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MUNDO

Irã: Reconstruir sobre fundamentos sólidos

Yassamine Mather, com tradução de Waldo Mermelstein
Manifestante entram em confronto com a polícia durante um protesto após a morte de Mahsa Amini, em Teerã
EFE

Não se pode saber pelos meios de comunicação que os protestos no Irã continuam – agora estão em seu terceiro mês. Eles estão disseminados, são militantes e ainda são grandes.

A “fração reformista” do governo iraniano – e seus aliados – no que denomino como “esquerda reformista” – têm declarado que há uma pequena queda nos protestos, mas não consigo vislumbrar nenhum sinal disso. Posso compreender por que estão dizendo isso, pois serve à sua agenda de promover uma “resolução pacífica para o problema”. Mas não vejo nenhuma forma pela qual a crise atual possa ser resolvida pacificamente, dada a raiva nas ruas e entre os jovens. Pelo contrário, estamos assistindo a um crescimento em algumas formas de protesto que não existiam antes. As ações nos campi universitários são muito notáveis e claramente há agora algum nível de coordenação: houve protestos em nível nacional no mesmo dia, por exemplo.

No entanto, não há dúvidas de que a repressão continua. Um grande número de adolescentes- em sua maioria estudantes secundários – foram mortos pelas forças estatais. Somente em Teerã, há 1000 manifestantes detidos – pelo menos segundo o governo. Os números da oposição são muito maiores – alguns dos presos foram libertados e alguns foram presos novamente. Mas preciso enfatizar que o governo ainda não utilizou toda a força de que dispõe. Uma citação de Kiumars Heydari, comandante da força terrestre do Irã, é útil, ainda que possa ter declarado isso com propósitos propagandísticos: ele declarou que o estado se conteve, porque “o Aiatolá Khamenei (1) não quer que utilizemos o tipo de força que queremos empregar”. Em um sentido, pode-se tratar com cautela esta declaração, pois pelo menos 300 manifestantes foram mortos. No entanto, talvez seja verdade que eles poderiam ter feito pior nos últimos 60 dias e ter matado milhares.

As forças de segurança estão utilizando principalmente balas de borracha, que são diferentes da munição real, no sentido de que provocam dores terríveis, incapacitação, causam ferimentos internos, mas não resultam normalmente em morte. Se a declaração de Heydari for verdadeira, temos que dizer que o supremo líder Ali Khamenei é mais astuto que o Xá (2)) , que empregou o exército contra manifestantes, levando a um grande número de mortes. Mas o atual líder do Irã está planejando para o longo prazo. Claro que ele quer que os manifestantes sejam punidos e está preparado para ver muitos deles mortos, declarando que o que eles estão fazendo é inteiramente obra dos EUA e seus aliados. Ao mesmo tempo, no entanto, ele é esperto o suficiente ao não aumentar a escala da resposta a um estágio em que poderia haver uma matança generalizada.

Há atualmente um debate se e quando os Guardas Revolucionários Islâmicos serão empregados massivamente. Isso seria pior para eles ou para os manifestantes? Pode ser pior para eles porque, de forma um pouco similar ao líder ucraniano Volodymyr Zelensky, que orgulhosamente anunciou que havia mesclado a Brigada Azov de voluntários de extrema-direita como exército, o governo iraniano também incorporou os Guardas Revolucionários a seu exército. Mas a utilização conjunta do exército de conscritos e dos Guardas Revolucionários pode levar a uma situação, a de disparar sobre os manifestantes, em que alguns soldados se recusariam a obedecer às ordens.

Em todo o Irã, as mulheres agora são vistas sem o véu nas ruas, no trabalho, nos cafés, bancos, no metrô… Então, as tentativas do regime de impor o uso do hijab (3) fracassaram. Um bom número de esportistas iranianas também se recusou a usar o hijab durante as competições ou quando recebiam as medalhas – mesmo dentro do país. Há uma rebelião correspondente contra a segregação sexual. Nos campi universitários, os estudantes derrubaram as divisórias que separavam homens e mulheres nas cantinas e outras áreas [de convívio] social.

Poder

Tudo isso demonstra como cidadãos comuns estão ganhando confiança em seu próprio poder de se opor à repressão. Além disso, estamos vendo novas formas de protesto, por exemplo, “amameh parani”: os adolescentes se aproximam um mulah (4) por trás e derrubam seu turbante – alguns clérigos estão dizendo que não mais usam suas vestes religiosas quando andam pelas ruas.

