Ao que tudo indica, as primeiras tribos eslavas chegaram à região da atual Ucrânia por volta do século 4, se expandiram ao longo do século 5 e se fixaram no século 6.
Entre os séculos 9 e 13, surge e se consolida na região a assim chamada Rus Kievana ou Rus de Kiev, o primeiro Estado dos eslavos orientais. A versão mais aceita é que a Rus de Kiev foi fruto da conquista desse território por comerciantes escandinavos que buscavam consolidar uma rota comercial até o Império Bizantino.
A Rus de Kiev floresceu entre os séculos 10 e 11 como um típico Estado feudal, ou seja, um aglomerado de principados semi-autônomos, dirigidos por nobres aparentados que deviam obediência ao trono de Kiev.
Ao longo do século 13, ocorre uma série de ataques e incursões de tribos tártaro-mongóis contra a Rus Kievana. O Estado colapsa e os nômades asiáticos estabelecem o domínio sobre a região. Os tártaro-mongóis, a despeito de seus métodos violentos, estabeleceram um sistema bastante sofisticado de dominação, baseado na cobrança profissional de impostos e em complexas e nuançadas relações com as elites russas da época.
Ainda assim, os principados russos aspiravam à independência. Por isso, desde o século 14 começam a ocorrer enfrentamentos entre os russos e as tropas tártaro-mongóis. Em 1480 os tártaro-mongóis sofrem uma derrota decisiva e se retiram, abrindo espaço para o surgimento de um novo centro: o Grão-Ducado de Moscou (Moscóvia).
Moscou atinge seu auge como centro político, comercial e militar da região sob Ivan IV, “O Terrível”, ainda no século 16. Ivan IV recebe pela primeira vez o título de “tsar”, cuja etimologia remonta ao “césar” romano. Moscou se considera herdeira e continuadora de Roma e Bizâncio.
Nessa época, os atuais territórios da Belarus e Ucrânia se encontravam, respectivamente, sob o domínio do Grão-Ducado da Lituânia e do Reino da Polônia. É nesse período que parece ocorrer a distinção definitiva entre os três povos eslavos orientais e seus idiomas. Sob influência lituana, o idioma bielorusso se separa do eslavo oriental antigo por volta do século 14. Mais ou menos na mesma época, sob influência polonesa, o ucraniano também se torna um idioma à parte.
Em 1648 ocorre uma rebelião de cossacos (camponeses livres ucranianos) contra o domínio polonês, o que resulta na incorporação do leste da Ucrânia à Moscóvia.
As relações entre a periferia ucraniana (Ucrânia significa “junto à fronteira” em russo) e o centro moscovita (depois petersburguês) sempre foram marcadas pela opressão cultural e por sucessivas tentativas de russificação da região, com envio de colonos russos, proibição do idioma ucraniano e outras medidas repressivas.
Após a Revolução Russa de 1917, o saudável nacionalismo ucraniano viu um novo florescimento e a região aceitou ingressar na União Soviética com a garantia de preservação de sua cultura e identidade nacional. A política de Lenin e dos bolcheviques era o mais absoluto respeito à autodeterminação dos povos. Para os marxistas russos, a URSS deveria ser uma comunidade livre e voluntária.
Com a chegada de Stalin ao poder, a política soviética para as nacionalidades deu um giro de 180 graus. A autonomia e o direito à secessão foram cancelados, voltou a ocorrer o envio de colonos russos para regiões não-russas, recomeçaram as deportações em massa e as perseguições a intelectuais, artistas e líderes das nacionalidades não-russas. O resultado de tal política foi que durante a Segunda Guerra Mundial, um setor (minoritário) da população ucraniana viu nas tropas de Hitler a possibilidade de se libertar do jugo russo e colaborou com o nazismo contra o Exército Vermelho.
Depois da morte de Stalin, a política para as nacionalidades foi suavizada, mas não o suficiente para superar o enorme abismo entre os russos e todos os outros povos que viviam no imenso território da União Soviética. Tanto é assim, que a questão nacional foi um dos estopins para a implosão da URSS em 1991.
Comentários