Neste momento em que os termos incel, redpill, bluepill e chad, dentre outros, emergem em mídias mais tradicionais, vale um esforço para entender pra além de compreender os termos citados, as origens e contextos desse fenômeno social.
O termo incel (aglutinação das palavras inglesas involuntary celibates, “celibatários involuntários”) surgiu em meados da década de 1990, e descrevia, como, qualquer pessoa de qualquer gênero que fosse solitária, nunca tivesse feito sexo ou que não tivesse tido um relacionamento há muito tempo. Com o passar do tempo, adolescentes e adultos jovens em sua maioria, se juntam em fóruns da internet como, 4chan, reddit e sites da DeepWeb, nesses locais essas pessoas começam a compartilhar suas experiências negativas com mulheres, assim gerando ódio e ressentimento contra elas e homens mais ativos sexualmente.
Criam-se teorias como a que as mulheres apenas se relacionam com os homens mais atraentes que estão disponíveis, chamados de Chads, que é uma gíria para indicar um homem atraente e forte fisicamente, levando a uma desigualdade sexual em que somente os homens dominantes têm sucesso, conceito de “hipergamia”, em que acreditam que a mulher tem uma inclinação natural para a troca de parceiros sexuais.
Os termos redpill e bluepill têm origem na cultura pop, mais especificamente no filme Matrix. Neste contexto homens “redpilados” seriam os que se opõem ao “sistema que favorece as mulheres”, por terem alcançado um conhecimento privilegiado sobre isso. E homens “bluepilados” são os que continuariam vivendo em ilusão e, portanto, seriam usados pelas mulheres.
A ligação entre incels e a extrema-direita é bem próxima. O anti-feminismo é o elo que os mantém juntos. “Os incels acreditam que os homens têm direito fundamental sobre as mulheres e seus corpos. Eles alegam que as mulheres os privam de sexo”, explica o sociólogo Henning von Bargen, da Fundação Heinrich Böll, ligada ao Partido Verde alemão. Alguns culpam o feminismo pela queda de natalidade na Europa.
No Brasil, com o bolsonarismo, houve um empoderamento desse grupo, em grande parte devido às suas falas machistas e ao tratamento do presidente a jornalistas mulheres, através dos espaços de fóruns e sites. Neste contexto, muitos incels ajudaram a construir a imagem de Bolsonaro criando memes e os divulgando.
Há também o temor de que os incels virem uma fonte de atos terroristas em grande escala. Os casos de Jake Davison, que assassinou cinco pessoas em agosto de 2021 em Plymouth (Inglaterra), que expressou opiniões misóginas em fóruns on-line de adeptos do “incel”, e Alek Minassian, que em 23 de abril de 2018, resultado de seus resultados de ideais misóginos — matou, na altura, dez pessoas, deixando outras 15 feridas.
Nesse cenário vale a pena ressaltar que no Brasiln no ano de 2020, cerca de 17 milhões de mulheres (24,4%) sofreram violência física, psicológica ou sexual, ou seja, 1 em cada 4 mulheres acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência. O tipo de violência mais frequentemente relatado foi a ofensa verbal, como insultos e xingamentos. Cerca de 13 milhões de brasileiras (18,6%) sofreram este tipo de violência, segundo o Datafolha.
A violência contra a mulher não se manifesta somente na questão física. A violência está nas redes sociais, no ambiente dos jogos on-line por exemplo, e muitas vezes esses ataques são organizados em grupos onde estão estes incels.
O problema incel ainda não está ao nível pandêmico, mas preocupa. Neutralizar os discursos masculinistas e identificar as pessoas por trás das palavras nas redes sociais e no anonimato que fóruns on-line proporcionam, trabalhar esses agressores com terapia para romper com a alienação com que esses discursos os afetam, assim evitando que esse ódio não passe do virtual para o real tão facilmente.
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