Frente a isso, há todo tipo de rupturas e divisões no topo do regime. Por exemplo, Molavi Abdolhamid, um alto clérigo sunita (5) que dirige as preces da sexta-feira (6) na província de Sistão-Baluquistão, desafiou abertamente a propaganda da imprensa direitista iraniana, que insiste que não há protestos de massas. 

Dito isso, creio que temos de assinalar as limitações dos protestos atuais – a ausência de uma organização política séria, a falta de um programa, a falta de uma liderança com autoridade, etc.

Nessas circunstâncias, estamos presenciando claras tentativas por parte do Departamento de Estado dos EUA de fabricar, promover e inserir em cena seus testas-de-ferro. Os EUA, originalmente, estavam apoiando o filho do antigo Xá, mas isso não deu certo. Os estudantes e jovens que se manifestavam cantavam palavras de ordem contra o Xá e também contra o regime. Então, os EUA tentaram promover um apresentador da “Voz da América” que tinha apoiado o ex-presidente Akbar Rafsanjani e depois seu sucessor, Mohammad Khatami. Mas isso não funcionou tampouco. A seguir, foram os Mujahidin-e-Khalq (7) que foram promovidos, fundamentalmente pela Arábia Saudita. Aqui, novamente, há um pequeno problema. Não se pode promover uma denominação religiosa cujo líder usa [uma espécie de]  véu, cujos membros moram em Tirana (Albânia) e estão na casa dos 60 e 70 anos e que ninguém no Irã os leva a sério.

Na semana passada, a representante dos EUA nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, levou uma mulher nascida no Irã, Nazamin Boniadi, à Assembleia Geral. Ela vive na Califórnia, é cidadã britânica, mas supostamente representaria os manifestantes no Irã. Sua fama provém do fato de ser atriz de filmes no cinema e na TV. Foi também ex-namorada de Tom Cruise (ele a enviou para receber educação religiosa na Igreja da Cientologia (8)). Mas as pessoas no Irã não são estúpidas: assim que seu discurso na ONU foi reproduzido, elas pesquisaram no Google e ficaram espantadas pela estranha escolha da administração Biden! Ela só visitou o Irã uma vez…quando era adolescente.

Os EUA estão também promovendo Hamed Esmaeilion, alguém que, se entendi corretamente, perdeu sua esposa e sua filha quando o Irã, acidentalmente, derrubou um avião internacional ucraniano no voo PS752, em janeiro de 2020. Ele falou no protesto em Berlim e agora se parece a um dublê de [Volodymir] Zelensky, usando o mesmo de tipo de roupas e de corte de cabelo. Nada disso teria muita importância se a esquerda não estivesse seguindo todos esses pouco convincentes testa-de-ferro da OTAN/EUA (nesse sentido, pode-se detectar a ameaça de uma “revolução colorida”).

A posição saudita é clara – como é difundida ad infinitum em sua emissora televisiva, a TV Persa. A Arábia Saudita quer balcanizar o Irã em uma série de pequenas “nações” – ela certamente não deseja um vizinho poderoso. Se vocês assistirem comentaristas e analistas pró-sauditas, como eu fiz recentemente, em um fórum organizado pelo jornal Foreign Affairs, verão que sua versão da história recente do Oriente Médio é verdadeiramente bizarra. O Irã deveria ser responsabilizado por todas as guerras e atos de destruição na região. [O que ocorre] na Síria foi culpa do Irã. [O que ocorre no] Líbano foi culpa do Irã. O conflito Palestino-israelense é culpa do Irã. Não há nenhuma menção à guerra do Iraque, à al Qaeda e ao Estado Islâmico, que foram apoiados e financiados pelos emirados do Golfo Pérsico e não há nenhuma menção ao Iêmen, aos bombardeios da Líbia e da Síria, e assim por diante.

Evidentemente, a República Islâmica do Irã é responsável por muitas das atrocidades na região, mas tal apresentação unilateral e falsa dos eventos é absurda. O mais incrível foi que os políticos que estavam ouvindo esta análise pareciam aceitar essa visão distorcida da história. Não tenho certeza se isso foi por analfabetismo histórico ou somente completo oportunismo. A população xiita do Libano e da Síria precede a ascensão ao poder da dinastia Safávida no Irã (9), que trouxe a dominação do islã xiita – ela não começou com o Hezbollah (10) e Khomeini (11). A falsificação saudita da história é parte de uma narrativa que busca aumentar a tensão entre as muitas nacionalidades do Irã. Mas, até agora, nos protestos atuais, apesar de seus esforços incessantes, seu plano não deu certo: pelo contrário, há uma unidade sem precedentes entre as várias nacionalidades. Os militantes de esquerda no Irã falam de uma era “pós-nacionalista”.

