“Tudo pode ser capa de álbum… Ainda mais tendo vocês, meus amores, como protagonistas! E vamos de trend pra dar start na semana, heheheh??????????????”. Com essas palavras, o perfil oficial da Universidade Federal do Maranhão – UFMA na rede social Instagram interagiu alegremente com seus seguidores no dia 14 de fevereiro de 2023. Porém, entre uma “trend” e outra esconde-se a dura realidade da comunidade acadêmica dessa instituição.
De saída, é possível notar que entre as diversas imagens do vídeo/montagem em questão encontra-se uma especialmente curiosa. Trata-se do pórtico da instituição que custou milhões de reais, porém, atrás dele, quase que como um fantasma “vazando no quadro” (no jargão cinematográfico), uma outra obra chama ainda mais atenção: a interminável nova biblioteca central da UFMA. Recentemente, o mais famoso telejornal maranhense nos lembrou que a nova Biblioteca da UFMA é uma obra que já se arrasta por longos quatorze anos. De modo comparativo, contam os nossos livros escolares que a primeira parte da Grande Muralha da China teria sido realizada entre 220 e 206 a.C. Façamos as contas: noves fora, são exatos quatorze anos! Nesse mesmo lastro temporal, o atual reitor já foi ex, virou atual, e se aproxima de virar ex novamente, mas, o que não houve foi a transformação prometida no espaço físico.
Ademais, essa problemática impacta de modo direto na vida da comunidade acadêmica e, por conseguinte, no desenvolvimento da sociedade civil e do Estado como um todo. Sem acesso aos livros – que, diga-se de passagem, já são insuficientes – os estudantes tendem a uma formação menos holística. Empurrados para a internet em busca de e-books (e suas variantes), na prática, isso significa milhares de profissionais que poderiam ter recebido mais, muito mais, de sua alma mater. Evidentemente, esse breve artigo poderá gerar alguma nota informativa, previsão de entrega da obra em pauta e/ou justificativa de ordem econômico-política por parte da atual gestão da Universidade em tela. Mas, ‘do mesmo modo que não se julga um sujeito pela ideia que ele faz de si mesmo, tampouco se pode julgar uma universidade que carece de transformações pela consciência que ela tem de si mesma’.
Por certo, muitas outras demandas poderiam ser desenvolvidas aqui: a falta de ônibus para os alunos do Colégio Universitário no período que antecede o calendário da graduação, as filas intermináveis nos restaurantes da cidade universitária, a falta de restaurantes no continente, a falta de vagas nas residências estudantis etc. Por isso mesmo, esse é um texto ‘que se interrompe, mas que não se cumpre’, afinal, em quatorze anos, duas ou três gerações de estudantes/pesquisadores já foram prejudicadas. Quantas mais serão? É essa a universidade que a gente quer? A resposta fica a cargo de vocês, portanto, vamos ao diálogo.
* Davi Galhardo é Doutorando em filosofia na PUC-Rio e Bacharelando em direito na UFMA
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