Lula empossado! Com luta e mobilização, é hora de mudar o Brasil!

Henrique Canary, de São Paulo (SP)
Tânia Rego/Agência Brasil

Cerimônia de posse do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto

Confirmou-se o que todos nós esperávamos: a posse de Lula foi um enorme sucesso político. Desde quinta-feira, quando as primeiras delegações começaram a chegar a Brasília vindas de diversas regiões do país, já estava evidente que dezenas de milhares de pessoas participariam da atividade, transformando uma cerimônia em geral bastante previsível e protocolar numa verdadeira festa popular e numa importante manifestação política. Segundo o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), a lotação máxima previamente estabelecida de 40 mil pessoas na Praça dos Três Poderes foi atingida às 14 horas, fazendo com que o acesso ao local fosse limitado logo em seguida. Não há ainda dados confiáveis sobre o número total de pessoas na Esplanada dos Ministérios, mas algumas imagens áreas mostram as 4 pistas do eixo monumental totalmente lotadas. De qualquer ângulo que se olhe, foi uma enorme e animada multidão.

E não se tratou apenas de números, mas do que essas pessoas vinham comunicar: trabalhadores, estudantes, movimentos sociais, indígenas, movimentos contra a opressão, sindicatos, gente que havia participado da primeira cerimônia de posse em 2003 e que agora revisitava a capital federal com alma lavada por ter resistido todos esses anos e finalmente vencido o fascismo.

Do ponto de vista político, a cerimônia de posse teve três momentos mais importantes e que merecem ser destacados.

Discurso frontal contra o fascismo

O primeiro foi o discurso de Lula no Congresso Nacional. Em um pronunciamento bastante enfático, Lula conseguiu abarcar uma série de temas bastante caros ao povo em geral. Em primeiro lugar, e talvez o mais interessante, se colocou como representante da classe trabalhadora, o que foi enfatizado mais de uma vez. Chamou o teto de gastos de “estupidez” e prometeu acabar novamente com a fome no país, “colocando o povo no orçamento”; propôs a construção de uma economia sustentável com reindustrialização, combinada com enfrentamento à crise climática. Foi duro com os golpistas, dizendo que não era hora de revanchismos, mas que aqueles que cometeram crimes deverão enfrentar o rigor da lei; lembrou a necessidade de resgatar direitos sociais básicos como zerar a fila do INSS, conceder reajuste no salário mínimo acima da inflação e fortalecer o SUS. Prestou solidariedade às vítimas da COVID-19 e disse que pretende rever a legislação trabalhista para garantir direitos básicos retirados dos trabalhadores com as últimas contrarreformas. Declarou também que iria revogar os decretos que fizeram explodir a circulação de armas no país e chamou o inimigo por seu verdadeiro nome: fascismo, que corretamente igualou à barbárie.

Faixa presidencial com a cara do povo

O segundo momento foi a própria passagem da faixa presidencial. Havia uma grande expectativa, já que Bolsonaro se recusou a cumprir a tradição e fugiu do país no penúltimo dia de mandato. Não fez nenhuma falta. Cumpriram a tarefa maravilhosamente bem Francisco, um menino negro de 10 anos, nadador premiado e morador de Itaquera, Zona Leste de São Paulo; Wesley Rocha, 36 anos, metalúrgico de Diadema; Murilo Jesus, 28 anos, professor de português premiado com a Bolsa Fulbright e morador de Curitiba; Jucimara Santos, cozinheira de Maringá; Ivan Baron, jovem potiguar com paralisia cerebral; Flávio Pereira, 50 anos, artesão de Pinhalão, Paraná; o histórico cacique Raoni e Aline Sousa, 33 anos, catadora do Distrito Federal. Um simbolismo daqueles de abalar as mais sólidas estruturas emocionais. Foi o primeiro momento em que o próprio Lula se emocionou.

Tarefa urgente: acabar com a miséria

O terceiro momento foi o discurso no Parlatório, aguardado com grande ansiedade por ser tradicionalmente menos protocolar e mais político, e feito diante do povo. Lula não decepcionou. Lembrou a perseguição política de que foi vítima, agradecendo a todos que participaram do Acampamento Lula Livre, denunciou longamente a miséria, a fome e a desigualdade no país (foi o segundo momento em que se emocionou) e novamente chamou as coisas pelos seus nomes: golpe contra Dilma Rousseff e genocídio (nesse momento o povo começou a gritar “Sem anistia!”). Prometeu a reedição do programa Minha Casa Minha Vida e romper com o isolamento internacional a que o Brasil foi submetido na gestão Bolsonaro. Mas, novamente, o centro de seu discurso foi o tema da desigualdade e combate à fome, que Lula prometeu transformar no centro de sua atividade pelos próximos quatro anos.

Em geral, o discurso de Lula no Parlatório foi bastante à esquerda e não sem razão enche de esperança o coração daqueles que têm um mínimo de consciência social. Mas uma debilidade deve ser apontada: Lula falou em “mutirão contra a desigualdade” e detalhou: trata-se de unir a todos (empresários, trabalhadores, políticos etc.) no combate à fome e à miséria no país. O problema é que essa experiência já foi feita e a elite brasileira se revelou incapaz de aceitar fazer uma mínima concessão às classes subalternas. Se há algo que a história recente do país mostrou é que o “mercado” prefere entregar o país ao fascismo do que fazer reformas sociais mínimas. É por isso que grandes empresários, Lira e os partidos de direita não são nem podem ser aliados na luta contra a fome e a miséria. É preciso apoiar com todas as forças as ações de Lula para acabar com a desigualdade no país. Mas é preciso fazer isso com a consciência de que a direita não é uma aliada, que vamos ter que enfrentar seus interesses. O melhor caminho para a governabilidade não são as negociações com o centrão e a Faria Lima, mas as reformas sociais progressivas de alto impacto.  E isso precisa ser feito, queiramos nós ou não, contra os interesses do grande capital.

De um modo ou de outro, a posse de Lula e seus primeiros discursos confirmam totalmente a correção da postura adotada pelo PSOL: garantir a governabilidade de Lula contra as ameaças da extrema-direita e apoiar suas medidas progressivas, lutando para ampliá-las o máximo possível. Como sempre, o PSOL estará nas ruas para fazer da mobilização popular a protagonista na luta antifascista e por mudanças no Brasil.