Agora, Israel, novamente governado por Benjamin Netanyahu, por meio de seu discurso de “fazer a guerra” com o Irã, enquanto, no Iraque, é Muqtad al-Sadr (12) quem se preocupa abertamente com os protestos no Irã. Como o clérigo mais influente em Basra, ele está indignado pela “amameh parani”, assim como pelo desacato ao hijab – imaginem-se ele se espalhar a outros países? Assumo aqui que ele se refere ao Iraque, mas, até onde sei, o governo de Bagdá não impôs o uso obrigatório do hijab. No entanto, graças à maravilhosa invasão dirigida por Bush e Blair em 2003, há redutos xiitas policiados por forças governamentais em que as mulheres não podem andar sem um véu.

A classe trabalhadora

E em relação aos protestos da classe trabalhadora? Até agora, as ações dos trabalhadores foram esporádicas e dispersas. Como continuo recordando aos camaradas que dizem que a classe trabalhadora vai “chegar lá”, temos que ser realistas. Os trabalhadores iranianos não estão na mesma posição de fevereiro de 1979.  Um importante setor – os trabalhadores do petróleo – não são mais empregados de uma só entidade, a Companha Nacional de Petróleo do Irã. As políticas neoliberais do regime nos levaram ao ponto em que há centenas de companhias subcontratadas no setor de refino e inclusive na exploração de petróleo. Algumas dessas companhias privatizadas da indústria do petróleo estão associadas e inclusive são propriedade dos dirigentes dos Guardas Revolucionários. Portanto, a organização de protestos em nível nacional na indústria do petróleo é muito mais difícil.

Tendo dito isso, estamos presenciando vários protestos de trabalhadores, incluindo a ameaça de uma greve pelos empregados com contratos permanentes – provavelmente cerca de 30% do total da força de trabalho do setor [do petróleo]. Também há o caso dos trabalhadores petroquímicos que fizeram uma curta greve de protesto e os operários na siderúrgica de Ahvaz que expressaram sua oposição ao regime. Mas não estamos presenciando grandes greves, mas mais o fechamento de lojas e bazares (centros comerciais) na região curda e em outras cidades de província. Como vocês devem imaginar, o bazar não é exatamente uma força radical.

O sindicato dos professores está muito ativo e tem ganho apoio, ao passo que o pessoal médico também se viu envolvido – eles estão apontando para os terríveis ferimentos que as pessoas estão sofrendo das balas de borracha. Além disso, cerca de 600 acadêmicos e palestrantes nas universidades iranianas têm protestado contra a presença de forças militares nos campi e a prisão massiva de estudantes.  Eles estão pedindo a libertação de todos os estudantes.

A esquerda

E em relação à esquerda? Aqui eu creio que há um paralelo com a Ucrânia em várias formas. Por um lado, temos um setor da esquerda que diz que os EUA estão em declínio, ao passo que o Irã fez o melhor que pode para se adaptar ao acordo nuclear entre 2015 e 2018 – foi Donald Trump quem rompeu com ele. O Irã não tinha outra opção que a de se aliar com a China e com a Rússia, dizem eles, justificando isso ao dizerem que a China impõe uma taxa de exploração menor! Tais argumentos são apoiados por setores da imprensa dentro do Irã. Ao olharmos para websites como Tasnim e Fars News, a intelectualidade da direita, as facções conservadoras da República Islâmica estão dizendo a mesma coisa: “Não foi nossa escolha. O Ocidente não respeitou o acordo assinado por Obama e tivemos que aceitar novos aliados, como a Rússia e a China”. Os defensores desta linha incluem um sincero ex maoísta e seus seguidores, assim como  Rahe Tudeh (uma ruptura do partido “comunista oficial” o Tudeh). Também há os ativistas estudantis no país Irã que se autodenominam como o “eixo da resistência”, que surgiu nos campi durante a era Trump. Eles são certamente não muçulmanos e se consideram como sendo de esquerda.

