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BRASIL

Direita, mercado e imprensa pressionam o governo. É preciso resistir!

Henrique Canary, de São Paulo (SP)
Lula, Janja, Dona Lu e Alckmin na posse em Brasília
Scarlett Rocha

A direita não dorme em serviço. Mal acabou a festa da posse de Lula, com toda sua simbologia e discursos bastante à esquerda, e os agentes do mercado, secundados pela grande imprensa em com ecos dentro do próprio governo, já começam a pressionar para impor ao novo mandatário sua agenda política e econômica.

O primeiro fato que chamou a atenção essa semana foi a desautorização, por parte do ministro da Casa Civil Rui Costa, da fala do novo ministro da Previdência Carlos Lupi sobre a necessidade de rever os efeitos da contrarreforma da Previdência, promovida por Bolsonaro em 2019. Durante sua cerimônia de posse, Lupi declarou: “Quero formar uma comissão quadripartite, com os sindicatos dos trabalhadores, os sindicatos patronais, dos aposentados e com o governo. Precisamos discutir, com profundidade, o que foi essa antirreforma da previdência”. Lupi expressou tão somente o que o próprio Lula já havia declarado diversas vezes durante a campanha eleitoral, inclusive em momentos bem documentados, como os debates na TV aberta. A proposta de Lupi, aliás, é bastante moderada, já que inclui uma comissão com representantes de vários setores econômicos e sociais, alguns dos quais apoiaram a reforma da Previdência, como os sindicatos patronais. Ainda assim, a fala do novo ministro não agradou nem o mercado, nem a imprensa, nem alguns integrantes do próprio governo, que logo se mobilizaram para minimizar o ocorrido, desautorizando Lupi de fato. 

Durante a cerimônia de posse do vice-presidente Geraldo Alckmin como ministro do Desenvolvimento, o ministro da Casa Civil Rui Costa afirmou: “Só para tranquilizar, eu sei que todo mundo tem direito à opinião, mas, neste momento, não há nenhuma proposta de reforma da previdência ou coisa semelhante”. Segundo a imprensa, nessa questão, Rui Costa conta com o aval do próprio Lula, e uma melhor sintonia entre membros do governo deve ser tema da primeira reunião ministerial, marcada para esta sexta-feira (06).

A outra frente de batalha que a direita abriu, claro, é a econômica. O mercado segue nervoso com o teor das declarações de Lula e de vários de seus ministros sobre colocar o povo novamente no orçamento da União. Para a Faria Lima, um governo só é bom se serve unicamente ao interesses do mercado, não importando nem um pouco para esses “agentes” que 33 milhões de pessoas passem fome no país, desde que não se mexa no estúpido (palavras de Lula) teto de gastos.

O fato é que o mercado resolveu fazer sua primeira guerrinha particular contra o governo e o dólar subiu por três dias consecutivos. Para o bem da verdade, é preciso dizer que essa alta teve também razões internacionais, como uma certa indefinição por parte do FED (Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos) sobre a política de juros norte-americana para o próximo período. De qualquer forma, o mercado resolveu usar essa alta para chantagear o governo e o dólar fechou o dia 03 em R$ 5,452, maior índice da moeda desde junho de 2022. Junto com a alta do dólar, veio a queda da bolsa, que fechou o dia 3 com 104.165,74 pontos, uma baixa de 2,08%.

A pressão teve resultado e o mercado conseguiu uma vitória tática importante: arrancou do indicado para ser o novo presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, uma declaração de que o governo não interviria no preço dos combustíveis. Segundo Prates, a nova política de preços da empresa terá referência internacional, sendo papel do governo apenas estabelecer os parâmetros gerais e criar o contexto necessário. A fala agradou o mercado, que, em sua infinita benevolência, resolveu nos agraciar com a estabilidade do dólar, que fechou o dia 04 estável em relação ao dia 03.

Mas o mercado e a direita não trabalham sozinhos. Todo o tempo são auxiliados pela grande imprensa, que não cessa a ladainha sobre o “perigo do descontrole”, a “gastança”, o “desequilíbrio”, a “irresponsabilidade” e outras baboseiras que ninguém aguenta mais. Até o ex-ministro Mailson da Nóbrega, um dos piores ministros da economia que esse país já teve, responsável pela hiperinflação do final dos anos 1980, foi ressuscitado pela imprensa para dar declarações sombrias e aterrorizar as pessoas sobre o deve e o que não deve ser o governo Lula.

O povo votou em Lula para ter comida no prato, saúde, educação e direitos devolvidos. Esse deve ser o compromisso maior do governo. Mas o mercado não aceita isso. Exige de Lula um estelionato eleitoral. Exige que Lula rasgue suas promessas de campanha em benefício de meia dúzia de especuladores da B3, que apoiaram Bolsonaro até o fim e agora estão irritadinhos porque acham que seus lucros infinitos estão ameaçados. E nem é verdade que estejam. Eles vão continuar lucrando. O problema é que a elite brasileira é tão mesquinha que não pode ver nenhum ganho real do povo que já o entende como uma ameaça ao seu modo de vida.

A eleição de Lula, sua cerimônia de posse e algumas primeiras medidas do governo encheram o coração do povo de esperança. Essa deve ser a base da governabilidade. A comissão que lhe passou a faixa presidencial – esses devem ser seus aliados preferenciais. É preciso combater a B3, a Faria Lima, a grande imprensa e a direita que se aproxima agora do governo apenas para melhor traí-lo depois. É preciso entrar na guerra, retomar as ruas e impor na luta a nossa agenda, que é a agenda do verdadeiro progresso, da retomada de direitos e da justiça social.