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BRASIL

Flavio Dino erra ao nomear o lavajatista Edmar Camata novo chefe da PRF

Escolha de um bolsonarista para comandar a PRF, feita por Flavio Dino, foi questionada por parlamentares do PT, como Leonel Radde, que também é policial antifascista

Henrique Canary, de São Paulo (SP)
Reprodução/Redes sociais

O futuro ministro da Justiça Flavio Dino anunciou nesta terça-feira (20) uma série de nomes para cargos importantes de chefia em seu ministério e outras estruturas do Poder Judiciário. Entre as nomeações, a que mais chamou a atenção foi a do policial rodoviário Edmar Moreira Camata para chefiar a Polícia Rodoviária Federal. Camata assumirá o cargo em janeiro, em substituição ao bolsonarista Silvinei Vasques, réu por improbidade administrativa exonerado ontem.

Como todos lembram, a gestão de Vasques foi marcada por uma série de crises e episódios lamentáveis envolvendo a PRF, entre os quais estão o assassinato a sangue frio de Genivaldo de Jesus Santos, morto por agentes da Polícia Rodoviária Federal em uma câmara de gás improvisada, em Sergipe, em maio deste ano, por dirigir uma moto sem capacete; a participação na Operação Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, que resultou na morte de 25 pessoas e não tinha nada a ver com as prerrogativas da PRF; as blitz que visavam impedir a chegada de eleitores do nordeste aos locais de votação durante as últimas eleições presidenciais e a conivência com os bloqueios de estradas organizados por bolsonaristas após a derrota de Bolsonaro. Nesse sentido, claro, é um alívio a notícia da saída de Vasques.

Segundo Flávio Dino, a nomeação de Camata obedece a critérios meramente técnicos. “É uma pessoa que tem amplo conhecimento da instituição, uma vez que já a integra há 18 anos e, ao mesmo tempo, tem experiência de gestão”, declarou. No entanto, a nomeação do policial capixaba para um cargo tão importante levanta algumas questões problemáticas. Seu currículo não se diferencia muito do currículo de inúmeros policiais que, ao longo de sua carreira, acabaram se especializando em áreas específicas da administração pública. Ingressou na corporação em 2006 e desde 2019 está à frente da Secretaria de Controle e Transparência do Espírito Santo. Cursou Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e é mestre em Políticas Anticorrupção pela Universidade de Salamanca, na Espanha. Até aí tudo bem. O problema começa quando analisamos suas preferências políticas.

Camata é fã incondicional de Sergio Moro e Deltan Dallagnol, com inúmeras postagens nas redes sociais exaltando o ex-juiz e o ex-procurador, e descrevendo alguns encontros pessoais com essas figuras. Aliás, a defesa da Lava Jato foi o mote de sua tentativa de se eleger Deputado Estadual nas últimas eleições: “Para a Lava Jato não acabar” era o seu slogan de campanha pelo PSB, mesmo partido de Flávio Dino. Como se isso não bastasse, Camata comemorou a prisão de Lula em 2018: “O fato, hoje, é que Lula está preso. Também estão presos Cabral, Cunha, Geddel, Vaccari, André Vargas, Henrique Alves, Palocci, Gim Argelo… todos presos. Todos inocentes? Todos sem provas? Lula não foi o primeiro. Ao contrário, sua prisão foi cercada de precauções, para muitos, desnecessárias”, escreveu em 13 de abril daquele ano. Camata é ainda um dos fundadores do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral), uma ONG que supostamente se dedica a impulsionar ações contra a corrupção, mas que de fato não passa de mais uma organização anti-esquerda. Ele participou também ativamente do movimento “Unidos contra Corrupção” e da campanha “10 Medidas Contra a Corrupção”, impulsionada por Deltan Dallagnol ao longo dos últimos anos. Por fim, Edmar Camata vem de uma família tradicional na política. Ele é sobrinho do ex-senador e ex-governador do Espírito Santo Gérson Camata.

Diante do currículo político e histórico de Camata, devemos concluir que sua nomeação por Flávio Dino para o mais alto cargo da PRF é uma péssima escolha. Tenta-se, novamente, apaziguar uma corporação já completamente tomada por bolsonaristas fanáticos que não se detém diante da lei para beneficar Bolsonaro. É a mesma lógica usada para nomear José Múcio Monteiro ministro da Defesa: acalmar os ânimos, transmitir um recado claro de que ninguém será punido por seus crimes. Mas isso é um erro.

O Estado brasileiro precisa ser desbolsonarizado. Sem isso, os fascistas estarão dentro das estruturas governativas boicotando e conspirando contra o governo. E precisamos muito que esse governo dê certo! Para isso, é preciso promover uma limpa de cima abaixo nas estruturas administrativas. Nomear uma figura com evidentes relações com o bolsonarismo como Edmar Camata não ajuda em nada a apaziguar o país porque o recado dado é o de que conspirações e crimes podem acontecer livremente porque não serão investigados nem punidos. É verdade que precisamos de paz no Brasil. Ninguém mais do que a esquerda lutou e luta por essa paz. Mas a paz que precisamos deve ser baseada na memória e na justiça, não no esquecimento e no perdão indiscriminado. Memória por Genivaldo, memória pelas vítimas da Vila Cruzeiro, justiça pelo constrangimento contra eleitores nordestinos, justiça pela conivência com os terroristas das estradas. Infelizmente, a nomeação de Edmar Camata vai exatamente no sentido oposto de tudo isso.

Twitte do deputado estadual eleito pelo PT-RS e policial antifascista, Leonel Radde, questiona a escolha de Dino