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EDITORIAL

Artur Lira não pode governar o Brasil

O centrão quer destruir o programa eleito nas urnas, sabotando o governo Lula. Construir outra governabilidade, baseada na pressão popular e mobilização social, é urgente. Lula não pode ficar refém das forças do atraso, que sustentaram Bolsonaro e todos retrocessos dos últimos anos

Editorial Esquerda Online

O povo brasileiro elegeu Lula presidente para mudar o rumo do país. O programa eleito prevê a retomada de direitos e programas sociais, a preservação do meio ambiente e a defesa dos indígenas. Mas o bloco parlamentar comandado por Artur Lira está empenhado em fazer o contrário disso. Aprovou o marco temporal visando o extermínio dos povos originários. Votou o arcabouço fiscal para estrangular os investimentos públicos. E pretende esvaziar os ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas para passar a boiada dos ruralistas.

O governo Lula está diante de um impasse estratégico. A cada concessão dada, Artur Lira pede o dobro. A sede do centrão é insaciável. Quer mais poder e dinheiro, tanto que já exige ampla reforma ministerial e maior controle do orçamento. Atua para manter vigente o programa de Bolsonaro, que foi derrotado nas urnas. Se Lula ceder às chantagens e firmar um acordo com Lira, selando um pacto de governabilidade conservadora, o programa de mudanças será enterrado.

Outro caminho é possível. Existe uma maioria parlamentar conservadora e reacionária, além de uma expressiva bancada de extrema direita. Se a governabilidade de Lula depender do centrão, não será possível nem mesmo reconstruir aquilo que foi destruído por Temer e Bolsonaro, como os direitos trabalhistas e a proteção do meio ambiente. Perante o bloco do atraso que domina o Congresso, apenas a força da mobilização social e da pressão popular pode garantir que o programa eleito seja realizado.

Mas para que as ruas entrem em cena é preciso um giro estratégico da esquerda. O governo tem que adotar a linha da mobilização popular e da disputa política ativa junto às massas. Lula precisa ser um presidente mobilizador nas ruas e nas redes. O enfrentamento se coloca uma necessidade incontornável se a escolha não for a rendição. O calor das ruas, o medo do povo em luta, o poder dos protestos populares. Só isso pode emparedar o centrão, as elites dominantes e a extrema direita, obrigando-os a recuar. Na Colômbia, o presidente Gustavo Petro está apostando na mobilização social e vem, até aqui, colhendo vitórias diante da direita que também domina o Congresso de lá.

Infelizmente, vem prevalecendo no governo brasileiro a estratégia da realização de um governo a frio. Os ministros palacianos, como Alexandre Padilha e Rui Costa, parecem acreditar que Lula pode reeditar as condições de governabilidade dos seus mandatos anteriores. Acontece que muita coisa mudou de lá para cá, quando a oposição era o PSDB, havia forte crescimento econômico, se formava maioria no Congresso com certa facilidade e a extrema direita era quase inexistente. Nas atuais circunstâncias, sem apoio popular ativo nas ruas, em torno de uma agenda de mudanças sociais, o perigo de fracasso do governo é elevado. E sabemos que o fascismo está à espreita.

Nesse momento, a luta nas ruas contra o marco temporal deve ser prioridade da esquerda e dos movimentos sociais. Se o projeto de genocídio passar no Senado, Lula precisa vetá-lo por decreto. O presidente deveria demitir os ministros do PSD, MDB e União Brasil, partidos que, mesmo controlando nove ministérios, votaram em peso a favor do marco temporal e de outras pautas contra o governo, como o PL das Fake News e a MP do Saneamento. Ou seja, ocupam várias pastas dadas por Lula, mas no Congresso servem a Artur Lira.

O centrão quer tornar Lula refém, minando o programa que o elegeu. A missão de Lira é sabotar o governo, preparando o caminho para a volta da extrema direita ao poder. Conceder mais, dando mais poder a ele e ao seu bloco de direita, pode ser um erro fatal.  É hora de construir a contra-ofensiva, adotando outra estratégia de governabilidade. Com luta popular, é possível vencer o atraso. O PSOL defende esse caminho.

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