Costuma-se dizer que no dia de hoje, há 78 anos, a bandeira vermelha com a foice e o martelo foi erguida no topo do Reichstag, o parlamento alemão, em Berlim, dando fim ao mais sangrento confronto bélico que o mundo já viu. A imagem é bela, mas essa história tem imprecisões. Na verdade, a queda de Berlim ocorreu ainda no dia 2 de maio de 1945 às 10:30 com a rendição e prisão do general Helmuth Weidling, último general nomeado por Hitler para a defesa da capital alemã. Já o ato de capitulação da Alemanha nazista, esse sim foi assinado pelo general Wilhelm Keitel às 22:43 (horário de Berlim) do dia 08 de maio de 1945. Mas entrou em vigor às 23:01 do mesmo dia (00:01 do dia 09 de maio pelo horário de Moscou). Por isso, considera-se o dia 9 de maio como o Dia da Vitória sobre o nazismo.
O fato é que o Exército Vermelho venceu. Hitler fora derrotado e se suicidara em um bunker em Berlim, ainda antes da queda definitiva da cidade. Mas nada disso ocorreu sem enormes perdas. O nazismo, a ideologia mais assassina da história da humanidade, ceifou a vida de cerca de 60 milhões de pessoas e destruiu quase que por inteiro um continente. Após a guerra, toda a propaganda imperialista se mobilizou para apresentar a vitória sobre o nazismo como um feito fundamentalmente norte-americano. Biografias de Churchill, livros e mais livros sobre o “Dia D” e o desembarque na Normandia e, é claro, super-heróis – dezenas de super-heróis. Mas nada jamais superou a frente leste em violência e esforço concentrado de guerra. Vejamos: Somente na URSS foram destruídas cerca de 600 divisões alemãs, enquanto na Europa Ocidental as perdas nazistas não passaram de 150 divisões. Ao longo da guerra, a URSS produziu sozinha o dobro de armamentos que todos os aliados juntos. No território da URSS foram destruídos mais de 1500 cidades e vilarejos. E, finalmente, os mortos: morreram 26 milhões de soviéticos, enquanto a França perdeu 665 mil cidadãos, a Inglaterra 380 mil e os Estados Unidos 417 mil.
O nazismo surgiu na arena histórica conclamando para si a tarefa de destruir o comunismo. Todos os historiadores sérios reconhecem esse fato. Mais recentemente, tem-se observado um esforço por falsificar o passado, igualando duas forças, dois movimentos sociais que são simples e absolutamente incompatíveis e que já demonstraram essa incompatibilidade em uma luta de vida ou morte.
Se no Ocidente a falsificação histórica caminha no sentido da diminuiçã do papel da URSS na vitória sobre o nazismo, na Rússia e entre alguns setores de esquerda se observa um mitologia distinta: a ideia de que a vitória teria ocorrido graças à genialidade militar de Stálin, ignorando-se assim o sacrifício de todo o povo soviético e a repressão promovida por Stálin nas fileiras do Exército Vermelho às vésperas da guerra.
Setenta e oito anos depois da vitória, a luta pela memória sobre a Segunda Guerra Mundial segue viva e acirrada. Putin tenta transformar a vitória sobre o nazismo em capital político e força motivacional na guerra da Ucrânia, Zelenski cancela o feriado e instaura em seu lugar o “Dia da Europa”, que ninguém sabe direito o que é. O Exército Brasileiro pisoteia a honra dos nossos pracinhas e apoia um golpe promovido por um genocida fascista. Quem controla o passado tem melhores chances de controlar o presente. Por isso todos lutam.
Para a classe trabalhadora mundial, a vitória do Exército Vermelho sobre o nazi-fascismo é a sua própria vitória. A queda de Hitler abriu a etapa história mais revolucionária que o mundo já viveu: Iugoslávia, Europa Oriental, China, Coréia, Vietnã, libertação da África, levantes da França, Itália e Grécia. Um terço da superfície terrestre passou a viver sob uma economia sem mercado e sem burguesia. Por seu lado, o capitalismo foi forçado a fazer enormes concessões econômicas e sociais ao proletariado europeu e mesmo norte-americano, sob pena de perder a disputa ideológica.
Outra mentira frequentemente contada sobre a guerra: “a guerra é coisa de homens”. Nunca foi. Não é. Dificilmente será algum dia. As mulheres soviéticas, em geral, não eram da infantaria, mas pilotavam aviões, tanques, bombardeavam, espionavam, fabricavam e construíam. A guerra foi um esforço de todo o povo, inclusive das crianças, que tiveram sua infância roubada.
A vitória sobre o fascismo também foi um esforço dos povos não-brancos. Se não bastasse o heroísmo do povo chinês na luta contra o imperialismo japonês, teríamos ainda os milhares de soldados negros norte-americanos que foram para a Europa lutar lado a lado com seus companheiros brancos, apesar de serem muitas vezes discriminados dentro de suas próprias trincheiras. E quem não conhece a famosa foto do pracinha brasileiro negro segurando uma bomba com a inscrição “A cobra está fumando”? Esses são imagens e fatos da guerra que contrariam e ideia geralmente estabelecida e que jamais devem ser esquecidos.
Diz-se em certos meios que o “comunismo não deu certo”. Pois há 78 anos, caía Berlim, o nazismo era derrotado, o Exército Vermelho, fundado, organizado e educado por Leon Trotski triunfava sobre a mais terrível máquina de morte jamais construída. Se tivesse cumprido somente esta tarefa, o comunismo já teria valido a pena. Se não vivemos hoje em gigantescos e modernos campos de concentração controlados por um governo mundial nazista – agradeça ao Exército Vermelho, agradeça ao comunismo.
Comentários