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MOVIMENTO

Os significados políticos da posse da professora Sonia Meire, como vereadora de Aracaju (SE)

Alexis Pedrão, de Aracaju (SE)

Escrevo esse texto com muita emoção. Saber que, no próximo dia 02 de fevereiro de 2023, tomará posse como vereadora de Aracaju, a professora Sonia Meire, a quem desde sempre chamei por “mainha”, é de uma felicidade que não cabe em mim. Mas, não escrevo esse texto para falar de nossa relação pessoal e sim, para refletir os significados políticos que representam a posse dessa lutadora para a cidade de Aracaju-SE e a esquerda sergipana.

O primeiro deles é a vitória pessoal de uma mulher incansável. Uma jovem que saiu de Feira de Santana/BA aos 17 anos para estudar pedagogia na Universidade Federal de Sergipe, vendeu fruta na praia para tirar o seu sustento, casou, teve dois filhos e se mudou mais de 20 vezes, além de morar de favor, por não ter o dinheiro do aluguel. Passou por dificuldades financeiras e por problemas de saúde mental, como a depressão, mas conseguiu superar essas questões, criando seus filhos com sacrifício e muito amor. Tornou-se professora das redes municipal e estadual, e, posteriormente, da UFS, por onde se aposentou após anos de contribuição acadêmica à formação de professoras e professores.

Sonia Meire construiu ativamente o movimento estudantil nos anos 80, contribuiu com a fundação do SINTESE no período da redemocratização, com as lutas do Sindipema e dedicou a maior parte de sua vida aos trabalhadores e trabalhadoras rurais organizados no MST, com projetos de alfabetização por todo Sergipe e criação do Pronera – programa nacional de educação e reforma agrária. Quando criança, cansei de estar ao seu lado embaixo das lonas pretas no interior do estado, enquanto ela ensinava pessoas a ler e escrever. Esse é o segundo significado de sua posse, a vitória de uma educadora popular.

Durante todo esse período, Sonia Meire foi filiada ao PT, partido que construiu desde a fundação. Em 2011, por divergências políticas, deixou o partido escrevendo uma carta pública à militância, mas não deixou de se organizar, assumindo assim, a filiação ao PSOL, uma aposta na construção de uma nova esquerda para o país e para Sergipe. Foi duramente criticada e isolada pelos sindicatos e movimentos que justamente ajudou a construir durante sua caminhada. A isso ela respondeu com tranquilidade, seguindo o que sempre fez: o trabalho de base junto à classe trabalhadora em toda sua diversidade.

Dessa forma, Sonia Meire se destacou pela sua atuação junto às comunidades extrativistas, ao movimento de mulheres e à juventude. Foi candidata pelo PSOL cinco vezes, registrando até o momento, a maior votação do partido para o governo de Sergipe, em 2014, com 47 mil votos e para o senado em 2018, com 62 mil votos. A posse de Sonia como vereadora tem, portanto, esse terceiro significado político, o coroamento de uma construção partidária histórica junto ao PSOL. Em tempos de individualismo e egoísmo, a dedicação a um projeto coletivo de esquerda merece ser louvado e reconhecido.

Finalmente, o significado político maior vem do potencial da professora Sonia Meire para estar à frente de um espaço no legislativo de Aracaju. Afinal, como diz a poesia, “se muito vale o já feito, mais vale o que será”. A gabineta popular de Sonia Meire na câmara de Aracaju – em conjunto com a histórica mandata de Linda Brasil na assembleia – tem tudo para fortalecer e potencializar as lutas do nosso povo, pois no fundo queremos transformações radicais, profundas e não nos contentamos com a ocupação de cargos na institucionalidade, embora saibamos de sua importância tática e estratégica.

Que venha a posse! Temos muitos motivos para comemorar e tenho certeza de que teremos ainda mais. Que venham muitas lutas e muitas vitórias! Parabéns professora Sonia Meire! Parabéns mainha! A classe trabalhadora de Aracaju e de Sergipe conta com você, mulher de luta, para construirmos dias melhores!

*Alexis Pedrão é professor, militante da Resistência/PSOL e filho da professora Sonia Meire