na época em que este artigo foi escrito, era um ponto sensível para Levi o fato de o Comintern ter dado recentemente ao KAPD o status de consultor, sem sequer consultar a liderança do KPD.

[34] “What Does the Spartacus League Want?”, in Hudis and Anderson (eds.) 2004, pp. 356–7.

[35] Referência a Béla Kun. Veja a Introdução Editorial, supra.

[36] No Congresso de Livorno do Partido Socialista Italiano, Levi criticou a abordagem rígida dos delegados do Comintern em relação à facção majoritária de Serrati. Em uma reunião do Comitê Central do KPD, em 24 de fevereiro, ele desenvolveu sua tese característica de que um partido comunista de massa necessariamente tem uma estrutura diferente de um pequeno partido que opera em condições ilegais, e que as cisões só deveriam resultar da experiência política, e não ser decretadas mecanicamente. Rákosi solicitou uma votação condenando a posição de Levi e, quando a votação foi aprovada por 25 votos contra 23, Levi renunciou à Zentrale, acompanhado por Clara Zetkin e Ernst Däumig, ex-líder da ala esquerda do USPD.

[37] “The Alliance of Socialist Democracy and the International Working Men’s Association’; Marx and Engels 1988, p. 554.

[38]  ”Social Reform or Revolution”, in Hudis and Anderson (eds.) 2004, p. 165.

Versão em espanhol – Nuestro camino: en contra del putschismo
Versão em inglês – Our Path: Against Putschism