Pular para o conteúdo
Colunas

Maioria nos atos terroristas eram homens e com mais 30 anos

Palácio do Planalto após a destruição de vândalos
Fábio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Palácio do Planalto após a destruição de vândalos

Direita Volver

Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

O ato terrorista em Brasília do último dia 08 foi capitaneado por homens velhos. É o que consta nos dados da lista divulgada pela imprensa das 1.138 presas pela polícia no dia seguinte. 

A partir dos nomes e das datas de nascimento, pode ser verificado que apenas 36,5% dos participantes do ato eram mulheres. Ao todo, 51,1% da população brasileira é feminina, segundo o IBGE. A desproporção é maior se o critério for a idade. Apenas 8,6% dos participantes do ato identificados pela polícia tinham menos de 30 anos. De acordo com o IBGE, 43,9% da população brasileira tem menos de 30 anos

O número de jovens no ato é cerca de cinco vezes menor que na população do Brasil. Dos 1.138 participantes, apenas 21 eram mulheres com menos de 30 anos, ou seja, 2%. Já os homens com mais de 30 anos eram 619, ou 54,3% dos participantes do ato identificados pela polícia.

Além de não representar o país do ponto de vista do de gênero e da idade, o ato terrorista  foi repudiado por 93% da população.  Eram, em sua maioria, homens velhos e de meia idade querendo impor suas vontades a um Brasil feminino e jovem sem consentimento e com uso da violência. Foi em escala coletiva o que normalmente é um assédio sexual em escala individual. 

Não há dados matemáticos sobre cor de pele e classe social. Mas vários vídeos mostram manifestantes se declarando empresários. É bastante provável que a classe trabalhadora também tenha sido sub-representada nas depredações. Os vídeos de terroristas se vangloriando também revelam, em sua grande maioria, pessoas de pele branca. 

Não era o Brasil real que estava subindo a rampa do Congresso e atacando os prédios dos três poderes. Não era o Brasil das 33 milhões de pessoas que ainda passam fome. Não era o Brasil que trabalha como entregador de aplicativo e não tem os direitos trabalhistas reconhecidos. Não era o Brasil dos moradores da periferia do Distrito Federal que no dia seguinte tiveram que limpar a bagunça. 

Quem fez a depredação foi um Brasil hegemonicamente velho, masculino, branco e elitizado. Uma parte do povo brasileiro que se autodeclarou legítima representante de todo o país. Anulando a participação ativa de mulheres, jovens, indígenas, negros e os cidadãos de menor renda. Era uma parcela do país que quer a mulher de volta para a cozinha, o negro de volta para a senzala, a LGBTQIA+ de volta para o armário e o pobre de volta para o mapa da fome. Uma parcela do país que perdeu e, como um moleque mimado que nunca arrumou a própria cama, não aceita perder. 

A essência do fascismo é mostrar uma parcela do povo como legítima representante de todo o país. Aqueles que não se adequam aos padrões dessa parcela, de acordo com o fascismo, devem ser eliminados. “As minorias que se adequem às maiorias ou desapareçam”, disse Bolsonaro em um discurso. No caso, ele não falava de uma maioria numérica, mas uma “maioria” do ponto de vista da força política, da capacidade de hegemonizar a vontade nacional. 

Hoje o bolsonarismo é minoria. Diminuiu muito desde o dia 30 de outubro, quando ainda teve 58 milhões de votos. Boa parte dos que apertaram 22 na urna não concordam com a insanidade golpista dos que ficaram nos quartéis pedindo golpe militar, muito menos concordaram com a depredação em Brasília.  

Eles, que agora são minoria, devem se adequar à vontade da maioria numérica e agora politicamente empoderada. Ou desapareçam, segundo as palavras do próprio Bolsonaro.