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MOVIMENTO

A importância da eleição para a diretoria do ANDES-SN

Gilberto Calil
ANDES

Nesta quarta-feira, 15 de março, foram homologadas três chapas que concorrerão à diretoria do ANDES-SN. O primeiro impacto é de expressão de força do sindicato, afinal são três chapas com 83 nomes cada, 249 inscritos. No entanto, a inscrição de duas chapas que, com diferenças importantes, coincidem na defesa de um sindicato autônomo, classista e combativo, coloca o risco real de eleição de uma chapa com perfil radicalmente distinto.

Ao longo de sua história, o ANDES-SN se afirmou como um sindicato singular no contexto do sindicalismo brasileiro: profundamente democrático, construído pela base, fortemente combativo e autônomo em relação a partidos, governos e reitorias. Conforme registra seu site, “o ANDES-SN rompeu com a estrutura sindical autoritária, implantada no Brasil na década de 30, e se consolidou pela organização de base nos locais de trabalho. É um sindicato nacional com seções sindicais nos locais de trabalho. É uma entidade autônoma em relação a partidos políticos”.

Esta construção foi ameaçada em algumas oportunidades, seja desde dentro, seja via ataque externo. Destaco duas. A primeira, mais distante no tempo foi a gestão 1998-2000, quando uma gestão eleita com a proposta de “renovar” o ANDES-SN e superar seu “sectarismo” e sua “burocratização” atropelou as instâncias do sindicato reiteradas vezes, deixando triste memória. Este momento foi marcante para mim, pois recém tinha ingressado na Unioeste, e a ideia de recuperar o ANDES-SN para os métodos democráticos e concepções classistas foi algo que impulsou a constituição da seção sindical da Unioeste. Superada esta primeira ameaça, com a derrota daquela gestão na eleição sindical de 2000, o ataque seguinte seria externo, como uma resposta à combatividade do ANDES-SN na luta contra a reforma da previdência em 2003 e a sua desfiliação de uma central que se recusou a mobilizar contra aquele ataque aos direitos dos trabalhadores. Este ataque consistiu na criação de um sindicato chapa-branca, articulado desde o próprio governo, o famigerado Proifes. Naquele contexto, o ANDES-SN teve sua carta sindical cassada, em 2003, e só a recuperou, depois de muita luta, em 2010. Neste período, mesmo sem a carta sindical, pela sua organização e representatividade, o ANDES-SN jamais deixou de ter atuação relevante, enquanto o Proifes se explicitava cada vez mais como sindicato de subordinado ao governo.

As críticas ao suposto sectarismo e burocratização do ANDES-SN, aliadas a uma concepção que se apresenta como “pragmática”, e uma uma prática política muito distante daquela construída historicamente pelo ANDES-SN, apresentada como “renovação”, expressa-se hoje, a meu ver, na intervenção do Coletivo Renova ANDES, que nas últimas eleições apresentou chapa e obteve mais de 40% dos votos, ficando em segundo lugar. Este coletivo sindical apresenta-se agora nas eleições do ANDES-SN como Chapa 3 (Renova ANDES). As eleições para diretoria do ANDES-SN são majoritárias e em turno único, portanto caso mantenha este percentual e haja uma maior divisão dos votos restantes, esta chapa poderia ser vitoriosa.

A chapa 2 (ANDES-SN classista e de luta) é constituída por dois coletivos sindicais (Rosa Luxemburgo e CAEL) e tem a participação de algumas figuras históricas do ANDES-SN. Ainda que expresse a defesa dos princípios históricos do ANDES-SN, diverge das últimas gestões em aspectos importantes, como o não reconhecimento de que houve um Golpe em 2016 e a consequente minimização das diferenças entre os governos golpistas e os que o precederam; a menor centralidade à luta contra o bolsonarismo e sua oposição à desfiliação do ANDES-SN à CSP-Conlutas. Não cabe questionar o direito destes coletivos de lançar uma chapa, a partir de sua perspectiva política, mas é legítimo avaliar suas consequências e o risco a apresentação desta chapa implica em uma eleição de turno único.

Embora não faça parte de nenhum dos coletivos sindicais do ANDES-SN, estou integrando a Chapa 1 (ANDES pela base: Ousadia para Sonhar, Coragem para Lutar), impulsionado pelo Coletivo ANDES de Luta e Pela Base-ALB), com o qual tenho forte identificação. Esta chapa é constituída como continuidade da atual gestão. Sou militante de uma corrente política que tem outros militantes compondo a chapa, a partir de indicações de núcleos de base da ALB. 

Reivindico acertos importantes da atual gestão, que interviu em um contexto extraordinariamente difícil, sob um governo fascistizante e em um cenário de pandemia, e que manteve e reafirmou os princípios gerais e métodos do Sindicato e acertou politicamente na centralidade conferida à luta contra a extrema-direita, o bolsonarismo e a ameaça fascista; na intervenção sistemática e bem sucedida na luta contra a PEC da Reforma Administrativa; na solidariedade de classe no contexto da pandemia; no enfrentamento efetivo das novas ameaças e novas formas de precarização disseminados sob a Pandemia; e no enfrentamento constante às opressões.

O ANDES-SN é hoje um sindicato imprescindível, e frente a um governo de frente amplíssima e cheio de contradições (como se vê claramente na configuração do Ministério da Educação), é necessário contar com um sindicato que atue sistematicamente para impulsionar as lutas e mobilizações, que jamais marche ao lado da extrema-direita mas que não deixe da fazer as justas críticas e necessárias exigências ao governo, com total autonomia. Manter o ANDES-SN como sindicato autônomo, classista e combativo é um desafio permanente, que agora se expressa na necessidade de produzir a vitória eleitoral da Chapa 1 – ANDES pela base: Ousadia para Sonhar, Coragem para Lutar!

Leia também: Manifesto da Chapa 01 – ANDES pela base: ousadia pra sonhar, coragem pra lutar!