O Catatau entrou na minha caminhada em 2013, momento que vivia meu primeiro grande desafio político e também um período de amadurecimento individual, tomada de decisões pessoais que impactam a minha vida até hoje…
De lá pra cá, através da nossa organização, ele acompanhou as principais decisões políticas que tomei.
Há quase uma década, no auge dos seus 50 anos, conhecemos um dirigente que no dia a dia não se diferenciava em quase nada de nós jovens aos 20 e poucos.
É que os grandes enfrentamentos da luta de classe o rejuvenesciam. Todos nós parávamos pra ouvir as suas histórias, capazes de transformar tragédias políticas em contos de ação ou, na maioria das vezes, em comédias hilárias.
Naquele momento, ele analisava o que ocorria nas ruas, com esperança e empolgação, mesmo diante das dificuldades evidentes que a esquerda revolucionária enfrentava pra se inserir ou mesmo compreender o processo. E sobretudo, diante das tensões que cresciam no interior dos partidos e organizações do movimento de massas.
A cada intervenção apaixonada e altamente qualificada que ele desenvolvia, fui entendendo que a confiança na classe trabalhadora e a convicção na força da sua ação era o que encantava o pequeno samurai.
O seu brilho nos olhos contagiava quem estava ao redor. Não foram poucas as vezes em que lágrimas caiam ao falar de feitos grandiosos das massas a milhares de quilômetros de distância da gente. Aquele japa do interior de São Paulo ensinou a jovens negros, brancos, mulheres, lgtbs, que na nossa diversidade éramos também um corpo só.
A experiência dele com a nossa jovem coluna de quadros o fez ter o “privilégio” de experienciar intensamente os três últimos grandes picos de mobilização social no Brasil: a luta contra a ditadura, o Fora Collor e o Junho de 2013. Acúmulo raro, por isso, valioso.
No entanto, quem mais ganhou fomos nós, obviamente. Tenho certeza que quem passou pelo seu caminho naquele período jamais esqueceu não apenas dos ensinamentos políticos e teóricos, mas dos valores morais que ele nos transmitiu. Sei que ele tinha orgulho em saber que a maior parte daqueles quadros até hoje integra a linha de frente da nossa organização.
O Cata me fez aprender a ter apego as ideias grandiosas e não ter medo dos desafios por maiores que eles sejam. Se a realidade nos surpreende e mostra que estamos equivocados, “gira tudo”, “reorienta o timão”, “luta pelo que tu acredita”, “coragem pra assumir a direção e conduzir o coletivo”. Pra isso, a força do exemplo sempre foi
necessária.
Me pergunto se os tempos que vivemos, de hiperconectividade e hiperexposição de tudo e todos, vão permitir que formemos militantes tão convictos da necessidade da discrição como o Cata. Ele era um invisível que movia montanhas! Na guerra, a retaguarda que empurrava e ao mesmo tempo dava a guarida ao nosso exército.
Não será fácil seguir sem o Cata. Sua partida é prematura e deixa um vazio imensurável. No entanto, há muito o que compreendermos através das ideias que ele tentou sistematizar recentemente.
O Cata deixou uma trilha pra seguirmos. E, nesse momento, creio que a pegada mais relevante é a que frisa a necessidade de estarmos juntos, de sermos pacientes uns com os outros, solidários com nossos irmãos e irmãs de classe, honestos com as ideias que defendemos, sempre vislumbrando o horizonte socialista.
Só tenho a agradecer por toda experiência compartilhada. Valeu demais, Cata.
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