É muito difícil dar percentuais, mas estimaria que a esquerda pró-Rússia e pró-China responde por menos de 5% da esquerda como um todo. A maioria da esquerda – possivelmente mais de 80% – é pró Estados Unidos e/ou pró-OTAN. Pode ser que não admitam isso, mas décadas de capitalismo neoliberal influenciaram sua política, quer se deem conta disso ou não. E aqui incluo as pessoas que declaram que se opõem a qualquer intervenção militar dos EUA, mesmo que seja óbvio pelo que dizem e escrevem e, realmente, pelas alternativas que propõem, que estão alinhados com os EUA.

Entre os autodeclarados marxistas, há todo um segmento de pessoas que, ao final das contas, acreditam que a classe trabalhadora do Irã é “atrasada”, que um período de democracia burguesa patrocinada pelos EUA, por mais que seja imperfeita, traria avanço na consciência. A única coisa que se pode dizer a esses grupos e indivíduos iludidos é: “Sim, funcionou no Iraque, não foi? Funcionou na Líbia. Portanto, vamos experimentá-la também no Irã!” Nessa categoria, eu incluiria uma grande parte das organizações que se autodenominam como de “esquerda”.

Mas há significativas diferenças entre tais grupos. Por um lado, há a maioria da Organização do Povo Iraniano (Fadaian), que é de fato próxima aos “reformistas” da República Islâmica. Eles dizem: “que não haja nenhuma violência por parte dos manifestantes”. Mas, onde está a violência por parte dos manifestantes? Infelizmente, os manifestantes não possuem armas; eles são agredidos, sofrem ataque com [vários tipos de] gás, são detidos, presos, assassinados.

O mais recente e mais imbecil argumento que vi – o que realmente demonstra o quão contagioso é esse tipo de idiotice, já que se dissemina entre os que se declaram como de “esquerda radical”, pode ser encontrado em um artigo no website de Rahe Kargar (13), que afirma que as manifestações no Irã deveriam ser sobre “a vida” e não sobre a morte, implicando que deveríamos evitar palavras de ordem como “Morte ao ditador!” (Khamenei) ou “Morte ao Xá” e creio que nesse caso o autor tenha ido tão à direita que sua principal preocupação com relação à palavra de ordem não seja com Khamenei, mas com o Xá.

Na realidade, quando a palavra de ordem “Morte a…” é utilizada no Irã, ela não significa literalmente que os mencionados sejam mortos. Ela significa “Abaixo” um sistema particular e seu regime. Então, qual é o erro nisso? Já que é de fato a palavra de ordem amplamente escutada dentro do país, por que deveríamos nos autocensurar e somente falar sobre “vida”?’ Como poderíamos dizer isso, quando a “vida” não é exatamente boa para a grande maioria da população iraniana, que está sofrendo pela alimentação inadequada e pela falta de medicamentos. E, aparentemente, deveríamos não falar sobre a derrubada de “todas” as facções do regime islâmico. Esse é o tipo de sentimento estúpido, passivo e em direção à direita que está ganhando apoio quando se observa a esquerda iraniana.

Creio que a maioria das variadas quatro ou cinco facções da minoria da Fadaian, junto com várias facções dentro do Partido Comunista Operário, assim como ambas as facções da Rahe Kargar, estão ecoando a mesma mensagem pró-Ocidental, moderada, liberal: deixem-nos permanecer nos limites da palavra de ordem “mulheres, vida, liberdade”.

Felizmente, não sou a única que escreveu sobre os limites desta palavra de ordem e devo enfatizar que a tendência de direita que descrevi está limitada em geral à liderança, ao passo que a maioria dos militantes se opõem a essas visões. No entanto, seus websites, entrevistas televisivas e artigos refletem a posição da liderança – contra a qual a maioria precisa se unir, pois, se o pior ocorrer, os que defendem essas visões apoiariam uma intervenção estrangeira.  Eles apoiariam [a imposição] de mais sanções. Tudo isso se origina parcialmente da desesperança após tantos anos de exílio, parcialmente do triunfo da propaganda liberal ocidental e também da mais pura ignorância sobre a situação global atual.

Em Hopi (Hands Off the People of Iran, “Não toquem no povo do Irã”, em tradução livre), mantivemos duas palavras de ordem: “Não às intervenções imperialistas” e “Não à República Islâmica”. Tenho o prazer de relatar que membros dos grupos que mencionei acima, que estão com muita raiva pelo giro à direita de suas próprias lideranças, estão, em crescente número, entrando em contato e pedindo para se unir a Hopi. Estamos em uma posição única para intervir em termos de solidariedade com as manifestações atuais, porque apoiamos os chamados para a derrubada revolucionária da República Islâmica, ao mesmo tempo em que expomos as intermináveis tentativas pela administração Biden e seus aliados na Europa no sentido de fabricar um estado alternativo no exílio, junto com suas estúpidas tentativas de produzir líderes pró-americanos para as manifestações iranianas.

