Minha avó está doente. Acabo de visitá-la na pequena e pacata cidade de Rio Grande, litoral sul do Rio Grande Sul. Não pisava lá há sete anos, desde 2016, ano do golpe. Outrora uma emergente cidade industrial, sede de um dos maiores pólos de construção naval do país, Rio Grande hoje só inspira depressão. O enorme estaleiro, que empregava gente de todo o país, foi fechado e milhares de trabalhadores foram mandados embora. A insfraestrutura portuária está decadente e o comércio local, moribundo. O que isso tem a ver com Moro? Muita coisa…
Havia ou não um plano para sequestrar e matar Moro? Ora, a PF tem que partir do princípio de que sim e ir a fundo nas investigações. É o fascismo que defende a violência política como instrumento de luta. Nós não. Desejamos que Moro viva longamente para testemunhar a derrota definitiva do projeto que ele ajudou a construir.
Eu só acho engraçado que…
Eu só acho engraçado que a pessoa que foi responsável pela devastação da justiça brasileira agora clame por essa mesma justiça.
Moro e a Lava foram responsáveis, de fato, pela instituição de um novo tipo de justiça no país. O direito romano, no qual se baseia nossa justiça, determina que alguém só pode ser condenado por um crime concreto, individualizado, baseado em provas concretas e irrefutáveis. Moro, talvez pela primeira vez na história no país, condenou alguém por um “conjunto de indícios” que não levam a crime nenhum, baseado simplesmente num power point tosco cheio de setas e uma bolinha no meio onde estava escrito “Lula”. Moro ignorou as provas irrefutáveis que demonstravam que Lula não era o proprietário nem do triplex em Guarujá, nem do sítio com pedalinho em Atibaia. “Não havia evidências, mas havia convicção”, na famosa expressão de Deltan Dallagnol…
Mas não foi só na condenação final que Moro cometeu crimes contra o sistema judiciário brasileiro. Moro cometeu abuso de autoridade ao determinar a condução coercitiva de testemunhas que nunca haviam sido sequer convidadas a testemunhar, como foi o caso com Lula em 2016.
A pessoa que agora reivindica que seu caso seja levado a sério e investigado (direito legítimo!) é a mesma que atropelou a divisão entre acusação e julgamento e trocou mensagenzinhas de telegram com Deltan Dallagnol para combinar a melhor forma de condenar Lula e atiçar a imprensa contra o petista, o que aliás configura muito bem o crime de formação de quadrilha.
E por que Moro condenou Lula? Será que já foi esquecido o fato de que isso foi feito para abrir caminho para Bolsonaro, o mesmo que, logo depois de sua eleição, chamou Moro para uma conversa (amplamente divulgada pela imprensa, diga-se de passagem) lhe oferecendo o cargo de ministro da Justiça e prometendo “a primeira vaga que aparecer no STF”?
O mesmo sujeito que agora choraminga na tribuna do Senado exigindo celeridade na investigação das ameaças contra sua família não fez absolutamente nada para que o assassinato de Marielle fosse apurado. E por que? Porque havia perturbadoras evidências do envolvimento de Bolsonaro e sua família nesse mesmo crime, um dos mais dramáticos e importantes assassinatos políticos que o Brasil já viu.
Moro praticou perseguição seletiva em todo seu tempo de julgamento das ações da Lava-Jato. O PSDB, partido hoje semi-destruído pelo monstro fascista que ajudou a despertar, jamais foi um alvo sério de suas empreitadas. Em compensação, na ânsia de condenar Lula e demonizar o PT, Moro avançou sobre a prerrogativa do STF de investigar a Presidência da República e grampeou ninguém menos do que a presidenta Dilma Rousseff, gravada numa conversa que não constituía nenhum crime, mas que era material sensível para a imprensa.
Aliás, de material sensível para a imprensa, Moro entende. Em uma dessas mensagens de telegram a Dallagnol, sugeriu que o Ministério Público soltasse uma nota contra Lula e o PT, numa atuação puramente política. Ou esquecemos disso também?
Enquanto Lula era proibido de ir ao enterro de seu neto Arthur, os advogados do ex-presidente eram grampeados. Dona Marisa morreu perseguida e caluniada pelo ódio antipetista promovido por Moro. Isso não merece ser lembrado?
O pior crime de Moro: o ataque contra a Petrobrás e a indústria nacional
Mas por que eu comecei falando da decadência da minha cidade natal? Porque Moro foi o responsável por um dos maiores ataques já sofridos por nossa indústria, em especial a Petrobrás. Num passado não muito distante, a estatal encomendava uma parte de suas plataformas de petróleo na minha querida Rio Grande. Com a Lava-Jato, tudo virou apenas lembrança. Especialistas calculam que a Petrobrás tenha sofrido um prejuízo de cerca de R$ 172 bilhões, só em perda de investimentos. Milhares de postos de trabalho foram fechados ali e em todo o país. O mesmo aconteceu com empresas brasileiras de engenharia que, além de perderem os contratos que já tinham porque a economia nacional degringolou após o golpe, perderam mercado para concorrentes internacionais, sobretudo empresas norte-americanas.
Onde Moro aprendeu e foi instruído a fazer isso? Não devem levantar suspeitas as dezenas de cursos que Moro fez nos Estados Unidos, em especial no Departamento de Justiça norte-americano?
Justiça sim, mas não pela metade
Este senhor é um traidor e lesa-pátria, prevaricador que se vendeu a Bolsonaro em troca de um cargo no STF.
Agora vem se lamentar e clamar por justiça. Que a tenha. Que as ameaças à sua vida sejam investigadas e os criminosos encontrados e punidos. Mas essa seria apenas meia justiça. A justiça completa virá no dia em que Moro for condenado pelos crimes que cometeu e pela destruição que causou, destruição essa na prática incalculável. Uma destruição material e moral, mas que há de ser revertida, para que o nosso país e a minha pequena Rio Grande voltem a prosperar.
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