Este breve texto tem o objetivo de examinar criticamente os movimentos e escolhas de Flávio Dino, ministro da justiça escolhido por Lula. Nessa perspectiva, polêmicas que surgiram em torno disso foram exageradas ou, de fato, refletiram seu real significado?
Dino move as peças no tabuleiro…e assusta
Lula venceu a eleição mais emblemática da história recente do país. Deixou para trás o candidato fascista, apoiado por correntes militares poderosas, grupos empresariais fanáticos, vertentes religiosas intolerantes e anticomunistas confessos. Graças, sobretudo, aos estratos mais empobrecidos da classe trabalhadora, Lula conquistou um terceiro mandato presidencial. Mais do que antes, a esperança venceu o medo
Agora, em meio às primeiras batalhas no parlamento e de focos fascistas em frente aos quartéis, os ministérios começam a tomar forma. Nesse processo, chama a atenção decisões tomadas por Flávio Dino na montagem da equipe do ministério da justiça. Primeiro, ele indica Edmar Camata – um lavajatista furioso – para encabeçar a polícia rodoviária federal, e, após inúmeras pressões, recua de sua decisão delirante. Achando pouco, aponta para dirigir a secretaria de políticas penais um militar envolvido na chacina do Carandiru: Nivaldo César Restivo. Os antigos esqueceram? Os novos não sabem? Há toda uma literatura a respeito. Há um filme brasileiro bem conhecido. Há, por fim, uma impressionante canção do Caetano Veloso: “111 presos/quase todos pretos…”.
Considerando os fatos, não há como não questionar: é só trapalhada mesmo? O que leva um homem são a deliberar de modo tão intempestivo? São coisas tão inacreditavelmente absurdas que cabe ainda indagar: de que lado você dança, Dino?
O país pegando fogo, o bolsonarismo arrotando golpismo, os neoliberais pregando a aplicação do programa derrotado nas urnas, as pessoas ansiosas pela posse de Lula, e um dos homens mais experientes da equipe toma medidas temerárias uma atrás da outra? Aonde ele quer chegar? Ou não quer chegar a lugar algum? A maioria do povo derrotou a alternativa golpista, a maioria do povo confia em Lula, e Dino precisa parar de brincar com fogo. Nessas brincadeiras, perdem o povo e a democracia política ameaçada pelos fascistas – tanto os de dentro como os que estão nas portas dos quarteis.
A maioria do povo elegeu Lula para enterrar o golpismo, o lavajatismo e a violência contra os pobres, dentro e fora dos Carandirus. Ainda há tempo de Flávio Dino compreender essas obviedades. Mas esse tempo se mede em dias, ou talvez em horas. Como diziam os antigos: o tempo urge.
É necessária a crítica?
Há pessoas bem-intencionadas que julgam essa crítica desnecessária, pois as coisas vão se resolver naturalmente. Penso diferente e, nesse sentido, tendo a concordar com Luís Inácio Lula da Silva: “Se vocês não cobram, a gente pensa que está acertando”. Ora, se a gente pensa que o Dino não está acertando, é preciso acionar a crítica, e nela não há nada de exagerado. É preciso seguir cobrando. Lava-Jato e Carandiru, nunca mais!
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