Quanto ao regime de Teerã, a mudança pelo alto será muito diferente da que houve no Iraque ou, me atrevo a dizer, na Líbia. Com a exceção de Israel, ninguém está falando em guerra ou mesmo em uma ação militar limitada, tais como ataques aéreos. As chamadas “sanções com alvos definidos” tiveram pouco efeito, exceto para enriquecer os que estão no poder e empobrecer os iranianos comuns -e o mesmo com a propaganda emitida pelos meios de comunicação dos EUA, Reino Unido, Arábia Saudita, etc.

Pós-escrito

Após minha palestra em 12 de novembro, na qual se baseia este artigo, testemunhamos uma escalada nas manifestações e protestos nos campi universitários e em cidades ao longo do Irã. Em 16 de novembro, uma notícia falsa de que a República Islâmica estaria planejando executar 15 mil manifestantes viralizou no Instagram – importantes figuras como Justin Trudeau ajudaram a espalhar essas notícias falsas.

Qualquer que seja o resultado dos atuais protestos, nos próximos meses, nós, de Hopi , necessitaremos organizar a solidariedade pela base, incluindo a dos sindicatos. Precisamos organizar palestras, seminários e debates que foquem na situação global atual, incluindo as ilusões sobre as relações econômicas da China com os chamados países em desenvolvimento. Precisamos explicar também as deficiências da democracia liberal, incluindo o estado atual da “igualdade” das mulheres em países capitalistas avançados. Os jovens iranianos têm muitas ilusões sobre o “estado de direito” e a sociedade civil ocidental, portanto, precisamos expor as profundas deficiências de tais modelos, ao mesmo tempo em que enfatizamos nossa oposição ao autoritarismo na Rússia, China, etc.

Teremos que lidar com as fake news – podemos e devemos ajudar os camaradas no Irã a combater as limitações de acesso às redes impostas pelo regime, assim como auxiliá-los a esconder sua identidade e criptografar suas mensagens, a fim de protegê-los dos olhares e ouvidos indiscretos das forças de segurança do regime.

Tudo isso requer ativistas voluntários e espero que os camaradas que lerem este artigo nos indiquem como poderiam ajudar.

Texto original.

(Este artigo foi publicado em Rebuild on solid foundations – Weekly Worker  e se baseia na palestra de Yassamine que está neste vídeo)

Notas
1. Líder supremo atual do estado iraniano
2.  Nome dados aos monarcas da Pérsia e a partir de 1935, do Irã. O último deles, Reza Pahlevi, foi derrubado pela revolução democrática de 1979.
3. O hijab é o véu que cobre os cabelos e o corpo das mulheres muçulmanas.
4. Clérigo muçulmano
5. Os muçulmanos possuem duas principais denominações, os sunitas (cerca de 87-90% do total) e os xiitas (cerca de 10-13% do total). No Irã, essa proporção é invertida. 
6. O dia santo semanal dos muçulmanos.
7. Os Mujahidin-e-Khalq foram um grupo com componentes maoístas que combateu a ditadura do Xá, foi perseguido pelo regime dos aiatolás e, nos anos 1980, foi obrigado a se exilar. A partir daí teve uma evolução errática, tendo se aliado ao regime iraquiano de Sadam Hussein na guerra contra o Irã e depois fez acordos com os EUA. Em 2012, os Mujahidin-e-Khalq foram retirados da lista de organizações terroristas pelo governo americano. Atualmente, eles possuem bases em Tirana, na Albânia.
8. A Igreja da Cientologia é uma seita religiosa, proibida em vários países europeus.
9.  Corrente político-religiosa xiita libanesa
10.   Dirigente xiita do regime iraniano após a queda do Xá
11. A dinastia Safávida reinou no Irã entre 1501 e 1736 e estabeleceu a conversão forçada da maioria da população para a denominação xiita da religião muçulmana.
12. Muqtad al Sadr é um clérigo xiita iraquiano que teve grande influência na política do país nas últimas décadas por meio de um movimento político-militar, o chamado Exército Mahdi. Desde agosto de 2022 anunciou sua retirada da política iraquiana.
13. Nome iraniano da Organização de Operários Revolucionários do Irã, fundada ao final dos anos 1970 e que teve que se exilar pela repressão do regime.
Marcado como:
irã / islã / prostestos