Pular para o conteúdo
OPRESSÕES

Black Metal e suas ligações com o Nazismo

Fabricio Braga, da Resistência PSOL de Belém
Divulgação

Na última semana, tivemos o cancelamento dos shows da banda de Black Metal norueguesa Mayhem, os eventos seriam em Porto Alegre e Brasília. Na capital gaúcha o cancelamento teve a pressão do deputado estadual, Leonel Radde (PT-RS), com isso o bar onde ocorreria o show acabou por fazê-lo. Em Brasília, por recomendação do Ministério Público Federal e do Ministério Público do Distrito Federal, não ocorreu o show. O motivo para que a banda não se apresentasse são suas ligações com o nazismo, que é algo polemico dentro do Black Metal.

Origens do Black Metal

O Black Metal teve início a partir dos anos 80 com bandas vindas do Death Metal e do Thrash Metal, a primeira etapa veio com as bandas Venom, HellHammer, Bathory, Celtic Frost e Mercyful Fate. O termo Black Metal veio de um álbum do Venon, lançando em 1982, de nome “Black Metal”, esse álbum focava em temas como anticristaníssimo e no satanismo. Outra contribuição importante do Venon foi o fato dos membros da banda adotarem pseudônimos, prática que se tornou praticamente lei dentro do Black Metal.

As estruturas das músicas são bem imprevisíveis, possui uma guitarra com uma sonoridade mais crua, barulhenta, e áspera, melodias de influência clássica que sugerem lugubridade, pesar e ódio; e urros inumanos, demoníacos como vocais, ininteligíveis e extremamente reverberados. As letras desse estilo tendem a abordar temas com ocultismo, mitologia pré-cristã, orgulho pagão, guerra, misantropia, genocídio, e ódio ao cristianismo.

O Black Metal Norueguês

A gravadora Helvete, localizada em Oslo, concentrava os artistas de Black Metal da Noruega, era o Círculo Interno do Black Metal, cujos membros eram quase todos homens jovens com uma visão antissocial e anticristã sobre a vida. 

O gênero começa a chamar a atenção na Noruega por matérias na imprensa sobre casos trágicos que aconteceram no decorrer dos anos 1990. Dentre eles estão, o fato do vocalista e letrista do Mayhem, Per Yngve Ohlin, ter cometido suicídio. Dead, como também era chamado, disparou uma espingarda contra si, e o mais bizarro, seu corpo foi encontrado pelo guitarrista Euronymous, que decidiu fotografar tudo e reorganizar toda a cena antes de chamar a polícia. Uma das imagens, inclusive, acabou tornando-se capa do álbum Dawn of Black Hearts (1995).

Em 1992, as coisas começaram a escalar de uma forma incontrolável, deu-se início a uma série de ataques incendiários às igrejas da Noruega, incluindo a histórica Capela Holmenkollen. Estima-se que mais de 50 ataques foram feitos até 1996.

Em agosto de 1992, o baterista do Emperor, Bård ‘Faust’ Eithun, foi responsável por assassinar um homem gay em Lillehammer com 47 facadas. Num típico atentado homofóbico, o baterista não demonstrou qualquer tipo de remorso e ainda afirmou ter contado seu crime para Euronymous e Varg Vikernes, da banda Burzum, com quem teria incendiado a Capela Holmenkollen no dia seguinte. Em 1994, Bård ‘Faust’ Eithun foi condenado a 14 anos de prisão.

E o ato final desse círculo de caos e ódio veio em agosto de 1993, quando Varg Vikernes mata Euronymous, guitarrista da banda Mayhem, com 23 facadas, Euronymous, que era o pseudônimo de Øystein Aarseth, que foi membro da juventude de grupo político de esquerda radical chamado Rød Ungdom (juventude vermelha em norueguês. Ele e Varg tinham diferenças políticas dentre do Black Metal norueguês, essas divergências teriam resultado na morte de Euronymous.

Relações com o Nazismo e a Extrema-Direita

Varg Vikernes é o único integrante da banda Burzum, Varg é conhecido por ser simpatizante do Nazismo, em 2013, o norueguês foi preso na França por suspeita de planejar um atentado terrorista.  Ele era investigado desde que recebeu cartas do também norueguês, Anders Breivik, neonazista que matou 77 pessoas a tiros em 2011. Para o músico, os ideais de supremacia ariana não combinam com cristianismo, já que esta é uma religião de origem judaica. 

A ligação entre Black Metal ao Nazismo é algo que já existe a um certo tempo, há um subgênero do Black Metal, chamado National-Socialist Black Metal (NSBM), cujas bandas têm a ideologia nazista como tema central. A simpatia de pôr músicos de rock já existe desde pelo menos os anos 70, bandas como o Sex Pistols usavam símbolos nazista junto a símbolos comunistas como forma de chocar a sociedade da época.

“No caso do Black Metal, já entra no campo da misantropia. E o Varg Vikernes partiu desse mesmo campo: ‘eu sou nazista porque eu quero a desgraça da humanidade mesmo, eu sou anti-humanista quero que todo mundo morra dentro de campo de concentração, morra de fome e que se foda’. Eu acredito que no começo era isso”. (1)

Quanto aos membros do Mayhem, o baterista Jan Axel Blomberg, de pseudônimo Hellhammer, prestou homenagem a Bård ‘Faust’ Eithun por assassinar um homossexual e afirmou que Black Metal não era lugar de negros. O Vocalista, Attila Csihar fez a declaração: “Acho que o único lugar em que você pode ver símbolos nazistas no MAYHEM é no merchandising da banda, o que de fato faz parte da provocação.” (2) 

Por outro lado, entre os gêneros de Black Metal, existe uma dissidência não necessariamente satânica, que é o conjunto de bandas que fazem parte de uma vertente chamada Red and Anarchist Black Metal (RAMB). São conjuntos que se utilizam dos elementos sonoros do Black Metal tradicional, mas não chegam a fazer o combate direto contra a cristandade e seus símbolos, utilizando as terminologias ou mitologias explicitamente satânicas. As suas perspectivas estão mais próximas do discurso anarquista e libertário. (3)

Notas

1 https://www.revistabadaro.com.br/2020/06/19/fantasma-do-neonazismo-ronda-o-black-metal-ha-tres-decadas/

2 https://tuonelamagazine.com/interview-with-mayhem-if-another-band-did-that-probably-no-one-would-care-but-in-our-case-it-gets-blown-up-musicalypse-archive/

3 http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/as-ecologias-politicas-e-infernais-do-red-and-anarchist-black-metal-2/