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BRASIL

CPMI morna é um erro: é preciso ir para cima de militares e golpistas

Em uma semana bastante difícil para o governo, marcada por ataques da oposição bolsonarista à estrutura dos ministérios e pela aprovação do arcabouço fiscal, foi instalada a CPMI que investigará a tentativa de golpe e os atos de terrorismo do dia 08 de janeiro em Brasília

Henrique Canary, da redação
Edilson Rodrigues/Agência Senado

Da esquerda para a direita na mesa diretora da CPMI: Eliziane Gama (relatora), Arthur Maia (presidente), Cid Gomes (vice-presidente) e Magno Malta (segundo vice-presidente)

A escolha dos membros da mesa diretora da CPMI aconteceu ontem (25) na primeira reunião da comissão. O deputado Arthur Maia (União Brasil-BA) foi eleito presidente, enquanto a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) ficou com a relatoria. Tanto Maia quanto Gama se dizem independentes e afirmam que irão trabalhar não para a confirmação de narrativas, mas para a averiguação imparcial dos fatos. Ainda assim, a eleição de ambos aos cargos mais importantes da CPMI é uma primeira vitória do governo, que trabalhou arduamente em uma série de acordos de bastidores para que a presidência e relatoria da CPMI tivesse um perfil moderado, mas amigável ao governo. Maia é próximo de Arthur Lira (PP-AL) e foi sua indicação pessoal para a chefia da CPMI, enquanto Gama é amiga de Flávio Dino.

Nem todos os problemas que envolvem o preenchimento de cargos na CPMI foram resolvidos. O senador Cid Gomes (PDT-CE) ficou com a vice-presidência, mas acontece que um segundo cargo de vice-presidente foi criado e oferecido ao senador Magno Malta (PL-ES), reconhecido bolsonarista e fundamentalista cristão. O objetivo parecia ser dar o máximo de espaço possível para a oposição, de forma a tranquilizar a todos e garantir uma investigação rápida e indolor. No entanto, este acordo específico não pôde ser concretizado ainda, já que a ascensão de Malta foi barrada pelo senador Otto Alencar (PSD-BA), que presidiu a reunião preparatória. Alencar alegou que o cargo de segundo vice-presidente não estava previsto no Regimento Interno da Câmara e encaminhou a questão para que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado trate do assunto. O prazo para a finalização dos trabalhos da CPMI é de 120 dias, mas pode ser estendido.

Dos 32 parlamentares que comporão a comissão, pelo menos 15 são da base aliada do governo. Oito se dizem “independentes” (o que inclui o volátil União Brasil) e outros nove são membros da oposição. Não está claro até agora o problema da participação do MDB. Renan Calheiros e Eduardo Braga, figuras mais importantes da sigla no Senado, ficaram de fora da formação final CPMI.

De maneira geral, o governo buscou (e até agora tem conseguido) uma CPMI contida, que fique na superfície dos atos de vandalismo e financiamento mais direto das caravanas e acampamentos, mas não vá a fundo no problema da tentativa de golpe de Estado porque aí teria que mexer num vespeiro mais delicado. Segundo fontes, o senador Randolfe Rodrigues (Sem partido-AP), líder do governo, chegou a se reunir com Arthur Maia para garantir que os trabalhos da CPMI não azedem ainda mais a relação do governo com os militares, que já não é nada boa.

Ou seja, mais uma oportunidade de impor uma derrota à direita será desperdiçada e o bolsonarismo acumulará pontos para voltar com tudo mais tarde, como um participante do BBB que volta com toda a força para a casa depois do paredão.

Infelizmente, mesmo depois de uma série de derrotas sofridas no Congresso, o Planalto parece não perceber ou não querer perceber que a oposição tem trabalhado e seguirá trabalhando pelo colapso completo do governo, por sua derrota estratégica e que é preciso devolver na mesma moeda. A CPMI seria uma ótima chance para colocar a oposição na defensiva, sobretudo agora que o deputado André Fernandes (PL-CE), bolsonarista iniciador da CPMI na Câmara, está sendo acusado pela PF de ter incentivado os atos de vandalismo do dia 08 de janeiro.

Infelizmente, mesmo depois de uma série de derrotas sofridas no Congresso, o Planalto parece não perceber ou não querer perceber que a oposição tem trabalhado e seguirá trabalhando pelo colapso completo do governo, por sua derrota estratégica e que é preciso devolver na mesma moeda.

Mas para isso, claro, o governo e a CPMI precisariam ir a fundo nas investigações. Seria necessário ir atrás não apenas dos vândalos e empresários, mas sobretudo de militares e membros do alto escalão do bolsonarismo.

Mais do que nunca, os movimentos sociais precisam entrar em cena para mudar a correlação de forças no país e permitir a implementação das mudanças pelas quais os brasileiros votaram. Uma nova governabilidade, baseada não nas concessões permanentes, mas na mobilização de massas, precisa ser construída desde baixo. As primeiras greves e as primeiras lutas começam a acontecer e é decisivo cercá-las de solidariedade e apoio, mas isso ainda é muito pouco.

Fica, portanto, mais uma vez pendente a tarefa de desbolsonarizar o Estado brasileiro e a política em geral. O governo apanha, mas se recusa a bater. Isso só pode, infelizmente, conduzir à derrota. É preciso ir para cima. E a CPMI é um ótima oportunidade que não deveria ser desperdiçada.

Confira abaixo a fala da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) na abertura dos trabalhos da CPMI

 

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