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BRASIL

Múcio minimiza acampamentos golpistas

Henrique Canary, de São Paulo (SP)
Agência Brasil

Ministro da Defesa, José Múcio

O novo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, minimizou ontem a importância dos acampamentos golpistas em frente aos quarteis e defendeu uma política de não intervenção no caso, até que as aglomerações cessem por si mesmas com o tempo. A declaração foi dada ontem (02) em entrevista coletiva logo após a cerimônia de posse no Ministério da Defesa.

Perguntado sobre o assunto, Múcio declarou: “Eu falo com autoridade porque tenho parentes lá. No de Recife, tenho alguns amigos aqui [em Brasília]. É uma manifestação da democracia. A gente tem que entender que nem todos os adversários são inimigos, a gente tem até inimigos correligionários. Eu acho que daqui um pouquinho aquilo vai se esvair e chegar a um lugar que todos nós queremos”.

Questionado sobre os acampamentos de bolsonaristas serem uma incubadora de terroristas, Múcio novamente adotou um tom conciliador: “A gente precisa ter cuidado para, em nome dele [do empresário acusado de planejar explodir uma bomba em Brasília], não condenar os que foram pacíficos. Esses casos são isolados. Aquele que estava planejando um atentado no aeroporto vai sofrer processo e responsabilizado pelo dano que fez”.

Múcio ressaltou ainda que a cerimônia de posse de Lula demonstrou que não existe nenhum risco de segurança envolvendo os acampamentos, já que “cada um respeitou o seu espaço”.

É verdade que a declaração de Múcio se dá num momento de relativo arrefecimento dos acampamentos golpistas, mas ao mesmo parece haver também uma radicalização dos elementos restantes, que, numa típica demonstração da psicologia fascista, tentam “adivinhar a vontade dos líderes” e partem para o terrorismo aberto ou clandestino. Os acampamentos golpistas, que foram montados, em geral, em áreas controladas pelas Forças Armadas, contam com a conivência dos chefes militares, que, segundo relatos da imprensa, têm se articulado junto ao novo ministro da Defesa para evitar uma resolução baseada no uso da força. Ou seja, há claramente um uso dos acampamentos por parte dos militares como forma de pressão sobre o novo governo.

Lembremos que o acampamento golpista em frente ao QG do Exército no Distrito Federal forneceu o material humano necessário para a selvageria desenfreada ocorrida em Brasília no dia 12 de dezembro, logo após a diplomação de Lula e Alckmin. Também foi daí que saiu o terrorista George Washington de Oliveira Sousa, empresário bolsonarista de 54 anos, que planejava explodir um caminhão de querosene no aeroporto de Brasília.

A tarefa de Múcio não é fácil. Todo mundo quer paz e ninguém espera que o novo ministro da Defesa inicie uma guerra civil aberta contra os bolsonaristas incrustados nas Forças Armadas. No entanto, suas declarações parecem resvalar em um permissivismo exagerado, dissonante até mesmo com a postura de outras instituições de Estado que têm sido mais duras contra o golpismo, como o TSE e mesmo parte da imprensa liberal. Seria de se esperar que, pelo menos no terreno das declarações, Múcio adotasse uma postura mais dura. Ao invés disso, preferiu classificar os acampamentos como “democráticos”, o que só incentiva que permaneçam intocados e possam vir até mesmo a crescer, a depender a situação política do país.

A experiência da anistia para golpistas já foi feita no Brasil. Deu no que deu: o fascismo se manteve vivo no interior das Forças Armadas e voltou à tona com tudo no governo Bolsonaro, com sua ignorância, incompetência, seu entreguismo, seu espírito anti-povo e agora uma novidade – seu negacionismo anticientífico. O tosco Pazuello, o violento Braga Netto e o patético Mourão são seus representantes mais legítimos.

É preciso desbolsonarizar o Estado brasileiro, o que passa, inevitavelmente, por desbolsonarizar as Forças Armadas. Se quisermos democracia para sempre, temos que transformar a derrota eleitoral que sofreram em uma derrota definitiva de suas ideias e de seu projeto, de forma que a serpente do fascismo nunca mais levante a cabeça. Para isso, devemos adotar a palavra de ordem simples, ecoada em uníssono pela multidão durante a cerimônia de posse de Lula: sem anistia!