Em carta ao reitor da UNICAMP, Antonio José de Almeida Meirelles, a Federação Árabe Palestina do Brasil pediu o cancelamento da “Feira das Universidades Israelenses” porque sua realização no campus da universidade implica em sua “adesão ao apartheid na Palestina”. A feira, com apenas um dia de duração, está prevista para o próximo dia 3 de abril, nas dependências da Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (COMVESP – UNICAMP), reunindo as universidades Bar Ilan, de Haifa, de Tel Aviv, Hebraica de Jerusalém e Technion.
Citando os trabalhos dos relatores especiais da ONU para a Palestina Michal Lynk, Richard Falk e John Dugard, que descreveram, há mais tempo, as práticas de Israel como um sistema de apartheid, aos relatórios mais recentes da Comissão (das Nações Unidas) Econômica e Social para a Ásia Ocidental e das principais ONGs internacionais de direitos humanos, todos identificando um regime apartheid sobre o povo palestino, a carta da FEPAL pede que a USP cancele a feira, sob pena de “ficar para a história como uma universidade que um dia apoiou o regime de apartheid de Israel”.
Apontando resoluções da ONU até hoje não cumpridas por Israel, inclusive a 194, que garante o retorno dos refugiados palestinos e que, em 1949, quando admitido como estado membro das Nações Unidas, o estado israelense aceitou acatar e implementar, assim como o sistemático desafio de suas políticas ao direito internacional humanitário, a FEPAL questiona a atitude da UNICAMP. “Seria falta de informação? Cremos que não. Algo mais? Não sabemos. Mas sabemos que a UNICAMP e o apartheid não combinam! A justa reputação da UNICAMP não pode ser manchada por associação aos crimes de lesa-humanidade de Israel na Palestina”, diz a carta.
Para a FEPAL, as universidades israelenses estão fortemente implicadas na construção do regime colonial e de apartheid de Israel, gerando conhecimento e tecnologias aplicadas na Palestina ocupada e testadas sobre o povo palestino.
A carta traz algumas informações sobre as ações destas universidades israelenses que auxiliam as políticas de Israel para ocupação da Palestina. A Universidade de Tel Aviv, por exemplo, através do Instituto de Estudos de Segurança Nacional, trabalha em “questões de segurança nacional, que abrangem assuntos militares e estratégicos, terrorismo e conflito de baixa intensidade, equilíbrio militar no Oriente Médio e guerra cibernética”, cita o documento enviado à UNICAMP, lembrando que este trabalho “é tornado armamento, munições e sistemas aplicados na ocupação israelense da Palestina e, pior ainda, testado na população palestina antes de se tornar artigo de exportação de Israel, financiando, assim, infinitamente seu sistema de apartheid”.
Já o Instituto de Tecnologia de Israel (Technion) auxilia, de acordo com o que levantado pela FEPAL, produz conhecimento aplicado “intimamente ligado ao processo de ocupação da Palestina e construção de assentamentos ilegais, nos quais implantam colonos em terras confiscadas aos palestinos”.
O papel da Universidade Bar-Ilan é tão comprometido com a construção de assentamentos ilegais na Palestina ocupada, uma das facetas mais flagrantes da ocupação, que chegou a fundar um campus em Ariel, um grande assentamento ilegal na Cisjordânia.
E a Universidade Hebraica, instalada em Jerusalém, é diretamente associada ao processo de limpeza étnica na Palestina, destaca a carta da FEPAL. “Contra as resoluções da ONU que declaram a anexação de Jerusalém ilegal, esta instituição universitária levou à despossessão e desterro de centenas de famílias palestinas para expandir-se para a parte oriental desta cidade palestina. Isso se deu em 1968, logo após a anexação desta parte da cidade, em 1967. E em 2004, nova expansão ilegal levou a mais expulsões de famílias palestinas, anexações de suas propriedades e destruição de suas edificações”, cita a carta.
Ainda conforme a carta, “professores e pesquisadores israelenses, destas e de outras instituições de ensino, universitárias ou não, colaboram com as forças armadas de Israel e com seus serviços de inteligência, inclusive para o desenvolvido de interrogatórios denunciados como formas de tortura e de desumanização dos palestinos”.
Para o presidente da FEPAL, Ualid Rabah, a UNICAMP precisa escolher entre apoiar um regime segregacionista, expansionista, violente, avesso aos direitos humanos mais básicos, que é o apartheid israelense sobre o povo palestino, ou respeitar sua trajetória histórica, que é de defesa dos direitos humanos.
“Se a UNICAMP mantiver esta feira, estará não apenas legitimando o apartheid israelense sobre o povo palestino, mas admitindo que a humanidade pode tolerar o apartheid e outros crimes de lesa-humanidade, todos presentes na Palestina e praticados por Israel, como aceitáveis em qualquer parte do mundo, talvez até aqui, contra parcelas do povo brasileiro”, adverte Rabah.
A FEPAL pediu ainda que a UNICAMP apoio o movimento global por Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel, à semelhança do mesmo movimento contra o Apartheid na África do sul, declarando-se “Espaço Livre de Apartheid”. “Se esta ação da cidadania global contribuiu para o fim do regime de Apartheid na África do Sul, funcionará para acabar com o mesmo regime na Palestina”, comentou Rabah.
A administração da UNICAMP ainda não se manifestou a respeito do pedido da FEPAL de cancelamento da feira nem emitiu pronunciamento público sobre a questão.
Confira íntegra do ofício da FEPAL à UNICAMP
O link da petição organizada por militantes, estudantes e coletivos da Unicamp pode ser acessado aqui
Comentários