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BRASIL

A vitória tática de hoje é a derrota estratégica de amanhã 

Tales de Carvalho "Braguinha", de São Paulo (SP)
José Cruz/Agência Brasil

Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. recebe o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva

O PT anunciou na última terça-feira, 29, apoio a Arthur Lira para a sua reeleição à presidência da Câmara dos Deputados.

Não é preciso ir muito longe para recordar o papel que Lira cumpriu (e ainda cumpre) de base de sustentação do bolsonarismo e, principalmente, de grande articulador do escandaloso orçamento secreto (tão atacado corretamente pela esquerda).

Dois argumentos contra a reeleição de Arthur Lira

Na defesa de apoio à candidatura de Lira, parte da militância que esteve engajada na campanha de Lula sustenta que o apoio a Lira é um “mal necessário” para garantir “governabilidade” e que seria fundamental para garantir os primeiros passos do futuro governo.

Alguns vão ainda mais longe e chegam a colocar a culpa no povo, afinal foi o povo que elegeu o Centrão, portanto não resta outra alternativa a Lula ao PT, senão ceder e apoiar Lira.

Se Lula e o PT forem ceder às chantagens do Centrão, terão uma vida curta e infernal. Não é possível que aqueles que, há poucas semanas, chamavam Bolsonaro de “boneco do Centrão”, já cedam tudo diante da primeira chantagem.

Isso vai dificultar que Lula cumpra as promessas e o programa que o próprio apresentou, o que trará, num curtíssimo prazo, desmoralização e dispersão para a base social que foi linha de frente no duro combate eleitoral contra Bolsonaro.

A segunda questão é que colocar a culpa no povo é, além de algo estupido (como se também não fizéssemos parte do povo), ignorar que cada vez que acordos do tipo “toma lá da cá”, como estes, são feitos, a tese de que todos os “políticos são iguais” ganha força e logo uma parcela da população que votou nos candidatos de esquerda passa a refletir: ”afinal se todos os políticos são iguais, por que  votar em parlamentares de esquerda?”. Portanto, não há dúvidas que quem ganha com este pensamento é o Bolsonarismo e a extrema direita

Neste sentido, é fundamental compreender que ainda que se tenha uma pequena vitória tática com aprovação da PEC quem terá a vitória estratégica é Lira e a extrema direita que continuará nadando de braçada e se beneficiando da tese de que todos os políticos são iguais, além, é claro, de usufruir da prorrogação do orçamento secreto e outros instrumentos que foram fundamentais para entre outras questões fortalecer o governo Bolsonaro.

É muito importante que Lula e o PT revejam sua posição

O PSOL corretamente aprovou que não irá apoiar Lira e fez um chamado às forças progressistas a construir outra alternativa.

Com essa posição o PSOL pode contribuir um papel fundamental nesta nova conjuntura aberta com a eleição de Lula, sendo linha de frente contra qualquer ação golpista dos bolsonaristas, bem como defendendo todas as medidas progressivas que venham do governo e dos movimentos sociais.