Cortina de fumaça: oposição bolsonarista pressiona para instaurar CPI dos atos terroristas


Publicado em: 17 de fevereiro de 2023

Brasil

Por Henrique Canary, de São Paulo (SP)

Esquerda Online

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A senadora bolsonarista arrependida Soraya Thronicke (União Brasil-MS) acionou ontem (16) o STF para forçar a abertura de uma CPI no Senado sobre os atos golpistas de 08 de janeiro em Brasília. A ideia é, assim, como aconteceu com a CPI da Pandemia, obter uma liminar que obrigue Rodrigo Pacheco (PSD-MG) a instaurar a comissão, dada a posição errática do presidente do Senado até agora sobre o tema. O caso caiu nas mãos do ministro Gilmar Mendes, que agora analisa o pedido.

O assunto não é novo na casa. A ideia de uma CPI surgiu logo após os atos terroristas de 08 de janeiro e o pedido conta, inclusive, com várias assinaturas de parlamentares do PT e de outros apoiadores do atual governo, que colocaram suas assinaturas no requerimento no calor dos acontecimentos. No entanto, mais tarde, o governo firmou posição contrária à instalação da CPI, já que tal iniciativa tiraria o foco do Congresso das pautas prioritárias do governo, como a Reforma Tributária e as medidas sociais. Além disso, uma CPI poderia ser utilizada pela oposição bolsonarista para produzir fakenews na terra de ninguém das redes sociais, o que também aconteceu durante a CPI da Pandemia.

O fato é que a Thronicke, aquela que não viu nenhuma mudança no Brasil entre 2003 e 2010, já coletou 38 assinaturas de senadores em apoio à CPI, 11 a mais do que o mínimo necessário para a instauração da comissão. Em contrapartida, senadores governistas falam em retirar assinaturas ou simplesmente não indicar nomes para sua composição, o que também bloquearia a iniciativa.

De qualquer forma, o assunto tende a se tornar um ponto controverso no Senado. O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), antigo coordenador do Conselho Nacional da Amazônia Legal e um dos maiores responsáveis diretos pelo desmatamento e mortalidade indígena na região, já disse qual deve ser a linha investigativa da oposição caso a CPI venha a ser instaurada: “Nela [na CPI] deve-se buscar apurar, principalmente, se as autoridades do novo governo receberam os informes de inteligência que davam conta da movimentação ocorrida e porque não foram reforçadas as medidas ativas de segurança”. Ou seja, a oposição bolsonarista pretende culpar o governo pela tentativa de golpe que ele mesmo sofreu e que os próprios bolsonaristas fizeram.

Rodrigo Pacheco, considerado ate então um aliado relativamente fiel do novo governo, já está botando suas manguinhas de fora e começou a falar em responsabilidade do novo governo no caso dos atos terroristas de 08 de janeiro: “O que se identifica muito prontamente é uma falha no sistema de segurança do Distrito Federal. Se houve outras falhas, inclusive do governo federal, de ter eventualmente subestimado o alcance dessas manifestações, isso deve ser apurado. É importante que possamos corrigir os erros para que daqui para frente algo parecido não aconteça. A democracia brasileira está de pé, inabalada e firme”. Enfim, vale tudo para chantagear um pouco o governo e conseguir alguma coisa.

O mais provável é que, no final das contas, a iniciativa fracasse. De qualquer forma, fica mais uma vez demonstrada a falta de escrúpulos da oposição bolsonarista e que eles estão dispostos a mobilizar todos os instrumentos a seu alcance para desestabilizar o governo e inviabilizá-lo.

Quanto mais a oposição ataca o governo, mais é preciso dar ao povo pobre e trabalhador aquilo que foi prometido durante a campanha. Essa é a única forma, junto com a mobilização popular, de assegurar a governabilidade em caso de ataque oposicionista.

As coisas estão começando a acontecer. Houve o aumento do salário mínimo, das bolsas, o reajusta parcial (ainda insuficiente) da tabela do imposto de renda, o anúncio do novo Minha Casa Minha Vida. Tudo isso é importante, mas é pouco. A pressão contrária ao social segue violentíssima. Como viemos dizendo já há algum tempo, quem tem fome e tem pressa. O mercado que espere. O povo vale mais.


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