Campos Neto é um provocador sem limites e precisa cair

A combinação entre juros altos e Arcabouço Fiscal mina a própria governabilidade lulista e prepara o terreno para o retorno da extrema-direita ao poder.


Publicado em: 5 de maio de 2023

Brasil

Henrique Canary, de São Paulo

Esquerda Online

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O bolsonarista que preside o Banco Central, Campos Neto, continua sua jornada incansável para boicotar a economia do país e impedir o crescimento sustentável e a distribuição de renda. Em sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu manter os juros em astronômicos 13,75%. A decisão agradou o mercado, que já esperava a manutenção da taxa, com a justificativa de que, mesmo depois da apresentação do Arcabouço Fiscal, ainda restariam “incertezas” sobre a trajetória dos gastos governamentais e da dívida pública. Para agentes do mercado consultados, o plano de Haddad ainda é “permissivo com o aumento de gastos”, o que poderia, segundo esses agentes, pressionar a inflação.

No entanto, a coisa não é bem assim. Vale ressaltar que esta é a 7ª reunião seguida em que o Copom decide manter a taxa de juros nesse patamar. O Brasil possui a segunda maior taxa de juros do mundo, perdendo apenas para a Argentina. Para se ter uma ideia de taxas de juros de países com economias grandes como o Brasil, a Zona do Euro possui uma taxa de 3,75%, Cingapura – 3,78%, Austrália – 3,85%, Reino Unido – 4,25%, Canadá – 4,5%, Estados Unidos – 5,25%, Indonésia – 5,75%, Arábia Saudita – 5,75%, Índia – 6,5%, Rússia – 7,5%, África do Sul – 7,75%, Turquia – 8,5%.

A verdade é que a questão dos juros altos saiu completamente do controle e já virou boicote puro. O Copom decide manter a taxa a 13,75% exatamente num momento de queda da inflação. Em abril, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) foi de 0,57%. Isso é 0,12% abaixo da taxa de março, que foi de 0,69%. Até aqui no ano, o IPCA-15 acumula uma alta de 2,59% e, em 12 meses, de 4,16%. Isso está abaixo dos 5,36% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores.

Além disso, como dito acima, o governo já apresentou na íntegra o texto do novo Arcabouço Fiscal, que deve cortar ainda mais investimentos públicos ao longo dos próximos anos. Ou seja, não há nenhuma razão “técnica” para a manutenção da segunda maior taxa de juros do mundo. O único motivo, o real motivo, é o boicote do crescimento econômico, associado à ganância do mercado financeiro, que sempre viveu e sempre viverá da extorsão de cidadãos e empresas produtivas.

Sob a presidência de Campos Neto, o Banco Central “autônomo” (autônomo em relação ao governo, mas dependente do mercado financeiro) busca forçar o governo a descumprir promessas de campanha. É incrível, mas toda a grande imprensa e até mesmo setores que dependem do crédito se calam diante da barbaridade impetrada pelo Banco Central. O agronegócio não dá um pio, a FIESP não lança nenhuma notinha minimamente crítica, a FEBRABAN se manifestou muito timidamente. Este episódio demonstra bem o quanto o governo Lula está isolado entre a classe dominante e somente pode contar com o povo pobre como seu verdadeiro aliado.

Mas o pior da história toda não é o presente, e sim o que está por vir. Segundo especialistas ouvidos, a baixa dos juros deve começar somente no segundo semestre, e de forma bem lenta. Isso quer dizer que nos próximos anos teremos uma combinação entre juros altíssimos e corte no investimento público provocado pelo novo Arcabouço Fiscal. Essa é uma combinação explosiva que pode solapar as possibilidades do governo de cumprir promessas de campanha. Se isso acontecer, Lula pode se desmoralizar com os setores mais explorados e oprimidos da população, que o elegeram em base a promessas simples: retomada do consumo, retomada do crescimento, retomada dos investimentos. Mas isso não fará Lula ganhar pontos com a classe dominante. Ao contrário, esta seguirá em oposição e, sempre que possível, em boicote aberto. Ou seja, a combinação entre juros altos e Arcabouço Fiscal mina a própria governabilidade lulista e prepara o terreno para o retorno da extrema-direita ao poder.

A lição é evidente: não é possível agradar a dois senhores. A tentativa da construção de uma governabilidade conservadora baseada em acordos e concessões às classes proprietárias pode implodir as próprias bases de sustentação do governo. É preciso que o Lula comece a trabalhar pela demissão de Campos Neto, o que é hoje uma atribuição do Senado Federal. Não é possível suportar esse sabotador bolsonarista até dezembro de 2024. Nem a economia nem o povo aguentam.

Além disso, é preciso que o país rediscuta com serenidade a ideia ingênua de um Banco Central “independente”, coisa que nunca aconteceu nem nunca vai acontecer porque ou o Banco Central se subordina ao governo, ou se subordina ao mercado. Não há meio termo.

Até lá, toda a imensa riqueza gerada pelo país continuará sendo despejada na conta dos grandes especuladores da dívida, e tudo isso com o aval da grande imprensa, da grande burguesia, do Copom e do Banco Central e sob a direção de Campos Neto.


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