Em reportagem da CNN, foi divulgado o fato de que uma empresa estatal ucraniana – a Antonov, fabricante de avião de cargas – teria cancelado um contrato com o governo do estado de São Paulo, no valor de 50 bilhões de dólares, que geraria 10 mil empregos para o estado. Este cancelamento teria sido atribuído ao fato de Lula ter feito declarações sobre a guerra na Ucrânia em que responsabiliza ambos os lados pelo conflito.
A empresa estatal Antonov desmentiu essa informação veiculada pela CNN. Como apontam sites e vídeos críticos ao fato, soa muito estranho que a CNN tenha publicado essa informação sem constatar fatos importantes que facilmente a colocariam em dúvida: 1) a Ucrânia está em guerra, com a economia destruída. Seu PIB de 200 bilhões despencou quase 30% em 2022, ano em que se iniciou a guerra. Uma informação que já colocaria em dúvida o investimento de 50 bilhões no Brasil. 2) Nunca houve na história o investimento de 50 bilhões de uma empresa para construção de uma unidade em outro país. Ou seja, se houvesse algum esforço de produção de um jornalismo sério pela CNN, esta notícia não existiria.
Mas aqui, não buscamos apenas constatar e apontar o óbvio fato de que a CNN tem sua parcialidade política abertamente alinhada à extrema direita. Mais importante do que isso é compreender como o governo do estado de São Paulo, principal reduto da extrema direita brasileira, tem se utilizado da produção de fake news para enfrentar seus opositores e/ou críticos.
Secretário do governo Tarcísio produziu mentira sobre a empresa Antonov
O Secretário de Negócios Internacionais do estado de São Paulo, Lucas Ferraz, foi a fonte da informação à CNN. Segundo ele, no dia 11 de abril, teria havido uma reunião com supostos representantes da Antonov, Oleksander Nyconenko e Viktor Aydeyev. Em breve pesquisa ao Linkedin, feita pelo canal de YouTube Galãs Feios, foi constatado que Oleksander trabalha em uma empresa de ventiladores e foi funcionário do governo ucraniano muito antes do governo de Volodymiyr Zelensky. Viktor Aydeyev trabalha em uma empresa de marketing digital. Ou seja, não são representantes da estatal ucraniana. E a própria empresa produziu nota dizendo que não possui representantes no Brasil e não estava em qualquer negociação com o governo do estado de São Paulo.
A mentira foi tão evidente e pegou tão mal ao governo de Tarcísio que agora, ele cogita substituir o Secretário. O deputado estadual e líder da Bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo, Paulo Fiorilo, vai corretamente ingressar com representação no Ministério Público pedindo investigação de Lucas Ferraz.
Não foi a primeira produção de fake News vinda da gangue de Tarcísio
Durante a campanha eleitoral de 2022, um suposto atentado contra o então candidato a governador em Paraisópolis teria suspendido o dia de agenda de campanhas.
O tiroteio ocorreu a 2 km de distância de onde o candidato do Republicanos fazia sua atividade de campanha. Em um primeiro momento, toda a imprensa e o próprio candidato divulgou a versão bruta interessada pela campanha do atual governador, de que ele teria sido alvo dos tiros. Porém, dias depois, a versão foi desmascarada pela imprensa e pela própria polícia, em entrevista coletiva feita pelo General João Camilo Pires de Campos, então chefe da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
O tiroteio ocorrido matou Felipe Silva de Lima, um homem negro de 27 anos. E a suspeita da investigação era de que os tiros teriam saído da arma do soldado reserva da PM que integrava a equipe de segurança de Tarcísio. O inquérito sobre sua morte foi encerrado em janeiro de 2023, sem conclusão sobre de onde saiu o tiro. Porém, há ainda muitos questionamentos de grupos de direitos humanos, como o Tortura Nunca Mais, que aponta possibilidade de execução, o que indica que o método de produção de Fake News pode ser ainda mais mórbido.
Tentativa de Fake News na greve dos metroviários foi desmascarada pela força da categoria
Com a greve dos metroviários deflagrada no dia 23 de março de 2023, o Sindicato da categoria colocou como alternativa à greve, e tentando evitar prejuízos ao deslocamento da população paulistana, a realização da catraca livre. Com isso, os metroviários seguiriam tendo um instrumento de pressão na sua justa luta por direitos e os passageiros poderiam se deslocar.
Não foi a primeira vez que os metroviários propuseram o método. Mas, foi a primeira vez que supostamente o governo estadual teria aceitado. Porém, ao mesmo tempo em que o governo disse aos metroviários que topava o desafio da catraca livre, ele judicializou para proibi-la. Chegou a publicar em sua conta do Twitter que a catraca livre ia ocorrer. Porém, momentos depois disse em sua mesma conta que os trabalhadores do Metrô não teriam comparecido.
Esse fato foi amplamente desmascarado pelos metroviários que conseguiram provar que estavam em seus postos de trabalho prontos para atender a população com as catracas liberadas. E assim, o governo de Tarcísio saiu do processo como um mentiroso, irresponsável e desrespeitoso com a população que, ao ver a declaração do governador, foi para as estações para poder utilizar o Metrô.
A justiça chegou a condenar o Metrô – empresa pública dirigida politicamente pelo governo do estado – por prática antissindical materializada na tentativa de mentira sobre a catraca livre.
Produção de fake News é método do governo Tarcísio
O que esses três fatos revelam é que a produção de mentiras é um procedimento organizado do governo do estado para enfrentar seus opositores, críticos ou alvos. No primeiro caso relatado, o mais recente, ficou claro que para a turma do Tarcísio, vale qualquer mentira para criticar e atacar o governo Lula.
No caso de Paraisópolis, seus apoiadores chegaram a utilizar o fato para comparar com a presença de Lula no Complexo do Alemão, alegando que Lula entra na favela sem problema e que Tarcísio, suposto inimigo de “bandidos” sofre atentado. Neste caso, ainda há indícios de que vale até matar para produzir uma informação que se volte contra seus adversários políticos.
No caso dos metroviários, junto a essa tentativa desmascarada pela categoria, seus seguidores produziram diversas mensagens de ódio contra o Sindicato dos Metroviários, mensagens padrão que circularam pelo subterrâneo dos grupos de zap/Telegram da direita bolsonarista. Alguns deles inclusive fizeram ameaças de morte a esta que vos escreve.
O método está claro e o movimento social, junto com parlamentares aliados das lutas sociais vai se organizar para enfrentá-lo. Um grande furo deste método é subestimar a capacidade de organização dos trabalhadores. Tem coisas, senhor Tarcísio, que as suas armas não conseguem mirar.
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